NOÇÕES BÁSICAS DAS CATEGORIAS GEOESPACIAIS



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O espaço na geografia se constituiria em uma síntese, guardando ao mesmo tempo uma diversidade, submetida ao fator lugar, com todas as suas manifestações contraditórias, centradas nas relações humanas coisificadas, nas relações humanizadas entre coisas e nas relações predatórias entre a classe dominante e a natureza. (SILVA, 2001, p. 21)

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A geografia como ciência do espaço, estuda e critica a interação entre sociedade humana e espaço ambiental, e possui categorias que não são exclusividade sua, mas que constituem sua identidade e contribuem para uma análise da antropia na modelagem da superfície do planeta, ou seja, uma análise sobre a produção do espaço geográfico.
Analisa-se então um recorte do que é espaço geográfico para Lenyra Rique da Silva, temática bastante discutida em seu livro: A natureza contraditória do espaço geográfico.

O espaço geográfico, para nós, é produzido pelas relações contraditórias entre a natureza orgânica e inorgânica interior e exterior ao homem. O homem é espaço, está no espaço e produz espaço a um só tempo. Espaço social. Isto se dá por meio de sua propriedade, pela função e pelo resultado dessa propriedade.
Através da propriedade, inclusive, e principalmente, da força de trabalho do homem é um dos momentos do espaço geográfico pela via natural e histórica ao mesmo tempo. [...] (SILVA, 2001, p. 50,51)

O espaço, a região, o território, o lugar e a paisagem, são categorias fundamentais para a compreensão dos processos de construção e reconstrução do espaço ambiental e cultural, e para o desenvolvimento da ciência geográfica.
Para A. C. da Silva apud Santos (1997) as categorias fundamentais do conhecimento geográfico são, entre outras, espaço, lugar, área, região, território, habitat, paisagem e população, que definem o objeto da geografia em seu relacionamento. (...) De todas as categorias, a mais geral, e que inclui as outras, é o espaço.
Falar de espaço é discutir uma categoria que soa muitas das vezes, como algo indefinido ou infinito, no entanto, o espaço como objeto de estudo da geografia é algo definido e finito, que possui certos arranjos geográficos e sociais.
Segundo Santos (1997) o espaço deve ser considerado com um conjunto indissociável de que participam de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento.
De acordo com Rocha (2008, p. 130): "Os trabalhos de Milton Santos sobre o espaço muito se ampararam na concepção de Lefevbre sobre o tema, pois a preocupação maior estabeleceu-se na formação do conceito de espaço social e de seus desdobramentos para a realidade geográfica."
O lugar é algo mais particular, mais local, dependendo do sujeito, pode ser entendido como, o povoado, o bairro, a vila, o distrito ou até mesmo a cidade. O lugar é onde as coisas acontecem, onde homens, mulheres, jovens e crianças realizam suas mais diversas atividades. Santos (1997) ao se referir a transição do feudalismo para o capitalismo denomina a cidade de "o lugar revolucionário".
A cidade e o Estado são sem dúvidas as duas invenções mais extraordinárias produzidas pela mente humana, e a partir de suas existências muitos outros feitos e descobertas científicas e não científicas tornaram-se possíveis.
O surgimento de uma cidade nos tempos de globalização é o resultado puro e simples da relação da sociedade e espaço ambiental na constituição de um território, levando em conta os aspectos geográficos, culturais e jurídicos.
O território geralmente está relacionado a uma unidade política do espaço, um recorte, a exemplo, o território delimitado de um país, ou as unidades políticas deste. Mas nem sempre foi assim, a história nos mostra que, que diversos impérios e reinos, em destaque, os impérios Romano (absoluto domínio terrestre) e Britânico (indiscutível domínio dos mares), conquistaram muitos espaços, geralmente denominados de territórios, sem a existência de uma delimitação precisa.
O conceito de território é muitas vezes confundido com o de espaço. Este problema constituiu-se devido aos tênues limites fronteiriços entre as categorias geográficas. O primeiro grande teórico da geografia a trabalhar com a categoria território evidenciou-se na figura de Friedrich Ratzel, um dos sistematizadores do conhecimento geográfico (ROCHA, 2008, p. 135-136), Ratzel também ficou famoso por escrever temáticas como, espaço vital, conquista territorial e expansão estatal.
A formação dos territórios depende necessariamente da relação que a sociedade tem com o espaço no desenrolar e no enredo da história.
A Região é diferente do território, considera-se região como uma área ou espaço que congrega certas características comuns ou semelhantes, como aspectos naturais, sociais, econômicos, culturais, dentre outros. A região pode ser delimitada como ocorre com as unidades políticas, ou não, isso depende do tipo de área a ser analisada (natural, urbana, rural...). A região pode ser considerada como a divisão do espaço geográfico ou do espaço ambiental (natural), ela pode ainda incorporar vários países ou ser parte de um, a exemplo a divisão regional atual do Brasil determinada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sem antes discutir com os pesquisadores da área de geografia política.
Segundo Santos (1997) Os mais renomados geógrafos, durante muitos anos, aprofundaram os estudos sobre a região, tanto no campo teórico, quanto no campo da empirização. Conforme Corrêa apud Santos (1997) Múltiplo são os enfoques sobre região.
A paisagem, por outro lado, é o resultado de todas as transformações ocorridas no tapete litosférico. A paisagem é a única das categorias que não é concebida como uma área ou como algo delimitado, a paisagem é perceptível pelos sentidos humanos. A paisagem pode ser natural ou resultado da interação sociedade - natureza, no entanto, a paisagem integra todas as outras categorias geográficas.
Para Santos (1997) Paisagem é tudo aquilo que nós enxergamos, é o que nossa visão alcança. A paisagem pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca, e não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.
As construções e reconstruções ocorridas no interior das demais categorias repercutem na alteração da paisagem, caracterizando a paisagem como a categoria geográfica mais perceptível e menos controversa do ponto de vista da sociedade contemporânea.
Contudo, as criações e recriações da sociedade sobre o espaço ambiental e artificial modificam a paisagem inserindo novos elementos nela, constituindo assim, outra paisagem, outra imagem, outra natureza, outra sociedade.

REFERÊNCIAS

ROCHA, José Carlos. Diálogo entre as categorias da geografia: espaço, território, e paisagem. Revista Caminhos de Geografia v. 9, n. 26 Jun/2008 p. 128 ? 142. Uberlândia: Instituto de Geografia - UFU, 2008.

SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1997.

SILVA, Lenyra Rique da. A natureza contraditória do espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2001.



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Autor: Ney Silva


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