PAIXÃO, MAR TEMPESTUOSO



Diferente do amor, a paixão é um sentimento que pode nos levar a agir por instinto selvagem. Se o amor é um mar de águas tranqüilas, a paixão é um mar agitado por tempestades.

No amor você é racional, mas na paixão não correspondida, você não raciocina com lógica, sente apenas a necessidade de possuir a pessoa dos seus desejos. Isso aconteceu com um amigo meu.

Encontrei meu amigo Gaspar num bar, bebendo, coisa que eu nunca tinha visto antes. Pela expressão dele, vi que estava aborrecido e triste. Indaguei o que estava acontecendo e ele, depois de eu insistir, contou que estava apaixonado por uma vizinha, uma jovem chamada Janice. Gaspar estava com 50 anos. Achei que realmente era um grave problema, pois ele era casado e tinha dois filhos. A mulher dele tinha 48 anos e Janice devia ser 18 anos mais nova. Gaspar me confessou que sentia aquela paixão pela garota, mas nunca pensou em abandonar a sua família por causa dela.

Janice morava no mesmo prédio. Da janela do seu quarto Gaspar podia vê-la no apartamento dela e ela sabia que ele estava interessado nela, porem, a jovem nunca demonstrou qualquer sentimento por ele.

Gaspar estava desorientado, alucinado. Passava o tempo todo pensando na moça e aquilo já estava começando a prejudicar o seu emprego. Dei-lhe uma porção de conselhos, mesmo sabendo que seria inútil. Gaspar não estava raciocinando com lógica. Assim, como eu não podia fazer nada pelo meu amigo, deixei-o afogando as mágoas num copo de bebida, comprei cigarros e fui embora.

Duas semanas depois voltei a encontrar Gaspar no mesmo lugar. Desta vez ele estava conversando alegremente com a garçonete. Quando começamos a conversar, perguntei se tinha se esquecido de Janete, se tinha deixado de lado aquele amor impossível. Ele me contou o seguinte; Janice sabia que ele gostava dela, mas a garota nunca demonstrou qualquer afeto por ele, mas certo dia, quando ele estava sozinho em casa, Janice bateu à porta pedindo para ele consertar a torneira da pia da cozinha, que tinha estragado. Claro, ele faria tudo por ela, lhe daria o mundo e um pouco mais...

Com suas ferramentas, Gaspar foi ao apartamento dela e começou a consertar a torneira. Tirou a estragada e colocou uma nova. Janice ficou ao redor, conversando banalidades. Gaspar estava nas nuvens, embevecido com a voz dela, embriagado com seu perfume, mal se concentrava no que estava fazendo. Quando ele terminou o serviço, Janete tinha ido ao dormitório. A voz dela soou no quarto chamando-o. Gaspar não imaginava, não estava preparado para o que estava para acontecer. Achou que era outro serviço para fazer. Realmente era um serviço, diferente. Quando chegou na porta do quarto, encontrou Janice deitada na cama, nua!

- Isso tudo é teu! Disse ela, numa voz sussurrante passando a língua pelos lábios.

Nesse ponto da narrativa Gaspar fez uma pausa para beber um gole de refrigerante.

- Finalmente então, você conseguiu o que queria! Exclamei.

Gaspar sacudiu a cabeça, negando. Disse que levou um susto, não estava preparado para ver tal coisa. Foi como o choque da água fria num carvão em brasa. Aquela realidade, que ele julgava que nunca poderia acontecer, deixou-o confuso. Ele pegou a caixa das ferramentas e foi embora. Chegou ao corredor no exato momento em que o marido de Janice saía do elevador. Gaspar tinha escapado por pouco de um grande encrenca. A paixão por Janice arrefeceu.

Agora ela despreza ele e ele agradece por isso, pois recuperou a tranqüilidade e raciocina com mais clareza. Sente que por baixo das cinzas ainda há brasas adormecidas e ele cuida para que nenhuma brisa mais forte reaviva aquela chama incontrolável.

antonio stegues batista
Autor: Antonio Stegues Batista


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