Isca lógica



Isca Lógica

A vida não é clara, mas você a deseja clara e luta como um bêbado para dar mais um passo, vacilante você interpreta símbolos, visões e mistérios. Tudo para alcançar o seu grande ser. De repente, tudo fica claro, tudo é entendido e decifrado. Todo o seu ser luta contra a razão que o levou a este ponto e, estupefato não quer acreditar no que vê, sente e apalpa.
É silêncio! Pois tudo se cala quando se chega à razão última das coisas. Aqueles seres que te rodeiam agora, se afastam aos poucos. Estás só, e o teu próprio entendimento te olha esperando a decisão final.
Agora não tem jeito de subornar os teus sentimentos. A tua própria claridade te ofusca e não há ninguém para lhe dar o empurrão final. Que dilema! Você não pode voltar ao teu mundo das reações premeditadas, mas também não consegue dar o salto no vazio das coisas.O que fará o Espantalho da criação? É melhor você voltar e se entupir de repetidas imagens de bonecos de trapos recortados, ou perderá suas unhas escavando mais um dos seus buracos propícios, os túmulos escuros?
Você é isca no anzol da tua vulgaridade, se lançando sempre nas correntes das civilizações que passam na esperança do novo, e só descobre a boca desdentada da ilusão.
Pontes de escrúpulos! É disto que é formada a tua espinha?
Nada há de mais triste do que suportar aquilo que não se vê, mas que te vê como um criado servil e sem vontades. E agora, ainda está indeciso para a decisão final?
E o que é a decisão final? É chegar ao esgotamento das suas últimas certezas e abandonar-se ao abraço do indescritível e involuntário querer.
Vejo-te ainda na borda fitando os dois lados. Mas esqueça tudo isso. Se você quiser, volte a ser esterco, mas lembra-te, quando chegares novamente a querer o antídoto cheira-te bem, pois o vômito que tu guardas é só para ti. Emboscado e enroscado estás, recriando-se inumeráveis vezes. Mas já não suporta o que rumina e fita sempre à borda dos insondáveis abismos, agradecendo o que os criou. Isso é: O fascínio da tua própria morte e, em pouco tempo o medo da desintegração total o aterrorizará de tal modo... Como uma folha na tempestade...
Vamos! Já não existe revelação nenhuma a ser revelada, você já experimenta da própria morte enquanto vive.
Não há parte alguma para se ir no vasto universo. Tudo já está tomado pelo esquecimento da estrada, as pontes ruíram e as pernas estão fracas. Já não há jogos de palavras que a sua cabeça não suporte e, na baldeação do silencio é que está a loucura eterna.
Vamos! Tudo ruiu embora de pé estejam as pontas dos penhascos que são as pernas dos gigantes oráculos, mudo e fundo na carne abissal do homem.
Vamos! O conhecimento te espera para esvazia-lo dele mesmo.
E o amor te quer para que ele possa amar a si mesmo.
O nascimento te quer, para que ele possa nascer.
Vamos! Esvazia-te, pois o vazio te quer como um assassino frio e vulgar de tua própria egoíca lógica.
Vamos! Terá que cometer o crime perfeito para ingressar na morte.
Vamos! Tudo que é teu é tomado emprestado, para servir aos teus esgares mesquinhos.
Estás encurralado e terá tirar de tua própria manga, a carta marcada da decisão final.




Autor: Cesar Valerio Machado


Artigos Relacionados


Doar-se

Morangos Verdes 2

Minha Alma

Tardes

O Sol Já Vai Se Pôr

Quem Sabe Não é Você

Deus Não Existe!