Um novo olhar sobre as relações afetivas entre professor e aluno



*Alcicleide Araújo
Segundo Seabra (1994), a escola tem sido durante anos, um local que se identificou com o trabalho, que em nossa sociedade nada tem a ver com a afetividade. Assim, as emoções, o prazer, o colorido, o mágico, não fazem parte desta organização que por natureza é séria e as brincadeiras não são admitidas. Mas é esta a escola que tem marginalizado tantos alunos que estamos buscando, procurando para o próximo século? Não deverá ser a escola um local de relações com vínculos afetivos e prazer para os alunos, onde eles possam experimentar diferentes formas de conhecimento na relação com seus mestres?
As estatísticas sobre evasão escolar, segundo a UNICEF (1992), estão nos mostrando que devemos seguir o caminho oposto. No Brasil, somente 22% das crianças matriculadas na 1º série chegam a finalizar terminar o 1º grau, de acordo com os dados de 1985 a 1987.
A relação professor e aluno tem acontecido sob este contexto sério, pseudo-organizado, direcionado, sistematizado pelo mundo dos adultos, que em muitos casos, entra em choque com a realidade emocional das crianças. Não podemos esquecer que os seres humanos são seres emotivos e trazem consigo marcas profundas desde a gestação, que são ignoradas por nós, professores, em função do conteúdo que devemos cumprir no tempo determinado.
Na perspectiva Walloniana, falar de afetividade na relação professor - aluno, é falar de emoções, disciplina, postura, do conflito eu - outro, uma constante na vida da criança ? em todo o meio de qual faça parte - seja a família, a escola ou outro ambiente que ela freqüente.
Para o autor, as teorias sobre emoções têm base mecanicista e difíceis de serem compreendidas. "O estudo da criança exigiria o estudo do/ou dos meios onde ela se desenvolve. É impossível de outra forma determinar exatamente o que é dela e o que pertence ao seu desenvolvimento espontâneo" (WALLON, 1982, p.189).
Dessa forma, Wallon relata que a sociedade intervém no desenvolvimento psíquico da criança, através de suas repetidas experiências e das dificuldades para ultrapassá-las, já que ela, diferentemente de outros seres vivos, depende por muito tempo de seus semelhantes adultos.
A dimensão afetiva que é de fundamental importância para Wallon, seja do ponto de vista da construção da pessoa como do conhecimento, sendo, portanto, marcante para o desenvolvimento da espécie humana que se manifesta a partir do nascimento e estende-se pelo primeiro ano de vida da criança. Wallon explica que uma criança normal, quando já está se relacionando afetivamente bem com o meio ambiente, em particular com sua mãe, sente necessidade de ser objeto de manifestações afetivas para que, assim, seu desenvolvimento biológico seja perfeitamente normal. (DANTAS, 1992, p.85).
A relação mestre e aprendiz é de grande importância para o sucesso do aluno em sua vida estudantil, de forma que a predileção do estudante por algumas disciplinas, muitas vezes passa pelo gostar ou não de um determinado professor. Esta interação é ainda importante para a integração do aluno ao processo escolar.
Conforme Hillal (1985):
"o primeiro professor de uma criança tem grande importância na atitude futura desse educando, não só durante a sua fase de aprendizagem, mas na sua relação com os sucessivos professores". (p.19)

É o professor quem pode juntamente com outros autores envolvidos no âmbito escolar, garantir (ou não) esse espaço de troca, de modo a transformar esse convívio numa interação enriquecedora para ambos. Sendo assim, observa-se o destaque da teoria sócio-interacionista que, teoricamente, privilegia esta relação de troca de experiências entre professor-aluno, haja vista que a interação em qualquer ambiente nasce da aceitação, desprendimento e acolhimento. As emoções por sua vez, estão presentes na busca de conhecimentos, nas relações, em todos os ensaios de nossa vida, enfim.
Referências Bibliograficas

DANTAS, Heloysa. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon: In: DE LA TAILLE, Piaget, Vygotsky e Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

WALLON, Henri. A atividade proprioplástica. In: NADEL ? BRILFERTJ & WEREBE, M. J. G. Henri Wallon. (antologia). São Paulo: Ática, 1986.

HILLAL, Josephina. Relação Professor-aluno: Formação do homem consciente. 2ªedição. São Paulo, Ed. Paulinas, 1985.

UNICEF. Situação Mundial da Infância. Brasília - DF, 1992.


*Pedagoga e Especialista em Política do Planejamento Pedagógico.
E-mail: [email protected]
Autor: Alcicleide Araujo De Jesus


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