Pequeno resumo da história de meu Pai - quinta história



Não tem jeito mesmo, todo adolescente, independente da época, é revoltado por natureza. E meu falecido pai, que era muito pacato, também foi adolescente e, portanto, revoltado. Seu nome era Alvino, mas quando criança tinha o apelido de Ico, nunca imaginei que tivesse um, sempre me passou uma atitude severa. Ele nasceu em 18 de setembro de 1926 em Campo Grande, Mato Grosso no começo do século. 
Poucas pessoas da família sabem que um dia meu pai teve um apelido, sempre foi muito sério, mas teve e dado pela mãe, minha avó, e só quem usava era os irmãos, também cada um com seu apelido.

Sempre foi muito trabalhador, desde muito novo, e por uma desavença, por conta de uma cabeça de gado vendida e dado ao irmão, que não ajudava tanto na lida quanto ele, Ico se revoltou e na cisma fugiu de casa com bolsa de roupas nas costa.
Ainda novo se estabeleceu numa cidadezinha chamada Ribas do Rio Pardo, uma vila na época. Muito trabalhador e muito simpático fez amizades na cidade, todos o conheciam. E se envolveu com uma moça, que a pouco tinha terminado um noivado, se interessou por ele e, com permissão da família, começaram um namoro. 
Quando ficou sabendo que, a ainda amada, tinha um novo pretendente, o ex-noivo começou a ameaçar a acabar com a vida de Ico, e este ressabido pra se proteger comprou uma arma. E ex-noivo realmente preparou uma emboscada. Mas meu pai, conforme relata minha mãe, sempre teve uma ótima mira e como já esperava por algo parecido, atirou no inimigo e foi um tiro certeiro. 
Meu pai não quis nem saber, e fugiu do local e, por medo de vingança dos parentes, teve que fugir da cidade também, deixando a garota para trás. Voltou pra Campo Grande, triste. 
Ao chegar na praça central, Ari Coelho, sentou no banco, meio sem saber pra onde ir, meio decidindo se engolia o orgulho e procurava a família. 

Seus irmãos mais novos, ainda garoto, trabalhavam na praça, se virando como engraxate. Diz meu tio que ficaram olhando de longe meio que querendo reconhecer o irmão. Marcindo que era o mais novo, chamou um outro irmão e perguntou pra ele se não era o Ico. Ele confirmou e foram lá busca-lo. Ficaram muito felizes pelo reencontro e por vê-lo bem. O convenceram a voltar pra casa. 
Abadia, pouco mais nova, trepada num pé de goiabeira, chamou a irmã mais velha, Olinda quando o avistou de longe. "Mas aquele não é o Ico lá longe que vem vindo com os meninos?" e já saíram correndo as duas pra recepcionar o irmão, que foi muito bem recebido por todos e sem mágoas. Família tem dessas coisas, pequenas desavenças, mas o que importa mesmo é a união. 
Depois disso, depois de irem morar em Ponta Porã, já casado ele encontrou um irmão da garota que namorou em Ribas, que o informou que o rapaz baleado veio a falecer por conta do tiro e que a moça havia se casado e tido alguns filhos, mas por complicação no parto de um, também veio a falecer. Meu pai ficou muito triste pelos dois, mas a vida segue.


Autor: Márcia Ferreira Marques


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