ROMANCE EXISTE?



Acreditando no começo de uma vida sem amor, mesmo que esse começo não tenha sido o primeiro, eu me enganei.
Sempre fui pateticamente pessimista em relação ao amor, para mim não existia e pronto. Iniciava um relacionamento com a intenção de marcar um compromisso e não digo que não era feliz, apenas não acreditava nos "felizes para sempre", nem mesmo nos "felizes" de algum modo. Isso bastava para seguir em frente.
Como os homens eram ridículos, sensíveis e melodramáticos. Sim os homens, e algumas mulheres que conheci.
Casamento, tal palavra não existia em meu vocabulário, tinha planos e um relacionamento duradouro para mim estava fora de cogitação, nem mesmo imaginava isso por um instante. Sempre curtia o momento, grandes momentos, até mesmo alguns românticos, mas nada que me fizesse ser ou querer o romance em minha vida.
Bastou aqueles olhos azuis me fitando que não pensei duas vezes em me aventurar, bastou um beijo em minha mão para trocar um namorado amigo por um desconhecido e encantador romântico. Mal sabia ele que estava prestes a sofrer em sua vida.
Sofrimento é uma coisa palpável, seguro e certo, não há como errar, iremos sofrer um dia, talvez uns mais outros menos, mas ele chega, cedo ou tarde. A paixão é uma arma eficaz para o sofrimento. Ela chega iluminando nossos dias, colorindo nossa vida e enchendo-nos de alegria e força para continuar respirando. Tudo fica mais leve e faz sentindo, até que o medo de perder tudo isso se aproxima e a obsessão, o ciúme controla os pensamentos, invade a incerteza e a melancolia, arrasando qualquer relacionamento que se fez com base na imprópria paixão.
Alguns conseguem se reerguer facilmente, procurando sentir isso tudo novamente, em uma busca incessante ao delírio da paixão e as encontram como se estivessem aguardando o fim de um para iniciar o outro, já outros não se recuperam nunca, preferem temer a vida inteira se fechando em sua própria consciência equivocada de como as coisas deveriam ser ou como seriam se não tivesse errado, convenhamos, o erro é inevitável.
Mas a paixão é realmente arrasadora, domina o corpo e de alguma forma fragiliza a alma, porém, é irresistível, alguns dizem que é atenuante de nossa existência, outros que é incapaz de nos ferir se com ela aprendermos.
Eu digo que é isso tudo junto e também um modo de vida, não que haja escolha, mas que podemos com ela favorecermo-nos.
O bom rapaz de olhos azuis estava apaixonado. Retirou-me de uma ilusão de amizade com um namorado para me jogar na mais ilusão de um relacionamento, mas tal qual a paixão ele também era irresistível. Carinhoso, bonito, tímido quando não devia e totalmente inconveniente às vezes, mas era romantismo que ele alegava. E eu o que poderia alegar em minha defesa? Que estava entediada com a vida? Ou que estava perdida? Nada, apenas me rendi aos seus encantos, mas era arrogante demais pra dizer que me entreguei a paixão, não a paixão, mas ao que eu esperava de alguma forma.
Nós mulheres somos realmente complicadas, quando o rapaz não nota nossa pequena e insignificante transformação, dizemos que eles são insensíveis e nada românticos, mas quando por um gesto de delicadeza ele chora em um casamento, por exemplo, duvidamos de sua masculinidade, queremos o romantismo, mas não somos fieis a ele quando de repente acontece.
Foi exatamente o que fiz, rejeitava cada gentileza, cada gesto delicado, pois me aterrorizava tal idéia, mas eu não a desejava, apenas queria o que não compreendia.
Um simples "eu te amo" me estremece e não é no bom sentindo, apenas me faz pensar que sou um monstro por inutilizá-lo de maneira cruel.
A maneira com que eu repelia me fazia ter a sensação de fortaleza e poder, não caia no truque mais ingênuo que esse, não me afeta, que ilusão mesquinha a minha. Era a pessoa mais egoísta que conheci. Precisava apenas ter alguém, alguém que me esperasse todos os dias chegar de algum compromisso, alguém que me comprasse um chocolate simplesmente para me agradar, alguém que assistisse aos filmes comigo sem reclamar disso, que me abraçasse quando sentia medo, que me conhecesse sem desgostar de mim ao fazer isso, que me desejasse ardentemente mesmo quando estava de pijamas, que fizesse massagem em mim sem esperar nada em troca, que escrevesse eu te amo em papel com um gatinho desenhado, que me visse chorar me achando linda, que me fizesse dormir acariciando meus cabelos. Enfim, eu tive isso tudo e mais, que continua detalhado em minha memória e afetando como foice meu futuro. Foi me enviado de presente pelo par de olhos azuis, que eu não imaginava ser e representar o que ele é e representa até hoje em minha vida.
Lutei tanto por não desejar o romance que acabei corrompendo o amor, já não sei se existe verdadeiramente, mas se existir eu o encontrei cara a cara e o desprezei, cometi o pior dos crimes, minha pena foi viver no exílio da vida, marcando com a letra sombria a alma, mas como tudo na vida nos acostuma, espero pelo meu tanto faz, ele nunca chega.
Essa é minha remição dos pecados, estou dividindo com pessoas que possam enxergar a vida como eu enxergava, para que com isso, possa minha pena ser abrandada, na esperança que aprendam com minha triste história, fazendo com que suas escolhas sejam repensadas. Não exclua o romance de sua vida, isso faz com que o amor lhe seja dado e se não acolhê-lo, pode não ter outra chance.

Mila Renata Palaretti
Autor: Mila Palaretti Silva


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