A Véspera



Uma análise sobre uma passagem de José Saramago:

"Por estas ou outras palavras já aqui foi lembrado que todos os dias passados foram vésperas e todos os dias futuros o hão-de-ser. Tornar a ser véspera, ao menos por uma hora, é o desejo impossível de cada ontem que passou e de cada hoje que está passando. Nenhum dia conseguiu ser véspera durante todo o tempo que sonhava." (SARAMAGO, 2000: 274)

A véspera é o que antecede o futuro e que existe a partir deste, sucumbindo diante do advento do mesmo.
Sob essa perspectiva, a véspera tem por desejo que o futuro nunca torne-se presente, ou seja, deixe de ser futuro.
Fazendo uma analogia, a existência humana é uma véspera da morte, antecede seu próprio fim.
Como Sartre mencionou uma vez, na obra "A Náusea", prolongamos a nossa existência por fraqueza, ou seja, procuramos evitar o fim inevitável e assim temos a ilusão de detê-lo.
A véspera está relegada a ser sempre a priori, sendo condicionada a existir tendo como parâmetro o que advém.
E quando deixamos de ser véspera, o devir toma nosso lugar, o ciclo temporal segue seu caminho alternando os papéis e demonstrando a mutabilidade do que existe, por mais consciente que estejamos e por mais que tentamos evitar, pelo temor que sentimos ao tomar consciência disso.
Nós também não fomos devir e agora tornamos véspera? O passado é testemunha disso, pois usurpamos sua condição de véspera.
O passado é nosso fantasma apavorante que se tivesse vivo tentaria retomar sua condição de véspera, mais enquanto morto, nos assombra a consciência, demonstrando em sua degenerescência pútrida o destino que nos reserva.

Referência Bibliográfica:

SARAMAGO, José. A Caverna: contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
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