Memórias




Eu quero, meu amor, passar um dia com você.
Um só. Mas vai ser um dia inesquecível, diferente de todos os outros.
Com você, meu amor, eu quero passar um sábado. Dia de festa. Dia de alegria.
E para nós só vai haver alegria, nesse sábado.
Quero acordar bem cedo. Para ver o sol se levantar, e gritar bem alto que aquele dia é só nosso.
Quero assoviar uma canção alegre, enquanto me visto.
Quero tomar meu café bem devagar, saboreando cada gole.
Quero ouvir o som alegre do motor do meu carro, conduzindo-me à sua casa.
Quero que minha satisfação vá subindo com o elevador do prédio onde você mora, até chegar ao máximo, quando ele parar.
Quero vê-la assim, meio acordada, meio adormecida, abrindo-me a porta, envolta em seu roupão.
Quero sentir sobre mim o seu olhar vago, indeciso, absorto, espantado, mas sempre carinhoso.
Quero enlaçá-la em meus braços.
Quero sentir que você se chega a mim.
Quero também sentir-me preso em seus braços.
Quero alisar o seu cabelo, que cairá sobre mim como uma cascata dourada de perfume.
Quero unir meus lábios aos seus, num beijo longo que nos levará ao êxtase.
Quero vê-la desprender-se de mim, langorosamente, os olhos ainda semi-cerrados, em delírio.
Depois, meu amor, quero ir à praia com você.
Quero ver seu corpo escultural na areia quente.
Quero ter inveja da areia que a envolve e beija.
Quero vê-la sorrindo, na água, fugindo das ondas que a querem acariciar.
E nessa hora, julgarei ter a meu lado uma sereia mitológica, que me tenta e seduz, ao mesmo tempo que, fugidia, escorrega de meus braços, deixando-me ansioso.
Quero ver o vento desembaraçar suas madeixas, como um pente invisível, sacudindo-as, espichando-as, fazendo-as dançar, deixando-me colérico, por não poder fazer o mesmo.
Depois, meu amor, quero esquecer a poesia e viver com você os momentos que parecem infantis, ou mais materiais, mas que, antes de tudo, são joviais.
E já que jovens somos, quero vivê-los com você.
Quero deslizar com você sobre o lago do parque, num barquinho.
Quero rir com você, ambos abraçados, nas curvas da montanha russa.
Quero convidá-la a tomar sorvete, e ter ciúmes dele, por também receber o contato de sua boca.
Quero beijá-la no cinema, e sorrir ao perceber o ar de reprovação do casal idoso ao lado, que um dia já fez o mesmo.
A tarde, minha querida, quero sentar num banco da praia, para ver o crepúsculo, com você.
E quando a noite vier, e cada estrela for uma janela de onde os anjos sorrirão ao nosso amor , eu quero olhar bem fundo nos seus olhos, para ver que neles está descrita a felicidade desse dia.
Quero ainda prolongar o nosso beijo de despedida, sentindo aquele desejo louco de não nos separarmos, mas sabendo que tenho de deixá-la.
Quero que a nossa separação seja vagarosa, bem lenta, bem morosa, alongando-a, até que os dedos mínimos de nossas mãos se desenlacem.
Quero que minha satisfação vá descendo com o elevador do prédio onde você mora, até chegar ao mínimo, quando ele parar.
Quero ouvir o som triste do motor do meu carro, levando-me de volta à minha casa.
Quero dormir bem tarde. Para ver a lua se esconder, e gritar bem alto que aquele dia foi só nosso.
Quero entoar uma música triste, enquanto me dispo.
Com você, meu amor, eu terei passado um sábado. Dia de festa, Dia de alegria.
E para nós, só terá havido alegria, nesse sábado.
Eu quero, meu amor, passar um dia com você. Um só. Mas vai ser um dia inesquecível, diferente de todos os outros.
Porque, depois desse dia, eu quero chorar de saudade dele.
E eu só quero chorar de saudade uma vez.
Chorar de saudade desse dia feliz...
Desse sábado que não voltará...
Porque tudo isso é um sonho...

Autor: Gil Ferreira


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