DE PENETRA NO ANIVERSÁRIO
Manuel ficou sem emprego e sem dinheiro. Zé Dentista não voltou atrás. O pior é que todos ficaram sabendo do que aconteceu. Jário, que era bocudo, contou tudo o que acontecera naquele dia. Até na casa de Manuel a notícia chegou. Foi a maior gozação. Jamais pensaram que isto fosse acontecer. Manuel? Quem diria?
Com a vida difícil que levava, Manuel começou a procurar outro serviço. Ninguém queria arrumar nada pra ele. Não era pessoa confiável. Sempre aprontava uma, ou no começo ou no fim. Trabalhava muito, todo mundo sabia, mas tinha muitos defeitos e o pior deles era a bebedeira.
Manuel chega a implorar que lhe arrumem um serviço qualquer. Mesmo assim não consegue. Começa a passar fome. Procura uma creche e arruma alguma alimentação pra levar para casa.
Agora Manuel bebe destrambelhadamente. Já não importa com mais nada. Um colega no bar convida-o para ir à festa de aniversário de seu irmão. Dá o endereço certinho a ele. Manuel vai, é claro. Pelo menos comerá alguma coisa diferente. Há quanto tempo não come uma torta? Perdeu a base.
A noite ele se arruma e vai ao tal aniversário. Ficava no bairro Boa Esperança. Ele acerta o local. Procura a casa naquela rua, mas ninguém sabe. Não encontra. Vê um barzinho de bebuns e vai lá. Manda pinga pro bucho até as lombrigas ficarem tontas e Manuel também. Pergunta aos bebuns onde fica aquela casa. Não é ali, todos dizem. Manuel explica que é um aniversário. A rua é tal, número tal. Ninguém sabe mesmo, mas ali porto tem uma festa de aniversário. Manuel resolve ir lá. Só pode ser ali mesmo. Encontra a casa. É exatamente a que o rapaz indicou. Encontra lá uma velha, exatamente como a que o amigo lhe dissera. Era ali mesmo.
Manuel entra e senta-se. Acha meio diferente. Não tem nenhum conhecido ali. Fica lá assim mesmo. Como em todas as festas, ali também tem alguns bebuns e Manuel se encosta neles. Conversam muito e bebem ainda mais. A festa até que está animada. Manuel já se encontra muito tonto.
Chega a hora marcada. Meia noite. Todos se levantam. O aniversariante vai aparecer. A festa é de gente rica. A torta é grande. Manuel passa a língua nos beiços. As lombrigas começam a se mexer na barriga dele. Não consegue aguentar. As luzes se apagam. As velinhas estão acesas. Ele não vê o aniversariante que chega. Vai soprar a velinha. Ela se apaga, todos batem palmas e as luzes se acendem. Todos estão sorridentes e animados. Manuel engole em seco quando vê o aniversariante. É um baita de um negrão que o sangue de Manuel gela. Ele nem sabe se é sangue que corre mais em suas veias. Manuel tem que sair dali. Ele é um penetra naquela casa. O aniversariante nada tem a ver com o seu conhecido. Entrou na festa errada. Vai saindo devagarinho, quando a velha interpela-o: por que está indo tão cedo? Fica mais tempo. Agora é que a festa vai começar. Manuel inventa tudo quanto é tipo de desculpas para sair, mas a velha fica ali cutucando-o . Vou buscar o Manuel para despedir de você. Manuel? Que Manuel? Pergunta o Manuel. O aniversariante, é claro. O meu patrão. Ah, sim! O Manuel - diz o Manuel. Ela vai lá para dentro buscar o Manuel e Manuel aproveita para cair no mundo. E se esse tal de estranho Manuel estranhar o Manuel? Sente-se bem melhor longe dali. Em que encrenca se meteu o Manuel agora?
Autor: Henrique Araújo
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