O Valor do rio São Francisco



O VALOR DO RIO SÃO FRANCISCO: ??Análise a partir de uma aula de campo da importância de um rio na estruturação de uma sociedade.??

Silas Emanoel De Holanda Santos


Resumo:
As aulas de campo devem ser componentes essências no desenvolvimento prático do corpo discente, pois, ela complementa o que é abordado nas salas de aula pelos professores. Nas aulas de campo o conhecimento obtido em sala na forma de teorias são observados na prática claramente pelos alunos. O objetivo deste artigo é analisar o que foi observado pelos alunos de diversos cursos da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) na aula de campo do mês de maio de 2010 e ressaltar o valor do rio São Francisco para a população ribeirinha, além de fazer uma reflexão sobre a importância de preservar o meio ambiente e a cultura das comunidades que vivem as margens desse rio.


Palavras-chaves: aula de campo, ecologia, cultura, sociedade, rio São Francisco.






1. INTRODUÇÃO

Nas margens do rio São Francisco se desenvolveu um povo que aprendeu a usufruir o que a natureza podia lhes oferecer. O rio São Francisco, pai de um povo trabalhador, sustenta a muitos com suas riquezas, desde a indústria da pesca ao ecoturismo. Esses atrativos fizeram e fazem o rio ser conhecimento em partes do país e do mundo. Foi navegando o rio São Francisco que algumas embarcações portuguesas, com portugueses e escravos, e holandesas desbravaram o interior dos estados de Sergipe e Alagoas, e por esses estados saíram deixando um pouco de sua visão de mundo, costumes, crenças e formas arquitetônicas que, por sua vez, se misturaram a cultura das pessoas que habitam essas regiões. Essa miscigenação de culturas fica visível quando procuramos os traços da colonização portuguesa e holandesa em Penedo-AL. Segundo Marcelo Ribeiro, Cláudia Buzatti e Elton Marcio (2009, p.4) "[...] O patrimônio arquitetônico edificado na cidade, legado por holandeses, portugueses e franceses, é rico e diverso. É possível encontrar marcas do estilo colonial, barroco, como também neoclássicas e até exemplares de art-noveau, do final do Século XIX [...]".
Observando a maneira de produção dos produtos da sociedade ribeirinha, é possível observar que eles ainda carregam traços do modo de produção europeu, visto que eles produzem alguns de seus produtos de forma bastante artesanal, como se estivessem parados no tempo, como pode ser visto nos estaleiros localizados as margens do rio, nos quais, o construtor das embarcações não utiliza a engenharia para fazer suas construções, nem se quer qualquer tipo de croqui na elaboração de suas criações, e por mais incrível que pareça ser, os barcos, conseguem flutuar e transportar pelo rio São Francisco as pessoas, os animais, principalmente o gado, que abastece a pecuária local e veículos, de passeio e de cargas leves ou pesadas, sem apresentar risco a vida ou integridade física de quem ou do que navega sobre as embarcações. De fato, isso expõe quão grande é a inteligência desse povo, que aprendeu tal arte de geração em geração, a sabedoria popular também é muito marcante nesse povo, já que, muitas das doenças são solucionadas sem o uso de medicamentos artificiais, a sabedoria popular os vez conhecer uma vasta quantidade de plantas medicinais que ajuda a população a viver de forma mais saudável.
Além da sabedoria popular, que se perpetua entre gerações, existe outra grande riqueza que é preservada entre essa população, as casas, as igrejas e outros monumentos como o obelisco, que se localiza na Praça Rui Barbosa, os monumentos guardam vários segredos, um recém-descoberto, que é a presença de túmulos dentro das igrejas, e além desse segredo descoberto, existe uma história das famosas passagens subterrâneas, que fariam parte de um forte supostamente construído pelos Holandeses, na época do Brasil Holandês. Esse forte nunca foi achado, mais encontrasse representado em forma de maquete sobre uma rocha localizada na Casa do Penedo. O valor das obras de arte presente nas igrejas é de valor surpreendente, algumas misteriosamente foram roubadas das igrejas e nunca foram achadas, outras foram devolvidas a seu devido lugar. As igrejas não guardam somente arte, mais guardam a história de um povo que sofreu para ver seus direitos estabelecidos, como é o caso dos escravos, que tinham de se esconder dentro de um cubículo, em uma parede falsa dentro da Igreja Nossa Senhora das Correntes, os quais passavam no mínimo três dias a espera da falsificação de uma carta de alforria para obter sua liberdade, esses escravos quando fugiam já tinham uma pequena embarcação a sua espera às margens do rio São Francisco para sair às pressas da cidade e não serem pegos.
A partir desse pequeno caso, podemos demonstrar que até na liberdade dos escravos o rio São Francisco foi importante, de fato, é válido salientar, que não somente para a fuga dos escravos esse rio serviu, mas na época da colonização o rio foi de essencial importância para o escoamento da produção de pescado e mariscos, que fazem parte da principal fonte de renda que compõem a economia das cidades ribeirinhas, que abastece cidades circunvizinhas.
2. DA PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Mesmo vivendo do que a natureza lhes oferece, a maior parte da população ribeirinha compõe a parte da população que ajuda na degradação do meio ambiente, pensando apenas no presente e não observando os riscos para o futuro. Na aula de campo foi possível observar que as margens do rio encontram-se preservadas em algumas partes, mais em outras partes as margens encontram-se devastadas e com bastante lixo, demonstrando então que só poucas pessoas estão preocupadas com a mata ciliar, que é de grande importância para que o rio não sofra com o processo de assoreamento.
Os principais processos degradadores, resultantes das atividades humanas nas bacias de drenagem, causam o assoreamento e homogeneização do leito de rios e córregos, diminuição da diversidade de habitats microhábitats e eutrofização artificial (enriquecimento por aumento nas concentrações de fósforo e nitrogênio e conseqüente perda da qualidade ambiental. (Callisto et al., 2002; Goulart & Callisto, 2003).
Outro problema de questão ambiental que afeta o rio São Francisco é a mortandade de peixes devido à poluição das águas, pois várias redes de esgoto desembocam no rio, deixando as águas túrgidas e poluídas, fazendo com que o nível de oxigênio diminua e mate os peixes por asfixia, afetando não só a qualidade da água, mas também pondo em desequilíbrio toda a cadeia alimentar.
A retirada da vegetação marginal na margem dos rios elimina as barreiras naturais que impedem o carregamento de fertilizantes e herbicidas, expõe as margens à erosão, facilita o transporte de sedimentos e o assoreamento do leito dos rios. Além disso, aumenta o fluxo da correnteza, reduz a capacidade de retenção e infiltração de água no solo, e aumenta os efeitos das enchentes e inundações. (Marcos Callisto, José Francisco Gonçalves Jr., Pablo Moreno, 2003, p.2).

É necessário que aja por parte da população, uma maior conscientização da importância de preservar o rio e sua mata ciliar, além é claro de promover um ecoturismo que não prejudique o meio ambiente. A pesca predatória é outro fator agravante das mudanças do ambiente, pois, os peixes e outros seres aquáticos não tem o tempo adequado para sua reprodução, isso faz com que espécies que estão em menor quantidade desapareçam aos poucos, algumas já não são mais encontradas no rio São Francisco, por causa da ganância dos seres humanos. É sabido pela maioria da população ribeirinha, principalmente pelos pescadores, que é defendido por lei ambiental o tempo para a reprodução das espécies, só que boa parte dos pescadores não faz jus a essa lei e acaba pescando sem limite. O governo deve investir mais na preservação de nossa fauna e flora, e fazer o possível para fiscalizar a maior área possível do rio, para que a lei seja cumprida, e beneficie não só a natureza, mais aos próprios pescadores e pessoas dependentes do rio.

A pesca predatória pode também produzir forte impacto negativo nos estoques pesqueiros. Equipamentos e métodos inadequados ou ilegais são tradicionalmente utilizados por parte dos pescadores. As limitações legais impostas à época, ao tamanho e à quantidade do pescado capturado também não são respeitadas por todos. Por outro lado, a carência de informações essenciais sobre a pesca e sobre os peixes impede o estabelecimento de normas de pesca mais adequadas. (2005, p.52)

2.1. DA PRESERVAÇÃO DA CULTURA RIBEIRINHA

O uso da argila, na confecção de peças de artesanato é bastante frequente, principalmente em Carrapicho, região ribeirinha, pessoas de várias partes vão a Carrapicho em busca de peças artesanais feitas de argila pisada para revender em sua região, o comércio de peças artesanais feitas dessa matéria-prima equivale a maior parte de sua economia, e dá emprego a muitas pessoas que trabalham desde a extração da argila até a fabricação das consideradas obras de arte. Como a argila vem dá natureza, é bastante rentável fazer as peças e vendê-las a um preço menor, é por este motivo que o mercado do artesanato de Carrapicho é sempre cheio de clientes em busca de novidades. Algumas peças são levadas até para fora do Brasil e vendidas a preços exorbitantes, isso é um exemplo de como a arte com argila, que não é muito valorizada pela comunidade local, tem valor em outros lugares.

A maioria da população adulta trabalha direta ou indiretamente com atividades relacionadas à exploração de argila, possuem baixa escolaridade e recebem entre um e dois salários mínimos. As atividades de exploração da argila vêm ocorrendo de forma ilegal e vêm causando sérios conflitos sociais, ambientais e de saúde (assoreamento de igarapés, desmatamento, proliferação de vetores de doenças, etc.). Medidas para melhorar a qualidade de vida e a degradação ambiental são necessárias. Os autores sugerem serviços de vigilância sanitária nas áreas degradadas, usos alternativos nas áreas de escavações inativas, legalização da atividade de exploração e planejamento na ocupação territorial.( Iracely Rodrigues, Luci Cajueiro, Rauquírio Marinho, 2009, p.85)




2.1.1. DO PROCESSO DE CRIAÇÃO

O processo de criação das peças é bastante trabalhoso, pois, boa parte dos artesões trabalha em péssimas condições de higiene e limpeza, sendo levados a trabalhar em galpões quentes e sem refrigeração. Essas pessoas estão propícias a ser contaminadas por muitas bactérias que ficam alojadas na argila, a qual eles têm contato direito, além é claro de serem mal remunerados. A argila, que retirada dos mangues, quando retira por muitos anos, provoca danos ao ecossistema, é o que está acontecendo nas imediações de onde são retiradas as porções desse barro moldável, pois, demasiadas culturas de insetos e pequenos seres vivos estão perdendo seu hábitat, e isso está gerando um desequilíbrio ecológico, o qual é percebido apenas por um olhar mais atento.

[...] a busca pelo desenvolvimento sustentável pressupõe uma maior participação cooperativa dos governos e da sociedade organizada, na qual os governantes por sua vez não têm conseguido resolver equitativamente os problemas relacionados à pobreza, saúde, desemprego e subemprego (exploração). (Jessicleide da Guia Dantas, Aluísio Alberto Dantas, 2007, p.35,36).

A cultura ribeirinha não vem só das artes em argila ou das igrejas com seus altares, cheios de imagens de escultura suntuosas, a cultura ribeirinha está em cada casa que se passa e se vê a maneira de viver, são pessoas que tem modos e princípios bem diferentes do que estamos acostumados a ver. São pessoas que trazem na bagagem muitas histórias de seus antepassados e que preservam esses causos, perpetuando-os através de seus descendentes.



2.2. DOS RESULTADOS ESPERADOS
A explanação feita sobre a importância do rio São Francisco, pretende mostrar a importância de se preservar a natureza, que nos dá o necessário para sobreviver, e que é de vital importância não só para os que vivem na região do baixo São Francisco, mas também mostrar a importância dele no abastecimento de várias cidades, que o utilizam como rota navegável para escoar a produção do artesanato, escoar a produção pecuária e abastecer com água potável as cidades mais próximas. Ressaltar a necessidade de se manter viva e contínua a cultura local, só que de maneira mais sustentável, que não agrida tanto o meio ambiente, mais que continue gerando renda para os habitantes da distinta região. Esperar que as forças políticas atuem em prol do rio São Francisco, dando também assistência educacional, profissionalizante, saúde bucal, medicina preventiva e informativa a população ribeirinha, para que ela possa se integrar as demais partes dos estados, sem perder sua galhardia.
3. CONCLUSÃO
Foi em um cenário cheio de encantamentos e de realidade dura que foram observados tais fatos, de extinção de peixes, de carência de informação, de muita das vezes exclusão social, de necessidade de melhorias no atendimento aos órgãos públicos, entre tantos outros pontos que observamos o quão foi importante o convívio com o rio São Francisco. Ficou evidente que se fazem necessárias a restauração e a preservação do ecossistema do São Francisco. Tal restauração devem constituir ações que sejam benéficas aos pescadores, artesões, famílias em geral e é claro ao saudoso rio São Francisco. Quando isso acontecer, poderemos ter esperança de ver, talvez ainda em nossa geração, ver a vida ganhar força, e se revigorar o que já estava próximo da extinção.
























4. REFERÊNCIAS

RIBEIRO, M., SOUTO, C. B., GOMES, E.M.L. - Uma Análise Das Políticas Públicas em Turismo e Patrimônio Cultural em dois municípios do estado de Alagoas/Brasil: Penedo e Piranhas. Revista de Cultura e Turismo - ano 03 ? n. 02 ? abril/2009 ? Edição Especial.

CALLISTO, M., JÚNIOR, J.F.G., MORENO, P. - Invertebrados Aquáticos como Bioindicadores.

Relatório sobre o curso de manejo na pesca. 2005 ? Cursos comunitários.

SILVA DA, I. R., PEREIRA, L. C. C., COSTA, R. M. - Exploração de Argila em Fazendinha e os Impactos Socioambientais (Amazônia, Brasil). Revista da Gestão Costeira Integrada 9 (2):85-90 (2009).

FERNANDES, J. DA G.D., DANTAS, A. A., Diagnóstico Municipal De Desenvolvimento Sustentável: uma proposta para Carnaúba dos Dantas ? RN. Revista da FARN, Natal, v.6, n. 1/2, p. 33-52, jan./dez. 2007.

GODINHO, AL & HP GODINHO. Breve visão do São Francisco, p. 15-24. In: HP Godinho & AL Godinho (org.). Águas, peixes e pescadores do São Francisco das Minas Gerais. Belo Horizonte: PUC Minas, 2003.

CALLISTO, M., GOULART, M. D. C. - Bioindicadores De Qualidade De Água Como Ferramenta em Estudos De Impacto Ambiental. Revista da FAPAM, ano 2, n.1.


Autor: Silas Emanoel De Holanda Santos


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