MEMÓRIAS DE UMA INFÂNCIA INFELIZ



Odaci Lima

RESUMO: Em artigo autobiográfico, o autor descreve, entre lágrimas e risos, os mais relevantes aspectos da sua longa existência, cuja infância foi fortemente marcada por restrições de natureza recreativa, motivada por acentuada precariedade na saude. Conclue admitindo que, ao evitar os males do corpo, teria optado por um confronto com com outras formas do mal, sobretudo a invenja e o ciume. E cita um espírito de luz para provar que sua atitude não foi contravenção à lei de Deus.
Imagine-se guiando um caminhão contendo uma carga cujo peso está próximo do limite da cpacidade do veículo. Em estrada mais ou menos plana, tudo vai bem. Mas ao iniciar uma subida íngreme, o carro pede mais força. Nesse momento, ou você passa a "grande", ou vai enfrentar problemas. Isto também ocorre com pessoas, no seu dia a dia, quando somos obrigados a convocar as energias em repouso para enfrentar dificuldades, sobretudo as relacionadas com a saúde do corpo.
As estratégias de superação dessas dificuldades estão, desde algumas décadas, disponíveis ao homem comum.Temos a auto-sugestão consciente, de Emile Cué, a cura pelo riso, a contemplação da natureza, as práticas de Yoga e Tai-Chi-Chuan, leituras agradáveis, hidroterapia, caminhada, musicoterapia, etc, tudo sem segredo ou complicada ciência. As práticas aqui aconselhadas são motivo que despertam o entusiasmo, o quer rejuvenesse as células de cada tecido do nosso envoltório biológico.
Quem sou eu para afirma-lo, com tanta convicção? Sou um idoso sadio que adoecia com frequência, durante a infância e adolescência, e cuja expectativa de vida era muito curta. Nos anos trinta do século passado, era comum, aqui no Nordeste, colocarem uma vela acesa numa das mãos de crianças que estavam morrendo para "iluminar o seu caminho de volta ao Céu". Pois, conforme minha mãe, no decorrer da primeira infância eu "levei" três vezes, velas na mão. Nos primeiros anos de colégio, não raro saía de casa com aparente saúde e horas depois estava com febre, em plena sala de aula. Eram-me proibidos sorvetes, banhos de chuva e brincadeiras ao sol, como jogar futebol, soltar arraias (pipas), etc. Calçadas quentes, do sol, nem falar. Somente as águas de rios e lagoas não me faziam mal. Por isso tornei-me, desde cedo, exímio nadador. Que o digam, as lagoas de Messejana e Parangaba, e o rio Cocó.
A leitura, também, era meu passa tempo. Aos nove anos, já esperava meu pai, à tardinha, com o jornal, para saber as notícias da Segunda Guerra mundial, enquanto os outros meninos brincavam "de bola", na terra quente, da qual, por questão de saúde, eu nem podi me aproximar. Foi assim que me chegaram, muito cedo, alguns conhecimentos da Geografia, em seus aspectos político e econômico. Cedo, sim, mas não para quem a expectativa de vida era extremamente limitada.
Não era, por isso, uma criança sempre triste. Quando não estava com febre, brincava alegremente em companhia de amigos, mas já notava, desconfiado, que todos cuidavam de mim, como se conhecessem as minhas fraquezas; Literalmente, eu era prisioneiro das circunstâncias, mas sempre cercado de carinho.
Já maior de idade, ouvindo minha mãe falar a uma amiga que vivia se preparando para o meu desencarne, cedo, tomei a decisão de evitar, a todo custo, que ela tivesse que passar por isto. Então, passei a cuidar de minha saúde, metodicamente, adotando estratégias de superação tais como as indicadas, ao leitor, no começo deste artigo. Passei a nadar com mais objetividade, a praticar esportes de luta e levantamento de peso, com o propósito de eliminar a insegurança adquirida. Fui soldade, e até tive o desejo de me alistar na Legião Estrangeira Francesa. Depois, então mais confiante, consegui um emprego na Campanha de Erradiucação da Malária, e fui trabalhar no campo, na fronteira do Ceará com o Piaui, entre cobras, ciganos, índios, rios caudalosos e rastros de onças. Foi aí que eu comecei a me sentir adulto. Mas a sensação de ser criança não me abandonaria, facilmente. Ainda hoje, há momentos em que, involuntária e inconscientemente resurge-me o hábito, inercial, de algum comportamento imaturo. Isto tem me causado enormes prejuizos, inclusive no campo profissional. Até recentemente, nem mesmo eu compreendia que tudo eram sequelas de uma infância sofrida.
Disr-se-ia que, ao evitar estrategicamente, um conjunto de males ao corpo físico, teria optado, livremente , por um confronto com outras formas do mal, em que se sobressaem a inveja e o ciume.
A pergunta é: teria, esta opção, sido correta, ou uma contravenção à lei de Deus? Para o espírito de luz que não se identificou, "um homem pode nascer numa posição penosa e difícil, precisamente para obriga-lo a procurar os meios de vencer as dificuldades. O mérido consiste em suportar sem lamentação as consequências dos males que não se podem evitar, em perseverar na luta, em não se desesperar se não for bem sucedido, mas não num desleixo que seria preguiça mais do que virtude". (1)
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Referência bibliográfica
1) Kardek, Allan "O Evangelho Segundo o Espiritismo", cap.5 item 26, (UM ANJO GUARDIÃO) 353a edição, IDE Editora, Araras, São Paulo, 2008.
Autor: José Odaci Lima


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