Discutindo a formação da classe operária inglesa e alguns aspectos da Revolução Industrial



Discutindo a formação da classe operária inglesa e alguns aspectos da Revolução Industrial

Analisando os escritos de Thompson e Hobsbawm verificamos que ocorre uma divergência de opiniões a respeito do período de formação da classe operária inglesa. Sendo assim, tentarei expor os principais argumentos de cada autor na defesa de sua periodização. Nesse ensaio será realizado, também, uma exposição da tese da "função política" da introdução das máquinas e divisão do trabalho nas fábricas, evidenciado por Michelle Perrot, a fim de atingirmos uma compreensão desse processo na França, no século XIX, para percebermos o impacto da Revolução Industrial em algumas sociedades da Europa Ocidental.

Thompson e Hobsbawam: uma divergência na periodização

Para Thompson, classe é um fenômeno histórico e não uma categoria, acontecendo quando "alguns homens como resultados de experiências comuns sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos interesses diferem" (TOMPSON, p. 10). Sendo assim, essa experiência de classe é determinada, em grande medida, pelas relações de produção em que os homens nasceram.
Para o historiador marxista britânico, os surgimentos das fábricas inglesas incorporaram algumas rupturas da ordem estabelecida, como por exemplo, o fato dos proprietários de riqueza industrial possuírem vantagem em relação aos antigos proprietários de terra. Segundo o autor, "(..) independente das diferenças entre seus julgamentos de valor, observadores, conservadores, radicais e socialistas sugeriram a mesma equação", ou seja, referindo-se que a energia de vapor e a indústria algodoeira são causadores do surgimento de uma nova classe operária. Por essa lógica, os instrumentos físicos dessa nova forma de produção seriam responsáveis pela origem de novas relações sociais, instituições e hábitos culturais (THOMPSON, p.13)
Segundo essa perspectiva, o período entre 1790 e 1830 corresponderia ao da formação da classe operária inglesa e ao crescimento da consciência de classe que está interligada à identidade dos interesses entre os diversos grupos de trabalhadores e aos desdobramentos, por exemplo, das indústrias algodoeiras. No entanto, o fazer-se da classe operária corresponde a um fato da história política, cultural e econômica, não sendo gerada espontaneamente pelo sistema fabril, bem como não devendo-se imaginar a existência de uma força exterior que impulsionou esse novo panorama da vida dos trabalhadores ingleses.
Verificando os escritos de Hobsbwam notamos que as informações sobre a cultura das classes operárias britânicas são fragmentárias, vagas e problemáticas. Para esse autor, o final do século XVIII não é um momento histórico que se possa visualizar claramente a formação da classe operária inglesa. Constatamos essa afirmação quando lemos o seguinte excerto:
(..) E. P. Thompson acertou ao intitular seu grande livro A Formação da Classe Operária Inglesa, embora ele termine em 1830. Entretanto, na verdade, esta aparição singularmente precoce de "classe operária" no cenário nacional não refletia uma sociedade industrializada, mas uma sociedade na primeira fase da primeira de todas as "revoluções industriais". Mesmo dentro da indústria do algodão, pioneira do sistema de fábricas, o tear mecânico só estava começando a aparecer em muitas cidades durante as décadas de 1830 e 1840 (...). (HOBSBAWM, p. 254)


Com essa perspectiva, Hobsbawam evidencia que muitos dos elementos que acarretaram a definição do que mais tarde comporia os estilos de vida, cultura e movimentos característicos da classe operária, se remontam na primeira fase da revolução industrial.
Alguns acontecimentos relevantes que o autor decorre correspondem às fermentações políticas de 1815-1848, as mobilizações de massa do período Cartista, na década de 1840, o desenvolvimento contínuo do movimento operário moderno, bem como as ações do Partido Trabalhista. As décadas intermediárias desses fatos, para Hobsbawm, são cruciais para a formação da cultura da futura classe operária em três sentidos: elas ensinaram os trabalhadores que o capital era nacional, nelas se definiram um padrão de uma Grã Bretanha industrial da fábrica mecanizada, da mina, da fundição, do estaleiro e da ferrovia e, por fim, ocorre o surgimento da estratificação, ou seja, um elemento característico da classe operária. (HOBSBAWM, p.258)
Dessa forma, Eric Hobsbawm entende que a cultura da classe operária torna-se dominante na década de 1880 refletindo a nova economia industrial e ao aumento dos salários médios reais.
Acredito ter exposto alguns argumentos que esses autores decorreram ao tentar explicar o complexo momento histórico que acontece a formação da classe operária inglesa. Destaco a relevância da contribuição desses autores para a historiografia do período analisado, e mesmo que haja algumas discordâncias em relação à periodização, ela nos mostra como funciona o trabalho dos historiadores.

A luta contra as maquinarias francesas no século XIX

Ao iniciar sua explanação em relação à função política na introdução das máquinas e a divisão do trabalho nas fábricas, Michelle Perrot explana os trabalhos de Stephen Marglin, que mostrou esse processo sendo ocorrido como uma forma de instrumentos de uma estratégia patronal para o controle da produção e a imposição da obediência a trabalhadores, cuja competência profissional, garantia uma incômoda autonomia. (PERROT, p.19)
A substituição dos trabalhadores pelas máquinas, na França do século XIX, vem da ideologia dos fabricantes que a máquina produz melhor e mais barato que os homens. Evidenciamos essa afirmação quando analisamos o seguinte parágrafo dos escritos de Perrot:

Os fabricantes expõem claramente seu ponto de vista ao ministro da Guerra: "A perfeição do trabalho que se obtém com a nova máquina será um estímulo a se fazer melhor e o operário finalmente entenderá que, quando as máquinas substituem os homens em todos os sentidos o trabalho do homem, produzem melhor e mais barato do que ele, a razão ordena-lhe obedecer as prescrições do senhor, a fim de que faça o melhor possível, e ordena-lhe também (...) renunciara salários exagerados". (PERROT, p. 23)

Portanto, para Perrot as máquinas funcionaram como uma arma de guerra que era dirigida contra as barreiras de resistência que são os operários de ofício , além de permitir que o patronato se assenhoreia da totalidade do processo de produção.
Segundo a obra da autora, as penetrações das máquinas ocorrem em períodos de prosperidade e de falta de braços, sendo os picos de intensidade os anos de: 1787-1789, 1816-1819, 1829-1833, 1840 e 1847-1848. Não é á toa que, entre o final do século XVIII e meados do XIX, ocorreram inúmeros incidentes que marcaram a oposição dos trabalhadores franceses às máquinas.
Existiram várias formas de lutas dos trabalhadores contra as maquinarias francesas, como por exemplo as manifestações mais concretas, correspondendo as petições, cartazes e interdições. Esse movimentos, mostravam a resistência dos trabalhadores de domicilio, rurais ou urbanos à mecanização.
Portanto, brevemente, tentei expor a tese de Perrot no qual mostrou que à mecanização ao derrotar as reivindicações operárias e controlar o processo de produção correspondeu, na verdade, a uma estratégia de dominação.



Referências


THOMPSON, E.P. A formação da classe operária inglesa. I : A árvore da liberdade. Rio de Janeiro: paz e Terra, 1987.

HOBSBAWM, Eric J. Mundos do Trabalho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

PERROT, Michelle. Os excluídos da história. Operários, mulheres, prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

Autor: Ricardo Taraciuk


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