EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA, PROFESSOR E ESTUDANTES: Cúmplices de uma grande transformação



Mara Jeanny Ferreira da Silva
Rosicler Schuster

Resumo

Este artigo apresenta experiências vividas em sala de aula utilizando a internet e novas tecnologias para o enriquecimento do conhecimento e a dinamização das aulas.
Também as necessidades e expectativas no uso da internet e outras tecnologias, o papel das tecnologias na educação e a maneira como a comunidade escolar lida com esse tema. Educação e Tecnologia são abordadas de maneira a provocar o leitor e possibilitar reflexões sobre a ação cotidiana de profissionais da educação e estudantes. As tecnologias transformam nosso mundo a cada segundo e essa transformação necessita alcançar nossas escolas e modificar a educação também, pois essa transformação é política, econômica e social e a escola é política, é econômica e é social.

Palavras-chave: Conhecimento. Tecnologia. Educação. Professor. Estudante.

1 INTRODUÇÃO

Durante doze anos trabalhando com educação, tivemos a oportunidade de vivenciar muitas experiências relacionadas à prática de sala de aula. Em cada uma delas, lições importantíssimas de cidadania se fizeram palpáveis e nos despertaram o prazer de ensinar e aprender. Experiências no Ensino Fundamental fizeram-nos descobrir a importância do aprender bem estruturado, planejado, metodológico e científico baseado na leitura e na interpretação; na Educação de Jovens e Adultos a maturidade de compreender que o adulto não precisa resgatar algo que foi perdido, mas sim associar o processo educacional à sua prática diária na transformação do seu cotidiano. Mas, foi no dia a dia com o Ensino Médio que vivenciamos uma das experiências mais interessantes e enriquecedoras com a utilização das novas tecnologias na educação. A experiência em escolas de Ensino Médio e a individualidade das suas questões transformaram pequenas experiências em grandes aprendizados. De um lado uma escola pública, participante de uma realidade virtual quase nula e por outro lado uma escola privada, na qual a tecnologia é um dos alicerces. Diferenças contrastantes em uma sociedade que prega um avanço tecnológico e que não consegue alcançar a todos, uma sociedade que prega inclusão social e exclui o individuo que não domina a arte do computador.

Hoje, na maioria dos discursos, ouvimos dizer que todos têm direito à educação, que a educação proporciona crescimento intelectual e dá acesso a melhores oportunidades no mercado de trabalho; entretanto, algumas dúvidas resistem ao tempo e nos fazem procurar o real significado dessas palavras, ou serão falácias? Qual o verdadeiro significado das novas tecnologias na educação? Porque tantas divergências sobre um tema que faz parte do nosso cotidiano? O que entendemos por tecnologia? O que parece tão simples e usual coloca-nos diante de um dilema enfrentado diariamente por profissionais da educação. Parece que teorias e práticas apresentam contradições e dificuldades na hora de mensurar a real importância do uso das novas tecnologias em sala de aula.

Embora o tema Educação e Tecnologias não seja novidade para muitos leitores - pois é bastante debatido por profissionais e não profissionais da área - as discussões parecem distantes da prática, pois se faz necessário trazer à tona o tema de maneira aprofundada, possibilitando um fim à superficialidade das discussões. Partindo do pressuposto de que a educação deve acompanhar o progresso tecnológico, sentimos a necessidade de abordar e fundamentar a real importância do uso das novas tecnologias na educação.

E é a partir da nossa experiência com o Ensino Médio que iniciamos essa reflexão sobre o seu uso na educação. Por termos vivenciado momentos de troca em que o ensinar e o aprender foram cúmplices entre si, sentimo-nos aptos a problematizar a questão da internet na educação e o uso das novas tecnologias, procurando, com isso, compreender o novo papel do professor, do estudante, da escola e da comunidade escolar. Para tal, nesse artigo, abordaremos temas referentes à informação, tecnologia, mudanças, professor, estudante e aulas, tudo isso com o intuito de provocar reflexões sobre esses temas que, como a própria rede de computadores, também estão entrelaçados.

2 EXPERIÊNCIA COM O ENSINO MÉDIO

No ano de 2005 utilizamos a internet como recurso para um projeto-piloto nas aulas de Língua Espanhola, nas quais os alunos da E.E.B. Luiz Delfino de Blumenau tiveram a oportunidade de investigar sobre países hispano-hablantes e saber um pouco mais sobre a cultura desses povos. As tradições, os costumes, personalidades da literatura como Miguel de Cervantes, das guerrilhas como Che Guevara, Fidel Castro, como também personagens que aparecem na mídia atual como cantores e atores foram estudados e dentro dessa proposta conteúdos de História, Geografia, Ciências tiveram atenção redobrada e fizeram a diferença quando abordados e reconhecidos nos mapas, na história do povo, na cultura. Fizeram a diferença, pois, foram contextualizados no tema proposto e muitas vezes essa contextualização foi feita pelos próprios estudantes. Como são alunos do Ensino Médio Noturno, são alunos trabalhadores, portanto se reuniam nos finais de semana para elaborar suas apresentações. A escola possuía um datashow emprestado pela FURB (Universidade Regional de Blumenau) e os alunos foram incentivados a criar suas apresentações utilizando o equipamento. Essa atividade era mensal e a cada apresentação espetáculos eram criados. A escola não possuía um laboratório de informática e isso limitou o trabalho, mas, não o impediu de ser feito.

Em 2006, a mesma atividade foi proposta para o Ensino Médio do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de Joinville, que dispõe de laboratório de informática, dvd e data-show nas salas de aula, recursos que foram utilizados para enriquecer a projeto. Na aula experimental navegamos por vários paises hispano-hablantes e conforme os interesses grupos de estudo foram se formando. O primeiro desafio foi conhecer a parte bonita de cada país. Para isso cada grupo criou um roteiro de viagem com preços e deslocamentos reais. O interesse maior era no desenvolvimento da oralidade na Língua Espanhola, as apresentações e qualquer comentário tinham que ser realizados em Espanhol. Foi um sucesso e a partir daí os educandos foram sugerindo os temas que, através de planejamento posterior, foram estudados. Um dos que mais chamou a atenção foi o estudo feito sobre os conflitos sociais, pois gerou debate e foi aprofundado através de pesquisas e leituras. Os alunos se sentiram parte essencial do trabalho e nós coordenamos, orientamos e mediamos o processo. Os alunos também podiam expor suas dúvidas via internet, msn, orkut e essas eram respondidas o mais rápido possível. Todos os alunos participaram das apresentações e não tivemos problemas com a avaliação dessas, eles próprios tinham condições de avaliar o desempenho, pois os objetivos estavam bem claros e definidos.

Essas experiências foram fundamentais para que pudéssemos ter certeza de que a tecnologia, como recurso didático, quando entendida e bem utilizada dinamiza as aulas e as torna mais interessantes. Provoca curiosidade e traz o aluno à responsabilidade do saber. E por termos vivenciado esses momentos de troca em que o ensinar e o aprender foram cúmplices entre si, interessamo-nos por problematizar a questão da internet na educação e procurar compreender o novo papel do professor, do aluno, da escola e da comunidade escolar.

3 INFORMAÇÃO, TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO

3.1 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Atualmente nos deparamos com metodologias de ensino diferenciadas, seguidas de novos conceitos sobre a arte de ensinar e aprender: informação, tecnologia, mudanças... Palavras lidas, escritas e ouvidas nos bombardeiam, deixando-nos perplexos com a velocidade e a aplicação da tecnologia da informação nas empresas, nas escolas, nas universidades, nos lares, na vida de todos. Pode-se dizer que a busca pela consciência do papel da inovação tecnológica educacional torna-se um dos principais recursos da educação secular, inaugurando outro momento dessa história, na qual, se objetiva diminuir um provável desnível.

A maioria das escolas públicas e parte das escolas privadas apresentam um projeto de educação que não satisfaz. A problemática existe, discussões acontecem e é nesse momento que a análise da busca pelo equilíbrio entre a Flexibilidade e a Organização nas instituições traz à reflexão que algo precisa mudar. Qual o verdadeiro objetivo de ensinar e aprender? Como compreender certas disparidades em que a tecnologia facilita a vida e ao mesmo tempo parece não fazer parte dela. Por que essa falta de opções nas escolas públicas? A educação existente parece estar fora do processo de transformação social.

Segundo Oliveira (1977, p. 9) foi no final da década de 60 com a vinculação da educação aos interesses econômicos que houve uma tentativa de formar a mão-de-obra exigida pelo desenvolvimento econômico e industrial no Brasil, através do uso da tecnologia na educação. Desde então, criou-se diferentes conceitos sobre a compreensão dos papéis da tecnologia na Educação. No início essa tecnologia apresentou-se como modelo de eficiência e modernização de equipamentos, em que se visou à parte técnica, desprezando o fato de que os problemas da Educação não seriam resolvidos apenas com a modernização das máquinas.

Em seguida, houve a reflexão da importância do planejamento e de métodos de organização de instruções para a utilização desse potencial tecnológico, e outra vez foi desprezada a possibilidade de problemas na implantação e na adoção desse modelo. Além disso, a necessidade do desenvolvimento de uma tecnologia própria voltada especificamente para a Educação e para a realidade da Educação no Brasil foi outro entrave. A Tecnologia Educacional necessitaria ser compreendida como forma crítica, consciente e agente do processo de transformação da Educação, dos Educadores, dos Educandos. Dessa forma não seria vista como redentora- salvadora da Educação e, sim, como participante do processo educativo, uma estratégia a mais no papel de cidadania.

Oliveira (1997, p. 14), defende que:

[...] não se pode deixar de desenvolver um know-how nacional na utilização da informática na educação, pois embora ela não ofereça respostas a problemas como reprovação, evasão escolar, altas taxa de analfabetismo, pode contribuir para a melhoria da qualidade de ensino da escola pública.

Dentro desse novo conceito, de que o computador poderia ajudar, ou seja, contribuir no processo de Ensino-Aprendizagem começou-se a se desenvolver a Política de Informática Educativa (PIE) iniciada na década de 80, buscando inserir o computador no processo de Ensino-Aprendizagem no Brasil. A PIE iniciou em 1981, no Seminário de Informática na Educação realizado em Brasília. Em seus primeiros seis anos promoveu projetos financiados pelo governo federal em centros piloto como UFPE, UFRGS, UFMG, UFRJ e Unicamp, responsáveis até então pelas pesquisas na informática educativa. Apesar de todas as pesquisas e trabalhos elaborados em função da PIE ela não foi propriamente estudada. E isso pode ter comprometido ações e implementações de novos centros- pilotos. Em determinado momento ela descentralizou e deixou de ser somente política do MEC para ser influenciada pelos municípios e estados.

Mesmo sabendo que os problemas com a educação não são de ordem tecnológica e sim de ordem política se observa que com as sucessivas trocas de governos se segue impondo modelos e conceitos de cima para baixo. As mudanças são discutidas por poucos, resolvidas por poucos, e muitos acatam as decisões sem ao menos participar delas. Assim a comunidade escolar segue repetindo discursos prontos sobre o direito as tecnologias de informação, no entanto, não têm forças para lutar contra esse sistema de decisão imposto pelos órgãos governamentais.

Contudo, alguns projetos conseguiram sensibilizar estados e municípios e não deixaram que fossem generalizadas as críticas de implementação das tecnologias de informação. Exemplos como o Projeto Gêneses, na cidade de São Paulo, o Projeto Cied do Pará e em outros Cieds do Brasil, passaram a ocupar um espaço importante na agenda estatal. Cada realidade é uma história a ser contada. Projetos que deram certo podem ser modelos de uma discussão imparcial levando em consideração as várias realidades brasileiras, respeitando as necessidades básicas de cada cidadão. Estamos na era do conhecimento e é relevante que o cidadão seja incluído na era digital, na era da informação, na era do conhecimento. Para Lopes (2005, p. 43), profundas transformações científicas e tecnológicas, no final deste século, suscitaram novas problemáticas, sendo que algumas dessas estão relacionadas com novas linguagens tornadas operacionais pela tecnologia:

[...] estas transformações estão criando uma nova cultura e modificando as formas de produção e apropriação dos saberes. O mundo contemporâneo tornou-se totalmente globalizado e muito técnico, provocando uma competição quase selvagem entre as nações que procuram cada vez mais pessoas qualificadas, com habilidades sofisticadas, pois a evolução do modo de produção não aceita o trabalho desqualificado. Com estas dificuldades, a educação torna-se imprescindível para a construção de uma sociedade desenvolvida.

Hoje é imprescindível que projetos de alcance nacional continuem sendo incentivados e levados às áreas de necessidade, para que aconteça essa aculturação, essa construção de uma sociedade desenvolvida. A população precisa se apropriar desse conhecimento, nossas escolas precisam se organizar para aculturação dessa tecnologia. Historicamente vemos projetos e mais projetos que vieram através dos nossos representados governamentais e se foram através deles. O processo de aculturação é construído por nós, para nós, conosco. Somos de uma geração que necessitou aprender a lidar com o computador. O computador já faz parte da vida dessas novas gerações. Ou seja, elas já lidam com ele como algo normal, rotineiro, estar conectado ao mundo não é mais novidade. Pelo contrário, anormalidade é não conseguir conectar-se a esse mundo. E uma vez construída essa cultura tecnológica, ela não vai mais embora, não depende de governo para permanecer, ela permanece.

3.2 NOVAS TECNOLOGIAS

A história das tecnologias é quase tão antiga quanto à história do homem, pois começa a partir da necessidade de criarem-se ferramentas de ajuda na caça, na proteção pessoal e social, na pesca e em várias outras atividades humanas. A descoberta do fogo foi um marco na tecnologia para o homem; através dela avanços significativos como um melhor aproveitamento na alimentação, a descoberta das ligas como o bronze, dos primeiros combustíveis como o carvão, promoveram uma sede pela descoberta de materiais e ações para facilitar a vida, seja no dia- a dia ou no estudo para o progresso das ciências. E é por meio dessas reflexões ou desses conceitos que podemos afirmar que tudo que criamos partindo da proposta de facilitarmos nossas vidas, seja em nosso trabalho, em nosso lazer, no auxílio ao nosso corpo chamamos de Tecnologia.

Quando falamos de Tecnologia nos referimos a um leque de opções, pois, a tecnologia está em todas as áreas de nossas vidas e ela pode ser: de informação, medicinal, militar, de defesa, doméstica, residencial, de comércio, industrial, digital, educacional, etc. Na era do conhecimento temos uma Inovação Tecnológica que começa sua história a partir da década de oitenta, quando novas maneiras de organização, de gestão, de intercâmbio de idéias provocaram mudanças tecnológicas que por sua vez provocaram mudanças de hábitos, costumes, sociais e educacionais.

Na educação, quando se fala em tecnologia se pretende alcançar níveis muito maiores de entendimento. Entendemos que o conceito de tecnologia é muito mais abrangente, vai além dos computadores, vídeos, softwares, internet. Para Moran apud Vieira, Lopes (2005, p.40) tecnologias são "os meios, os apoios, as ferramentas que são utilizadas pelos professores para que os alunos aprendam". Lopes afirma que a maneira de organizar os grupos em sala de aula ou outros espaços, o giz que escreve na lousa, principalmente com uma boa organização da escrita, para facilitar a aprendizagem, a maneira de olhar, de falar, de gesticular, tudo isto é tecnologia da comunicação.

Entretanto, as tecnologias de informação e comunicação e a educação só fazem sentido se utilizadas como ferramenta pedagógicas. Para Peluso apud Lopes (2005, p. 20) o computador não pode ser visto como uma simples e maravilhosa invenção, distante dos nossos procedimentos diários. Ele é uma verdadeira revolução organizacional da informação, da cultura, ciência, uma nova concepção de mundo que está se desenvolvendo sob nossos olhos. Possibilita-nos armazenar informações, nos conecta ao mundo via internet, otimiza nossas ações, revoluciona nossas vidas. Por isso a importância de não permanecermos alheios a essas transformações sócio- tecno- culturais.

Moran apud Brito e Purificação (2003) observa que:

Com a chegada da internet, nos defrontamos com novas possibilidades, desafios, incertezas, no processo de ensino- aprendizagem. Não podemos esperar das redes eletrônicas a solução mágica para modificar profundamente a relação pedagógica, mas, vão facilitar como nunca antes, a pesquisa individual e grupal, intercâmbio de professores com professores, de alunos com alunos, de professores com alunos.

A formação, a sensibilização, a aculturação informática precisa acontecer e serem levadas muito a sério, pois esse processo que visa á inclusão, é altamente excludente. E essa exclusão não é privilégio somente dos menos favorecidos, pois ela acontece entre nós professores, especialistas, mestres, doutores. Por isso a necessidade de se repensar a forma de ensinar e aprender, integrando possibilidades e acessibilidades a uma educação mais participativa, criativa, contextualizada. Uma educação que alcança, proporciona, media, provoca, satisfaz. O uso das tecnologias na educação pode ser um meio para se chegar ao objetivo maior: a cidadania.

3.3 O EDUCADOR, O ALUNO E AS TECNOLOGIAS

Hoje, a escola ainda é o espaço onde as pessoas estudam, formam-se e se especializam formalmente nas áreas mais diversificadas do conhecimento. É nela que indivíduos se socializam, relacionam-se e procuram adaptar-se a processos vivenciados no mundo do trabalho e no convívio com as diferenças humanas. Em função das exigências do mundo moderno, das descobertas da ciência, da indústria e do mercado de trabalho, a escola segue seu curso cumprindo alguns dos seus muitos papéis, fazendo com que esse processo seja contínuo e permanente. Por isso, a relevância da discussão sobre a escola e as tecnologias. As novas tecnologias que podemos entender como a telefonia e o desenvolvimento da internet atuam na vida moderna em todos os setores, e não poderia ser diferente na educação. Elas nos mostram a importância da comunicação, seja ela, pessoal ou virtual, característica um pouco esquecida no ensino tradicional- expositivo. No entanto, não devemos cometer exageros ou radicalismos. Por mais que as tecnologias sejam importantes para a pesquisa e o trabalho com informações, peça predominante na pesquisa e no aprendizado é essencial a consciência de que o aprender a aprender, o descobrir, o questionar, o refletir prospera na presença de um mediador - o educador, cuja importância é indiscutível.
As tecnologias de comunicação não substituem o professor, mas modificam algumas das suas funções. A tarefa de passar informações pode ser deixada aos bancos de dados, livros, vídeos, programas em CD. O professor se transforma agora no estimulador da curiosidade do aluno por querer conhecer, por pesquisar, por buscar a informação mais relevante. Num segundo momento, coordena o processo de apresentação dos resultados pelos alunos. Depois, questiona alguns dos dados apresentados, contextualiza os resultados, os adapta à realidade dos alunos, questiona os dados apresentados. Transforma informação em conhecimento e conhecimento em saber, em vida, em sabedoria-o conhecimento com ética. (MORAN, 1995)
Na era da tecnologia escolas e professores têm dificuldades de se manterem atualizados para auxiliar seus educandos na leitura e interpretação das informações que chegam com grande velocidade. A internet traz notícias em tempo real, pessoas podem comunicar-se de qualquer parte do mundo; essa interação que a internet pode proporcionar nem sempre alcança as escolas. Diante das inovações tecnológicas a educação, às vezes, parece estar em verdadeira inércia, alienada, anestesiada e sem poder de reação. Mas essa mudança não é mais questão ideológica e sim de sobrevivência, porque os educandos já não suportam aulas monótonas e repetitivas enquanto são bombardeados por informações bem mais interessantes e atualizadas, e o mercado de trabalho cada dia mais exigente não nos permite essa inércia.

A idéia não é acabarmos com o ensino tradicional e sim repensá-lo, fazê-lo diferente, atraente, envolvente, utilizar a tecnologia como se utiliza a geladeira em casa, o controle da televisão, o acender e o apagar das luzes. Tornarmos normal o uso das tecnologias e a provocação da curiosidade do educando, atraindo-o para o mundo do conhecimento. Chamá-lo à responsabilidade da sua própria aprendizagem.

O educando está pronto para aprender (visto que tem bastante intimidade com as novas tecnologias) a fazer uso do verdadeiro potencial de pesquisa que a internet oferece, mas a escola precisa fazer a ponte entre os conteúdos propostos e essa tecnologia que fascina e ao mesmo tempo parece não alcançar a realidade escolar. Trata-se da necessidade de organizar um conjunto de instrumentos que servem como recurso pra um ensinar e um aprender mais dinâmicos.

3.4 ESCOLA, PROFESSOR, ALUNO E TECNOLOGIAS

Diante desses desafios a que somos apresentados não podemos procurar culpados, mas buscar soluções para a melhoria da Educação a qual nos propusemos a abraçar. A Escola tem papel fundamental ao adaptar o ensino básico utilizando a tecnologia na formação dos seus educandos. Um exemplo latente é a acessibilidade aos portadores de necessidades especiais. A escola tem o dever social, pedagógico e institucional de resguardar o direito a acessibilidade dos portadores de necessidades especiais, sem excluí-los do convívio dos demais educandos. O apoio físico é tão importante e necessário quanto o apoio pedagógico. A escola que respeita os seus portadores de necessidades especiais promove o respeito pelo exemplo que dá. São atos que falam por si só. Rampas, sinais de alerta visuais e auditivos, computadores com programas para deficientes visuais e auditivos são inovações tecnológicas a nossa disposição, tal como em nossas casas o controle remoto está para a televisão, ou, água gelada para os dias de calor. Mas, como já pontuamos nesse artigo, essas necessidades a serem supridas é questão de postura escolar a ser exibida. Escola preocupada com a contextualização dos estudos pelos seus educandos é escola comprometida com as diferenças.

As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apóiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação. (MORAN, 2006)

Nós, professores, precisamos ter discernimento e clareza do que é educar com significado e consciência dispondo-se à responsabilidade de um ensinar mais compartilhado, orientado, coordenado, no qual as tecnologias são apenas recursos para que os educandos façam a diferença. A mudança da maneira tradicional de ensinar e aprender, a provocação da curiosidade e o despertar para o saber, o incentivo à pró-atividade, ajuda a quebrar paradigmas e provoca espanto e nostalgia a cada descoberta. Um ensino de qualidade nos proporciona um olhar mais humano sobre o outro, permite-nos cultivar o respeito às diferenças. Auxiliar os educandos na leitura de um mundo mais humano, na aceitação do diferente, no respeito às necessidades do ser humano e na capacidade que cada um tem em ultrapassar seus limites são conceitos básicos que nós, educadores, podemos incluir e mediar em nossas aulas e em nossas ações diárias.

A procura de soluções para problemas diários feita por nós e nossos educandos não pode ser vista como uma ação isolada ou projeto escolar. Procurar soluções contextualizadas é uma questão de postura social, leitura ampla e minuciosa do contexto da comunidade escolar. Educando que aprende convivendo com as diferenças aprende a respeitá-las e faz a diferença. O educando que tem a chance de ver o mundo respeitando os seus semelhantes e percebe que nós seres humanos temos nossas particularidades, nossas necessidades e cada qual com maior ou menor intensidade. Proporcionar momentos significativos ao educando é dar a oportunidade ao mesmo de tornar-se comprometido com seu processo de aprendizagem. Fazer com que algo importante aconteça em sala de aula é um desafio e a tecnologia está aí para somar e ajudar nos impactos que proposta de fazer algo significativo possa causar.

A partir do momento que o educando se sente comprometido com o processo de ensino, ele exige do seu professor tal comprometimento. Nesse olhar o papel do professor - o nosso papel principal - é levar o educando a interpretar, a relacionar, a contextualizar seu mundo. A aquisição da informação, dos dados, depende cada vez menos de nós. Mas, precisamos nos comprometer com o processo. Segundo Paulo Freire (1996), "Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica pedagógica, estética e ética..." o professor vai direcionar o educando para algo real que ele próprio vive, participante de suas próprias ações, leitor do seu próprio mundo, atuante de seu próprio destino, humilde e consciente do seu próprio saber. O educando se dispõe a ler, a pesquisar, a interagir, pois se sente participante ativo do processo.

Portanto, precisamos nos comprometer a ensinar a aprender, aprendendo. Faz - se necessário atrairmos não apenas por nossas idéias, nossos conceitos, mas, atrairmos também por nossos posicionamentos e nossas relações sociais em sala de aula. Um educador que chama a atenção dentro ou fora da aula, surpreende, é diferente no que diz e nas relações que estabelece, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se, que se coloca próximo do educando, mesmo quando não está fisicamente presente. Ele estimula, acompanha debate, ensinar e aprende exige. Ensinar exige clareza entre o ensino significante, do ensino insignificante; o essencial, do irrelevante. Educadores maduros intelectual e emocionalmente são pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que sabem motivar e dialogar. Não somos "informadores", mas os mediadores do processo de ensino-aprendizagem. Enquanto boa parte dos professores é previsível, não surpreende, repete fórmulas, sínteses; outra parte atrai, contagia, é próximo do aluno, se permite correr riscos, vencer desafios. E um desses desafios é a internet.

A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Mais que a tecnologia, o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua.
Por outro lado é um risco que corremos, pois, a internet proporciona grande número de informações muito rapidamente e o foco de interesse tem muita facilidade de se desvirtuar do real objetivo. É um jogo de interesses e saberes e cabe a nós educadores intermediar esses saberes e proporcionar momentos de socialização para sejam compartilhados.

O espetáculo de uma multidão demolindo o muro de Berlim ou de Nelson Mandela sentado em uma mesa de negociações com Frederik de Klerrk é um potente antídoto para qualquer tendência a dizer "Isso não pode acontecer". No entanto, a maneira como tais coisas de fato ocorreram tanto é moderadora quanto animadora. Um exame mais cuidadoso revela muitas lições referentes à dor e à dificuldade de mudar uma grande, estável e bem enraizada estrutura social. Uma das mais importantes refere-se ao modo como um sistema defende-se para não reconhecer a intensidade dos seus problemas e a necessidade de mudanças fundamentais. (SEYMOUR PAPERT, 2008, p.191)

Essas mudanças podem proporcionar ao educando a compreensão da importância do aprender contextualizado ajudando-o a se comprometer com sua própria aprendizagem. Ele vê a necessidade e se sente comprometido com a realidade. A partir do momento em que observa a escola, nós, professores, a comunidade escolar preocupada com o bem estar e a aprendizagem de todos, o educando se sente participante dessa realidade. E pode ser um multiplicador da idéia de facilitar a vida de seus semelhantes, seja na pesquisa de um produto, na criação de outro, na melhoria da vida em sociedade ou ainda criando a possibilidade de patentear uma idéia que facilite a vida de pessoas em grande escala. Ou seja, colocando em prática algumas teorias e práticas aprendidas em sala de aula, na escola, na convivência diária com a comunidade escolar.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As tecnologias estão transformando nosso mundo com muita velocidade e essa transformação tem que alcançar a educação, que precisa deixar de ser complemento social e passar a ser o centro desse processo de transformação e conhecimento. As escolas deixam clara a necessidade de administradores, diretores e coordenadores com consciência de todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico. Que vejam além das questões empresariais ligadas ao lucro, apoiando professores inovadores, haja vista que essas ações equilibram o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação, além de alunos curiosos, motivados e parceiros.
A ênfase maior deve ser no humano e as tecnologias devem servir de apoio para as ações pedagógicas. Mas, esse apoio tecnológico precisa ser desvelado e não usado para mascarar aulas essencialmente expositivas, nas quais o quadro, a internet e o computador são meros objetos usados para aulas cansativamente expositivas e que não propiciam a participação do educando.
Além desses aspectos, o mais importante a destacar reside no compartilhamento de experiências bem-sucedidas entre nós, educadores. É necessário que em uma escala ainda maior as instituições de ensino possam, também entre elas, trocar idéias e projetos, dividindo entre si as experiências inovadoras, positivas ou não, buscando soluções diante desse mundo de novidades que se apresenta à nossa frente.

5 REFERÊNCIAS

BRITO, Gláucia da Silva; PURIFICAÇÃO, Ivonélia. Educação, professores e novas tecnologias; em busca de uma conexão real. Curitiba: Protexto, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LOPES, Adélia Valeska de Castro David. A interação dos professores com a internet em sala de aula. 2005. Dissertação (Mestrado em Educação, Linha de Saberes, Cultura e Práticas Escolares) Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.

MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos; BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006.

MORAN, José Manuel. Os novos espaços de atuação do professor com as tecnologias. Tecnologia Educacional. Rio de Janeiro, vol. 23, n.126, setembro-outubro 1995, p. 24-26

OLIVEIRA, Ramon de. Informática Educativa: dos planos e discursos à sala de aula. Campinas: Papirus, 1997.

PAPERT, Seymour. A Máquina das Crianças: repensando a escola na era da informática. Ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Autor: Mara Jeanny Ferreira Da Silva


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