Simbolismo das imagens: navegando pelo universo da arte



Simbolismo das imagens: navegando pelo universo da arte


(Profª PaTTi Cruz - Pedagoga Especial, Esp.Arteterapia,
Consultora de Desenvolvimento Humano e Criatividade
Docente do Curso de Pós Graduação Lato Sensu de Arteterapia - Centrarte/RS, Coord.Theia Criativa ? Espaço de Desenvolv.Pessoal e Processos Craitivos , Contadora de Histórias )




As imagens são referenciais desde o início da comunicabilidade entre os seres humanos e conecta os dias de hoje aos mundos mais antigos, nos permitindo desvendar características de épocas e pessoas que viveram nas localidades mais remotas. Os povos da antiguidade deixaram suas marcas e as marcas de sua história gravadas para toda a eternidade nas paredes de cavernas que nos possibilitaram saber sobre o surgimento das civilizações. Neste contexto das imagens encontram-se vinculadas as suas significações, simbolismos e o aparecimento da palavra e do registro das idéias. A escrita e a construção dos sentidos vêm acompanhando o homem em sua evolução. O que cada contexto social revela em sua forma de comunicação são representações de suas formas- pensamento, são características de um povo e de todo o seu legado. As diferentes formas de comunicar-se revelam também as diferentes formas de pertencer ao meio, de criar um espaço próprio de ser. A imagem passa a ser um instrumento que revela não só as origens de um tempo, mas, dialoga neste espaço onde as palavras não conseguem percorrer, entre o consciente e o inconsciente, entre o sentido e a forma, entre a sensação e a concretude de idéias.

A descrição de imagens pressupõe uma análise subjetiva do que se vê, mesmo que seja um simples objeto, comum aos olhos de todos. Claro que é possível também descrever um objeto com imparcialidade, contudo não quer dizer, que as experiências em relação e ele não estejam resguardadas. Uma fruta, uma flor, uma paisagem, uma cadeira, por exemplo. Posso descrever o objeto cadeira como algo definido em suas formas e linhas, em sua composição material e demais características físicas. Posso descrever a cadeira como um objeto que associo a descanso, conforto e consigo vislumbrar alguma cena que me lembre infância, avô lendo seu jornal, avó tricotando, gato aproveitando o sol na cadeira de (alguém)...Desta forma, nas descrições estão contidas as experiências em relação aquele objeto que me leva a identificá-lo como tal e que também me remete a pensar sobre ele como algo para além de meu conhecimento, para algo mais do que apenas a compreensão do que se trata, me remete a atribuição de um sentido emocional, pelas lembranças despertadas.

Gaston Bachelard (A água e os sonhos, 1998. p. 18. ) menciona: "a adesão ao invisível, eis a poesia primordial, eis a poesia que nos permite tomar gosto por nosso destino íntimo... A verdadeira poesia é uma função de despertar". Ela está na capacidade de imaginar, projetar imagens, é isso que nos permite a experiência poética. Para tanto, é preciso ter disponibilidade interna para ver o mundo e senti-lo com alma de poeta e isso quer dizer, poder encantar-se com a vida e suas dimensões mais simples, estar aberto às emoções e se não compreendê-las, apenas acolhê-las como algo que faz parte de nossa humanidade.

Toda imagem, qualquer que seja está contida de uma idéia ou associação a respeito dela. Toda palavra, qualquer que seja contém nela uma imagem. As imagens, quando não estão dispostas a nossa frente, quando no momento não são reais, são produtos mentais. São produtos, do que conhecemos, vivenciamos, são produtos de associações que fazemos a partir de experiências pessoais. Podem ser produto também, quando não conhecemos de forma direta (objeto ou "coisa" em questão), criação de nossa mente, a partir do que ouvimos a respeito ou simplesmente imaginamos, projetando-a e dando forma e sentido. A "dor" que sinto ao ler a palavra saudade e ao mesmo tempo observar uma foto de alguém distante, não é a dor que é provocada pelo objeto ou letras associadas, mas sim a dor vinculada à sensação que é despertada pela sua representatividade no contexto subjetivo de minha história e ligação com a pessoa em questão. Então, tão complexo quanto a palavra que ocupa o espaço na leitura é o desabrochar das relações que são feitas a partir daquilo que vivemos e que definem as nossas interpretações e sentidos àquilo que lemos ou escrevemos. Não é preciso recortar a palavra de seu meio textual, nem livrá-la de suas conexões gramaticais, mas, necessitamos experimentá-las participando de um contexto que referencia ser, significar e sentir.

As imagens estão, portanto, presentes em nossa mente imaginativa, é preciso consentir que elas participem de nossas vidas da maneira mais espontânea possível. No universo da Arte as imagens têm força total, onde surgem de formas distintas e criativas. Desde sua aparência original, como na fluidez de todas as transformações que possam assumir, ou a que seus autores lhes permitirem. Quando falamos aqui em Arte é preciso destacar que por muito tempo e talvez ainda hoje, este complexo mundo artístico transita entre a conotação estética e a conotação de sentidos que as imagens possam revelar e ainda é provável que estas características, quase sempre, caminhem lado a lado. Mas, não podemos esquecer nunca que as obras, as manifestações artísticas tratam sempre do homem-relação, do homem, portanto, em relação com o mundo, com tudo que o rodeia e o torna componente essencial do eixo da vida.

A Arte quase sempre ficou entre a dicotomia dos extremos: elevar a personalidade do autor ou classificá-lo dentro ou a partir dos padrões e conceitos sociais. Em certo ponto, aqueles envolvidos com arte ou pela arte diferenciavam-se dos demais por serem considerados gênios e/ou loucos, assim como Kafka, por exemplo, é conhecido: o Gênio do absurdo, por sua linguagem metafórica e fora dos "padrões" de uma época. Em suas mais diferentes formas de manifestação a Arte aparece como expressão dos sentimentos e dá sentido aquilo que parece sem sentido pela falta de entendimento concreto, mas, que no mundo do abstrato torna possível uma forma de compreender e comunicar. As considerações de familiares a respeito de seus "doidivanas" eram sempre de desagrado ou deboche, ironias das mais perversas. O pai de Michelangelo, por exemplo, dizia que artistas eram trabalhadores não melhores do que sapateiros. Camille Claudel passou anos sem falar com a mãe, por contrariar suas determinações de não envolver com a arte da escultura e modelagem, revirando pedras e barro, sentindo a vida pulsar. As famílias não apoiavam os supostos "delírios" artísticos que norteavam não só a imaginação, mas também regiam a vida destes fascinantes personagens reais. É neste contraponto entre o que é real na arte e o que é devaneio que se instaura seu significado. É quando não mais se têm estradas para seguir às escolhas do que no mundo, "devidamente formatado" pelo contexto social, indica como ajuste coerente da razão, que se persegue o caminho controverso. Surge então na Arte uma possibilidade de delatar o que aos artistas se associa como "desajuste". Desajuste de seu entendimento em relação aquilo que não compreendem ou que não concordam no mundo, desajuste de aceitação lasciva dos fatos que nada tem a ver com o sentido real, mas apenas com o sentido tido como mais adequado a moral e bons costumes daqueles que "controlam" e mantém a suposta ordem. É justamente, na política do descontrole que a alma do artista é incompreendida, refutada ao desleixo humano. E a força do artista emerge com todo seu manancial de grito contra as tiranias, em suas obras. No espaço recondicionado do mundo moderno, dos séculos mais atuais, ainda se encontram os desbravadores de sentimentos, que oferecem aos que desejam outra forma de perceber o mundo. Certamente, que tudo aquilo que assusta, ao mesmo tempo fascina, pela doce curiosidade da descoberta, da exploração do que está velado. Desta forma a psiquê do homem sempre designou os caminhos da busca pela sua compreensão, e há mistérios, muito mais do que supomos, a serem desvendados. Contudo, desde que se tornou viável expressar "secretamente" pelas artes, toda sentimentalidade, o artista abriu-se para o mundo. Abriu-se para o seu mundo, em primeira ordem, pôde ver-se de uma forma espelhada na obra, pôde revelar suas paixões, angústias, e colocar-se a mercê, em seguida, do olhares capciosos, que ora agregam a si tais sentimentos, identificando-se com o artista, ora avaliam a alma do autor colocando-o em uma posição delicada entre a genialidade e a loucura.

Não importa a ordem ou os acontecimentos, importa apenas que a obra existe, assim como tais sentimentos que agora, são reais e palpáveis e nela estão simbolizados. Jung em todo seu referencial sobre o homem e seus símbolos convoca-nos a procurar por estes pequenos talentos em nossa memória que revelam um pouco mais sobre nós, e que prometem transgredir as barreiras do desconhecido trazendo à tona nossas atormentações e outras sensações talvez mais amenas, com a idéia clara de entendê-las e transmutá-las. Freud adentrava o espaço tênue entre a realidade e o mundo dos sonhos de seus pacientes, na tentativa de compreender o que a razão não tinha condições de confidenciar. E assim, muitos outros que proliferaram o resgate do ser a partir das imagens e os sentimentos contidos na alma do homem, passaram a fazer parte deste seleto e concomitantemente, vasto grupo de apreciadores da expressividade artística.

Hoje, para muitos o cenário artístico é revelador de novas nuances da vida, é revelador de um novo olhar do homem sobre si mesmo, sobre como é enfrentar as adversidades que são apresentas ao longo da trajetória de cada ser, encontrando na livre forma de expressão, instrumentalizada por pincéis, palavras, melodias, movimento corporal, teatralidade, modelagem, escultura, uma maneira original de apresentar a si os sentimentos contidos nas profundezas de seu âmago. Assim, poeticamente, todos os artistas, em evidência ou não, levam em sua alma a linguagem universal dos sentimentos, permitindo ao mundo navegar neste imenso mar dos simbolismos e metáforas.



O que as imagens revelam? O que revelam as palavras ?

"As imagens revelam serenamente detalhes, cores, contornos e formas intensas.
As imagens revelam áreas escondidas em nosso ser que resistem à expansão e outras já densamente habitadas.
As Imagens revelam os mistérios de Júpiter, de sua beleza plena aos redemoinhos de anéis que o abrigam.
As Imagens revelam os mares e ilhas em lua de Saturno.
As imagens revelam a força do átomo e o impacto das mudanças.
As imagens revelam o encontro entre a luz e a água que fecunda a despedida do sol no espaço celeste.
Palavras...
O espaço das palavras...
Vida longa às palavras a partir da permanência das imagens em nossas mentes...
Que movimentam o imaginário fantástico, percorrendo nosso mundo interno. Nossas histórias e caminhos, explorados e inexplorados, em lugares que habitam vidas e lugares inóspitos, mas que aos poucos se preenchem a cada salto no universo.
Vida longa às palavras que se fixam nos papéis brancos ou coloridos, com linhas ou desnudos, com margens ou livres de indicações, com a pureza da alma de quem sente a necessidade de revelação.
Vida longa às palavras através das imagens!
Vida longa às imagens através das palavras que representam as sensações.
Vida longa às imagens através das sensações que não podem ser expressas em palavras, mas que reservam seus registros no mundo oculto dos sentimentos do outro mundo, do outro ser que desconhecemos!
E neste encontro entre imagens e palavras inscrevo na pedra a força de suas mensagens, explícitas e ocultas que revelam sutilezas e severidades à luz do pensamento".


Autor: Patricia Machado Cruz


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