ÉTICA: DIÁLOGO NECESSÁRIO NA FORMAÇÃO DO DOCENTE



ÉTICA: DIÁLOGO NECESSÁRIO NA FORMAÇÃO DO DOCENTE


1) ÉTICA E MORAL:

A humanidade tem vivenciado um cenário de grandes transformações e, de inúmeras quebras de paradigmas que causam constante instabilidade social, onde é comum evocar alguns conceitos, como por exemplo, a ética e a moral.
Um aspecto que se destaca e, por isso, merecedor da nossa atenção é a interpretação equivocada estabelecida ao longo dos anos entre ética e moral. O primeiro passo foi buscar definições sobre as temáticas em alguns dicionários.
(...) "à parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorce, disciplinam ou orientam o comportamento humano refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social". (HOUAISS, 2004, p. 319).
(...) "o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo de absoluto". (AURÉLIO, 2008, p. 383).
A cerca da temática encontramos sustentação em Vázquez (2006) que elucida:

Moral vem do latim mos ou mores, costume ou costumes no sentido de normas ou regras adquiridas por hábitos ou modo de ser do homem. A moral se refere, assim, ao comportamento adquirido ou modo de ser conquistado pelo homem. Ética vem do grego ethos, que significa analogamente modo de ser ou caráter enquanto forma de vida também, adquirida e conquistada pelo homem. (p. 14)

Moral vem do latim Mos ou Mores que significa costumes, definida como um conjunto de normas ou regras prescritivas, normativas para garantir a harmonia social. Sua função e validade são mutáveis historicamente nas diferentes sociedades.
A ética vem do grego Ethos, que significa caráter, caracterizando um conjunto de princípios e valores que justificam as regras do convívio social. Ela é multicultural e contextualizada, porém cada indivíduo é responsável pela construção dos seus princípios éticos.
A moral deve estar sempre subordinada a ética, e não o oposto. A moral não é democrática, ao contrário, impõe um condicionamento. O que se faz por opressão para escapar de uma repressão.
A ética é democrática, o que se faz por vontade e desejo, sua virtude é a generosidade e embute continuamente um processo de conscientização. É seu papel sempre questionar a moral (normas ou regras).

2) - UM BREVE HISTÓRICO EM TORNO DA ÉTICA:

Diferentes povos, em variadas épocas, fundamentam os seus costumes, hábitos, instituindo leis, normas, valores e regras de comportamentos designados a atender os interesses do grupo, indicando formas de relações na convivência do homem com seus pares, com a natureza ou com a toda a sociedade.
Para Valls "os valores éticos podem se transformar assim como a sociedade se transforma". (2006, p. 11).
Na ruptura com era primitiva, surgem à propriedade privada, a divisão de classes, o Estado, fortalecendo uma nova composição social mais complexa, formado pela Antiguidade Oriental e a Antiguidade Ocidental.
A primeira conservava por meio dos livros sagrados seus princípios, normas e regras vinculadas às tradições milenares, com o intuito de conduzir os indivíduos nos rígidos padrões religiosos, perpetuando assim os costumes da espécie e evitando a violação das leis. Sendo os escribas, os sacerdotes ou os magos os depositários dos valores sociais.
Aranha (2006, p. 43), transcreve:

"Na perspectiva ocidental surgem os sofistas, os sábios ou professores de sabedoria. Suas reflexões estavam voltadas para a expressão: ?homem, como medida de todas as coisas?. Dos quais eles proviam, não existe uma regra universal e sim regras próprias de conduta, em conformidade com as circunstâncias".

Para os sofistas não havia regras absolutas. O certo ou errado devem ser determinados por particularidades de cada conjuntura.
Sócrates defendia regras universais, Platão a moral é um problema coletivo e não individual e Aristóteles o propósito da ética é descobrir o bem incondicional, que é a felicidade.
Surge um novo império, o majestoso Império Romano. Intensificando o legado ocidental. Aqui o pensamento cristão instala-se, oriunda da filosofia grega. Retira-se o homem do centro de todas as coisas e coloca-se Deus e a doutrina cristã se prolifera nos monastérios religiosos.
"Um Deus comprometido com problemas vinculados à exclusão social, à pobreza, á fome, à solidariedade". Como descreve (PINSKY, 2003, p. 16).
No Renascimento ao Iluminismo homem remove seus olhos dos céus e retorna para a terra, isto é, a passagem do teocentrismo para o antropocentrismo, retomando sua dimensão humana sob todos os ângulos. Aranha (2006, p. 87),
Do Renascimento ao Iluminismo o homem remove seus olhos dos céus e retorna para a terra, isto é, a passagem do teocentrismo para o antropocentrismo, retomando sua dimensão humana sob todos os ângulos. Aranha (2006, p. 87).

"É na modernidade que o homem começa a criticar e se opor à tradição, tem a capacidade de discernir, distinguir, e comparar, própria da razão, rejeita o princípio da autoridade, desenvolve a possibilidade da dúvida, busca a laicização do saber" (ARANHA, 2006, p. 236).

É no novo projeto moderno, que o homem sonhou em alterar o perfil da sociedade, tornando-a, estável, próspera e harmônica, permitindo a todos o acesso nas benesses produzidas em grande escala, preenchendo suas reais necessidades, sobrevivendo de forma mais confortavelmente.
A pós-modernidade expressa novos valores, novas energias numa tentativa de superar a sociedade moderna impregnada pela idéia ilimitada de progresso, egoísta, que vive para si, não para os que virão a seguir. O homem pós-moderno corre atrás de uma série de elementos, que a modernidade desatentou, do universo interno, do emocional, do afetivo.
Para se falar em ética é aceitar a existência de valores que guiam, sustendo as relações humanas e se encontram na expressão da vontade do desejo humano de fazer parte de um todo.

3) (PARA INÍCIO DE CONVERSA, EXPONDO O CENÁRIO) OU REFLETINDO SOBRE O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO:

"Compartilhar significa aprender - pela convivência coletiva, pelo diálogo e pela reflexão crítica - a construir significados e entendimentos a partir do respeito às diferenças, considerando-se marcos universais de convivência humana."
AS FUNÇÕES ATUAIS DA ESCOLA- REPENSANDO A DIDÁTICA E A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR. José Carlos Libâneo.

Nos dias atuais as instituições educacionais brasileiras encontram-se diante a uma mutação do seu perfil intelectual, em meio a essa ambigüidade educacional surgem algumas questões como: Para que sociedade a IES deve preparar o seu discípulo? Quais valores ela deseja preservar no seu corpo discente? Que aspectos mais importantes da individualidade devem ser resguardados? Os currículos e programas estão constituídos de forma que contribuam com as necessidades individuais e sociais? A formação inicial e contínua dos profissionais da educação está compatível com essas necessidades?
Ninguém consegue viver completamente sozinho, ser um verdadeiro eremita. A vida em grupo é uma necessidade da natureza humana. É na interação com os demais que o homem se desenvolve se modifica, frente ao mundo social e cultural, sempre com sua capacidade criadora, conforme sua precisão ou seu interesse social.
O viver e o agir humano se dá de acordo com valores e, mais precisamente através de uma seqüência de valores que orientam o comportamento e atitudes dos indivíduos. A ética educacional também possui, preocupações práticas e objetivas que se orientam no sentido de entrelaçar o saber ao saber fazer e ao saber ser.
Frente a esses questionamentos torna-se imprescindível tratar da importância da ética no espaço escolar. Da qualidade do trabalho educativo, que percorre pela dimensão ética da competência profissional do educador.
O viver e o agir humano se dá de acordo com valores e, mais precisamente através de uma seqüência de valores que orientam o comportamento e atitudes dos indivíduos. A ética educacional também possui, preocupações práticas e objetivas que se orientam no sentido de entrelaçar o saber ao saber fazer e ao saber ser.
Ao homem não basta ter um vasto arquivo de conhecimentos, se neles não tiverem aglutinado valores. É necessário ter habilidades de desenvolver práticas significativas sobre a luz das teorias. Também, perceber a relação entre ação pedagógica e sua função política ao democratizar o saber elaborado. É preciso identificar os fins a que se propõe a ação pedagógica.
Toda ação docente é um momento singular, a prática pedagógica não se reduz aos fatores técnico-práticos, nem somente aos aspectos sócio-políticos, nem tão pouco aos psicológicos. A eficácia do trabalho do docente, por sua vez, se torna significativo quando alicerçada a uma rica experiência vital.
O docente contemporâneo não pode se considerar o único proprietário do conhecimento. Vários setores sociais contribuem com a aprendizagem. Mas, é no ambiente escolar, com a mediação do professor-educador, que se inicia o trabalho sistematizado, formal com as futuras gerações para enfrentar os diversos e diferentes desafios impostos pelo mundo da vida.
Vasconcelos define "o conhecimento como provocação para o pensar, problematização, crítica, como elemento de decifração da realidade de fortalecimento de convicções". (2003, p. 28).
O papel do professor é contribuir com a história, ajudar a construir identidades, como formador de cidadania é responsável em possibilitar no espaço escolar, interações sociais com atitudes solidárias, valorando reciprocidades culturais, estimulando a ascensão e realização pessoal, profissional conjuntamente com seus pares e com a sua classe.
A todo o momento estamos diante de situações de dúvida, de incerteza. Na aventura de buscar certezas, mesmo que provisórias, percorremos caminhos para alcançar alguma utopia, sempre com a esperança de construir um futuro melhor.
Porém, como recomenda Bracht e Almeida,

Os professores que trabalham nessa perspectiva devem ter o cuidado de não enfraquecerem suas melhores intenções, assumindo uma postura de que sua verdade é sempre parcial, contingente e determinada pelas relações de poder que vêm à tona no trato pedagógico, muitas das quais nunca vistas. (2006, p. 117).

Sempre estamos envolvidos com alguma forma de poder inerentes à vida cotidiana ou institucional que, muitas vezes, distorcem e corrompem o melhor propósito humano. Mesmo os atos mais benignos possuem uma trama de influências e de contingências que produzem conseqüências em vários níveis.
A autoridade legal do docente esta na sua competência, de se posicionar não só pelos preceitos atuais, mas também pelos princípios éticos e morais para tomar com imparcialidade suas decisões e, que pelo menos naquele momento histórico-social vivido lhe parece, escolher o melhor caminho a ser percorrido.

4 ? A ÉTICA NAS RELAÇÕES INTER E INTRAPESSOAIS NO CONTEXTO EDUCACIONAL:

Quando se faz parte de uma equipe ou de uma sociedade se exige dos concidadãos, que orientem suas condutas nas mais diversas esferas: social, cultural e política através de regras, normas e leis.
A escola não é somente mais uma forma de diminuir ou compensar as controvérsias sociais. Nem tão pouco levar seus aprendizes à ascensão. Muito menos, prepará-los para a progressão no mundo do trabalho. Sua tarefa primeira corresponde em transformar o animal homem em um ser humano constituído em sua plenitude.
E cada um de nós temos a dura tarefa ser autor da nossa própria identidade. Ser seu próprio escultor. E para viver ele precisa conviver, estamos de alguma maneira relacionado a alguém. E isso ocorre em dupla face, na socialização, quando tornar-se membro de uma determinada cultura e na individuação, ele se torna único, distinto dos demais no interior dessa mesma cultura.
O diálogo é o facilitador da interação entre as pessoas, tem o poder de despertar a reflexão é o néctar do bom entendimento. No livro Pedagogia da Esperança ficaram internalizadas, os ensinamentos de Freire:

O diálogo, na verdade, não pode ser responsabilidade pelo uso distorcido que dele se faça. Por sua pura imitação ou por sua caricatura. O diálogo não pode converter-se num ?bate-papo? desobrigado que marche ao gosto do acaso entre professor ou professoras e educando. (1992, p. 112).

O diálogo é um cenário cooperativo de informações, num intercâmbio verbal, não basta somente entender as palavras do outro, temos que compreender seu pensamento, ir além, procurar conhecer suas motivações.
Podemos absorver através da argumentação o que nos é revelado, somando e contribuindo com nosso crescimento intelectual, psicológico e espiritual. Caso contrário retirar o que não nos interessa, não nos acrescenta em nada. Outra forma de agir ou de pensar pode surgir ou não.

5- A NECESSIDADE DA ÉTICA COMO TEMA TRANSVERSAL:

Os parâmetros nacionais curriculares contemplam como temas transversais: Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde e Orientação Sexual, além de Trabalho e Consumo.
No volume 08 (oito), dedicado especificamente ao tema Ética expressa uma grande preocupação na formação de atitudes e valores nos estudantes. A pergunta por excelência da ética é ?como devo agir perante os outros?. (BRASIL,1997).
O trabalho pedagógico do professor frente a essa temática é de propor atividades que levem o educando a refletir sobre suas atitudes em relação aos outros a partir de princípios e valores.
Os PCNS abrem espaço para a ética, auxiliando-a com quatro blocos de conteúdos.
Estes foram organizados para que os educandos obtenham informações sobre como atuar de forma autônoma e criticamente em uma sociedade democrática.
Destacamos:
a) O respeito mútuo: Todas as pessoas são dignas de respeito, não importa o sexo, idade, cultura, religião, etnia, origem social, opinião.
b) A justiça: Não é somente obediência às leis é muito mais. É à busca do homem na efetiva igualdade de direitos e de oportunidades a todos;
c) A solidariedade: É uma virtude que se inicia com uma vivência, através da prática diária, responsável e fraterna, como ajudar um amigo até a luta por um ideal coletivo.
d) O diálogo: A comunicação é uma arte a ser ensinada e fertilizada. Pode ser uma fonte rica e alegre de escutas, de aprendizados recíprocos, uma forma de esclarecer conflitos e impasses, tanto nas tomadas de decisões individuais e coletivas.

6- A DIMENSÃO ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO:

"A educação escolar constitui-se num sistema de instrução e ensino com propósitos intencionais, práticas sistematizadas e alto grau de organização, ligado intimamente às demais práticas sociais". Libâneo (2001, p. 24).

É na competência profissional do docente que retrata o seu compromisso social. Como toda profissão, o exercício do magistério é uma ação política.
Para Vasconcelos (2003, p. 84), "o querer é condição necessária, para começar a criar um novo poder, a fim de enfrentar os poderes estabelecidos, mas não suficiente".
O verdadeiro propósito da educação é estimular as inovações e as paixões do corpo discente. Aquela que realmente os estudantes estão interessados ou que preencham suas necessidades. "Homens simplesmente no mundo e não com o mundo e com os outros. Homens expectadores e não recriadores do mundo". (FREIRE, 1996, p. 86).
O docente contemporâneo sempre está, ou deveria estar, atento às cotidianas e passageiras mudanças. Revisando e buscando novos conhecimentos, novas estratégias, novos recursos, como instrumentos para desempenhar bem o seu papel. Atualiza-se para enfrentar os desafios que surgem, adquirindo e ampliando sua competência, desenvolve habilidades e construindo capacidades.
Rios (1999, p. 48) acrescenta nesta ótica, que o docente precisa refletir sobre sua prática didático-pedagógica, destacando assim a dimensão ética, revelando verdadeiro significado político de sua ação. Portanto, o sucesso da pedagogia está na progressão escolar, na atuação ética, buscando discutir e refletindo os valores culturais oriundos de segmentos sociais dominantes da sociedade e,que adentram na instituição escolar manipulando através de uma cultura elaborada.
Tal empreendimento exige um forte posicionamento ético por parte do docente sobre suas convicções, princípios, opções, seus valores, sua concepção de mundo. Daí a grande importância de reflexão com as posições práticas e teóricas, da troca, do diálogo com seus pares, com a sua turma.
concepção de mundo.Daí a grande importância de reflexão com as posições práticas e teóricas, da troca, do diálogo com seus pares, com a sua turma.




























7 - REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo: Moderna, 2006.
_________, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 2006.

BRACHT, Valter; ALMEIDA, Felipe Quintão de. Emancipação e Diferença na Educação. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2004.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio ilustrado. Curitiba: Positivo, 2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.


HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

LIBÂNEO. Carlos José. Adeus Professor Adeus Professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 2001.

________, Carlos José. Didática. São Paulo: Cortez, 1992.

PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2003.

RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e Competência. São Paulo: Cortez, 1999.

SANTOS, Clóvis Roberto dos. Ética, Moral e Competência dos profissionais da educação.

VASCONCELOS, Celso dos S. Resgate do Professor como sujeito de transformação. São Paulo: Libertad, 2003.

VALLS, Álvaro L.M. O Que é Ética. São Paulo: Brasiliense, 2006.

VÁZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 28ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

Autor: Carla Melissa Klock Scalzitti


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