O Cinema Novo da década de 1960



O Cinema Novo da década de 1960

Dos muitos conceitos de cinema criados ao redor do mundo sobressaiu-se o Cinema Novo brasileiro que era tido como o grande destruidor do cinema convencional.
A falência das grandes produtoras cinematográficas de São Paulo em meados da década de 1950 se deu por falta de credibilidade de seus idealizadores que apostavam no cinema tido como comercial, deixando de lado a importância das obras de cunho critico social.
Completamente inserido no processo de afirmação dos grupos menos favorecidos, Glauber Rocha e mais uma série de cineastas e pensadores da época observavam o movimento cinematográfico como sendo o libertador de todas as paixões, e em seus muitos discursos acrescentava:
"Continuo fechado com minhas posições de um cinema terceiro-mundista. Um cinema independente do ponto-de-vista econômico e artístico, que não deixe a criatividade estética desaparecer em nome de uma objetividade comercial e de um imediatismo político"
A frase de Glauber Rocha resume o pensamento dos jovens cineastas da época que tinham interesse por produções de baixo orçamento voltadas para a realidade do Brasil.
Chamado por muitos de Cinema Novo e acompanhado da celebre frase: "Uma idéia na cabeça, uma câmera na mão" criada por Glauber Rocha, esse estilo de fazer cinema assumia um papel único no cenário nacional, o baixo orçamento imperava nas produções, as histórias eram bem próximas, o primeiro filme que veio a inaugurar essa nova fase foi Rio 40 Graus (1955) de Nelson Pereira dos Santos, a influência do cinema expressionista Italiano e o vanguardista Francês, baseado na Nouvelle Vague de Françoise Truffaut e Jean Luc-Godard, alimentavam as mentes dos pioneiros desse novo cinema nacional.
A primeira fase do Cinema Novo (1960 ? 1964) vai ser marcada pelo interesse de seus realizadores em denunciar as mazelas da região nordeste brasileira, o trabalhador rural e a miséria da sociedade são os principais pontos da crítica, filmes como Deus e o diabo na terra do sol de Glauber Rocha e Vidas Secas apresentam um roteiro carregado de crítica social, os detalhes filmados de forma natural engrandecem as obras.
Existia essa forte vontade de acabar com o padrão americano de cinema sem conteúdo e feito apenas para entreter ? excluindo nessa atribuição o diretor Robert Rosenstone que tinha a preocupação em transformar o filme em um discurso visual.
Expor as mazelas da humanidade em telas de cinema já é algo freqüentemente usado por grandes cineastas, no Brasil não poderia ser diferente, em Vidas Secas o homem do nordeste permanece como protagonista da pobreza, juntamente com sua família e filhos ele se põe a vagar pelas fazendas a procura de emprego e moradia, terminando por migrar para as terras do sul.
Esse migrar para as terras do sul é algo veemente utilizado tanto em peças de teatro quanto em citações que adornam colunas de jornal, "a saída do nordestino de sua terra natal", "a seca vence novamente e expulsa uma família", a eliminação da esperança persegue a história do sertanejo, a natureza dessas historias permeavam a mente dos homens que adentravam a noite escrevendo seus roteiros, desejosos em realizar filmes que servissem de informação para o povo. E estes homens desafiaram poderes do Estado na década de 1960, e elaboraram seus filmes. A imagem às vezes ressoa mais alto do que as palavras em qualquer panfleto, ela detém um poder supremo, e a mídia faz uso de desse poder, no caso de filmes como Vida Secas as cenas fazem refletir e estigmatizam a mente. Sobre a importância de ressaltar a imagem na construção do debate historiográfico mencionou Ferro:
"É de se perguntar se a necessidade de imagens não cria um deslocamento, um obstáculo de algum modo a uma análise racional de uma situação histórico-social e a definição daquilo que deve ser a informação. Não haveria informação se não houvesse imagens, enquanto que há cem anos a imagem era ignorada. Que reversão! Que paradoxo!"

Os criadores do Novo cinema não estavam preocupados em mostrar grandes acontecimentos históricos, a precisão maior estava em acompanhar as classes desfavorecidas, as pequenas histórias que se desenrolam aos montes por entre as vielas e becos, desde os confins do sertão entre as caatingas até as poluídas e intermináveis ruas de São Paulo, o mesmo povo, a mesma dificuldade em se viver.
Somando as diversas peculiaridades que sobressaiam-se sobre a utilização do cinema para a conscientização da massa a cerca de um problema encontramos mais uma vez o encorajador pensamento do professor March Ferro que em sua principal obra intitulada Cinema e História abre caminho para os desejosos patrocinadores da iconografia, dividindo em dois pontos interessantes a análise: primeiro a leitura histórica do filme (tomando por base o momento de produção do filme) e mais tarde uma leitura cinematográfica da história que seria a utilização dos filmes para uma leitura da história.
Os filmes que são produzidos permanecem como janelas das épocas, a carga de informações é tremenda, seja por mostrar reviravoltas políticas de um tempo ou o simples dia-a-dia de uma população.
Em Deus e o Diabo na Terra do Sol Glauber Rocha utilizou a região nordeste brasileira como cenário de sua história, no filme percebemos a Odisséia de Manuel e sua mulher Rosa que na tentativa de comprar um lote de terra partem numa viagem até a cidade para vender algumas cabeças de gado que acabam por morrer no percurso, isso causa a ira do coronel que é proprietário dos animais, depois de um significativo desentendimento Manuel acaba por matar o coronel fugindo logo em seguida com sua esposa. A estória mescla a idéia de exploração do trabalhador rural pelo latifundiário, com o misticismo religioso, no decorrer do filme Manuel une-se a um grupo de "revolucionários" que tem um líder espiritual chamado de Beato Sebastião, o feiticeiro acaba por reeducar Manuel com promessas de uma vida nova, sua esposa Rosa é deixada de lado e aos poucos vai criando um sentimento de revolta e ódio pelo beato Sebastião.
A miséria, a fome e o coronelismo são traços marcantes dos filmes realizados no nordeste brasileiro, os diretores que surgiram com a proposta do Cinema Novo preocupavam-se antes de mais nada com a grandeza de detalhes das suas obras, baseando-se no estilo de cinema Norte americano Western ou Western spaghetti , como são conhecidos os produzidos por diretores italianos, este trabalho de Glauber ainda faz uso de planos abertos que mostram uma paisagem seca e quase sem vegetação, com um sol forte e escaldante, nesse cenário desenvolve-se toda uma trama que apresenta a personagem Manuel que personifica a figura do homem do sertão nordestino.
A questão messiânica também é enxertada no filme e é trazida a tona através da figura do beato Sebastião, os visionários estão inseridos em muitos contos nacional e são típicos no nordeste brasileiro, homens que destinam suas vidas a ajudar populações de cidades interioranas que buscam desesperadamente a salvação.
O diretor de Vidas Secas assemelha-se a Glauber Rocha tanto pela genialidade em conceber filmes críticos quanto pelo desempenho exercido por trás das câmeras, o que parece ser um traço tanto que peculiar entre os cineastas desse novo movimento estético cinematográfico.
Questões sociais exaltadas, a política é a principal atacada, entre as luzes das câmeras está o povo, e em Minador do Negrão, que serviu de palco para a realização da majestosa obra, restou uma população de humildes moradores que estiveram presentes no episodio que para alguns foi o de maior importância de suas vidas, foi pela lente da câmera que eles observaram o mundo e o mundo por sua vez observou a dura realidade de suas vidas através das grandes telas. Dificilmente algo seria criado não fosse as maravilhas desse inovador e revolucionário Cinema Novo.







Autor: Ailton Da Costa Silva Júnior


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