DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES E AÇÕES NO TEMA.



DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES E AÇÕES NO TEMA.
Roberto Torres Tangoa & Maria Inês Nogueira
Introdução
A ciência é uma construção social humana extremamente dinâmica e aberta que está em constante transformação e tem caráter global. O conhecimento científico e tecnológico, cada vez mais presente no cotidiano do indivíduo, é extremamente importante para a formação de cidadãos capazes de atuar de forma crítica no mundo em que vivem.
A comunicação humana, num sentido geral, se torna imprescindível na divulgação da ciência e da tecnologia, essas atividades têm sido, sobretudo nas últimas décadas, elevadas a verdadeiros símbolos dos tempos modernos responsáveis por renovar as esperanças e expectativas sociais em suas projeções sobre o futuro, os novos avanços vem sendo encarado como ferramentas capazes de suplantar qualquer problema com o qual podemos nos deparar.
No entanto, consideramos também, que sem divulgação científica, não pode haver uma cultura científica, que por extensão se objetiva na educação científica, a começar na escola. Mas, para que a ciência seja incorporada, absorvida pela população a ponto de se criar, de fato, uma cultura científica, não basta que se façam ações isoladas (Idealistas isolados, José Reis, 1999), de divulgação dos conhecimentos científicos, é preciso que se promova também uma cultura da divulgação científica.
É obvio também que divulgar ciência e tecnologia numa sociedade de constantes e rápidas transformações é tarefa um pouco complexa, pois contextualizar as descobertas e suas aplicações implica colocar na agenda de debate se essas descobertas serão aproveitadas pelos públicos consumidores dessas informações. O deslocamento constante dos fatos sociais exige também que a divulgação científica mostre seu próprio comportamento interno e externo, pois ela define e esclarece a sua conciliação com o compromisso social que essa atividade exige.
A divulgação científica, no caso Brasil, liga-se a um ato de idealismo, porque ainda não existe uma preocupação generalizada entre os pesquisadores, produtores de conhecimentos, de tornar acessível o que pela sua natureza é difícil e complexo. No entanto nesta década tem se notado grandes avanços nesse sentido, com a realização de foros de debates, encontros nacionais e internacionais, reflexões sobre papel da ciência na sociedade, e análise da ciência e inovação tecnológica. Mas, apesar desse esforço, predomina ainda a linguagem fechada das elites do saber, que detêm resultados laboratoriais como forma de domínio social.
Os avanços da ciência e tecnologia não encontram respaldo satisfatório para uma divulgação democrática, tornando necessária a criação de grupos isolados que procuram com os instrumentos que conseguem deixar público aquilo que necessariamente deve servir à comunidade e, aproximar mundos diferentes no sentido de aprimorar seu padrão e qualidade de vida. As descobertas científicas, e neste sentido também as das ciências humanas, só se legitimam quando o grupo social, ou grupos sociais, se beneficiam delas. Essas são as pretensões dos grupos de divulgação científica "Arte e Ciência no Parque" e "Vivendo Ciência e Arte" do IF e ICB da USP respectivamente.
Neste artigo discutiremos algumas publicações que abordam a divulgação científica e tecnológica no contexto da cultura e da sociedade, seu papel na compreensão e apreensão dos conhecimentos, e algumas ações realizadas nesse sentido. Consideramos a divulgação científica como investimento na cultura, e os discursos que interpretam a educação sinônimo de desenvolvimento. Pelo que observamos, o tema da divulgação dos conhecimentos científicos e tecnológicos fluiu e teve espaço privilegiado na 62 reunião anual da SBPC 2010, em Natal (RN), de 25-31 julho de 2010.

ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TENCOLOGICA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Se pretendermos dar valor agregado à informação esta tomou corpo na divulgação científica e tecnológica de textos impressos e eletrônicos, mas qual será o valor que esses bits de informações carregam na divulgação dos conhecimentos? O volume de divulgação da ciência, hoje, veiculada pelos meios de comunicação massiva é enorme. No entanto, existe um problema nessa divulgação e está na adequação de uma linguagem em termos específicos, científicos, para um público não especializado, é dizer os impares.
Com isto detectamos além de uma problematização em nível cultural, há necessidade de como se operacionaliza o fluxo da informação entre os ambientes de produção de conhecimento, ou de áreas de experimentos, laboratórios de pesquisa, e os comunicadores de divulgação científica, na elaboração do discurso que tem como meta atingir a comunidade para a qual divulgam.
Por outra parte existe tendência em criar alguma regra que facilite a difícil atividade de divulgar a ciência, com tentativas de sistematizar itens para divulgar ciência e tecnologia em termos acessíveis aos consumidores de cultura de massa. Isto constituiria a desmistificação de relatos herméticos com respeito à ciência e aos cientistas.
O divulgador científico Prof. Jose Reis, (1998) recomenda, com uma relação de itens, a qualidade que deve ter um texto de divulgação científica. Ressaltando, dentre delas, que devemos escrever como se estivéssemos nos direcionando às crianças e na escrita deve estar imbuída o lado humano, pois, os resultados do trabalho científico são esforços de pesquisadores. Talvez considerando esse fato, o CNPq, outorgou o premio "José Reis" de Divulgação Científica 2010 ao Neurocientista Prof. Roberto Lent (UERJ), na reunião anual da SBPC-Natal, pela sua contribuição significativa de tornar a ciência, a tecnologia e a inovação, conhecida do grande público e pelos livros publicados no formato e conteúdos para crianças.
A função social da divulgação científica e tecnológica visa ser, neste contexto sócio-tecnológico, ampliação das informações quantitativa e qualitativamente para cidadãos comuns, eufemisticamente chamados "leigos", formando à vez um público crítico e reflexivo através da democratização dos conhecimentos e principalmente dos valores que sustentam uma eficiente divulgação da ciência e da tecnologia, tarefa na qual a educação científica constitui componente primordial, que aliadas à educação formal constituem componentes essenciais para uma sociedade alfabetizada.
Para potencializar a abrangência da divulgação científica e tecnológica, tornando-a como produção cultural e nos termos de uma linguagem acessível, é necessário mencionar algumas produções em termos de análises de discursos. O pensamento pós-moderno, segundo François Lyotard (1979) legitima-se pela eficácia, pelos elementos decisórios que sustentam a performance. Como decorrência a ênfase no dualismo erro/acerto, vai ser sua característica marcante. Evidentemente, para o divulgador científico, é importante esta marca de precisão.
O ponto de convergência deste e outros autores e suas obras é que além de divulgar avanços e perplexidades das conquistas da ciência e da tecnologia, divulgam também uma relação filosófico/ideológica com o momento histórico em que o homem vê a ciência e tecnologia tornando realidade utopias previsto em obras de ficção científica. Essa inquietação diante dos fenômenos culturais é um fenômeno que parece estar presente na obra da maioria dos divulgadores científicos de hoje.
Os conceitos se transformam de forma vertiginosa, e os divulgadores científicos se encontram no olho do furacão, tentando o que exige uma divulgação científica detalhada e coerente com o contexto e o que pode ser posto de lado por representar apenas modismo passageiro, sem afetar a relação homem/mundo.
ALGUMAS PUBLICAÇÕES DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA QUE AJUDAM NA COMPREENSÃO E APREENSÃO DOS CONHECIMENTOS
No universo da comunicação plural, de publicações em ciência, tecnologia e sociedade, destacam-se aqueles que abrangem questões sócio/culturais, tais como: Science technology and society (1991), Science communication in teory and practice (2001), The seven daughters of eve (2001). The hands-on guide for science communicators (2006). The Chicago guide to communicating science (2003). Science in public. Communication, culture, and credibility (2000). Taking sides. Clashing views in science, technology and society (2006), Science, technology, and society. A sociological approach (2007), Science and society (2007), Ideas into word (2003).

No âmbito local existem instituições que de forma ampla estudam, analisam e divulgam as produções nessa área, dentre elas a ABRADIC (Associação Brasileira de Divulgação Científica) o Núcleo "José Reis" de Divulgação Científica, NJR, que sedia a Cátedra da UNESCO José Reis de Divulgação Científica, na Escola de Comunicações e Artes da USP, com uma série de publicações, estudo e análise dessa importante atividade acadêmica, dentre da coleção impressa de divulgação científica publicada pelo núcleo destacam os seguintes livros:

Divulgação Científica: Olhares, V.12, Este volume tenta sistematizar posturas, em nome do avanço da divulgação científica brasileira, lançando novos olhares, que vão da Wikipédia aos Blogs, foi escrito em homenagem a Crodowaldo Pavan.
Divulgação Científica: História Viva, V.11, uma primeira parte apresenta a coleção divulgação científica, uma segunda parte discute problemas ligados com o ato de divulgar Ciência e Tecnologia.
Feiras de Reis: Cem Anos de Divulgação Científica, V.10, ou Feiras de Ciências feitas por José Reis ? é o que procura lembrar este título, uma homenagem aos cem anos do divulgador científico que dedicou sua existência ao jornalismo e à pesquisa.
Círculos Crescentes: Pesquisa e História na Divulgação Científica Brasileira V.9. Tenta sistematizar posturas, em nome do avanço da divulgação científica brasileira, pois José Reis nos ensinou que sistematização e disciplina metodológicas facilitam o trabalho de pesquisa.
José Reis: Ciência, Poesia e Outros Caminhos. V. 8. Traz, como exposição principal, os poemas de José Reis, patrono do Núcleo José Reis de Divulgação Científica da ECA/USP e também da Cátedra UNESCO José Reis em Divulgação Científica da USP.
Congresso Internacional de Divulgação Científica. V.7. Este volume, por conter os Anais do Congresso Internacional de Divulgação Cientifica, foi trabalhado em blocos temáticos, conforme se pode depreender pela sua leitura. Há ensaios sobre novas tecnologias, como os textos de Ciro Marcondes Filho e Luísa Massarani.
Divulgação Científica: Reflexões. V. 6. Traz uma série de artigos que indagam sobre o ato de divulgar ciência e tecnologia em uma sociedade exposta a constantes mudanças.
Ética e Divulgação Científica: Os Desafios no Novo Século. V. 5. O novo livro é composto de três partes: "Ética", "Os Desafios no Novo Século" e "Depoimentos". Há também um anexo com a cronologia de José Reis e a Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos, da UNESCO.
José Reis: Jornalista, Cientista e Divulgador Científico. V.4. Neste início de novo milênio, o NJR, visando preservar a memória da divulgação científica brasileira e delinear perspectivas futuras, resgata a história de um dos mais importantes divulgadores científicos do país: José Reis.
Os Donos da Paisagem. V.3. A Coleção Divulgação Científica, em seu terceiro volume, tem como objetivo publicar documentos que apresentam reflexões sobre o ato de divulgar ciência e tecnologia, ao mesmo tempo em que trabalha com a perspectiva histórica de Michel Foucault, segundo a qual há textos que representam momentos / monumentos, e recuperam a memória nacional.
Idealistas Isolados. V.2. É uma coletânea de ensaios que tenta pensar a divulgação científica do ponto de vista teórico, portanto de sua produção, linguagem e relação com a sociedade circundante; do ponto de vista histórico, no sentido de Michel Focault, ou seja, de momento/monumentos significativos, representados por depoimentos e resultados de pesquisa, e do ponto de vista da prática, apresenta uma amostragem semanal da quantidade de divulgação científica contida nos grandes jornais brasileiros.
A Espiral em Busca do Infinito. V.1. O livro é constituído por um conjunto de ensaios em homenagem aos 91 anos, completados no dia 12 de junho de 1998, do Dr. José Reis, pioneiro, no Brasil, da divulgação científica, da qual fez arma de luta pela democratização do conhecimento.
Também existem revistas de difusão e divulgação dos conhecimentos conhecidos por amplos setores da população, tais como Ciência Hoje, Super-interessante ,Galileu, Scientific American Brasil , Mente e Cérebro, News Science, National Geographic Brasil, canais de televisão, TV escola dente delas, com programas de grande impacto e possibilidades de popularizar a ciência como o "Discovery Chanel" e o espaço televisivo de astronomia dirigida por Carl Sagan, etc.
O conjunto de publicações impressas e eletrônicas postadas na Internet é abundante, demonstram interesses crescentes pela divulgação da ciência e tecnologia numa sociedade cada vez mais exigente e complexa. No entanto surge um paradoxo digno de reflexão, no Brasil, segundo dados do IBGE (13/03/08) cerca de 10% dos brasileiros são analfabetos e outros 30% da população são considerados analfabetos funcionais, então, como é que se poderá divulgar, popularizar e transferir conhecimentos científicos e tecnológicos nessa esfera social com alto índice de analfabetismo? É possível pensar uma difusão e apreensão massiva dos conhecimentos científicos com essa população?
Neste cenário complexo, se circunscrevem os temas relativos à cultura científica da sociedade, seus alcances e limitações, questão que excede - e não está, por assim dizer- a mera busca por aumentar a alfabetização científica entre os indivíduos. Por certo, a percepção pública da ciência, as imagens que a sociedade projeta da atividade científica local não se ajustam às pretensões de objetividade do dado estatístico. Trata-se, sem dúvida, de fenômenos qualitativos de tratamento difícil, com conexões múltiplas que, por baixo, se tornam mais complexas na medida em que existe consciência crescente de que a sociedade deve se envolver na definição da trajetória da ciência e da tecnologia. Em outros termos, que se deve fomentar a participação cidadã para a verdadeira democratização do conhecimento, ainda que não se saiba muito bem quais são as condições e de que forma se poderia levar isso à prática de forma efetiva.
Do anterior podemos deduzir que para melhorar a divulgação e popularização da ciência e da tecnologia no Brasil, temos que atingir primeiro a educação e alfabetização formal e funcional, somente a partir dessas atividades serão possíveis "massificar" os conhecimentos científicos, transformando-a como um ato de cidadania. Alguns dados apontam que publicações em saúde adquirem importância, devido que o cidadão se depara com ela no cotidiano de sua vida, é o ponto forte da convergência, do momento dialógico, da descoberta científica a partir do individuo no seu contexto.
Assim, podem ser publicar milhões de textos nos formatos impresso ou on-line, enquanto nossa sociedade não esteja sendo induzida para aprimorar o se interesse pelos conhecimentos científicos, enquanto essas boas vontades não sejam direcionadas às populações pelos canais massivos de comunicação a curiosidade científica e boas intenções só ficaram nisso. Os atuais textos e hipertextos analisados e comparados, redirecionam o nosso olhar para discutirem essas vertentes e anunciar que novos ventos de interesses sopram cada vez mais fortes em direção à busca de encontros e re-encontros com o sabor do saber.
Disponibilizar informações científicas produzidas nacional ou internacionalmente é uma meta, e para isso é importante a criação de interfaces inteligentes com os usuários, mesclando elas com as ciências da comunicação e com a semiótica. Para nós que estamos preocupados em estabelecer laços entre ciência e sociedade que revertam parte dessas idéias dominantes, os temas que envolvem a percepção pública da ciência, a cultura científica e a participação cidadã em ciência e tecnologia adquirem uma relevância singular. Apoio Financeiro: FAPESP
Referencias Bibliográficas
Easton Thomas A. Taking Sides. Clashing Views in Science, Technology and Society. McGraw Hill, Higher Education, New York, 2010.
Bauchspies, Wenda, et al. Science, Technology an Society ? Asociological Approach. Blackwell ? Publishing. Malden, MA, USA, 2007.
Grinnell, Richard W. Science and Society. Pearson Longman ? New York, 2007.
Kreinz, Glória & Pavan, Crodowaldo (Orgs.) Os donos da paisagem. ECA/USP, São Paulo, 2000
McGinn, Robert E. Science Technology, and Society. Standford University, 1991.

Alguns livros que abordam e contribuem na divulgação da ciência e tecnologia


Autor: Roberto Torres Tangoa


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