O Usuário Dos Tóxicos (sucesso Do Candidato Ao Hiv)



O USUÁRIO dos Tóxicos

(SUCESSO DO CANDIDATO AO HIV)

Dr.Wagner Paulon

1976 - 2008

Embora se saiba muito acerca dos efeitos dos  tóxicos e  seu  potencial de abuso, o próprio indivíduo que os usa constitui um enigma. O problema tem sido atribuído às condições de vida nas favelas, ao acesso fácil às drogas, aos traficantes e ao crime organizado. Embora qualquer destes fatores possa contribuir para o problema, não há uma causa única nem um conjunto de condições exclusivas que conduza claramente à dependência ao  tóxico, pois  a  mesma ocorre em todas as classes sociais e econômicas. A chave do enigma pode bem se encontrar no próprio usuário e em qualquer de muitas situações ou condições.  A dependência aos tóxicos não se pode desenvolver sem um agente químico.  No entanto, enquanto milhões de pessoas se expõem aos  tóxicos por questões de necessidades terapêuticas, relativamente poucas se transformam em dependentes.

É verdade que nas áreas metropolitanas encontram-se invariavelmente grupos de consumidores "inveterados" e uma grande proporção de jovens que usam drogas nos bairros mais pobres.  Embora os narcóticos possam ser obtidos nas esquinas das ruas nas áreas metropolitanas, somente uma pequena percentagem de indivíduos a eles expostos ingressa nas fileiras dos dependentes.

Em sua maior parte, os dependentes inveterados sofrem de certos tipos de instabilidade emocional perceptíveis ou não, antes da experiência inicial com o narcótico. Alguns casos podem ter um passado (geralmente não diagnosticado) de desordens mentais.

Alguns psicanalistas e psiquiatras afirmam que os dependentes possuem uma incapacidade inerente de desenvolver relações pessoais significativas. Outros dizem que os dependentes são pessoas que não desejam enfrentar as responsabilidades da idade madura. Os dependentes adolescentes podem ter sofrido privação afetiva ou terem sido demasiado protegidos na infância; ou simplesmente não conseguem enfrentar as mudanças físicas e emocionais que acompanham este período da vida. É significativo que muitos dependentes experimentam, na adolescência, os entorpecentes pela primeira vez.

A transição da infância à idade adulta é raramente suave, e muitas pessoas não se acham emocionalmente preparadas para enfrentar os problemas com que se deparam.  Na puberdade e primeiros anos da adolescência há um afrouxamento de laços familiares, uma diminuição da autoridade paterna, uma crescente responsabilidade e um amadurecimento sexual.  O adolescente, assediado por ansiedade, frustração, medo de fracassar, conflitos e dúvidas internas, pode pensar que as anfetaminas e a maconha promovem convivência e sociabilidade; os barbitúricos aliviam a ansiedade; os alucinógenos intensificam as sensações e os narcóticos fornecem alívio e escapismo. O abuso dos  tóxicos   pode fornecer-lhe admissão ao "grupo" ou ser um modo de afirmar sua independência desafiando a autoridade e as convenções.

Em geral os indivíduos que abusam de narcóticos incidem em quatro grupos principais.

O primeiro grupo usa tóxicos para um fim específico ou "determinada situação".  Exemplos: o estudante que usa anfetamina para se manter acordado na época dos exames; a dona de casa que usa pílulas para emagrecer a fim de obter energia adicional para se desincumbir de seus afazeres domésticos; o vendedor que usa anfetaminas para manter-se acordado ao volante, a noite toda, a fim de comparecer a um encontro marcado de manhã cedo.  Estes indivíduos podem ou não demonstrar dependência psicológica.

O segundo grupo consiste daqueles chamados consumidores "spree" (impulso do momento).  São geralmente jovens na idade de cursos ginasiais ou universitários.  Usam as drogas para'kicks (divertimento), ou apenas pela experiência em si.  Pode haver um certo grau de dependência psicológica, mas pouca ou nenhuma dependência física devido ao uso esporádico e errático.  Alguns destes consumidores podem experimentar as drogas apenas uma ou duas vezes e decidirem que há coisas melhores na vida.  O uso de entorpecentes nestes casos constitui um desafio às convenções, uma experiência aventurosa e arriscada, ou uma maneira de se divertir.  Ao contrário dos viciados "inveterados", que freqüentemente cultivam o hábito sozinhos ou aos pares, os consumidores "spree" geralmente tomam as drogas em grupos ou em reuniões sociais.

O terceiro grupo é o dependente "inveterado". Suas atividades giram quase exclusivamente à volta da experiência e da do tóxico. Ele demonstra uma forte dependência psicológica ao tóxico, a qual é freqüentemente reforçada pela dependência física quanto certas drogas estão sendo usadas.  O dependente inveterado, tipicamente, começou o vício levado por um impulso do momento ("spree"). Já vem tomando drogas há algum tempo e atualmente sente que não pode mais atuar sem o apoio da droga.

Nos últimos anos apareceu um novo tipo de pessoa que usa o tóxico em excesso e que constitui o quarto grupo — são os "hippies" de ontem e os muitos jovens universitários de hoje. Estes dependentes têm a tendência a acreditar que os  sistemas  de hoje são ou antiquados ou errados e que se deveria encontrar um novo modo de vida. As drogas são parte integral de sua cultura e os "hippies" de ontem e os muitos jovens universitários de hoje podem ser considerados como dependentes "inveterados". A diferença importante é que a maioria deles não provém dos bairros pobres, das favelas, mas de famílias das classes média e média alta e seu nível educacional é muito superior ao habitante dos bairros miseráveis.

Há naturalmente, muita justaposição nestes grupos, e o consumidor ocasional ("spree") pode degenerar em inveterado, ou tornar-se adepto da "filosofia" "hippie". A transição ocorre quando a interação entre os efeitos do tóxico e o tipo de personalidade causam uma perda de controle sobre o uso  do mesmo.  Para   o consumidor a droga torna-se um meio de resolver ou evitar os problemas da vida.

Os bairros mais pobres das grandes áreas metropolitanas são ainda os que contam com o maior número conhecido de viciados de heroína.  Mas a frustração, imaturidade e privação emocional não são peculiares aos bairros mais pobres, e o uso indiscriminado de uma variedade de drogas, por indivíduos das classes econômicas média e superior, está sendo constatado com freqüência crescente.  A dependência à droga não é exclusiva de uma classe.  Os fatores essenciais à aquisição do vício são uma substância tóxica, um indivíduo, um ambiente que predisponha ao uso e uma deficiência de personalidade.


Autor: WAGNER PAULON


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