O Romantismo em Razão e Sensibilidade
Rocha, Suzana Dantas ? Faculdade Atlântico (autora)
Russain, Cristiane Nunes de Santana ? Faculdade Atlântico
Resumo:
A presente pesquisa partiu do princípio da leitura do romance Razão e Sensibilidade da autora Jane Austen, juntamente com a análise do filme Razão e Sensibilidade da diretora Ang Lee de interpretação e roteiro de Emma Thompson. O romantismo em Razão e Sensibilidade permite detectar como essa obra se enquadra no movimento romântico, além de informar como sua autora, Jane Austen, atualmente influencia autores que a tem como referencial. Neste romance a autora faz uma abordagem crítica de sua época, a qual, consegue a todo momento transpor a realidade em que viveu para a ficção. A intenção maior neste artigo científico é criar nos leitores desse romance um novo meio de aprofundamento pós-leitura para um maior entendimento do que a autora coloca em sua obra, além de despertar nos que ainda a lerão um interesse positivo para assim poder contribuir com a propagação de seu romance no mundo. Nesta obra vários fatores foram explorados enfaticamente para que pudessem despertar a curiosidade dos leitores para as questões essenciais contidas na obra de Jane Austen. Além disso, pode se observar todas as características românticas existentes em Razão e Sensibilidade.
Palavras-chaves: romance, Razão e Sensibilidade, romantismo, Jane Austen e leitores
Abstract:
The search started with the principle of reading the novel Sense and Sensibility from the author Jane Austen, along with the analysis of the film Sense and Sensibility of the director Ang Lee, interpretation and script of Emma Thompson. The romanticism in Sense and Sensibility allows to detect how this work fits in the romantic movement, as well as to inform its author, Jane Austen, currently influence authors that hás her as reference. In this novel, Jane Austen makes a critical approach of her time, which can transpose the whole time on the reality that lived for fiction. The higher intention in this article is create in the readers of this novel a new way of deepening post-reading to a greater understanding of what the author puts in her work, in addition to awaken in that who will read a positive interest thus can contribute to the propagation of her novel in the world. In this article several factors were explored emphatically so that they could arouse the curiosity of readers to the key issues contained in the works of Jane Austen. Moreover, it can be observed all the romantic caracteristics existing in Sense and Sensibility.
Keywords: Romance, Sense and Sensibility, romanticism, Jane Austen and readers
Introdução
Este projeto foi desenvolvido a partir de uma metodologia científica que serviu de base para sua elaboração. A metodologia utilizada foi a bibliográfica, através de livros, revistas, filme e sites na internet.
Dessa forma, foi realizada uma pesquisa, relativa aos contextos históricos dos séculos XVIII e XIX. Também foram consultados os conteúdos sobre a escola literária em que a obra em questão está inserida, a vivência da autora e suas experiências de vida.
Este estudo tem por objetivo mostrar como a mulher burguesa era tratada na instituição maior daquela época, ou seja, a família.
Além desse aspecto, objetiva-se identificar os aspectos histórico-sociais que influenciaram na produção dessa obra e como essa autora influenciou outros autores de épocas posteriores.
Este trabalho além de retratar a autora da obra escolhida também busca analisar os aspectos que fazem desta produção de Jane Austen uma obra literária: as características da escola literária em que a obra está inserida e a sua influencia.
Romantismo
O romantismo é um movimento estético que configura um estilo de vida e de arte predominante na civilização ocidental no período que compreende, aproximadamente, a segunda metade do século XVIII e a primeira metade do século XIX.
[...] trata-se de uma linguagem que, à frieza da inteligência, contrapõe a emoção e o sentimento; a opressão rigorosa das regras artísticas opõe a insubordinação do gênio criador. O surgimento da burguesia como classe ascendente e a manifestação do espírito romântico constituem fenômenos inseparáveis. [...] (CADEMARTORI, 1990, p. 37)
De acordo com Cadermatori (1990, p.37), no século XVIII, surge a burguesia moderna, juntamente ao individualismo e a valorização da originalidade. Essa burguesia vê no romantismo a verdadeira expressão do sentido burguês e uma maneira de lutar contra a mentalidade aristocrática e classicista que pretende estabelecer o que é válido e valioso.
Os começos do movimento romântico, entendido como estilo de época, estão, portanto, situados na Alemanha e na Inglaterra, expandindo-se depois para a França, Itália e Portugal.
Por volta de 1825, o romantismo já é uma realidade em todos os países do Ocidente e, apesar das diferenças caracterizadoras da cultura de cada país, mantém uma série de traços comuns que o marcam como um movimento de âmbito universal.
No século XVII é usada a palavra "romantismo" e seus derivados, na França e na Inglaterra, para designar "certo tipo de criação poética ligado à tradição medieval de ?romances?, narrativas de heroísmo, aventuras e amor, em verso ou em prosa, cuja composição, temas e estrutura eram sentidos em oposição aos padrões e regras da poética clássica".
Segundo Cademartori (1990, p. 38), o individualismo, o emocional e o moralismo são as características mais marcantes do início do romantismo. A estas acrescenta-se mais tarde a propensão à melancolia e ao pessimismo.
No século XVIII, o romance tornou-se a principal forma de entretenimento e informação dos ingleses, que apreciavam excessivamente o amplo painel de sua vida cotidiana pintado por vários autores.
Especialmente a partir de 1850, o gênero experimentou o extraordinário apogeu. Surgiu um conjunto de obras-primas escritas por Flaubert, Zola, Dostoievski, Tolstói, Turguêniev, Eça de Queirós, Joseph Conrad e Machado de Assis, entre outros. As técnicas narrativas tornaram-se mais requintadas, aprofundaram-se as experiências humanas e ampliaram-se as visões de mundo. Desde a velha Grécia, a literatura não falava tão aproximadamente aos homens comuns.
Jane Austen
Jane Austen nasceu no dia 16 de dezembro de 1775, em uma residência paroquial no povoado de Steventon, Hampshire, Inglaterra. Ela foi a sétima criança de uma família de oito filhos. Seus pais, George Austen, e Cassandra, viviam com uma renda anual considerável que era completada pela tutoria de pupilos, os quais viviam com a família Austen durante os estudos. Seu interesse em escrever surgiu desde tenra idade, e tinha como objetivo entreter sua família. Eram charadas e peças escritas e atuadas pela Srta. Austen e sua inseparável irmã, a Srta. Cassandra. Tais produções foram resultado das leituras que Jane fizera dos livros da vasta biblioteca que seu pai possuíra.
O interesse primordial de Jane Austen está nas pessoas, não idéias e suas tramas são lineares. Neste aspecto, ela se mostra mais próxima de nossa época que qualquer outro romancista desse período. Na obra Razão eSensibilidade ela abordará várias características românticas (BURGUESS, 1998, p. 269).
Alguns de seus trabalhos foram escritos antes de 1790. 'Love and Friendship' foi escrito quando Jane tinha apenas 14 anos, tendo sido publicado apenas em 1922. Nenhum dos livros publicados enquanto Jane viveu, foram assinados por ela; eles foram assinados por uma senhora.
Embora possuísse vida social ativa, Jane Austen nunca se casou, conquanto tivesse alguns pretendentes e sonhos românticos.
Austen começou a escrever suas principais produções em Chawton após um período de doze anos improdutivos. A partir de 1811, começa o segundo período de produção de Jane Austen com a publicação de 'Sense and Sensibility?, onde ela contrasta duas irmãs. Elinor que é racional e controlada (razão), e Marianne que mais emocional (sensibilidade).
Jane Austen faleceu de um tipo de tuberculose aos 41 anos, nos braços de sua irmã Cassandra, em 18 de julho de 1817. A Srta. Austen é considerada uma das maiores novelistas de língua inglesa, que de forma perspicaz e inteligente revelou cenas da vida doméstica em vilas do interior, sutilmente impregnadas de humor, romance e ironia.
Características românticas em Razão e Sensibilidade
As principais características presente na obra de Jane Austen Razão e Sensibilidade são:
? Subjetivismo: No romance Razão e Sensibilidade pode-se observar o subjetivismo em alguns personagens como nas irmãs Elinor e Marianne.
? Idealização: Essa característica pode ser notada nos personagens Marianne Dashwood quando idealiza seu amor por Willoughby, e no Coronel Brandon, com sua paixão escondida por Marianne.
? Idealização da mulher: O personagem coronel Brandon idealiza o amor de Marianne, e mesmo sabendo que não é correspondido persiste em conquistá-la.
? Sentimentalismo: Esse sentimento pode ser visto no romance de Jane Austen através da figura de Marianne, quando ela descobre a verdadeira intenção de seu amor Willoughby.
? Egocentrismo: A personagem Sra Ferrars é a primeira personagem a demonstrar seu lado egocêntrico. Outro personagem que demonstra ferozmente essa característica no romance, é o Sr. John Willoughby, quando ele prefere casar por dinheiro mesmo amando outra mulher. Ele pensa apenas nele não se importa com os sentimentos do outro.
? Medievalismo: A protagonista Elinor é considerada medieval, pois ela consegue se manter nos padrões da sociedade, obedecendo as normas criadas pela sociedade.
? Fuga para a natureza: A protagonista Marianne busca a natureza a todo o momento no romance Razão e Sensibilidade.
Análise das principais características do romance Razão e Sensibilidade
O romance inicia com a morte do patriarca senhor Dashwood, que possui quatro filhos: um filho do primeiro casamento a quem pertence toda sua herança e três filhas do segundo casamento que não têm direito a nada, nem mesmo a casa em que viveram durante muitos anos. A partir daí notar-se uma das principais características do romantismo, através da personagem sra. Ferrars, que com seu egocentrismo não permite que seu irmão John ajude suas meias-irmãs, pois na época em que viviam a herança era passada de pai para filho e não para filha.
Mesmo sabendo que a família Dashwood perdera todos os seus dotes, a Sra. Ferrars não se sensibiliza ao ver que uma mãe com três filhas estão em situação de calamidade. Ao invés de ajudar ela consegue piorar mais ainda a situação, pois não permite que seu irmão mais velho John lhe ceda uma quantia de 3000 por ano, concedendo apenas 100 pratas ao ano.
No romance Razão e Sensibilidade, as protagonistas Elinor e Marianne Dashwood, após a morte do pai, vêem os bens mais valiosos da família serem herdados pelo seu meio-irmão, John, fazendo-as perder os privilégios e regalias que até então usufruíam, por isso, o pouco dinheiro que lhes resta não representa garantia de um futuro seguro, pois na situação em que se encontravam seria muito difícil arranjar um casamento, porque naquela época só se casavam as moças que tinham dote.
Apesar das circunstâncias desfavoráveis, o amor, característica marcante no romance, acontece quando surgem Edward Ferrars e John Willoughby.
A partir do momento em que se apaixonam fica visível as diferenças comportamentais entre Elinor e Marianne. Enquanto uma é contida e racional, a outra é transparente o que demonstra com naturalidade, por meio de gestos arrebatados, o forte sentimento que lhe invadiu a alma.
Elinor a filha mais velha do senhor e Sra. Dashwood, é uma moça contida e madura. Através do subjetivismo pode-se perceber, o quanto ela é racional, não se sensibiliza facilmente, e mesmo depois de se apaixonar não demonstra seus sentimentos a ninguém, nem mesmo a sua irmã mais próxima Marianne. Elinor é quem passa a sustentar a casa e a família, pois é a única que tem porte para isso, com todo seu medievalismo ela consegue se adaptar perfeitamente a sociedade em que vive.
O seu grande amor Edward Ferrars é um rapaz romântico, mas contido e apesar de viver numa época na qual os homens se casavam por dinheiro como determinava a sociedade, ele prefere se voltar para o clero e abandonar a sociedade capitalista.
Ao contrário de sua irmã, Marianne, personagem mais sentimental do romance permite que todos saibam o que ela está sentindo, pois não esconde seus sentimentos e é bastante emotiva o que a faz seguir a intuição do coração. Por ser tão exagerada e verdadeira em seus sentimentos ela acaba sofrendo uma desilusão amorosa, pois idealiza um amor que na verdade não existe.
Acontece que a sua paixão o sr. Willoughby não está muito interessado na sua beleza, nem na sua bondade, muito menos no seu amor, como faziam a maioria dos homem daquela época, ele só tem olhos para o dinheiro, é uma pessoa egocêntrica, e é justamente essa a razão do sofrimento de Marianne.
O Coronel Brandon, um amigo da família é obrigado a esconder sua paixão por Marianne, pois sabe que ela é apaixonada por outro e que não iria permitir que ele a cortejasse, mesmo assim ele a idealiza e demonstra toda sua gratidão quando ela adoece chegando quase a falecer.
O refúgio dos personagens é sem dúvida os belos campos verdes que a natureza lhes oferece. É lá que eles buscam a paz espiritual, a tranqüilidade, a alegria, etc.
Razão e Sensibilidade é um romance recheado de tramas, sofrimentos, desilusões amorosas, etc. A pesar disso, a autora Jane Austen consegue ir mais além e conquista ainda mais seus leitores quando finaliza seu romance com a principal característica do movimento romântico: o final feliz, onde Elinor Dashwood, mesmo sendo a moralista da história se entrega ao Sr. Edward Ferrars e Marianne, após recuperar-se da febre acaba encontrando um amor verdadeiro nos braços do Sr. Brandon.
Conclusão
De tudo que foi visto, pôde se perceber que o romance Razão e Sensibilidade é marcado por diversas características românticas desde a idealização do amor até o final feliz. Essas características fazem dessa obra a maior contribuição de Jane Austen para o movimento romântico.
Nota-se também que em sua obra a autora Austen utilizou críticas aos acontecimentos de sua época, deixando clara a sua insatisfação por algumas classes da sociedade inglesa.
Um outro dado comprovado através desta pesquisa são as formas de ver o amor por parte das protagonistas de Razão e Sensibilidade, Marianne e Elinor, que são totalmente diferentes, mas que Jane Austen mesmo vendo por duas vertentes, optando por temas totalmente diferente e que por mais cruéis que pareçam são extremamente românticos, pois apesar de todo sofrimento amoroso o romance possui um final feliz.
Jane Austen pode ser, para muitos uma obra não-romântica, mas em Razão e sensibilidade ela deixa claro através do que escreve a sua verdadeira tendência, o Romantismo.
Referências Bibliográficas
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Apresentação de artigos em publicações periódicas. http://www.flf.edu.br/midias /FLF.EDU/guidelines.pdf, pesquisado em 06/02/08
AUSTEN, J. Sense and Sensibility. 5 Edição. Oxford Bookworms Library, 1995.
BURGUESS, A. A Literatura Inglêsa. Tradução de Duda Machado. São Paulo: Ática, 1996.
CADEMARTORI, L. Períodos Literários. 4° Edição. São Paulo: Ática, 1990.
CITELLI, A. Romantismo. 2º Edição. São Paulo: Ática, 2001.
WERNECK, N. História da Literatura Brasileira. 4º Edição. Graphia: 1964.
Autor: Suzana Dantas Rocha
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