Peça Teatral



Auto as Avessas

 

Personagens:

Maria;

Tio Dê;

Deus;

Anjos: Intelectu, Papaty, Surfeiro, Serelepe e Guloso;

Super Mamy.

 

(Maria cantarolando, dançando e se arrumando para festa)

 

MARIA: Que dia lindo! Perfeito para uma festa. Ai, minha nossa! Esqueci de chamar alguém para olhar os anjinhos. (Olha a escala) Engraçado estão todos ocupados para hoje. Meu Deus me dê uma mãozinha. (Cai uma mão). Não era bem o que queria. Preciso de uma forcinha, né?! (Cai uma lata de Red Bull). Pelo visto ninguém quer me ajude. Ah, já sei. Tem que ser ele. E ai dele se... (Sai).

(Entram os anjinhos correndo)

SERELEPE: Cheguei primeiro, eu sou o mais rápido e mais esperto!

INTELECTU: O mais esperto sou eu.

SURFEIRO: Só porque se chama Intelectu.

Guloso: Eu sou o Guloso.

PAPATY: Papaty. Prazer.

SURFEIRO: Eu sou o surfeiro. Uh, uh!

SERELEPE: E eu o Serelepe. Mas mesmo isso eu cheguei primeiro esou o mais rápido.

TODOS: Não é.

SERELEPE: Sou sim.

TODOS: Não.

SERELEPE: Sim.

TODOS: NÂO.

SERELEPE: Não.

TODOS: Sim.

SERELEPE: Já que insistem, eu sou sim.

INTELECTU: Ei! A mãe não está aqui.

SERELEPE: Isso quer dizer quê!

SURFEIRO:Vai rolar a festa. Solta o som DJ! (Começam a dançar. Um tempo depois entra tio Dê gritando e Maria segurando-o pela orelha).

TIO DÊ: eu já disse não. Da última vez eles quase incendiaram minha casa.

MARIA: Sua casa só vive pegando fogo. Mas olha que rostos mais meigos. (Tio Dê faz careta). Deixa eu ir que já estou atrasada. (Sai. Serelepe pula no colo de Tio Dê) .

SERELEPE: Oi, Tio Dê!

TIO DÊ: Não me chame de tio, docinho. (Joga o anjo no chão).

SURFEIRO: Tio Dê, por que essa roupa tão feia?

INTELECTU: Por que essa cara tão feia?

GULOSO: Por que esses chifres?

PAPATY: Por que esse cheirinho de enxofre?

SERELEPE: Por quê?

TODOS: Por quê? (3 vezes).

TIO DÊ: Chega! Por que não existem cartilhas para cuidar dessas... criaturas?

INTELECTU: Pobre ser que habita as profundezas, que graça teria a vida se tivesse manual de instruções? (Tio Dê chora).

GULOSO: Tio não fica assim. Senão eu também choro.

PAPATY: Isso aí nem plástica dá jeito.

TIO DÊ: Como não? Eu se quiser posso ser capa de revista de moda.

PAPATY: Nossa com um bafo desses? Credo! Não escovou os dentes hoje não?

SERELEPE: Eca, que porco.

SURFEIRO: Mamãe falou que é necessário escovar os dentes pelo menos 3 vezes ao dia.

TIO DÊ: Ora, meu bafo está ótimo. É, nem tanto.

PAPATY: Tem razão ser tão desleixado . não tem quem cuide dele. Olha só, a roupa fora de moda, cabelo, essa cara. Hum!! Tem que ser igual a mim, antenada, celular super moderno, tudo combinando.

TIO DÊ: Moda, cada um faz a sua gracinha. Eca.

INTELECTU: Você cuida tanto da aparência que esquece de cuidar da mente Papaty. (Papaty dá língua).

SURFEIRO: Começou o Intelectu.

SERELEPE: É, começou a chatura.

INTELCTU: Chatura nada. Estudar é bom, sabia?

GULOSO: Falou o sabedoria.

INTELECTU: Tô querendo ajudar e você tirando onda Guloso.

SURFEIRO: Quem tira onda sou eu. Ou melhor pego. (Começa a briga).

TIO DÊ: Silêncio! Silêncio! Silêncio! (grita).

PAPATY: Fica quieto! Isso é assunto de anjo.

TIO DÊ: Chega suas pestinhas. Agora a paciência que não tenho acabou. E vocês estão me deixando louco. E quando eu fico louco.

(Os anjos se assustam)

GULOSO: Ih o homem ta doidinho.

INTELECTU: Vamos correr. (Correm, se esbarram e saem).

(Tio Dê atende o celular)

TIO DÊ: O que é? O quê? Ele quer revisão do processo? Mas que processo? Se ele foi parar aí por faltas gravíssimas. Ahn, ele alega que foi tudo forjado. Hum, hum! Mas acontece que aquele outro foi parar aí porque no último minuto apresentaram um atenuante que aliviou sua pena. Fala para esse sujeito, que o meu recinto é de respeito e eu não admito esse tipo de coisa. (Desliga o celular) Era o que faltava. (Acende um cigarro).

(Os anjos entram em fila como bombeiros).

TODOS: Ion, Ion, íon. O Ministério da Saúde adverte fumar causa câncer nos pulmões, fígado, na laringe, na faringe, no pâncreas, no esôfago. E em outras partes.

TIO DÊ: O que eu fiz para merecer isso?!

SERELEPE: Tio vamos brincar?

GULOSO: É Tio Dê. A gente jura que se comporta.

SURFEIRO: A gente jura.

TODOS: HEIN? Brinca, brinca, brinca.

TIO DÊ: Brincar de quê?

PAPATY: De escolinha.

TODOS: Não.

SURFEIRO: Pega ladrão.

TIO DÊ: Gostei.

TODOS: Não.

GULOSO: Já sei, vamos brincar de índio.

TIO DÊ: Não, não, não! A última vez foi traumática.

INTELECTU: Vamos votar. Quem quer brincar de índio? (Todos levantam a mão). Bem como somos muito democráticos, e em uma democracia a vontade da maioria vence, você vai ser o cara pálida.

TODOS: É. (imitam índio).

TIO DÊ: Não! De novo não. (Os anjos o marram e dançam ao seu redor). Eu não mereço isso.

SERELEPE:Chefe o que vamos fazer com esse cara pálida?

PAPATY: Vamos fazer uma plástica nele.

TODOS: Não.

INTELECTU: Vou pensar. Guloso toma conta do cara pálida. O resto vem comigo. (Saem)

TIO DÊ: Ei, psiu! É você! Se me tirar daqui eu te dou um pedaço de torta de maçã.

GULOSO: Não vai me corromper, como faz com os outros.

TIO DÊ: Dois. Três. Quatro. Uma torta inteira.

GULOSO: Só uma?

TIO DÊ: Duas. Três. Quatro. Está bem cinco.

GULOSO: Feito! Eu me contentava só com uma, mas cinco é bem melhor.

TIO DÊ: Agora você me paga. Vem cá. (O agarra).

GULOSO: Pena Branca em perigo. ( Os anjos entram)

TIO DÊ: Seus danadinhos, me deixaram furioso. Vão conhecer toda a minha ira.

INTELECTU: Solta ele, seu, seu, seu... batráquio.

TIO DÊ: O que é isso menino?

INTELECTU: Olha no dicionário.

(Papaty dá um chute no Tio Dê, Guloso morde sua mão, Surfeiro dá um tapa em sua bunda. Os fazem careta e saem).

TIO DÊ: Meu Deus, eu sei que não sou digno de lhe dirigir a palavra, mas eu lhe imploro. Tenha piedade desse pobre ser que nas profundezas e é atormentado por criaturas que me tiram o juízo. Por favor, eu suplico, tenha compaixão de mim nessa hora tão difícil. (Silêncio) Perdi a moral. (Trovõese terremoto).

DEUS: Quem chamou o onipotente, magnífico, esplêndido, glorioso, onipresente, o todo poderoso?

TIO DÊ: Fui eu Senhor. (Tímido).

DEUS: Quem?

TIO DÊ: Eu Senhor. Tá cego?

DEUS: Olha o respeito! Mas como ousa perturbar o descanso do Senhor em pleno feriado?

TIO DÊ: O caso é gravíssimo.

DEUS: Anda logo, que meu tempo é precioso.

TIO DÊ: São essas pestinhas...

DEUS: Olha a boca.

TIO DÊ: Tá. Esses anjinhos não respeitam ninguém. Se eu mando sentar, eles correm. Terminam de tomar banho, se jogam no chão. Eles me tiram do sério.

DEUS: O que posso fazer? São crianças!

TIO DÊ: Eu sei! Mas eles precisam de limites. Todo mundo sabe que as crianças precisam de bons exemplos para serem adultos responsáveis. Que precisam aprender o que é certo e errado para saberem escolher os seus caminhos. Mas o que eu estou dizendo?

DEUS: Ótimo meu filho! Aproveite e os eduque.

TIO DÊ: Essa é a obrigação da família, não minha. Está pensando o quê? E nem jogue a responsabilidade pra cima da escola. Nem a escola pode fazer tudo sozinha. É da família principalmente o cargo de criar e educar. É por isso que o mundo ta do jeito que ta. Ninguém respeita ninguém. É um matando o outro. É gente querendo ficar jovem para sempre a qualquer custo. Casais se traindo. Filho não respeita pais, avós. É adolescente engravidando. É a política cada vez mais corrupta. É assalto, tiroteio. Ta tudo de perna pro ar. Onde está a tolerância, o amor, a humanidade. O que estou dizendo? Cala a boca!

DEUS: Tem razão Dê. Eu não sei mais o que fazer. Parte das pessoas esqueceram o verdadeiro sentido da vida. E isso me machuca tanto. Ai! Para elas é mais fácil fechar os olhos e até mesmo ficar no sofá com o controle remoto na mão mudar o canal da TV, do que arregaçar as mangas e mudar as atitudes. Não sei o que fazer! Nem minha analista me agüenta mais.

TIO DÊ: O stress é grande mesmo. Mas e o meu problema como resolvo?

DEUS: Há anos você é a babá deles. Tem que ter aprendido alguma coisa! Deixa eu ir que preciso descansar para assistir o jogo celestial mais tarde.

TIO DÊ: Por favor, eu lhe imploro, não me deixes agora, me ajude.

DEUS: Ok! Ok! Vou ver o que posso fazer.

(Entra Super Mamy)

TIO DÊ: Super Mamy? O programa dela faz o maior sucesso. Vamos ver se sabe mesmo lidar com os anjinhos.

SUPER MAMY: Isso é um sonho?

TIO DÊ: Não é bem real. Vamos direto ao assunto. Eu tenho umas criaturas aqui que me deixam louco. Só vivem brigando, esperneando, fazendo careta. Eles não me respeitam mais.

SUPER MAMY: Hum! Vejamos. Você já tentou a psicologia do quem manda aqui sou eu.

TIO DÊ: Psicologia do quê?

SUPER MAMY: Quem manda aqui sou eu. Funciona assim você tem que mostrar para elas que o chefe da casa é você. Estabelecer regras. Sem abusar da autoridade E nem partir para a violência. Porque hoje você sabe é mais conveniente conversar com elas, deixar ela expor suas idéias, revelar o que quer e assim você poderá ter o controle da situação. Bem, já está na minha hora. Qualquer problema é só chamar a Super Mamy. (Sai)

TIO DÊ: O mundo ta virado mesmo. Nada de castigo, nada de chinelada. Um castigo de vez em quando não faz mal a ninguém. Não se educa mais como antigamente. Larga disso Dê. Que coisa!

(Os anjos entram)

SURFEIRO: TIO Dê, ta bravo com a gente?

TIO DÊ: Claro que não! (Vira o rosto faz careta)

INTELECTU: Não fazemos por mal. Precisamos liberar a energia acumulada.

PAPATY: E para mostrar como gostamos de você, fizemos esse bilhete.

TIO DÊ: Rosa e de coração. Que meigo! (Lê) "Querido Tio Dê, você é muito importante para nós. Sempre está conosco, nos diverte pra valer. É o único que cuida de nós, quando a mãe precisa. E apesar dessa aparência horrenda, grotescae esse cheirinho de enxofre a gente te quer bem. Intelectu, Papaty, Guloso, Surfeiro e Serelepe". Ah, não precisava. (Os anjos o abraçam e saem) Funciona mesmo essa tal de psicologia. Nem precisei fazer esforço. Dê você é demais. (Os anjos entram com algo)

SURFEIRO: Epara mostrar a nossa amizade, fizemos isso para você.

PAPATY: Gostou Tio Dê?

TIO DÊ: Me deixaram sem palavras.

GULOSO: Viva o Tio Dê!

TODOS: Viva! (Jogam a torta em sua cara e começam a rir).

TIO DÊ: Era tudo fingimento. Queriam rir da minha cara. Mas agora conseguiram me enfurecer. Vou pegar vocês, cortar em pedacinhos e fazer uma bela sopa em meu caldeirão.

GULOSO: Dessa vez a gente pegou pesado.

SURFEIRO: Salve-se quem puder que o bicho ta solto e ta mais bravo que as ondas do Havaí.

PAPATY: CORRE. (Começama correr)

(Maria Chega, os anjos se escondem atrás dela).

MARIA: Mas o que está acontecendo aqui?

TIO DÊ: Nada.

SERELEPE: Ele quer nos comer.

MARIA: Toma vergonha, uma criatura desse tamanho judiando de criaturinhas indefesas.

TIO DÊ: Indefesas nada.

MARIA: Eles são as criaturas mais lindas e fofas do mundo. Você é que não sabe dábom exemplo.

TIO DÊ: Dessa vez eu tenho testemunhas para provar minha inocência.

MARIA: Não me venha com essa. Toda vez é a mesma coisa. É melhor fazer seu trabalho direito senão não pago o dia.

TIO DÊ: Tá, já me convenceu. Não posso me dá ao luxo de dispensar dinheiro extra. Hoje está tudo caro, aluguel, condução, remédio, material escolar.

MARIA: Toma, aqui está. E não vá gastar com besteira.

TIO DÊ: Está pensandoque sou o quê?

PAPATY: Um cachaceio:

MARIA: PAPATY.

SERELEPE: E um fumacinha ambulante.

MARIA: Serelepe, que modos são esses?

INTELECTU:É a verdade mamãe.

MARIA: Intelectu.

TIO DÊ: quando falo ninguém acredita. Não precisa me olhar assim. É melhor eu ir, estou muito cansado dessas criaturas adoráveis. Passar mal. (Faz careta para os anjos, sai).

PAPATY: Como foi a festa?

MARIA: Maravilhosa. Mas já está na hora de dormir. Todo mundo para cama. (Empurra os anjos que saem).È melhor eu dormir também. (Serelepe volta). Não foi dormir por quê?

SERELEPE: Não estou com sono. Mãe por que o Tio Dê é assim tão bravo?

MARIA: Ora, meu filho esse é o jeito dele. Cada um tem um jeito, é claro que uns têm um gênio bem forte que é preciso aprender a lidar. Por isso é necessário tolerância... Ih dormiu. Por chega. Amanhã é outro dia. Vamos para cama meu anjo. (Saem)

DEUS:Que jogo. E aquela jogada então. Cadê todo mundo. Desculpem, já passa das 23:00h. Em respeito a lei do silêncio, boa noite.

 

 

 

 

FIM

Jana Lemos

 

 

 


Autor: Janniny Lemos


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