O TRABALHO DO PSICÓLOGO DENTRO DA UTI - UNIDADE DE TRATAMENTO INTENSIVO



MARTA BATISTA DE SOUZA NETA
PSICÓLOGA

INTRODUÇÃO
A UTI é a área do hospital destinada ao cuidados do paciente críticos, de diferentes faixas etárias, com diferentes situações(doenças) e com possibilidades de recuperação.
A internação em uma unidade de terapia intensiva desperta alguns sentimentos tais como: insegurança, ansiedade e temor da morte que estes sentimentos podem exacerbar, no paciente e em familiares, a crise desencadeada pelo adoecer.
A vida e a morte permeando a UTI
Apesar dos avanços científicos e tecnológicos que possibilitam cada vez mais êxito no propósito de restabelecer a saúde de pacientes graves, as UTIs ainda carregam a lenda de "ante-sala da morte".
Para algumas pessoas, a internação em UTI está associada à morte ou poucas chances de recuperação. Essa concepção provoca angústia e medo no paciente e em seus familiares.
Deve ser sempre considerada em virtude de sua importância na organização emocional do paciente e de seus familiares, a manifestação do temor da morte, seja provocada pela condição real ou imaginária do paciente. Essa condição pode determinar a forma com que os pacientes enfrentarão as situações impostas pelo tratamento.
A Unidade de Terapia Intensiva
O paciente é admitido na UTI quando necessita de monitorização, suporte vital e cuidados intensivos. As intervenções necessárias aos cuidados/tratamentos de condições graves incluem tanto suporte básico (cuidado intensivo, suporte vital) quando cuidados à doença de base do paciente, utilizando-se para isto equipamentos de alta tecnologia e mediações potentes. Em virtude da situação, as intervenções/procedimentos devem ser rápidos, precisas e eficientes.
Os Motivos Mais Comuns de Admissão na UTI são:
? Insuficiência respiratória.
? Instabilidade hemodinâmica.
? Rebaixamento do nível de consciência e outros quadros neurológicos.
? Distúrbios hidroeletrolíticos.
? Grandes queimados.
? Politraumas.
? Sepse.
? Pós-operatórios.
Os Pacientes chegam à UTI, oriundos de outras áreas do hospital ou transferidos de outros hospitais e posto de atendimento
? Centro cirúrgico: pacientes cirúrgicos eletivos ou não, que necessitam monitorização invasiva e/ou ventilação mecânica;
? Pronto-atendimento: pacientes clínicos e traumas, necessitando de tratamento de condições agudas;
? Semi-intensiva e enfermarias: pacientes que apresentam intercorrências como instabilidade hemodinâmica, rebaixamento do nível de consciência, entre outras;
? Outros locais: pacientes transferidos de outras unidades ou serviços que não disponham dos recursos necessários.
A internação em UTI deixa o individuo de tudo o que o identifica, afasta-o de suas atividades, de sua família, de suas roupas, seus pertences, o paciente fica restrito ao leito, é constantemente manipulado em razão da intensidade de cuidados, pode estar exposto a ruídos, odores, monotonia sensorial e privação do sono.
As admissões de emergências clínicas ou cirúrgicas e as intercorrências denunciam a existência de uma alteração das funções normais de alguns órgãos ou sistema, motivando repercussões emocionais como insegurança, sensação de ruptura, medo da dependência, da limitação e principalmente medo da morte.
As angústias até então evitadas podem ser ativadas, manifestando alterações de humor, sentimento confusos, de vulnerabilidade e de preocupação com os seus familiares que ficaram em casa. Esses sentimentos, somados aos impactos das mudanças orgânicas, desconforto físico e interpretação individual dada à doença e a seu tratamento pode facilitar ou prejudicar a reabilitação psicossocial do paciente.
A Família/Acompanhante e a Internação na UTI
O adoecimento e o fato da internação de um membro da família causam sentimentos de ansiedade e de estresse exigindo a mobilização de recursos para enfrentamento da crise.
A crise, em alguma ocasião, pode ser evolutiva ou traumática, trazendo mudanças constantes no centro familiar, ameaçando a estabilidade e com isso a perspectiva famíliar a sua árvore geneológica(antepassados).
Diante da Ameaça Familiar pode:
? Mobilizar-se na tentativa de resgatar seu estado anterior;
? Estagnar em face do impacto da crise;
? Identificar benefícios com a crise e se mobilizar para mantê-la.
Atuação do Psicólogo
A atuação do psicólogo com pacientes internados em UTIs tem como objetivo identificar características de funcionamento psíquico normal ou patológico nas condições de uma patologia e quais as intervenções pertinentes a qualquer uma destas condições.
A condição crítica do paciente impõe uma quantidade que interferem na manifestação comportamental e emocional, sendo importante que o psicólogo leve em consideração os aspectos clínicos, pois só assim será possível separar quadros psíquicos de quadros orgânicos e definir condutas.
Para atuar precisa conhecer bem os fundamentos da psicologia do desenvolvimento, do processo psíquico envolvido no adoecer, da psicopatologia, do processo de morte e das intervenções. Além dos conhecimentos específicos, de preparo teórico, técnico e prático é preciso flexibilidade, pois mesmo as rotinas mais rígidas não impedem imprevistos e situações aparentemente tranqüila podem rapidamente transformar-se em situações de crise.
É necessário ter conhecimentos, capacidades de decidir e agir sob tensão e motivação para executar novas intervenções para atender as necessidades, cada atendimento deve ter começo, meio e fim sendo necessário estar pronto(a) a fazer intervenções pontuais e eficaz com máximo de acerto, pois, por vários motivos, o paciente pode não estar lá no dia seguinte.
A conduta psicológica deve estar baseada na forma de o paciente entender, vivenciar e participar de seu adoecer e tratamento, considerando sua capacidade de adaptação às necessidades de mudança, provendo apoio e orientação psicológicas minimizando a ocorrência de interpretação errôneas (Botega, 2002).
O psicólogo deve trabalhar em proveito do favorecimento das relações humanas, facilitando à equipe a ter uma visão global do paciente com o objetivo de que além das reações emocionais, o sofrimento psíquico seja percebido e cuidado. Além disso, cabe ao psicólogo render esforços na focalização do paciente como pessoa, auxiliando com o cuidado seja direcionado de acordo com as necessidades.
Considerações finais
A intervenção psicológica durante a permanência no centro de terapia intensiva tem como objetivo de criar condições para que o paciente ou seus familiares possam mobilizar recursos internos e externos a fim de favorecer a elaboração da situação de crise ambos e as mudanças oportunas.
As situações favoráveis ao bem-estar emocional que beneficiam o paciente são responsabilidade de todos os profissionais que lhe prestam atenção e cuidado, bem como de seus familiares. Entretanto, cabe ao psicólogo promover o equilíbrio psíquico do paciente.
Para compreender tal tarefa o psicólogo deve estar preparado teórica e tecnicamente, conhecendo os fundamentos de seu trabalho, buscando aprimorar suas intervenções e aprofundar seus conhecimentos, interessando-se também pelas áreas afins.
É necessário desenvolver características pessoais para agir sob estresse e intervir em situações de crise em beneficio dos pacientes, beneficiando-se da experiência, conceituando seu papel, estabelecendo limites, demonstrando a eficácia de suas intervenções, a cooperação com o tartamento e facilitando o dialogo, criando assim, situações favoráveis ao desenvolvimento do seu trabalho.

Referências bibliográficas
BOTEGA,J.N. Reação à doença e à Hospitalização. In: Botega,j.n.(org) Prática Psiquiátrica no Hospital Geral: Interconsulta e Emergência. Porto Alegre: ArtMed, 2002.
MOURA, M.D; MOHALLEN, L.N.; FARIA, S.M, O Psicanalista no CTI. In: Romano,B.W.(org) A prática da psicologia nos hospitais. São Paulo: Pioneira, 1994.
ROMANO, B.W.R. Princípios para a prática da psicologia clínica nos hospitais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.
SANTOS, C.T.; SEBASTIANI, R.W. Acompanhamento Psicológico à pessoa portadora de doenças crônica. In: Camon, V.A.A. E a Psicologia Entrou no Hospital. São Paulo: Pioneira, 1996.
ZACHI, C.Z., et al. Intervenção Psicológica para familiares de pacientes críticos. Revista da SBPH. V.5, n.1 e 2, p. 15-18, Jun/Dez 2002.
Autor: Marta Batista


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