RESENHA: ENTRE O DIREITO E A TORTURA



RESENHA: ENTRE O DIREITO E A TORTURA

ANA PAULA DANTAS DE OLIVEIRA

ZUZU ANGEL. Direção: Sérgio Rezende. Produção: Joaquim Vaz de Carvalho. Roteiro: Sérgio Rezende e Marcos Bernstein. Intérpretes: Patrícia Pillar; Daniel de Oliveira; Alexandre Borges; Angela Vieira e outros. [Rio de Janeiro: Globo Filmes], 2006. Em DVD Vídeo ( 103 min).
Sérgio Rezende é um grande cineasta brasileiro que nasceu no Rio de Janeiro em 09 de abril de 1951. Dirigiu vários filmes biográficos de personalidades brasileiras, tais como: Lamarca, Mauá ? O imperador e o rei, Zuzu Angel, e Guerra de Canudos, que foi exibido pela Rede Globo de Televisão como minissérie. Rezende entrou em uma disputa judicial com Jorge Caldeira, autor do livro Mauá: empresário do Império, que acusou Rezende de plágio por usar diálogos inteiros do seu livro no filme Mauá: o imperador e o rei.
Zuzu Angel foi uma estilista de sucesso que no auge da carreira vê o mundo desabando sobre sua cabeça ao ser informada sobre a morte de seu filho Stuart. Um jovem revolucionário, preocupado com as questões sociais, que arrisca sua vida com o objetivo de lutar por aquilo que acha certo, aquilo que ele vê como um mundo melhor e justo. Com isso, Zuzu é obrigada a abrir os olhos diante das realidade brasileira, marcada por injustiças.
Em um cenário de repressão, bem elaborado, Zuzu depara-se com a impotência da lei que nada pode fazer para aliviar a dor de uma mãe que teve seu filho torturado e assassinado , fato que foi bem comum durante os anos de chumbo (período corresponde ao governo do general Médice). Neste contexto acentua-se a repressão, as perseguições e a torturas aos presos políticos ou a qualquer pessoa que se opunha ao regime. O governo tentava passar uma imagem positiva do Brasil, com o intuito de esconder as práticas repressoras. Para isso usava a mídia para divulgar as propagandas oficiais. Neste período a Rede Globo de Televisão ganhou destaque, afirma Bores Fausto (2006, p. 484) que " por essa época beneficiada pelo apoio do governo de que se tranformou em porta-voz, a TV Globo expandiu-se até se tornar rede nacional e alcançar praticamente o controle do setor". Essa repressão tornou-se acentuada e frequente para acabar com as aspirações democráticas que surgiam no país. Grupos, como o liderado por Larmaca, praticavam assaltos em agências bancárias com o intuito de arrecadar fundos para financiar a luta política. Diz Ihering (2005, p. 27) que "todo e qualquer direito, seja o direito de um povo, seja o direito de um cidadão, só se afirma por uma disposição ininterrúpta para a luta".
Stuart integrara o grupo do ex-capitão Lamarca. Pego em uma armadilha, ele é preso, torturado e assassinado no interior de uma base militar, por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica, emprega Dom Paulo Evaristo Arns (1985, p. 38) que " o emprego da tortura foi uma peça essencial da engrenagem repressiva posta em movimento pelo regime militar". Depois de morto foi "julgado" e "inocentado". Indignada com a falta de escrúpulos dos comandantes, Zuzu procurou fez inúmeras denúncias contra a ditadura militar, manteve contato com autoridades estrangeiras do EUA, país onde nascera o pai de Stuart, para fazer denúncias, escreveu inúmeras cartas para as pessoas influentes no Brasil e EUA, na madrugada de 14 de abril de 1976, Zuzu foi encontrada morta em um acidente automobilístico, supostamente provocado pelos militares. Chico Buarque de Holanda gravou a música "Angélica" para homenagear sua amiga Zuzu Angel.
Apesar de não ter sido bem colocado na produção, o governo Médice marcou um período de "desenvolvimento econômico" do país, onde foram financiadas uma série de construções. Nesse período o governo divulgou slogans do tipo:"este é um país que vai para frente". Quando o milagre econômico entrou em crise, Médice adotou medidas como o arrocho salarial que afetou a classe trabalhadora que encontrava-se impossibilitada de fazer manifestações devido a repressão. A consequência disso foi a subida da inflação e o aumento assustador da dívida externa.
Com tudo, podemos observar que foi muito bem abordada a questão da repressão e dos castigos, colocando-se muito bem os tipos de torturas e o medo de que a população sentia. Deixando de abordar fatos importantes como o milagre econômico. Certo que a intenção era contar a história de Zuzu, mas para isso seria necessário abordar características peculiares daquele período. Uma falha que podemos notar encontra-se na cena em que Lamara assalta um banco, não ficou explícito o motivo pelo qual esses grupos políticos cometiam esses delitos. O que exige do espectador um prévio conhecimeto sobre a ditadura. Outra falha bem grave situa-se nas partes em que "tenta-se" abordar a importância da mídia, pois inacreditalvemente "esqueceram" de destacar o papel da Rede Globo de Televisão como aliada oficial da ditadura militar. Que durante a ditadura transmitia todos os dias, para as famílias brasileiras, propagandas que mostravam um Brasil em tempos de paz. No decorrer dos anos de chumbo, grande parte dos artistas elaboraram obras que criticavam a ditadura e estimulava a população a lutar contra essa barbaridade. A produção deixou de destacar o papel de muitos artistas.
Um filme no mínimo interessante que deve ser asistido por estudantes de história, seja a nível médio, fundamental ou graduação. Para aqueles que se interessam pelo entedimento de uma parte da ditadura militar e ainda, ou principalmente, para aqueles que são admiradores de Zuzu Angel.
Referências:
http:/www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/ditadura-militar/cultura-na-ditadura-militar.php
Acesso em: 19 de maio de 2010.
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgio_Rezende
Acesso em 22 de maio de 2010.
//pt.wikipedia.org/wiki/zuzu-angel
Aceso em 22 de maio de 2010.
ARNS, D. Paulo Evaristo Cardeal. Brasil: Nunca Mais. 1ª ed. São Paulo: Vozes, 1985. p. 38.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 484.
IHERING, Rudolf Von. A Luta Pelo Direito. 1ª ed. São Paulo: Martin Claret, 2005. p. 27.


Autor: Ana Paula Dantas De Oliveira


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