HAMLET, O PRINCIPE DA DINAMARCA - UMA LEITURA PSICANALÍTICA



UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM LETRAS




HAMLET, O PRINCIPE DA DINAMARCA
UMA LEITURA PSICANALÍTICA



ANACLÉCIA MARIA SANTOS



SÃO CRISTÓVÃO/SE
2010

ANACLÉCIA MARIA SANTOS




HAMLET, O PRÍNCIPE DA DINAMARCA
UMA LEITURA PSICANALÍTICA




Trabalho apresentado ao professor Antônio Cardoso Filho na disciplina de mestrado Discurso Literário e Discurso psicanalítico.




SÃO CRISTÓVÃO/SE
2010

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------04
2 HAMLET, O PRÍNCIPE DA DINAMARCA ? UMA DRAMATURGIA SHAKESPEAREANA --------------------------------------------------------------------------------05
3 ASPECTOS PSICOLÓGICOS ENTRE AUTOR E PERSONAGEM ?----------------- 06
4 HAMLET E O COMPLEXO DE ÉDIPO ------------------------------------------------------08
4.1 O Desejo e o recalque -----------------------------------------------------------09
5 SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO! ? OS CONFLITOS DA EXISTÊNCIA DE HAMLET ------------------------------------------------------------------------------------------------11
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ----------------------------------------------------------------------13
REFERÊNCIAS ----------------------------------------------------------------------------------------14










1 INTRODUÇÃO

A obra literária vai além das interpretações psicanalíticas, vai além das intenções do escritor. Trata-se de uma construção em que o autor faz do mito a fantasia que sustenta a crítica. Mais ainda, o "eu social" e o "eu criador" encontram-se numa comunicação em que eles mesmos se diferem.
A grande peça trágica "Hamlet" de Willian Shakespeare, analisada neste trabalho, foi encenada pela primeira vez em 1601. Intrigante e de grande inquietação para os grandes críticos da literatura através destes quatro séculos de existência. Obra que retrata vingança e tragédia é uma obra pós-moderna, onde um jovem príncipe é tomado pelo desejo de vingança numa feroz disputa pelo poder.
Shakespeare escreveu esta obra logo após a morte de seu pai. Segundo (FREUD apud BERGEZ, p. 62, 1997) Freud decifra-o e se decifra nele, um ano após a morte de seu próprio pai. Hamlet é um personagem edipiano que tem remorsos e desejos de vingança pela morte de seu pai. Parece-nos que estes sentimentos andavam pela mente de Shakespeare, e assim pode-se dizer que eles fecham a composição da obra.
Assim, apresentaremos neste trabalho algumas acepções possíveis sobre situações que ocorrem na obra e que merecem destaque: as hesitações de Hamlet, embora o texto não deixe claro os motivos ou as razões dessas hesitações; as fantasias-desejos subjacentes na sua infância não são postos em descoberto e realizadas como no sonho, elas ficam recalcadas, pelo efeito de inibição desencadeado por elas: a obsessão pela vingança e as dúvidas diante da existência frente ao "ser ou não ser".
Abordaremos aqui, a relação edipiana observada nas reações de Hamlet quanto a não aceitação do relacionamento de sua mãe com seu tio Cláudio.
Tentaremos nesta análise arrancar deste personagem o segredo de sua melancolia, os recalques de sua infância numa relação do sujeito com a verdade, a verdade como significante, dominada pelo sujeito.

2 HAMLET, O PRÍNCIPE DA DINAMARCA ? UMA DRAMATURGIA SHAKESPEARIANA

Escrita entre 1600 e 1602 e impressa pela primeira vez em 1603, Hamlet foi uma das peças de teatro mais famosas de Shakespeare. Nesta história Hamlet atribui a culpa da morte de seu pai a seu tio Cláudio. A partir daí ele idealiza que tem que começar sua vingança, então decide fingir-se de louco.
Para conseguir o poder no reino da Dinamarca, Cláudio assassina o próprio irmão, contrai núpcias com a cunhada e provoca a infelicidade de sua família, principalmente de seu sobrinho, Hamlet. Isso nos mostra que a luta pelo poder político de um país, mesmo na democracia contemporânea, desumaniza e transforma as pessoas. Hamlet descobre que o tio, para tornar-se rei da Dinamarca, matara seu pai e casara-se com sua mãe. Busca vingança e, angustiado, adentra profundamente a alma humana.
A obra de Shakespeare "Hamlet, o príncipe da Dinamarca", a priore, traz um estudo psicológico da personagem, mas "Hamlet está ligado à auto-análise para que Freud possa nos fornecer o trabalho associativo que produziu essa interpretação". É uma tragédia fundamentada na "volta do recalcado", segundo (BERGEZ, p. 64, 1997).
O que faria uma pessoa fingir-se de louco? Por que tantos remorsos, sentimentos vingativos e essas hesitações em realizar a vingança de que é encarregado? Seriam alguns desejos recalcados de sua infância?
Esta obra tem fascinado a muitos escritores desde que foi escrita. Mas por muitos anos o que mais chamou a atenção desses escritores foi a sua incapacidade de Hamlet em vingar a morte de seu pai. Os críticos contemporâneos interessam-se mais pela sua auto-reflexão, a obsessão pela vingança e as dúvidas diante da existência frente ao "ser ou não ser".
Hamlet, conforme analisamos é um rebelde romântico, um existencialista zangado, com uma forma, pode-se dizer, selvagem de fazer justiça. Ele tenta reparar uma injustiça, mas de forma incorreta, esconde-se na loucura inventada por ele mesmo. Dedica-se com afinco a essa loucura e é capaz de sacrificar seu amor por Ofélia e ceifar a vida de outras pessoas.
Hamlet entra em conflito com sua existência, que se tornara insuportável desde que a alma de seu pai lhe aparecera numa noite assombrosa, no alto da torre do castelo. O espectro de seu pai reclamava desforra, clamava por vingança pelo seu assassinato. Contou ao seu filho que o crime o vitimara, seu próprio irmão, o rei Claudio o matara. O príncipe, então fica atordoado, extremamente furioso, e reage de forma estranha quando se finge de louco.
Em seu lar havia apenas a traição e a maldade. O assassino, seu tio Cláudio por causa de sua ambição usurpara o trono e ainda levara consigo a rainha Gertrudes, mãe de Hamlet. Um casamento feito às pressas onde o cardápio era o prato frio da refeição fúnebre. Algo deveria ser feito, mas Hamlet não tinha forças suficientes para agir. Seus desejos recalcados e edipianos, ainda inconscientes, faziam dele um personagem obsessivo e vingativo.
Percebemos, diante de tal situação, que Hamlet sofre uma perda em dois aspectos: o afetivo-familiar ? retratado pela morte recente do seu pai e o casamento de sua mãe com seu tio. Para Lacan (Apud BERGEZ, 1997, P. 74) Hamlet representa o homem moderno às voltas com o drama do desejo: a rainha, mãe sedutora tanto do pai como do filho. Pode-se então, afirmar a partir de um corpus por menor que seja, o caráter estritamente edipiano do gênero trágico.

3 ASPECTOS PSICOLÓGICOS ENTRE AUTOR E PERSONAGEM

Pode-se notar na relação entre autor e personagem uma transferência do real para o imaginário onde o próprio escritor Willian Shakespeare transforma-se na personagem Hamlet. No dizer de muitos autores é a transformação do eu no outro, uma tentativa de transposição da personalidade, da luta interna do eu, os conflitos do "ser ou não ser", existentes no inconsciente da personagem.
Shakespeare escreveu Hamlet sobre o impacto da morte de seu pai John. Na primeira versão um dos filhos dele chamava-se de Hamnet que tinha apenas três ou quatro anos de idade. Entre a primeira e a segunda versão, em 1596, seu filho Hamnet morre, em seguida morre o pai do autor ? John Shakespeare. O autor era ao mesmo tempo o filho órfão e o pai que perdera o filho. Algo se passou na vida de Shakespeare durante a concepção de Hamlet. O que podemos dizer é que quando Shakespeare escreveu esta obra algo ruim se passava na vida dele, a morte de seu pai. ( http://pt.wikipédia.org/wiki/Complexo_de_%C3%89dipo)
De certo, esta obra é um espelho de muito do que acontecia na vida real do autor, e que surpreendentemente conseguiu seduzir a muitos leitores. Ao conhecermos a história do autor Shakespeare, encontramos vestígios da personalidade de Hamlet.
Shakespeare dedicava-se à magia, razão porque em suas obras, principalmente em Hamlet, nota-se uma valorização sobre a imortalidade da alma, do obscuro. O aparecimento do espectro do falecido rei no castelo, amedrontando a todos e pedindo ao seu filho Hamlet que vingue a sua morte são indícios da sua afinidade com o espiritismo.
As obras Shakespearianas têm despertado interesse em muitos autores, principalmente em Freud e Lacan que fazem muitas referências a Hamlet em suas citações. As relações com o desejo e as pulsões, a relação do sujeito com a verdade existente nos diálogos do texto, são elementos importantes para análise.

Mesmo reconhecendo que a criatividade de um poeta é formada por diversos motivos, Freud enfatiza que (como não podia deixar de ser para o fundador da ciência da subjetividade), ao escrever Hamlet, fê-lo sob o impacto da morte do seu pai, John, o que explicaria a presença de um espectro paterno no primeiro ato da peça, e lembra também que um dos filhos dele chamava-se Hamnet, concluindo que "a vida anímica do personagem não era outra senão a do próprio Shakespeare". (http://www.terra.com.br/voltaire/artigos/hamlet4.htm)


Pode-se observar que a leitura psicanalítica que fazemos deste romance e as comparações que fazemos entre autor e personagem são uma alternativa à interpretação pessoal e social, mas tentamos mostrar duas faces, aspectos que retratam uma mesma situação humana. Podemos citar aqui a imagem "fraca" que Hamlet tem de seu pai que perde a esposa, a rainha Gertrudes, para seu irmão Cláudio que ainda o assassina, atribuindo à sua mãe uma imagem "forte" em termos edipianos.
Essas considerações podem ser entendidas através de uma análise feita do próprio texto, à maneira pela qual as situações são colocadas nele, o foco e a estrutura narrativa, o delinear das personagens e, por fim, como tudo conspira sobre o inconsciente de Hamlet.
Mas para onde se levam os espectadores? Para onde caminha a dramaturgia shakespeariana? Não se sabem se esta obra Shakespeariana causa dor ou prazer, o fato é que o espectador, num ato de sedução, é conduzido por baixo da consciência, que Shakespeare impõe a seus espectadores atentos.

4 HAMLET E O COMPLEXO DE ÉDIPO

O complexo de Édipo é uma referência à ameaça de castração ocasionada pela destruição da organização genital fálica da criança, radicada na psicodinâmica libidinal, que tem como pano de fundo as experiências libidinais que se iniciam na retirada do seio materno. (WIKIPÉDIA, A ENCICLOPÉDIA LIVRE - HTTP://PT.WIKIPÉDIA.ORG/WIKI/COMPLEXO_DE_%C3%89)

Quando a criança atinge o período sexual fálico começa o descobrimento da diferença de sexos, então toda atenção libidinosa volta-se para aqueles de sexo oposto que fazem parte do ambiente em que a criança está inserida, que é o seu ambiente familiar. Freud baseou-se na tragédia de Sófocles, Édipo Rei, chamando Complexo de Édipo à preferência velada do filho pela mãe, acompanhada de uma aversão clara pelo pai. Na peça (e na mitologia grega), Édipo matou seu pai Laio e desposou a própria mãe, Jocasta. Após descobrir que Jocasta era sua mãe, Édipo fura os seus olhos e Jocasta comete suicídio. (WIKIPÉDIA, A ENCICLOPÉDIA LIVRE - HTTP://PT.WIKIPÉDIA.ORG/WIKI/COMPLEXO_DE_%C3%89)
Várias abordagens psicológicas são feitas por muitos psicólogos sobre o complexo de Édipo. Segundo alguns autores essa relação edipiana é assunto fundamental para a psicanálise, para alguns é característico dos seres humanos.
Na verdade há uma contradição de sentimentos no complexo de Édipo. Trata-se de um amor à mãe e "ódio" ao pai fumentado nas figuras parentais que estão mais presentes no mundo da criança. É nesse momento que se faz a diferenciação do sujeito em relação aos pais. Ou seja, a criança deseja o pai ou a mãe alimentada pelo id.
A obra nos revela que as relações edípicas impedem Hamlet de agir. Percebemos, através do seu excesso de consciência, uma sensibilidade bastante evidente que o proíbre de levar avante sua vingança. Nota-se, no entanto que um grande leque de razões, emoções e sentimentos permeam essa peça.

4.1 O DESEJO E O RECALQUE

Pretendemos destacar também neste trabalho o desejo e o recalque, desejo pela vingança, desejo de descobrir o assassino de seu pai, desejo pela sua amada Ofélia, de saber a verdade custe o que custar até mesmo a morte de alguns, desejos recalcados da infância. No processo de análise o analisando é movido pelo desejo de saber a verdade sobre seu desejo.
Conforme Freud (apud Marine, p.61, 1997), seria o desejo incestuoso pela mãe, desejos amorosos e hostis, ainda segundo ele, o desejo infantil que muitas vezes esquecemos e ainda permanece em nós.
O desejo de Édipo o personagem é cada vez mais aguçado. Embora sem o saber, ele age conforme o que o destino lhe reserva, levado a princípio pelo que seu inconsciente lhe impõe. No transcorrer da peça, percebe-se que Hamlet começa a se apropriar de alguns dos seus desejos.
Freud nos fala que o "desejo inconsciente busca a satisfação e se choca com a censura do inconsciente". Ainda contribui dizendo que "toda produção psíquica é uma formação de compromisso entre a força do desejo e o poder de recalque do inconsciente". (Freud apud Marini, p. 56).
O que se pode notar na verdade são conflitos entre desejos do consciente e do inconsciente. Para Freud esses conflitos estão constantemente em atividade em todas as formas psíquicas.

Por sua mãe contrair núpcias com seu tio, que ainda usurpa o seu trono, Hamlet se vê impossibilitado de perdoá-la. Imaginava ser o substituto de seu pai após sua morte, então se vê frustrado pelo casamento inesperado de sua mãe, a rainha Gertrudes, com seu tio Cláudio. Os conflitos internos entram em ação, na sua fantasia. Roubaram-lhe não somente o trono, mas o afeto de sua mãe.

Os psicanalistas abordam com grande frequência os aspectos que a obra envolve ressalvando os aspectos importantes dessa união edipiana experienciada por Hamlet. São justamente esses conflitos que o deixam atormentado pela memória obscura dos desejos incessantes da morte de seu pai para conseguir o amor de sua mãe.

O complexo de Édipo é uma referência à ameaça de castração ocasionada pela destruição da organização genital fálica da criança, radicada na psicodinâmica libidinal, que tem como pano de fundo as experiências libidinais que se iniciam na retirada do seio materno [...] a libido é uma energia sexual, mas não se constitui apenas na prática sexual, mas também nos investimentos que o indivíduo faz para obtenção do prazer. (WIKIPÉDIA, A ENCICLOPÉDIA LIVRE - HTTP://PT.WIKIPÉDIA.ORG/WIKI/COMPLEXO_DE_%C3%89)

Então Freud afirma (apud ZAVARONI, 2003):

O complexo assim formado é destinado à pronta repressão, porém continua a agir do inconsciente com intensidade e persistência. (...) O mito do rei Édipo que, tendo matado o pai, tomou a mãe por mulher, é uma manifestação pouco modificada do desejo infantil, contra o qual se levantam mais tarde, como repulsa, as barreiras do incesto. O Hamlet de Shakespeare assenta sobre a mesma base, embora mais velada, do complexo do incesto.

O crime cometido por Cláudio é, na verdade, o desejo recalcado de Hamlet. Assim, o crime permanece escondido na cena. O duplo Cláudio é, nesse sentido o reflexo da sombra do inconsciente de Hamlet.
Os elementos que cercam a peça são impressionantes. O castelo, o espectro que ronda as torres clamando por vingança, todo o clima de vingança e intrigas que permeiam a corte, um príncipe fingindo-se de louco, a visita noturna do jovem Hamlet ao cemitério, o suicídio da bela e frágil Ofélia, a dança com a taça envenenada, são fatos que tornam a peça uma das melhores obras destes últimos quatro séculos.
Pensemos, então no recalque que expõe Hamlet a própria culpa. Ele é tomado pela hesitação e vê-se sem forças para agir, embora esta ação não lhe seja totalmente atípica. Hamlet conduz vários personagens a morte sem a menor hesitação. Na peça a objeção do pedido de seu pai é afetada, pois expõe o personagem ao que estava escondido no seu inconsciente, o desejo de ocupar o lugar de seu pai. Se sente amedrontado diante desse desejo e se vê atormentado pelo espectro de seu pai que a todo momento pede que vingue sua morte.
Freud (apud Marini, p.63, 1997) lê Hamlet e comenta:

Hamlet pode agir, mas não poderia se vingar de um homem que afastou seu pai e tomou-lhe o lugar ao lado de sua mãe, de um homem que realizou os desejos recalcados de sua infância. O horror que deveria impelí-lo à vingança é substituído por remorsos, escrúpulos de consciência...

5 SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO! - OS CONFLITOS DA EXISTÊNCIA DE HAMLET

Como dizem alguns escritores, Hamlet é mais que um personagem e todos temos um pouco de Hamlet em nós, com nossas dúvidas, nossas incertezas e até mesmo alguns conflitos recalcados no nosso interior. Não é sem razão que a grande peça trágica de teatro é de todas as obras a mais intrigante, é a obra Shakespeareana com o maior número de leituras desde sua primeira edição.
Hamlet reflete sobre a existência da vida e da morte. Por não estar mais interessado na vida se deixa levar por um sombrio pessimismo que o atormenta. Então, torna-se um nobre príncipe enfraquecido por sua melancolia, por sua tristeza profunda. Não consegue livrar-se da tentação de vingar a morte de seu pai, a dúvida entre o ódio e o amor o persegue constantemente e a sua preferência pelo ódio resulta em muitas mortes Hamlet, Laertes, Cláudio e Gertrudes.
Então, eis a questão: diante de tão grave situação Hamlet é um herói ou um criminoso? O herói termina por triunfar, mas a revolução exige sangue e termina em uma carnificina em que o espectro de seu pai também foi autor a partir do momento em apareceu ao seu filho lhe pedindo vingança. Essas situações conduziram à morte de muitos, heróis e inimigos numa carnificina irreparável.
Hamlet não encontrou solução para o seu problema, por isso o drama que o aflige torna-se cada vez mais fascinante. Sua rebelião arruina sua vida, sua família e a paz do reino. É certo que quem vive pela espada, padecerá pela espada. O sucumbir vem de imediato. Combater o mal ou fugir dele pela morte são reflexões que o seguiam. Seu desejo de vingança não tem mais limite, começa então sua luta contra uma insurreição interior da alma.
O drama que atinge a alma de Hamlet o leva a não estabelecer a justiça na Dinamarca, entre o resistir e o golpear, ele não emprega bons meios e vai pelo caminho que para ele era mais fácil, então sua luta termina em tragédia e as consequências não são nada agradáveis.
Ser ou não ser: eis a questão ? conflitos interiores do príncipe da Dinamarca, vivendo os açoites e os escárnios do tempo em que viva, numa condição mortal que é o que está no intimo do "ser ou não?? em sua crise existencial.









6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisarmos a obra de Willian Shakespeare ? Hamlet o príncipe da Dinamarca, tentamos, de forma simples apresentar algumas observações, análises que foram feitas dentro das leituras que fizemos tanto da obra de Willian Shakespeare como de artigos e livros que pudessem contribuir para uma psicocrítica mais precisa.
Fez-se necessário recobrar alguns fatos importantes que foram imprescindíveis para uma melhor análise: a loucura fingida do príncipe Hamlet, andando pelo palácio feito um lunático, com o intuito de provocar reações adversas em todos que o vissem; o desejo incestuoso pela mãe, numa relação edipiana; os conflitos internos, fantasias; os desejos e os recalques da sua infância; sua crise existencial o "ser ou não ser" em questão. Estes foram os elementos mais enfocados no nosso trabalho.
Procuramos penetrar no íntimo de Hamlet para poder entender muitas de suas frustrações e dilemas, seus conflitos psíquicos ? entre desejo consciente e inconsciente. Suas pulsões sexuais, organizadas no pré-consciente.
A obra de Willian Shakespeare é um texto literário que desempenha o papel de mediador numa relação entre clínica ? quando se trata de psicanálise; e teoria ? quando falamos em literatura. Servindo como referência para esclarecer certos aspectos que na obra não é tão esclarecedor.
Concluímos, então, após várias leituras e análises que Édipo é um pouco de nós, o Hamlet tão estudado é um Édipo recalcado, também um pouco de nós que precisa ser cuidado sempre, diariamente, em todos os momentos de nossas vidas. É aquilo que escondemos, mas está lá no nosso íntimo, recalcado, no nosso inconsciente. É, na verdade o paradigma conflitante que mais nos atormenta.




REFERÊNCIAS

BERGEZ, Daniel et alii. Métodos críticos para análise literária. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
FREUD, Anna. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Ed. Civilização brasileira, 1978.
JOHNSON, Samuel. Prefácio a Shakespeare seguido de Rancine e Shakespeare de Stendhal trad. Enid Abreu Dobranszky Sao Paulo: Iluminuras, 1996.
LAPLANCHE, J & PONTALIS, JB. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes Ltda, 1985.
ROUDINESCO, E & PLON, M. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
SHAKESPEARE, Willian. Hamlet, o principe da Dinamarca. São Paulo: Scipione, 2002.
ZAVARONI, Dione de Medeiros Lula. O infantil no trabalho psicanálise. Dissertação de Mestrado. Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, 2003.

http://www.brasilescola.com
http://www.terra.com.br/voltaire/artigos/hamlet4.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo_de_%C3%89dipo







ANEXO

O texto abaixo de Willian Shakespeare é um solilóquio que resume o dilema do príncipe iniciado pelo verso "To be or not to be: that is the question". Traduzido na íntegra por Luis Angélico da Costa, professor emérito da UFBA, como "Ser ou não ser: essa é toda a questão". Esses versos retratam a dor do coração do príncipe da Dinamarca, mergulhada num mar de angústias e conflitos vivenciados por um homem normal, mas que se torna neurótico frente ao que se defronta.

O SOLOLÓQUIO DE HAMLET
(Ato III, Cena 1)

Ser ou não ser; essa é toda a questão:
Se mais nobre é em mente suportar
Dardos e flechas de ultrajante sina
Ou tomar armas contra um mar de angústias
E firme, dar-lhes fim. Morrer: dormir;
Não mais; dizer que um sono porá fim
À dor do coração e aos mil embates
De que é herdeira a carne!... é um desenlace
A aspirar com fervor. Morrer, dormir;
Dormir, talvez sonhar: eis o dilema,
Pois no sono da morte quaisquer sonhos
- Ao nos livrarmos deste caos mortal -
A paz nos devem dar. Esta é a razão
De a vida longa ser calamidade,
Pois quem do mundo os males sofreria:
A injustiça, a opressão, a vã injúria,
O amor magoado, as delongas da lei,
O abuso do poder e a humilhação
Que do indigno o valoroso sofre,
Quando ele próprio a paz encontraria
Em seu punhal? Quem fardo arrastaria,
Grunhindo, suarento, em triste vida,
Senão porque o pavor do após a morte
- Ignota região de cujas linhas
Não se volta - a vontade nos confunde
E nos faz preferir males que temos
A buscar outros que desconhecemos?
Assim nos faz covardes a consciência,
E o natural fulgor da decisão
Sucumbe à débil luz da reflexão;
E assim projetos de vigor e urgência
Em vista disto seus cursos desviam
E perdem o nome de ação. Oh, cala-te!
A bela Ofélia! - Ninfa, em tuas preces
Lembrados sejam todos meus pecados.*

* Versão em português, de Luiz Angélico da Costa, linha por linha, em decassílabos não rimados - à semelhança do "blank verse" shakespeariano, quanto à acentuação.
Luiz Angélico da Costa, docente livre de Língua e Literatura de Língua Inglesa, é Professor Emérito da UFBA e tradutor. (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre - HTTP://PT.WIKIPÉDIA.ORG/WIKI/COMPLEXO_DE_%C3%89)







Autor: Anaclécia Maria Santos


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