Relevo, Uso E Ocupação Do Solo Da Região De Lençóis - Ba: Uma Abordagem Holística Da Dinâmica Dos Sistemas Ambientais E Socioeconômicos



A                     A ralação do homem com a natureza implica numa antiga convivência deste com o relevo estabelecendo as diferentes formas de uso e ocupação das terras, conforme a dinâmica dos fatores externos e internos, ou seja, dos processos endógenos e exógenos.
            As ciências ambientais com seu caráter integrador buscam na Geomorfologia, ciência que estuda os diferentes aspectos da superfície terrestre (GUERRA E CUNHA, 2000) compreender a evolução do relevo terrestre no espaço e no tempo.

O processo de apropriação do relevo seja como suporte ou como recurso, vincula-se ao comportamento da morfologia e às condições pedológicas (CASSETI, 2008), e é dentro dessa perspectiva que estudo do uso e ocupação consiste em buscar conhecimento de toda a sua utilização por parte do homem ou pela caracterização dos tipos e categorias de vegetação natural que reveste o solo. A proposta deste trabalho é identificar de forma objetiva a influência que os condicionantes ambientais, principalmente a geomorfologia, no uso e ocupação do solo na região de Lençóis – BA distante da capital do estado 410km, bem como, analisar através de uma discussão comparativa as questões socioeconômicas destas regiões de estudo.

Materiais e Métodos

Na elaboração deste trabalho adotou-se como principio básico o método geossistêmico. Este trabalho possui uma conotação qualitativa, tendo em vista os fenômenos sociais e culturais influenciando na configuração dos espaços e sua dinâmica física. Para sua concretização foram realizadas: Pesquisa bibliográfica, onde foi realizado um levantamento de dados da área de estudo. Foram utilizados livros, revistas, artigos, cartas topográficas, meios eletrônicos, que serviram de embasamento teórico-conceitual para a elaboração dessa etapa do trabalho; realizado trabalho de campo realizado pela professora de geomorfologia estrutural da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Raquel Matos Cardoso do Vale, possibilitando a coleta e registro de dados da área de estudo com o auxilio do GPS, planilha de campo, e câmera fotográfica utilizados para obter informações como: Pontos, coordenadas UTM, altitude, latitude, longitude, drenagem, solo e uso do solo, vegetação, geologia e geomorfologia: Informações coletadas foram sistematizadas e confrontadas, dando sustentabilidade á fundamentação teórico-metodológico, como também, auxiliar na interpretação das idéias, possibilitando uma visão das implicações de condicionantes ambientais, como o próprio relevo influencia no uso e ocupação do solo na área visitada.

Resultados e Discussões

Analisando os diferentes uso e ocupação do solo intrinsecamente ligado aos recursos naturais na região de Lençóis - BA, observa-se que a atividade do garimpo na extração de diamantes no inicio do século XIX, e o turismo em épocas mais recentes, sobressaem-se diante das demais atividades econômicas dessa região.

A região destaca-se pro diferentes razões, sendo esta uma região de nascentes, uma vez que sua geomorfologia propicia a formação de inúmeros talvegues, sendo componente importante na formação da Bacia do Paraguaçu, essencial para o semi-árido baiano, possuindo ainda uma riquíssima biodiversidade e em parte desconhecida.

Topograficamente a região de Lençóis - BA é acidentada em demasia, com serras, morros cachoeiras, vales com grande profundidade e estreitos escavados por rios, rodeado de imensos paredões e picos que alcançam mais de 1400m de altitude.

Inserida em uma bacia de rochas sedimentares, com sinais de posteriores soterramentos causando um leve metamorfismo, permite através das rochas aforadas, serem datadas do Proterozóico, observando-se assim que os processos geológicos que atuaram na constituição da região de Lençóis - BA arrastaram-se por milhões de anos, compondo seus aspectos fisiográficos atual que estão ligados à dinâmica, que relaciona relevo, com uso e ocupação do solo.

O uso e ocupação do solo, segundo Rosa (1989), podem ser entendidos como sendo a forma pela qual o espaço esta sendo ocupado pelo homem, isso implica que é de grande importância realizar levantamento de uso e ocupação do solo, para avaliar a situação desse espaço e se esta ocupação e uso esta sendo realizada de forma positiva ou negativa.

Na região da Chapada Diamantina, e posteriormente na região de Lençóis - BA, o ponto de partida para ocupação e uso do solo, deve-se ao surto minerador iniciado na segunda metade do século XVII, quando Fernão Dias descobriu esmeraldas na região serrana de Minas Gerais e seus companheiros encontraram o ouro, fatos estes que incentivaram a propagação das chamadas bandeiras.

Outros bandeirantes seguiram o caminho em busca de novas terras a procura de ouro e pedras preciosas. Em meados do século XVII, devido à atuação de Guedes de Brito, a região apresentava atividade pecuária que abastecia novas frentes de desbravamento, garimpos e povoados, interligada pela estrada boiadeiro, construída entre Jacobina e Rio de Contas.

A exploração do diamante começou após a expedição dos naturalistas alemães Spix e Martius, em 1820, que confirmaram o potencial diamantífero da Serra do Sincorá, levando centenas de garimpeiros para lá, com o intuito de intensificar a lavra do diamante.

Com a corrida do diamante, foram surgindo às cidades entre elas Lençóis. Inicialmente desprezado pelos garimpeiros, a partir de 1871 o carbonato foi disputado a altos preços pelos países europeus, interessados em elementos resistentes para as máquinas e construções, que alavancaram a Primeira Revolução Industrial.

A civilização mineradora foi eminentemente urbana, com novos assentamentos humanos surgidos da noite pro dia em zonas anteriormente deserta. O urbanismo desses núcleos, como é comum em região mineradora de todo o mundo é espontâneo com uma trama irregular de ruas estreitas e enladeiradas. Após vinte e cinco anos, observou-se o esgotamento da lavra na Chapada Diamantina, fato que provocou o desmoronamento de sua economia e a decadência das cidades. Com a proclamação da República, no final de 1889, a região da Chapada começou a ser disputada pelos Coronéis que intensificaram suas lutas pela posse da terra e pela hegemonia política.

É nesse momento da historia de ocupação da região de Lençóis - BA, que a agricultura tem um papel um pouco mais relevante, com a cultura do café e o algodão, apesar da sua topografia não ser propicia para a atividade agrícola. Findado a época do coronelismo, essa região, viveu um período de estagnação econômica, após a Revolução Constitucionalista de 1930, o que fez com que muitas pessoas abandonassem a região em busca de melhores condições de vida em outros locais.

A partir de 1973, após a cidade de Lençóis ser tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico Nacional (IPHAN), como Patrimônio Histórico Nacional, devido a sua arquitetura colonial influenciada pela cultura européia, e pelos estilos ora neoclássico ora neogótico. A região retoma os passos do crescimento, sobretudo econômico na década de 1980 através do desenvolvimento da atividade turística, quando o Parque da Chapada Diamantina (criado através do decreto n° 91.655 de 17.09.1985, como resultado de uma ampla mobilização de ambientalistas e comunidades dos municípios do entorno, conscientes da importância de preservar suas belezas cênicas) inseriu-se em um dos roteiros mais procurados para o ecoturismo nacional.

Com o desenvolvimento turístico, a região de Lençóis, configurada nesse novo setor econômico, efetua o uso e ocupação do solo, no aproveitamento de seus recursos naturais, muitas vezes inadequados, melhorando a infra-estrutura local baseada na expansão sustentável da região, entre elas o sistema de abastecimento de água e esgotamento sanitário apresentando significativas mudanças em relação há décadas atrás, visando atender a demanda de turistas, que é cada vez maior, na preservação desta área ambiental de grande valor cultural.

O desenvolvimento turístico constitui uma estratégia eficaz para atrair investimentos privados e nacionais, e gerar receita e emprego ao continuar atraindo um número crescente de visitantes. A região que fica numa subárea turística denominada de Circuito do Diamante dentro da área turística da Chapada Diamantina, tem o ecoturismo bastante difundido. O Circuito do Diamante por sua vez, é dividido em Zonas de Interesse Turístico (ZIT), estando à região de Lençóis, inserida em três ZITs, A biodiversidade da região e seu clima agradável, que mesmo estando num domínio morfoclimático semi-árido, caracteriza-se como um clima semi-úmido, devido a sua topografia acidentada, faz parte de uma dinâmica microclimática, servindo como um verdadeiro laboratório, para cientistas, pesquisadores, naturalistas e estudantes e um refugio para aventureiros esportistas religiosos entre outros.

Deve-se salientar também a importância do Campus Avançado de Universidade Estadual de Feira de Santana, implantado em 1998, que vem desenvolvendo pesquisas na área de Geociências, com resultados relevantes para a minimização dos índices de depredação do meio ambiente e para a melhoria da prestação de serviços no setor turístico - principal vocação econômica regional - e também para descentralização do ensino de 3º grau, iniciativa adotada pelas universidades estaduais baianas, objetivando formar profissionais de nível superior, comprometidos com suas comunidades e capacitados para promover o desenvolvimento sustentável da região onde estão inseridos.

Dentre tantos implementos para o desenvolvimento turístico, a implantação do Aeroporto de Lençóis, em 1998, localizado a 20 km da sede do município de Lençóis, possuindo a dimensão de 2080 x 30 metros, totalmente pavimentados, com capacidade para receber aeronaves do tipo Boeing 737, foi de suma importância, pois o investimento visa adequar à região da Chapada Diamantina para a recepção de um fluxo de visitantes crescente, desempenhando uma vital importância não só para os visitantes – pois possibilitou um acesso aéreo extremamente eficaz de grandes centros emissores de turistas como Salvador Brasília e São Paulo - como para a população residente até então limitada às vias rodoviárias..

O comercio da região é basicamente voltado para atender a atividade turística, apresentando uma excelente rede hoteleira, diversos bares, restaurantes, agências de turismo, lojas de artesanato e de lembranças da região entre outros estabelecimentos, que leva a população local a inseri-se nesse contexto, sobretudo nos preços voltados para o turista, tornado as cidades de Seabra e Palmeiras um refugio para as compras do dia a dia dessa população que se encontra quase que em mais de 60% na zona rural.

Presente também na economia da região, o cultivo irrigado de hortaliças considerado de uso indiscriminado, representa grande conflito ambiental a respeito do manejo do solo, tendo em vista a natureza do sistema aqüífero e a possibilidade da rápida infiltração de defensivos utilizados nas culturas à conseqüente contaminação do lençol freático.

Nesta região a pecuária é pouco expressiva, sendo Lençóis o município de maior produção, tendo seu rebanho concentrado em áreas externas ao Parque Nacional da Chapada Diamantina, nas proximidades da cidade de Tanquinho. É nesta região que se encontra um dos mais expressivos remanescentes arbóreos de floresta estacional, caracterizando-se como um dos principais conflitos ambientais da região.

Diante da abordagem feita sobre o uso e ocupação do solo da região de Lençóis - BA observa-se, que a sua estrutura geológica e geomorfológica, juntamente com os outros aspectos naturais já citados, foram e são, até os dias atuais com o desenvolvimento do setor turístico, determinantes para o avanço econômico da região e, sobretudo na forma que se deu a sua ocupação, com o posterior uso do solo representando atividades diversas em épocas que lhe foram convenientes.

A preservação dos ecossistemas da Serra do Sincorá abrangendo a região de Lençóis - BA permitirá a conservação de um banco genético importantíssimo para a pesquisa científica e a manutenção da biodiversidade. Além disto, será possível prevenir a desertificação, ao evitar-se a destruição de nascentes.

Finalmente, a exploração racional e ordenada através do ecoturismo é esperada não só pela população local, mas por aqueles que amam e defendem o meio ambiente, que seja de forma concreta uma alternativa econômica sustentável, sabendo que seu desencadeamento será percebido em longo prazo.  

Conclusão

        Após os conhecimentos adquiridos através de pesquisas bibliográficas aliadas aos conhecimentos obtidos no trabalho de campo, percebemos o quanto as formas de relevo exercem influência em todos os processos terrestre como clima, vegetação, drenagem etc. O mesmo condiciona na utilização que se faz do solo. Sendo que é preciso ter clareza que o relevo é um dos componentes da litosfera e, que está intrinsecamente relacionado com as rochas que o sustenta como o clima que o esculpi e com os solos que o recobre.

O recorte da área a qual foi submetido o estudo, é marcado por apresentar altos relevos, ser marcada também como uma região de nascentes e que sua ocupação está restritamente ligada a fatores como os elencados acima.

Referências

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- BRITO, Francisco Emanuel Matos. Os Ecos Contraditórios Do Turismo Na Chapada Diamantina. Salvador – EDUFBA - Editora da Universidade Federal da Bahia, 2005.

- GUERRA, Antonio José Teixeira. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Organização: Antonio José Teixeira Guerra e Sandra Baptista da Cunha – 7° Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

- GUERRA, Antonio José Teixeira, CUNHA, Sandra Baptista da. Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.

- Informações Básicas dos Municípios Baianos. CEI – Centro de Estatísticas e Informações (vol. 13 e 14).

- Rosa, R. Introdução ao sensoriamento remoto. 5ª edição. Uberlândia. Ed. Da Universidade Federal de Uberlândia, 2003.


Autor: Janeide Oliveira da Silva Almeida


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