Tópico e Comentário X Tema e Rema



Universidade do Estado do Rio de Janeiro ? UERJ
Faculdade de Formação de Professores ? FFP
Especialização em Língua Portuguesa
Disciplina: Morfossintaxe II
Professor: Antônio Sérgio Cunha
Alunas: Alice Moreno, Ana Paula e Michelle Rangel

Proposta do trabalho: Faça um levantamento dos principais pontos por Ilari na abordagem ATR e de Pontes na abordagem da estrutura tópico-comentário, comparando os dois trabalhos.

Análise Comparativa das Abordagens Tema-rema e
Tópico-Comentário

Temos por proposta apresentar uma análise comparativa entre os estudos de Ilari (1992) sobre a articulação tema-rema e de Pontes (1987) sobre a estrutura tópico-comentário.
O estudo desenvolvido por Ilari (1992) tem por propósito "levantar e organizar no tocante ao português os principais fatores referentes à articulação da frase em tema e rema(...), apontando os principais problemas teóricos envolvidos em sua análise" (p. 10), visto que, a articulação tema-rema (ATR) tem sido assunto secundário (cf. ILARI: 1992, 11). Para cumprir este propósito, Ilari apresenta uma discussão teórica sobre o assunto e apresenta o percurso dessa teorização detendo-se nos pressupostos teóricos de Paul (1886), Halliday (1967b; 1970; 1972; 1973) e da Escola Linguística de Praga divulgada no Brasil na década de 60. Além dessa discussão teórica, Ilari faz uma análise da articulação tema-rema em português buscando uma correlação entre os sistemas de conteúdos da oração a um sistema de marcas fônicas.
Para Pontes (1987), seu estudo tem a importância de trazer para a discussão linguística a língua oral uma vez que, "a gramática tradicional sempre deu atenção à língua escrita e os trabalhos de pesquisa lingüística ultimamente, com honrosas exceções, não têm se preocupado em descrever a língua oral (p.12)". O estudo realizado por Pontes ainda vem questionar a classificação da língua portuguesa como uma língua de sujeito-predicado, demonstrando ser a língua portuguesa uma língua com proeminência de tópico e sujeito, tendo por fundamento teórico os estudos de Li e Thompson (1976).
Podemos afirmar que tanto Ilari quanto Pontes desenvolveram estudos que trouxeram para o centro da discussão linguística assuntos pouco abordados até então, além do fato de apresentarem esses assuntos sob a ótica da língua portuguesa. Logo, ambos os estudos são importantes contribuições para os estudiosos da língua portuguesa.
O corpus de análise de Pontes (1987) pode ser classificado como registros da língua oral coloquial, em sua grande maioria, que segundo a autora, foram colhidas de conversas informais não gravadas. Já o corpus de análise de Ilari (1992), nos parece ser composto por sentenças não realizadas efetivamente, mas criadas para exemplificação, o que vai de encontro a sua fundamentação teórica, e estariam no âmbito da língua escrita culta.
Pontes (1987), apesar de trabalhar com a língua oral, não privilegia em seu trabalho a entonação. No entanto, Ilari (1992) trabalha com a entonação, mas não tem um corpus efetivamente realizado por falantes em uma conversa espontânea. A limitação de Pontes possivelmente reside no fato de seu corpus não ter sido gravado. Segundo a autora, por este motivo,
"não foi possível registrar se há uma entonação característica para o tópico. Às vezes, encontra-se uma pausa (que varia, podendo ser mais longa ? mas é mais raro) mas não é sempre. Há muitos casos em que não há pausa nenhuma entre o tópico e os comentários. Mesmo as frases de "duplo sujeito", pode-se falar sem pausa. Resta fazer um estudo com conversas gravadas para se determinar se há alguma entonação característica". (p. 12- nota de rodapé)

Quanto a Ilari, a explicação para seu corpus, talvez resida no fato de limitar-se a "período simples, não elípticos e que sejam comensuráveis a uma única unidade informativa" (p.31) embora reconheça que a articulação tema-rema não se limita ao nível oracional.
Há uma semelhança entre o tópico e tema, bem como entre o comentário e rema. Tópico e tema podem ser definidos como informação velha, enquanto comentário e rema como informação nova. Ilari (1992) reconhece que o tema da oração nem sempre corresponde ao seu sujeito, o que também nos fala Pontes (1989) sobre o tópico ao tratar das sentenças de duplo sujeito, mostrando que a relação entre o comentário e o tópico é muitas vezes puramente semântica e se dá apenas no nível do discurso e não da sintaxe.
Assim como podemos atribuir a estrutura tópico-comentário um papel discursivo, dado que "o tópico é dependente do discurso", afirma Pontes (1987: 21) a articulação tema-rema também, diz Ilari "todos concordam em atribuir um papel discursivo à ATR" (1992: 34).
Pontes (1989) ressalta que o tópico da construção tópico-comentário não tem correspondência alguma com tópico do texto, ou seja, o assunto do texto. Mas que o tópico da construção tópico-comentário é mais restrito, estando mais próximo da sintaxe.
O tópico para Pontes (1989) é o primeiro SN, sobre o qual segue o comentário, uma sentença com sujeito e predicado. Semelhantemente, Ilari (1992) comentando Halliday, diz ser o tema "o primeiro segmento de qualquer oração, seguido pelo rema; tema e rema, cumulativamente, constituem uma estrutura que tem como origem a oração, e é relevante para a sua organização textual" (p. 21).
O tema articulado ao rema, pode ser analisado no nível oracional, mais próximo da sintaxe, como o tópico. Mas também pode ser analisado em grupos tonais, como faz Ilari em "As configurações entoacionais que exprimem a ATR". Os grupos tonais podem ser maiores ou menores do que uma oração. Porém, Ilari (1992) afirma que, na proposta de Halliday, "não fica claro se as observações que uma análise ATR permite fazer sobre o período simples se aplicam igualmente a períodos complexos" para o autor "responder a essas dúvidas, seria preciso dispor de uma investigação muito mais ampla do que a que de base para este livro" (p. 31).
Uma diferença que pode ser assinalada reside no direcionamento dos estudos, Pontes (1987) busca apresentar as características do tópico nas línguas de tópico, Ilari (1992) se propõe a construir "um teste operacional que, aplicado a orações, nos dê sua articulação em tema e rema" (p.38).
Podemos perceber que tanto o estudo de Ilari (1992) e o de Pontes (1989) nos fazem um apelo, desenvolver pontos não abordados, o estudo de entonações nas construções tópico-comentário (PONTES: 1989) e a investigação da extensão da articulação tema-rema (ILARI: 1992), o que de modo algum tira o brilho desses trabalhos pioneiros, que nos instigam a aprofundar nossos conhecimentos linguisticos.
As noções de tema e rema (e suas variantes) surgem também num estudo linguístico do Circulo de Praga (CLP), em Paris (1926) e têm sido, desde então, abordadas de maneira bastante diferenciada, se levar em conta os estudos voltados para funcionalismo, gerativismo, fonologia entre outros. Essa diversidade de pontos de vista se reflete também na variada terminologia utilizada para se referir ao fenômeno: tema-rema, tópico-comentário, pressuposição-foco, suporte-aporte, fundo-figura, etc. (Kruijff-Korbayová & Steedman 2003).
Ainda comparando as abordagens, Pontes examina uma vertente da estilística que Ilari não o faz. Em seu texto, Pontes apresenta que Li e Thompson (1976) denominam "estrutura de duplo sentido" as construções que apresentam um suposto sujeito ? termo topicalizado ? ou sujeito discursivo e um sintático ? sujeito gramatical da sentença SVO. A GT (Gramatica Tradicional) utiliza o termo "anacoluto" parta identificar tais frases, pondera Botelho (2010).
Pontes, ainda em seu texto (1987), menciona Said Ali o qual "define anacoluto como uma construção em que se interrompe uma parte da oração e, em lugar do seguimento pedido pela sintaxe, se passa a uma construção nova (1965, 220).
Nessas construções, não é possível identificar um elemento da oração que foi deslocado ou topicalizado, (...). Ou seja, não seria possível explicá-las por transformação, ou mesmo por qualquer critério sintático. Elas têm que ser entendidas ao nível do discurso. Para interpretá-las, temos que recorrer muitas vezes ao que foi dito antes. (PONTES, 1987, 83)

Corrobora Eunice Pontes (1987), referencia em estudos de Tópicos no português do Brasil, podemos encontrar construções de tópicos no nosso português "escrito", bem antes do que imaginamos já nas escritas dos antigos escritores brasileiros:
Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e escura. (Manuel Bandeira apud D. Tufano, Gramática e Literatura Brasileira, 1995: 187)

A noção de tópico, portanto, não está incorporada à estrutura sentencial do português.
Desta forma, reiterando com a ideia de que para a Gramática Tradicional, que consolida a língua portuguesa como uma língua de ordem direta, algumas estruturas da língua são classificadas como figuras de linguagem, supracitado. Temos, logo, anacoluto ? quebra do pensamento lógico, devido à interrupção de uma estrutura explicativa normalmente longa. Exemplo:
Eu agora, cabo desculpa de concurso, né?
Nos limites da GT, a análise prosódica, a qual tem como objeto o estudo do ritmo, da entonação e demais atributos correlatos a língua, é marcada por pausas, onde se revela as diferenças no significado. Visto isso, na concepção tema-rema, há uma preocupação com a ordem dos constituintes, pois é nesse nível segundo Halliday que se distingue o que é tema e o que é rema. Para Ilari (1992), o tema seria caracterizado como o segmento inicial de qualquer oração e o rema é o que se segue.
Sendo o anacoluto composto arbitrariamente por sentenças de tópico-comentário, temos a explicação do exemplo anterior, onde Eu agora parece sujeito (tópico) e também funciona como anacoluto (agora sem função sintática). Já o restante da sentença, cabô desculpa de concurso, né? funciona como comentário. Segundo Pontes, é possível identificar que falta alguma coisa que ligue explicitamente o tópico ao resto da frase.
"Não é possível colocar nenhum pronome-cópia no lugar de onde o tópico foi tirado, pois não há esse lugar. A relação entre o tópico e o comentário que se segue é estabelecida pela simples colocação de um em seguida ao outro, pelo conhecimento do mundo, ou pelo que foi dito anteriormente. (PONTES, 1987, 84)

Já em Ilari tem-se que a análise da ATR reduz-se a uma segmentação, que se faz sobre a linearidade da oração. Hermann Paul (1886) levanta as denominações sobre sujeito e predicado psicológico. Tem-se em definição de sujeito psicológico a quantidade de idéias existente no consciente do que fala. Já o predicado psicológico associa-se ao sujeito psicológico e é aquilo sobre o qual aquele que fala quer fazer o ouvinte pensar, para onde quer lhe dirigir a atenção, é aquilo que se fala sobre o sujeito psicológico.
Assim, nesse estudo ATR há intencionalidade por parte do enunciador da sentença. Paul (1886), citado por Ilari, faz uma inferencia ao predicado psicologico que pode estar presente na ATR explicando que este é o foco pra onde o falante quer dirigir a atenção nao apenas numa relação sintatica de "palavras postas lado a lado" mas numa relação intencional do enunciador. Diferente do anacoluto, citado por Pontes onde não é possivel ecplicar por qualquer transformação ou mesmo por qualque criterio sintatico, já que há um desrespeito às regras de sintaxe como a concordancia verbal.

Referências bibliográficas

? BOTELHO, José Mario. In: A ordem dos termos em português e a topicalização.

? DELPECH, Alexandre Henrique. Uma comparação do tópico-comentário com a articulação tema-rema no português: uma visão formal, coloquial e estilística. Disponível em: http://www.nead.uncnet.br/2009/revistas/letras/9/91.pdf

? ILARI, Rodolfo. Articulação Tema-Rema. 2ª Ed. São Paulo: Ática, 1992.

? KRUIJFF-KORBAYOVÁ, Ivana and Mark Steedman. Discourse and information structure. In: Journal of Logic, Language and Information 12: 249-259, 2003.

? PONTES, Eunice. Da importância do tópico em português. In: O tópico no português do Brasil. Campinas: Pontes, 1987.
Autor: Alice Da Silva Moreno


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