Do Ódio ao Amor



Estes dois primeiros capítulos dizem respeito ao ínicio de uma história de amor impossível entre duas pessoas que se odeiam mas que depressa percebem que são apaixonadas uma pela outra, e que, no entanto, são separadas por um vinculo familiar inesperado! Será que haverá um final feliz para os protagonistas?

Epílogo

Catarina gostava de estar ao ar livre! Era uma das vantagens de viver naquela mansão tão grande! Todas as manhã se sentava numa árvore muito especial e ficava a apreciar o mar ao longe e a brisa da manhã! Tinha apenas quinze anos e tudo o que mais queria era que a noite passasse a correr para poder ver o nascer do sol daquela maravilhosa árvore e, minutos mais tarde, o mar que se avistava ao longe!
Claro que estes não eram os seus dois maiores prazeres! O seu prazer favorito, o melhor de todos, era ver Bernardo pela manhã, a nadar na piscina, sem que se apercebesse de que ela o espiava! Era quatro anos mais velho mas Catarina sentia-se fascinada por ele! Os seus braços, os seus olhos, a sua boca? tudo nele era fabuloso! De noite, sonhava que a agarrava e que a beijava como nunca antes tinha sido beijada e que lhe dizia palavras de amor ao ouvido. Acordava encharcada e percebia que, mais uma vez, não tinha passado de um simples sonho! A verdade era bem pior!
Sentada na árvore e abstraída dos seus pensamentos, não deu conta que Bernardo já tinha saído da piscina e que caminhava para ela.
- Sabes miúda, começo a ficar farto que me andes sempre a espiar! Não tens vida própria? ? Perguntou de forma agressiva. ? Estás a olhar assim para mim porquê? Estou fora do teu alcance sabes? - Riu-se. ? Tu és uma miúda, filha de uma empregada, feia e gorda! Desaparece da minha vista, não te quero voltar a ver!
Catarina sentiu-se suja e desatou a fugir. Refugiou-se no seu quarto e jurou nunca mais sair de lá. A vergonha que tinha passado era tão grande que queria um buraco aberto no chão para se enterrar!
- Catarina, preciso que me ajudes na cozinha filha, vá! Anda lá!
- Que nervos? só quero desaparecer desta casa?
E com este pensamento foi ajudar a sua mãe. Da sala ouvia-se a voz de Bernardo e da irritante da sua namorada, Patrícia! Emproada, mal-humorada e com a mania que era mais importante que os outros.
Tudo estava encaminhado, e Catarina decidiu ir para a sala de jantar colocar a mesa!
Ao regressar à cozinha, a sua mãe estava com cara de pânico! Catarina observou a cena escondida, onde a patroa da sua mãe a acusava de ter roubado uma pulseira que estava em cima da mesa da sala de estar, pulseira essa que pertencia à sua futura nora! Esta, na porta da cozinha, sorria com agrado, como se tivesse sido uma cena planeada! Ao lado da patroa da sua mãe estava Bernardo, com cara atónica e irritada ao mesmo tempo, como se estivesse surpreendido com o que estava a acontecer! Catarina não teve dúvidas: tinha sido ele e a sua noiva a prepararem aquela emboscada, em que a sua mãe caiu sem ter culpa nenhuma!
Nesse mesmo dia, saíram daquela casa com uma mão à frente e outra atrás, com a promessa de que não entregariam a sua mãe à policia se esta desaparecesse!
E assim foi! Catarina e Carolina desapareceram e nunca mais ninguém as viu!

1º Capítulo
- Bom dia Constança! Alguém ligou?
- Não menino Bernardo. Mas tem uma senhora à sua espera na sala de reuniões.
- Uma senhora? Sem marcação? Porque será que isso não me agrada nada? Vou ver o que se passa.
Bernardo era um jovem de trinta e quatro anos, olho castanho esverdeado, cabelo igualmente castanho, sempre curto e com um sorriso capaz de fascinar qualquer mulher!
Era presidente da empresa da sua família desde que o seu pai se reformara e tinha conseguido salvá-la da falência.
Observou a rapariga que o esperava. Deveria ter uns dezoito anos e, muito provavelmente, ainda devia andar na escola.
- Bom dia, o meu nome é Bernardo Cortês. Disseram-me que estava à minha espera.
- Bom dia! Catarina Salgado! O seu pai disse-me para vir falar consigo. Ao que parece tem um lugar disponível no departamento de design. ? Disse Catarina com um sorriso nos lábios.
Bernardo sorriu! Aquela menina só podia estar a brincar?
- Sim, tenho! Mas a Catarina não acha que deveria primeiro terminar os estudos?
- Oh? Sim? Claro? Tem toda a razão. Voltar para a faculdade com trinta anos é o sonho de qualquer mulher. ? Disse, sorrindo.
- Trinta anos? ? Perguntou Bernardo estupefacto. ? Deve estar a brincar comigo certo?
- Quer que lhe mostre a minha identificação? Não fique com essa cara? já estou habituada. ? Respondeu ao ver a cara de espanto dele.
- Peço imensa desculpa mas você parece realmente muito nova? trinta anos? Meu Deus? deve achar-me ridículo!
- Como já lhe disse, já estou habituada! Muitas foram as situações em que tive de mostrar a minha identificação. Até me sinto lisonjeada!
Voltou a sorrir! O seu sorriso era algo inacreditável? como um Anjo!
- Bem, se o meu pai a recomendou, certamente conhece o seu trabalho e talento! Falemos das condições enquanto lhe mostro o local.
- Desculpe interrompê-lo mas eu e o seu pai já acordámos todos os pontos em relação ao meu trabalho aqui. Ele decidiu que vou ser a nova directora do departamento de marketing! ? Disse Catarina sorridente, vendo como Bernardo se ruborizava.
- Directora do quê? Está a brincar comigo não está? Esse cargo está ocupado pela?
- Sua namorada! Sim, eu sei! E já é a segunda vez que me pergunta se estou a brincar consigo e a minha resposta continua a ser que não, não estou! A partir de hoje, eu ocupo esse lugar!

Bernardo não podia acreditar! O seu pai tinha passado das marcas? como ousara passar por cima dele? Patrícia ocupava aquele cargo há dois anos e estava a desempenhá-lo muito bem! Só havia uma explicação? e Bernardo recusava-se a acreditar nessa possibilidade. No entanto, quanto mais pensava, mais convencido ficava: Catarina era amante do seu pai, e este queria agradá-la!

Catarina estava sentada na sua sala, relembrando todos os acontecimentos da manhã: o gozo na voz de Bernardo a contrastar com o ataque de pânico quando soube da notícia!
Era muito bonito, não tinha a menor dúvida de que poderiam passar uns bons momentos juntos mas dadas as circunstâncias, isso não seria possível! Não queria ninguém no seu caminho, principalmente alguém da família do verme que tinha assassinado a sua mãe.
Carolina tinha passado os últimos meses a agonizar devido ao cancro que a apanhou desprevenida. Castigo de Deus, dizia! Quando pediu ajuda ao homem que a sustentava à trinta e um ano, este recusara-se, deixando-a morrer.
Catarina prometera sobre a campa da mãe que a vingaria, custasse o que custasse.
E assim foi! No dia seguinte seguiu para casa do homem que matara a sua mãe e ameaçara-o de contar todos os seus segredos, inclusive a relação que mantinha com Carolina! Em troca do seu silêncio, exigiu o cargo de directora do departamento de marketing, ocupado pela sua pior inimiga. Nesta vingança, mataria três coelhos de uma só cajadada, vingando a morte da sua mãe e a sua própria dignidade.

- Porquê pai? Eu sou o Presidente, eu deveria decidir. A Patrícia é uma excelente directora e tu estás fora da empresa. Não tem cabimento nenhum? só vejo uma explicação pai? é tua amante?
- Não te lembras dela filho? Catarina era filha da empregada que a tua mãe despediu à quinze anos atrás. Carolina faleceu há uns dias com cancro e eu não podia deixar a menina desamparada. Compreendes não é meu filho? ? Perguntou o velho, tentando amenizar a situação.
- Mas porquê um cargo de tanta importância? Tentas desculpar-te e compensá-la? A mãe despediu-a porque era uma ladra sem escrúpulos. E a filha deve ser igual. Andava sempre a espiar-me para depois fazer queixas à mãe? detestava-a nessa altura e detesto-a agora. Não podes fazer isso pai, pensa? pensa pai, por favor!
- Já está feito meu filho, não vou voltar com a palavra atrás.
- Mas pai?
- Chega! Tu és o presidente mas aquela empresa ainda é minha! Conforma-te com as minhas decisões!










2º Capítulo

- Bom dia doutora Catarina! Ligou o doutor Morgado a perguntar se já decidiu se vai ou não almoçar com ele!
- Não Constança, diga a esse senhor, caso ele se digne a ligar, de que terminou, finito, over! E que não volte a ligar senão chamo a polícia!
- Ui, está de mau humor! Isto não vai correr bem?
- O que é que não vai correr bem Constança? ? Perguntou Bernardo ao entrar na sala.
- Bom dia menino! A doutora Catarina chegou de muito mau humor! E, uma vez que vai ter uma reunião com o seu primo? acho que não vai sair de lá com melhor humor!
- Infelizmente todos saimos de lá com péssimo humor, quando se trata desse senhor! Quando a reunião terminar, avise-me!
- Com certeza menino!

- Eu já disse que quem manda nesse projecto sou eu, a Patrícia aprovou e pronto. Não podes chegar aqui e destruir tudo o que já está feito.
- Posso Gustavo, acredita que posso! Principalmente quando esse projecto põe em risco o orfanato que está no mesmo terreno em que tu queres construir o complexo. Cresce rapaz, já tens idade para isso! ? Disse Catarina virando-lhe as costas.
- Antigamente não eras assim, eras mais pacífica, mais calma. Porquê essa revolta toda?
- Desculpa? Estás a falar de quê?
- Eu sei quem tu és? Catarina Morgado! Apesar de não utilizares o nome do teu ex-marido, eu sei quem tu és! A tua mãe trabalhou na casa dos pais do meu primo e foi despedida por roubo! Tiveste que te casar com o Pedro por dificuldades financeiras. E agora? deixaste-o porque o meu tio te ofereceu mais!
- Gustavo, no tempo em que a minha mãe morou naquela casa, tu apanhavas todos os dias das miúdas por seres tão otário? e ao que parece continuas a sê-lo! E se eu fosse a ti, não falava muito! Há uma certa notícia que o teu primo iria adorar saber em primeira mão? e não quero nada ser eu a contar-lhe! Só te digo isto uma vez: o meu passado não é para aqui chamado e nada tem a ver com o projecto. Eu não aprovo e ponto final! Agora sai da minha sala!
- Isto não fica assim! ? Disse Gustavo ao bater com a porta!
- Mais um inimigo? estás a coleccioná-los Catarina! Estás a coleccioná-los!

- Ei, tem mais cuidado sim! Bruto!
- Desculpa Patrícia! Aquela mulher tira-me do sério! Quem é que ela pensa que é para me falar daquela maneira? Não passa de uma? ai, que raiva!
- Calma! Isso não te leva a lugar nenhum! Olha para mim, eu não andei estes dois anos a trabalhar aqui para nada? tenho uns contactos ok? Não te preocupes, aquele complexo vai para frente, e no espaço que nós escolhemos. Dentro de pouco tempo, caso-me com o teu primo e tudo isto será nosso, meu querido! Só precisas de ter paciência!
- Se o meu primo descobre tudo isto? ela sabe de nós! Tens noção que ela vai transformar a nossa vida num inferno?
- Antes disso meu amor, eu transformo a dela!

- Não sei o que fizeste ao meu primo, mas devo dar-te os parabéns! Pela primeira vez, não foi ele a irritar mas sim o irritado! ? Disse Bernardo ao sentar-se na mesa de Catarina.
- Primeiro, não me lembro de te ter convidado; segundo, o teu primo irrita-me desde a adolescência; terceiro e último ponto, eu não aproo aquele projecto e acabou! E nem mesmo tu, sendo o Presidente, vai conseguir fazer com que mude de ideias!
- Não precisas de estar tão irritadiça! Eu também não queria aquele projecto mas ele foi aprovado em unânimidade, tive de "comer e calar", como se costuma dizer!
- Sempre foste um fraco! E continuas a ser! Com licença! ? E levantou-se.
Bernardo ficou a observá-la. Naquele dia tinha um vestido branco até aos joelhos, com o cabelo solto a cair-lhe pelas costas! Estava completamente diferente da altura em que a conheceu!
Sentiu uma sensação esquisita na barriga ao observá-la! Em tempos, a sua mãe acusara o seu pai de andar enrolado com a empregada? e agora era a própria filha da empregada que substituía a sua mãe.
- Como é possível? Que tem o meu pai para te fascinar tanto?
- Dinheiro primo, dinheiro!
- Hein?
- Pelos vistos não sabes de tudo. A Catarina é casada com o Pedro Morgado, o famoso médico algarvio! Separaram-se pouco antes da mãe dela morrer. O Pedro nunca me disse o motivo da separação mas deu a entender que ela quer mais do que aquilo que tem! Pelos vistos, o teu pai foi o escolhido!
- Eu estava desconfiado disso mas pensei que o meu pai fosse mais inteligente. Que burro?
- Temos de a tirar daqui? tens noção disso não tens?
- Sim? mas como?
- Tenho um plano? ouve-me!

- Catarina, Catarina? tu acalma-te? não tem lógica nenhuma? o passado já lá vai e agora é completamente diferente? ele é teu irmão, tu não podes sentir isso por ele? não podes?
- Tens que ter mais cuidado quando falares em voz alta. As paredes aqui têm ouvidos!
- Sr. Cortês, assustou-me!
- Desculpa, não era minha intenção! Está tudo bem? Estás a gostar das tuas funções?
- Sim, estou! Apesar de todos me odiarem, até estou a gostar de estar aqui!
- Isso acaba por lhes passar! Mas ao que parece tens um outro problema para resolver? problema esse que deveria ter sido esclarecido há muios anos atrás, a partir do momento em que começaste a ser alguém?
- Esse problema não é assim tão grande como parece? mas devo informá-lo de que todos pensam que sou sua amante e que estou consigo pelo seu dinheiro. Digamos que o meu ex-marido deu uma ajudinha!
- Sim, o teu irmão já me acusou disso! Diz que te odiava antes e que te odeia mais ainda agora! Será esse ódio recíproco?
- Sem dúvida alguma! Eu disse-lhe que me ía vingar por ter deixado a minha mãe morrer quando ela precisava de si; e o seu filho e a sua futura nora, vão igualmente pagá-las pelo que fizeram à minha mãe. Já viu o escânda-lo que seria se se descobrisse que o grande sr. Cortês tinha uma filha ilegítima? da empregada que a mulher despediu por roubar? Era vergonhoso? paizinho!
E dito isto, saiu!
A caminho do cemitério relembrou vezes sem conta aquele triste episódio? e o sofrimento da sua mãe quando sairam daquela casa. Naquele dia rumaram ao Algarve, onde ficaram até Catarina se casar, por necessidade, com Pedro! Sempre tinha sido um casamento sem amor mas nunca fora uma má esposa! Sempre cumpriu com todas as suas obrigações, até ao dia em que apanhou o seu marido em cima da secretária? com uma prostituta! Saiu de casa nesse mesmo dia e pouco tempo depois descobre que o seu pai não era o seu pai... muita informação a digirir em tão poucos dias...
- Olá mãe! ? Disse ao ajoelhar-se junto da campa da mãe. ? Está a ser tão dificil continuar sem ti... sinto-me perdida, desamparada... quando estavas cá, mesmo doente, apoiavas-me a 100% mamã... mesmo quando saimos daquela casa, onde eu sofria todos os dias... ? Sorriu ? Tu também não é? Veres o meu pai com aquela mulher deve ter sido muito dificil para ti... e pensar que fui apaixonada pelo meu próprio irmão... tu dizias tantas vezes "Ainda bem que és gorda e que ele não tem olhos para ti, senão era uma desgraça"... e agora sei o porquê de dizeres isso... porquê mãe? Porque é que nunca me contaste a verdade? Teria sido tudo tão mais simples se eu soubesse desde o inicio porquê que aquela mulher nos odiava... ? Suspirou ? Mas agora não adianta de nada pois não? Tenho um pai que não considero como tal e um irmão que me odeia mais do que tudo à face da terra! Que queres que eu faça mãe?
Autor: Soraia Espanhol


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