POR QUE MANUEL BEBE?
Manuel continuava bebendo, sempre mais, cada vez mais. Já não se importava com mais nada. Para ele estava bem daquele jeito mesmo. Nem o pai, nem as irmãs davam jeito. Procuraram todos os meios possíveis. Internar não adiantava, pois Manuel conseguia bebidas por fora e dava para os outros internos. Em vez de melhorar o manicômio, piorava sempre. Se não desse para comprar bebidas, ele fabricava a dita cuja de batata, mandioca e até de árvores verdes. Parecia que o homem estava perdido para sempre.
Os amigos não se importavam mais com ele, as mulheres corriam do rapaz, estava maltrapilho, estava sempre doente, mas nada adiantava. Se bebesse morreria, se não bebesse morreria também. Para que viver muito num mundo ruim como este? Pensava Manuel. Só os corruptos iam para frente, os trabalhadores não subiam um palmo. Para que uma vida desta? Por isto Manuel não perdia tempo pensando besteira. Bebendo, pelo menos, esquecia-se de tudo, não se lembrava de nada.
Internaram Manuel mais uma vez e desta vez numa cela, sozinho. Não haveria como Manuel fabricar bebida alguma. Mas ele ficou doente, não se alimentava, não tomava banho, só ficava deitado. Por isto a família retirou-o de novo. Preferiu que ele ficasse na rua.
Manuel voltou a invernar na bebida. Andava o nosso Manuel para um lado e outro. Às vezes falava sozinho, moscas já o acompanhavam, pois sentiam o cheiro fedorento de suas roupas.
Um dia, um grupo de jovens se reuniu, e convidou Manuel para ouvir uma palestra. Disseram a Manuel que se ele continuasse bebendo, iria morrer brevemente ao que ele retrucou:
- Quer matar mata, mas que a bebida é boa é. É meu único consolo.
Em vão tentaram tirar dele o vício da bebida, aconselhando-o, mostrando alguns exemplos. O homem mostrava-se irredutível. Perguntaram então ao homem:
- Manuel, por que você bebe e tem bebido muito ultimamente?
Bêbado como estava, ele respondeu:
- Olhe aqui, eu ia de avião do Rio para Manaus. Quando chegou a um certo trecho, deu uma pane no avião e ele ia caindo. Tudo fizeram para equilibrar o bicho, mas ele continuava caindo. Aí o piloto conversou com São Pedro e ele disse que o avião só não cairia se jogassem alguma coisa imprestável que estava dentro do avião. Aí as aeromoças vieram olhar os passageiros, um por um e chegaram até a mim.
- Jogaram você do avião?
- Não. Jogaram a garrafa de pinga que eu estava com ela. Vocês já viram injustiça maior que esta? A única coisa que eu tinha. Pulei atrás da garrafa e caí dentro de um alambique. Nunca mais fiquei sóbrio.
Autor: Henrique Araújo
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