Lobivar Matos: A voz de um poeta pré-modernista que divulga os costumes e denuncia as mazelas.



Este trabalho visa analisar a voz lírica presente nas obras de Lobivar Matos, poeta considerado por muitos estudiosos mato-grossense como um pré-modernista. Este que divulga os costumes e denuncia as mazelas de um povo por meio de seus poemas. Nesta análise utilizei três poemas de Lobivar Matos que nos apresenta esta forma de escrever do poeta e são eles: "Lavadeiras" e "O pequeno engraxate", inseridos na obra Areôtorare (1935) e o poema "Sarobá" inserido na obra Sarobá (1936).
Lobivar Matos é considerado pré-moderno, como podemos observar na declaração de José de Mesquita, um dos membros importantes da Academia Mato-grossense de Letras, que assim se expressa em 1936, sobre a situação da literatura no Estado:
Toda a obra mato-grossense, seja de ficção ou dessa doce tristeza, é feita de amargura e conformação. [...] Os nossos poetas não são dionisíacos, a sua musa foge às expansões ruidosas, e ama, antes, a penumbra discreta dos interiores velados, cheios dessa tonalidade outoniça e crepuscular. Há na poesia mato-grossense um profundo senso humano e cristão. A própria inspiração dos nossos prosadores, jornalistas e até dos tribunos está toda tocada dessa nota característica. Sentimos ao vivo a mágoa secular do nosso isolamento e do abandono a que temos sido votados. [...] vive assim a nossa literatura confinada entre esses dois limites, arrastada por esses pendores que ora a levam aos surtos heróicos dum Passado cheio de lances de glória e de bravura, ora a mergulhar na tristeza das solidões sertanejas, mas sempre criando, no sortilégio eterno da Poesia, no prodígio divino da arte, visão de encanto e de beleza, inspirada por um alto senso humano, mas tocada sempre de verdadeira, pura e sã brasilidade. (apud ALMEIDA, 2005, p.79).

Diante da declaração de Mesquita, vemos que em 1936 ainda não se discutiam a estilística moderna em Mato Grosso, no entanto, cronologicamente Lobivar Matos ao publicar suas obras Areôtorare (1935) e Sarobá (1936) vem anteceder o modernismo mato-grossense. Assim, afirma Hilda Magalhães que, Lobivar Matos é denominado pré-moderno por ter lançado suas poesias presentes nas obras Areôtorare (1935) e Sarobá (1936), antes de discutirem estéticas modernas em Mato Grosso, pois são poemas livres, sem seguir as rimas e metrificações de sonetos e das demais técnicas e estruturas-parnasianas praticadas por seus contemporâneos, como por exemplo, Dom Aquino e José de Mesquita (2005, p.78).

A poesia de Lobivar Matos traz uma inovação temática e formal na história literária de Mato Grosso. Ele introduz na poesia regional um conteúdo novo e até então pouco utilizado nas produções locais ? o povo, os negros, a ralé, os desgraçados (CARVALHO, 2008, p.28), notamos que há uma temática social e racial, que começa em Areôtorare e se concretiza em Sarobá.

Como observamos, em sua obra Areôtorare, Lobivar Matos faz homenagem à "gente" da qual ele se considerava fazer parte. Segundo Lobivar Matos os poemas, na sua maioria, abordam temáticas regionais e, "por isso são muito simples, muito humano. Alguns há cheirando a cogitações íntimas, estáticas, introspectivas. Reflexos de um pessimismo crônico bebido às pressas nas coisas, nos seres e no mundo" (MATOS, 1936, p.63).

Para Silva (S/D) "Areôtorare é a voz da denúncia, da catequização e dominação dos bororos até a exploração do trabalhador, índio ou negro", pois o que há nesta obra é a voz do povo oprimido e injustiçado. Areôtorare apresenta uma voz poética que almeja acordar os homens contra as injustiças e desigualdades. Silva (IDEM) afirma ainda que com essas duas obras Lobivar Matos "consegue transpor as barreiras ideológicas que separam o homem culto o povo marginalizado; aceita o desafio e busca dar sentido e voz às tensões que abalam sua cultura".

Ao trazer essas questões sociais, Lobivar Matos faz engajamento social que segundo Adorno (2003), "um poema não é a mera expressão de emoções e experiências individuais. Pelo contrário, estas só se tornam artísticas quando, justamente em virtude da especificação que adquirem ao ganhar forma estética, conquistam sua participação no universal" (p.66). Adorno (2003) defende ainda que "contudo, essa exigência feita à lírica, exigência da palavra virginal, é em si mesma social" (p.68-69).

Como já dissemos Lobivar Matos apresenta em seus poemas uma estética diferente das até então conhecidas, como podemos destacar no poema "Lavadeiras", retirado da obra Areôtorare (1935), que ressalta a vida das mulheres que trabalham para sustentar sua família que "são as lavadeiras/ as mulheres heróicas". Essas mulheres não têm voz, são submissas em relação aos seus maridos violentos. E para denunciar as precariedades da vida dessas mulheres oprimidas, o poeta utiliza-se de vários recursos estilísticos.
Autor: Joelsa Souza De Oliveira


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