Manicômio e luta Antimanicomial



Manicômio e luta Antimanicomial
O papel da Psicologia

O "Profissão Repórter" exibido em 20 de outubro de 2009 pela Rede Globo de televisão mostrou as várias faces daquilo que chamam de loucura. Foi tarde da noite. Quem dera fosse visto pelo maior número de pessoas o possível, no lugar da novela das oito. Quem sabe uma luta antimanicomial com sotaque italiano não faria efeito?
A reportagem entrevistou uma ex-interna de um manicômio que hoje trabalha no local e possui casa própria sob o auxilio de uma assistente social. Foi curioso ver algo assim na TV, alguém que sobrevive à própria loucura e à "loucura social". Deram voz a estas pessoas, é realmente diferente e ainda colocaram que ela "ganhou o direito de cuidar da própria vida". Sensibilidade.
Foi lamentável a brevidade com que foi relatada a luta antimanicomial de Brasília, pois, só se viu os portadores de transtornos mentais, não ressaltaram que nessa luta há a participação de todos, sendo os usuários dos serviços de saúde mental, seus parentes, profissionais da área de saúde, dentre outros. A luta não é apenas dos ditos loucos, mas da sociedade, deste modo a heterogeneidade do movimento não reforça estereótipos e preconceitos, mas dá uma lição de cidadania. Dignidade deve ser pra todos.
Neste movimento, uma mulher concedeu uma breve entrevista da qual disse com orgulho seu nome completo, pois, segundo ela, houve um tempo em que não sabia seu nome e era chamada por um número "eu era um número", " hoje sou um ser comum que mora ?nos lugar? que tem direito" disse. Direito de existir, de estar em algum lugar, permissão para ser diferente.
Em momento de nítida incoerência da reportagem, falou-se que os doentes mentais que são pobres e vivem nas ruas são os que mais sofrem. No entanto, quando entrevistados sorriam, brincavam. Um deles mostrou-se bastante espirituoso, não pareciam sofrer por estarem na rua. Na Psicologia sabe-se que não se pode atribuir sofrimento ao sujeito a não ser por seu relato. Eis o lugar da psicologia.
No segundo bloco, a triste realidade dos manicômios que ainda persistem. São pessoas que perderam até o direito à culpa. São aqueles que foram expulsos da sociedade, que os julga de uma periculosidade sem remédio. Perderam o direito de existir. A responsabilização por um ato cometido por um psicótico funciona como uma nomeação, um corpo. O problema deles é com a forma de ser no mundo, não há uma ruptura com a realidade, pelo contrário, no manicômio eles são execrados de qualquer possibilidade de contato com a realidade.
Compete à Psicologia, mais do que qualquer outro ramo de estudo, fazer emergir o sujeito que há naqueles que foram banidos de uma sociedade que esconde seus dejetos e subjuga aqueles que ameaçam a (delirante) harmonia social.


Autor: Rita Cardoso


Artigos Relacionados


Resenha: A Loucura Na Sala De Jantar

Representações Sociais De Adolescentes Do Ensino Médio Sobre Psicologia

AtuaÇÃo Da Enfermagem Frente À Reforma Antimanicomial

HistÓria Da Loucura

A Evolução Histórica No Tratamento Dado Ao Portador Da Psicopatia

Saúde Mental - Luta Antimanicomial, Reforma Psiquiátrica E Cersams

Somos Todos Loucos