O NOME DELA. QUÊ NOME?
Bem, na realidade a mulher não é real. Aconteceu o seguinte:
Eu costumo escrever meus textos no papel para depois colocar no computador. Durante a digitação eu vou corrigindo, modificando alguma coisa e acrescentando novas idéias. Depois que o texto está arquivado no computador, eu rasgo o manuscrito em pedacinhos e coloco no lixo. Acontece que eu tinha outros rascunhos para colocar fora e quando peguei os papeis, peguei também por engano, o conto que tinha acabado de escrever, e que ainda não estava no computador, rasguei tudo e coloquei no lixo. Quando me dei conta disso, corri para pegar o saco de lixo na frente da casa, mas era tarde demais, o caminhão do lixo já tinha levado.
Como era uma boa historia e como eu ainda me lembrava do enredo, resolvi reescrever o texto. Comecei a escrever, mas quando cheguei à terceira página, quando entrava na historia a mulher pela qual o personagem principal se apaixona, parei. Eu não lembrava o nome dela! Na historia original a personagem tinha um nome,
é claro, por sinal o nome combinava com ela. Você diria; é só dar outro nome a ela!
Até pode ser, mas não seria a mesma coisa, entende? É como na vida real, se você foi batizado com um nome não pode ser chamado por outro, percebe? Já pensou se Shakespeare desse outro nome à sua Julieta? Marion? Lucrecia? Anita? Não combina com o personagem! Na vida real, muitas pessoas não gostam do próprio nome por que não se identifica com ele. E é difícil mudar!
Bem, eu me lembrava da personagem que criei como se ela fosse real, me lembrava de como ela era, só não lembrava o nome dela. Deu branco! Eu não podia e não queria dar outro nome a ela. Então, parei de escrever e tentei de todas as formas me lembrar.
Às vezes quando a gente lembra-se de fazer uma coisa e faz outra, esquece da primeira. Retornando ao lugar onde antes se lembrou de fazer a tal coisa, a lembrança vem à tona. Nosso cérebro possui vários nichos onde são guardadas as memórias. Alguns nichos funcionam como elevadores, eles descem para o subconsciente e lá permanecem e só voltam a subir se correntes elétricas cerebrais muito fortes, são acionadas, o que é difícil acontecer. As lembranças que permanecem no consciente são arquivadas e para abrir um arquivo é necessária uma senha. As senhas são associações, por exemplo; peixe está associado a mar, panela a fogão, elefante a marfim, etc.
Se você guardou alguma coisa em algum lugar e esqueceu onde foi, vai precisar lembrar-se do que estava fazendo quando teve a idéia de guardar a tal coisa naquele lugar. Você leu um livro de arqueologia já faz algum tempo, certo dia precisa saber o nome de um rei babilônico. Você sabe, mas não lembra. Então lembra que está no livro, sabe até em que capítulo está. Isso acontece não por que você tem o livro, e sim por que você o leu. Você associou o livro ao o nome.
Bem, passei a fazer varias associações e não adiantou, eu não lembrava o nome da personagem. Pensei que, talvez se eu o lesse em algum lugar lembraria, então peguei a lista telefônica e fui lendo todos os nomes. Não encontrei, não estava ali. Também tentei lembrar com qual letra começava e não adiantou nada. Por fim, desisti, a noite chegou e fui dormir. Foi de manhã cedo, logo que acordei que o tal nome surgiu como sol explendido, majestoso! Durante a vigília nossos sentidos ficam alerta, mas é durante o repouso que a memória se organiza e se fortalece.
É isso, foi assim que aconteceu o tal esquecimento. Lembrei-me do nome da personagem e terminei a historia.
Qual era o nome dela? Bem, me deixa lembrar qual mesmo foi a historia?....
FIM
antonio stegues batista
Autor: Antonio Stegues Batista
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