Vulcão



Encontro-me num vulcão.O suor exala-me do corpo numa frequência assustadora, a lava torneia-me numa tonalidade entre o amarelo vivo e o vermelho garrido, o vapor que emana do núcleo entopem-me as vias nasais, provocando-me uma gradual dificuldade de respiração.No fim do precípicio, sinto os meus pés fraquejar, pequenos sedimentos soltam-se da rocha, ao ritmo da trémula acção do meu corpo.Roucas vozes entoam através da estrutura da cratera, será o dialecto do diabo a fazer-se ouvir?Pequenas fagulhas tocam-me a nível cutâneo, em carne viva, o sangue evapora-se num fogacho, tão elevada é a graduação centígrada do leito que circula este rochedo.Em cada centímetro cúbico de lava, encontram-se os pecados da espécie humana, ardem intensamente cegos de fúria e raiva.Na minha cabeça latejam duas ideias díspares, a 1º sugere-me que deixe para trás das costas este inferno, e admirar a luz diurna que invade o resto da cordilheira montanhosa.A 2º é a mais arriscada, apresenta-me como ideia continuar a admirar este espectáculo natural, dono de um fascínio invulgar que faz brilhar aos olhos de quem observa.Nas catacumbas da minha mente, estes dois lobos em forma de ideia esgrimem argumentos, para ver, no fim qual delibero.Escolha difícil, mas socorro-me do meu bom senso, que me indica a 1º sugestão, abandono esta respladescente demonstração de força e virilidade natural.Mas, conservo dentro de mim, a noção de que ao optar pela solução mais pacifista, dei a mim mesmo a hípotese, de um dia, visitar mais vezes este tipo de paisagens.Ao ter ficado, decerto tinha sucumbido ao ardor voraz da lava e tinha resumido o meu corpo a míseras cinzas, que não serviriam para mais do que sedimentar a parte geológica da cratera.Agora em casa, refastelado numa cadeira de baloiço, o espirito ainda se encontra flamejante, recuando umas breves horas, a minha mente concede-me mil e uma imagens e uma multiplicidade enormissíma de emoções.Um dia vou contar aos netos, que estive num mundo onde o coração bate sem pulsação e a cara está numa livídez parecendo um vulto, e que graças a consciência, dei valor a minha vida.
Autor: Rui Castro


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