Cenário Urbano



Do último andar deste apartamento consigo avistar um mundo de situações que acontecem no dia-a-dia de uma cidade.
Há coisas das quais me encanto e outras que me causa indignação, vergonha e tristeza.
Não dá pra tapar os ouvidos e evitar ouvir os ruídos da cidade, às vezes estampidos e irritantes chegando mesmo a tirar o sono: motoqueiros mal-educados que usam todo o potencial do acelerador de modo absurdo e altamente prejudicial dos órgãos da audição de qualquer cidadão; playboys inconseqüentes, com carros, que mais parecem verdadeiras boates, sons ensurdecedores, sem o menor senso de respeito ao próximo. Tudo bem, o carro é dele, faz o que bem quer. Entretanto, ninguém é obrigado a ouvir a imundície de som, porque não agrega, nem acrescenta, nem pela melodia nem pela letra, e muito menos pelo desprovimento de valores morais.
Da mesma maneira, observo também adolescentes a pixar rapidamente o muro da escola ao lado. Nisso sim, eles são hábeis. Talvez lhes falte referências que lhes tenham ensinado que é crime danificar o patrimônio público.
Vergonha, quando vejo encostar carroças carregadas de entulho a despejar sobre a área aberta, ociosa assim como tantas outras pela cidade, sofás velhos, geladeiras descartadas, todo o resto de material de construção em locais desprotegidos, transformando a paisagem que já não é tão bela, num grande lixão a céu aberto.
Diante de tanta vergonha e indignação ainda há atitudes de causar orgulho. Avisto um cidadão, responsável, a quem darei o nome de Seu Antonio. Cuidadosamente ele pega sua vassoura, vai até a quadra de futebol que fica na frente da sua casa, varre-a, dentro e em volta, recolhe todo o lixo e o deposita num saco plástico. Faz tudo isso sozinho. Alguns passam por ele, cumprimentam-no, mas seguem adiante. Outros passam a largo, fingem não vê-lo, ou estão distraídos.
Ele continua impetuosamente o seu trabalho. Como se não bastasse, ele termina-o, e começa a limpar uma boca de lobo logo à frente da sua casa retirando papéis e outros lixos jogados na rua por pessoas completamente desprovidas de educação. Pensei: - Agora ele encerrou. Não, começa a retirar adesivos colados na grade, adesivos de políticos sujões, poluidores do visual da cidade. Talvez esse seja o pior lixo, o lixo político.
Os políticos candidatos não orientam seus cabos eleitorais a respeitarem o patrimônio, nem particular e muito menos público. Pregam adesivos nos nossos carros sem autorização, incentivam a espalhar todo o seu lixo político pela cidade às vésperas da eleição. Meu esposo ouviu de uma senhora que cumpria essa vergonhosa missão a gritar em voz alta: - Segunda-feira eu limpo! Não, ela não limpou, nem Segunda, nem outro dia qualquer. O SLU limpou. E não deveria, porque a sujeira atendia a diferentes propósitos, particulares e eleitoreiros.
Seu Antonio não é funcionário do SLU, não é gari, é um morador que gosta da sua rua limpa e gostaria que todos os moradores tivessem a consciência de que um meio ambiente limpo é bom para mim e para você.
Outro dia, um amigo meu, publicitário, falou-me que foi homenageado na Câmara Legislativa como cidadão honorário de Brasília. Eu perguntei a ele: - Sério? Por quê? Qual foi a boa obra que você fez? Ele me respondeu: - Sou bom pai, bom esposo e legal com os meus amigos.
Pois bem, mais do que os qualitativos do meu amigo, Seu Antonio é um cidadão que respeita a cidade e tem consciência ambiental. Que algum deputado conceda a ele o título de cidadão honorário. Muito digno e muito válido. Porque ele faz alguma coisa: Dá uma lição de cidadania, respeito e cuidado com o patrimônio público.
Por: Silvailde S. Martins Rocha
Autor: Silvailde De Souza Martins Rocha


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