A História Oral e seus atavios diversos: A importância da narrativa na construção do saber histórico.
Sobre o interessante mundo da narrativa histórica mencionou Sônia Maria de Freitas em um de seus livros que, relatando as experiências sublimes que acentuam a importância dessa técnica de pesquisa:
"Uma das primeiras experiências com Historia Oral no Brasil ocorreu no Museu da Imagem e do Som ? MIS/SP (1971), que tem se dedicado a preservação da memória cultural brasileira. Outras experiências ocorreram no Museu do Arquivo Histórico da Universidade Estadual de Londrina, Paraná (1972), e na Universidade Federal de Santa Catarina, onde foi implantado um laboratório de História Oral em 1975. Porem, a experiência mais importante e enriquecedora tem sido a do Centro de Pesquisas e Documentação de Historia Contemporânea do Brasil ? CPDOC, ligado a Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, que dispõe de um setor de Historia Oral desde a sua fundação, em 1975."
O historiador que utiliza a história oral como base de pesquisa em seus estudos abre caminho para pessoas que guardam em suas mentes resquícios de relatos perdidos no tempo, a partir de um conceito de inclusão social cidadãos podem confabular com pesquisadores e ajudá-los a construir a história.
A história narrada respeita as diferenças entre as pessoas, ela transforma todos em personagens históricos, desde o vigia noturno ao presidente de uma empresa, os olhos de todos mirados para um fato, este fato atravessa as eras como fotografias amareladas extraídas de um velho álbum esquecido pelo tempo, mas nunca pelo historiador.
A base da história oral é, sem sombra de dúvida, a reunião de fatos, comentários e impressões de acontecimentos. Segundo as palavras de José Carlos Sebe Bom Meihy, sobre história oral: "Como registro de experiências de pessoas vivas, expressão legítima do "tempo presente", a história oral deve responder a um sentido de utilidade prática, pública e imediata."
Essa utilidade a qual se refere José Carlos Sebe encontra ênfase maior no que diz respeito ao resgate de fragmentos de história perdidos na memória de diversas pessoas, pedaços de um grande quebra-cabeças que vai se reconstituindo por meio do relato oral de pessoas que vivenciaram o acontecido.
É obvio que não se poderia deixar de lembrar a importância do documento escrito na pesquisa a ser feita, a utilização da história oral nos tempos atuais se da devido ao fato de ela ser de aceitação popular quebrando desmedidamente com todo o formalismo acadêmico.
A modernidade tende a dinamizar as técnicas de pesquisa, o historiador que antes realizava sua entrevista munido de papel e caneta, tem a sua mercê, hoje, uma serie vasta de aparelhos que facilitam seu trabalho, gravadores de voz, câmeras digitais e computadores oferecem um mundo de opções mais rápidas para se documentar, complementando mais uma vez José Carlos Sebe:
"É importante valorizar a relação que se estabelece entre a história oral e os aparelhos tecnológicos dispostos ao consumo do mundo moderno. O uso da mediação eletrônica, através dos vários aparelhos colocados no mercado, faz com que quem trabalha com história oral se insira no espaço cultural de seu tempo, valando-se também dos meios disponíveis para a melhoria da condição intelectual."
Os meios de comunicação acabaram por destruir as fronteiras do mundo, a facilidade para interagir com pessoas em outras partes do globo abriram espaço para discussões insistentes sobre o ponto de vista do historiador, ponto de vista que não se resume a uma tela de computador ou a um simples vídeo conferencia, deixando claro que o contato do pesquisador com um entrevistado é trivial. Esse contato por meio de gestos que variam de acordo com as palavras é diretamente proporcional a objetividade da entrevista, o comportamento do entrevistado vai mudando na decorrência da entrevista, existe paixão em alguns relatos, ódio em outros, sentimentos afundados em esquecimento são trazidos a tona através da narrativa.
Autor: Ailton Da Costa Silva Júnior
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