NOVOS VERBOS



NOVOS VERBOS

Estes dias eu encontrei um velho livro de língua portuguesa que eu usei no ensino médio (faz tanto tempo isso!); Tinha a capa opaca e folhas já amareladas pelo tempo que se encarrega de tornar obsoletas as folhas dos calendários. Eu tenho em casa um armário novo onde guardo livros antigos assim (alguns nem li até o fim); são bens que gosto de ter e, vez por outra, quando a memória me indica que é impossível lembrar-se de tudo, recorro a eles para defender um ponto de vista em um assunto, ou simplesmente para estudar algo para preparar um artigo ou aula.
O livro que encontrei é daqueles que depois de somar páginas sobre substantivos, adjetivos, advérbios, objeto direto, indireto, transitivo, intransitivo, colocação de crase, pontuação e tudo isso que se estuda a vida inteira, tem nas últimas páginas a conjugação dos verbos mais utilizados e em diferentes tempos: presente, passado imperfeito, futuro "quase perfeito" (redijo assim, pois todo mundo tem coisas que gostariam que tivessem acontecido realmente), futuro do subjuntivo e todos outros.
Fixei minha atenção nos verbos. Lá estava o Amar, Cantar, Comer, Dançar e outros de uma simplicidade que eu conheço bem e que me agrada bastante.
Foi inevitável contrapor a impressão de que as gramáticas atuais, se é que trazem conjugação de verbos (já que muitas pessoas e alguns sites de comunicação instantânea desconsideram a importância de escrever e falar corretamente), devem trazer o verbo Deletar, Scanear, Twitar, Zipar, Badalar, Azarar, Descompactar e Ficar. Este último com o sentido de Beijar o maior número de bocas possíveis em um acontecimento social.
Bem, pensei que pode ainda tem passado por uma transformação ainda mais radical e devastadora ao apresentar aos estudantes a conjugação em todos os tempos possíveis, e em negrito, dos verbos Burlar, Sonegar, Extorquir, Seqüestrar, assassinar, matar, humilhar, destruir, desrespeitar e outros da mesma estirpe.
Naquele momento de reflexão, aprendi a gostar mais daquele antigo livro de gramática, pois, voltando alguns parágrafos atrás, tenho certeza que seria bom que as pessoas aprendessem de novo a amar mais, cantar mais (coisas boas e menos modismos), comer com mais qualidade e com o tempo realmente necessário para isso e dançar somente com a pessoa certa e, acima de tudo, deixar de lado estes novos verbos.


Autor: Sergio Sodre


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