Obrigado, ajuda e perdão



Ray, por favor, chame sua mãe para ler as seguintes palavras que buscarão ser uma forma de evidenciar o amor que sinto por vocês e uma forma de, talvez, nos entendermos melhor e assim, fazer com que nós mesmos e nossas relações sejam cada vez mais fortes e transparentes.

Não pretenderei me aventurar a tentar me passar por determinado cantor que alegra e emociona (as vezes, até enerva, né Ray?) o lar de vocês por horas a fio, no entanto, entendo que obscurecer o que sinto pelo silêncio ou pela falsa indiferença é deixa-lo menos polido, menos bonito.

Nunca me esquecerei de sensação de acolhimento que saboreei na última noite de Natal, quando ceiamos juntos e, onde, minha mãe estava dopada de remédios largada na cama, meu pai em algum restaurante em Santa Catarina, minha irmã "badalando" com as amigas, meu avô á beira da morte e minha avó morta. Ou das festas de família, onde sempre procuro "cantar e encantar", com clássicos como "Deus me livre" ou "Dois amigos", onde Pollyana nunca é esquecida.

Ou do presente que dei á mim mesmo, quando vi as duas melhores amigas se abraçando, felizes em estarem juntas no aniversário onde a animação estava garantida por sambistas tocando tamborins e perguntas como : "O que faz você tocar o tambor?". Sem falar da demonstração máxima de apoio, com o caso do Augusto, da atenção no enterro do meu avô, da coisa que, certamente por falta de entendimento eu chamo de "paranormal", com relação á minha avó, enfim...
O que quero demonstrar com extrema clareza é que o que sentimos não está em questão, e, estou convicto de que nunca estará. Procuro, com essas linhas, lhes fazer sensíveis a minha condição atual, com isso, não pretendo me vitimizar, pois, sou o primeiro a reconhecer isso, apenas quero que vocês, por serem pessoas tão importantes na minha vida, consigam entender como se enxerga a vida por trás de pupilas assimétricas e azuis. ("Behind Blues Eyes")

Vocês sabem que nunca fui santo. E provavelmente, minha canonização será negada em primeira estancia, caso meus seguidores a tentem. Sempre gostei de sair, de garotas, festas, drinks... Até ai, nada de muito anormal. Só que, neste último semestre da minha faculdade (apesar de ser "só Ciência Política", como afirma a nossa Ray) as coisas mudaram. Estou tendo que pagar por todos os meus 3 anos e meio anteriores, que foram, notadamente, permeados de todas as paixões aristotélicas já mencionadas na segunda linha deste parágrafo. Atualmente, me encontro( teoricamente, é claro :P ) todos os dias, das 11h ás 20h na faculdade. Até ai, nada demais... Tem gente que faz a mesma coisa e trabalha, tem filhos, etc... Mas tem mais...
Estou fazendo minha monografia. Não sei ao certo como é em Psicologia, mas, é algo que corresponde ao TCC, trabalho final, enfim... E, consegui que o chefe do departamento de Ciência Política da UFF me orientasse e, meu tema, aborda cerca de 20 anos de história política do Brasil. O que teria que escrever para um orientador mediano é algo que é umas 3 ou 4 vezes menor do que tenho para entregar. É uma pressão, considerável. A Nathalia Tergat não é mais orientanda desde professor por não ter aguentado. ( Vanda, a Ray com certeza terá o prazer de explicar que é Nathalia Tergat, pergunte-a.)

Somado a isso, estou me formando no Francês também. Não é nada demais, confesso, mas, toma considerável parte das miinhas atenções...
Retomando o argumento acima, até ai, nada demais. Não quis se divertir durante a faculdade? Não quer se formar? Não quer escrever algo sólido? Então, aguenta! Estou colhendo o que plantei. Não tenho motivos para reclamar destas condições... A questão, é que existem coisas que não são opções, ao menos nesta vida.

Minha mãe possui todos os problemas que vocês já sabem, com 3 agravantes surgidos nos últimos meses:
1- A morte da nossa cachorra, a Lindinha. Era a única companhia dela.
2- A morte do meu avô, segunda ela, "o único homem que a protegeu na vida" .
3- Retomando a proteção do meu avô, ele deixou uma larga quantia mensal de dinheiro, em forma de pensão para ela.

Então, os problemas dela, de uma hora pra outra, deixaram de ser problemas, segundo ela entende. Agora que ela tem dinheiro, ela não é mais "louca" ou com problemas mentais, ela se considera excêntrica. "Ela pode, ela paga, ela pode fazer o que quiser." No entanto, tenho tentado converter esse dinheiro que ela tem, em tratamento. Há duas semanas fomos em um conhecido psiquiatra, que inclusive, trabalha no mesmo andar que o Assis, Dr. Salgado.
A soma das consultas com os remédios indicados, até o momento alcançaram a cifra de R$ 5 400, 00. Tenho trabalhado isso nela, não sendo um desperdício, mas, um investimento. Investimento nela. Tem dado resultado, semana passada, fizemos um outro investimento, agora no lazer: a levei num Show que ela queria muito ir. (Tipo o que a Rayana faz com os pacientes, os levando ao cinema)
Mas, tem um problema: Eu faço isso sozinho. Minha irmã, só se importa se a mesada entrará na conta no começo do mês e não tenho tempo para estar com ela todos os dias. O único dia "livre" é sexta-feira. Onde, após, o relato da trágica semana dela, recebo xingamentos e culpas, por abandoná-la e só ai, consigo fazer com que ela tenha momentos de distração e tratamento. Tenho usado aquele truque do umbigo que a Ray me ensinou, mas, já tentei até fita isolante mas, hum.... boa ideia! Sexta que vem tentarei Durepox ou cimento... Enfim, cada vez que me despeço da minha mãe, parece que fui atropelado...

Dai, surgiu um novo ator nesta história que relato, na verdade, uma atriz: A Sabrina. Além de ter e querer passar tempo com ela, tenho que dividir esse tempo com os outros amigos e com as pessoas que amo, pois, estou procurando evitar os famosos comentários :"Marcelo, não me procura mais!" , "Marcelo muda !" "Marcelo não aparece mais!" Sei que isso tudo foi verdade, mas, estou buscando conciliar tudo. Rayana, as vezes, você cobra demais e, isso trás consequências que considero sérias. Tente ser mais compreensiva, por favor.
Energias ou simpatias a parte, a minha namorada tem suprido uma parte importante das minhas necessidades, carências e medos. Desde os 14 anos que eu não sabia o que era alguém me dar remédio( exceto, o Floral que tomei no aniversário da ray e aquele chá com papinha) ou perguntar: "E ai,mas, porquê você fez/faz isso?"

O motivo pelo qual as pessoas fazem as coisas é, no mais das vezes, mais importantes do que a ação em sí. Se não houver porquê, não tem ato. Tudo bem, que existem coisas que parecem que vem do nada, como por exemplo, alguém lúcido gostar do Boina ( :P ), mas, fazer o quê??

Retomando... Assim, ela me perguntou o porquê de eu beber tanto e iniciou um retrospecto do álcool na minha vida e a presença em grande quantidade atualmente... E sim, eu sei que tenho feito um consumo excessivo nos últimos meses. Não é preciso me dizer o que eu tenho plena ciência. Ai, comecei a pensar na minha condição atual.

Existem pessoas que preferem fazer mau aos outros, como forma de liberar suas ansiedades e medos. Eu acho isso injusto. Não quero assim, mostrar que eu sou bom, apenas é um modo de encarar a vida e seus problemas. Raramente, me vêem tristes, descontando nos outros ou mesmo fumando ( :P) ...
E, por tudo isso que escrevi acima, escolhi a bebida para ajudar a extravasar tudo o que me incomoda, machuca e me tira o sono. E, por eu me deparar com tantos problemas, atualmente, é que meu consumo se tornou maior e, tive a confirmação do medico hoje: Eu disse que estava bebendo demais, se esse fato teria algum reflexo no meu quadro clínico e ele respondeu: "- Claro que o álcool, ainda mais em excesso não ajuda, mas, seu caso é de origem nervosa, é o stress. Se continuar a beber assim por mais uns 15 anos, ai sim o teremos como motivo de algo no coração."
E, com isso, ele não me diz nada de novo, pois, há semanas ainda me sentido estranho. Por que, você, Ray, acha que eu peguei aquelas revistas no seu quarto?

Por tudo isso, eu me sinto no dever de relatar e desabafar isso a vocês, mas, também, pedir ajuda:
Eu sei que a família de vocês já teve problemas com o álcool, mas, faço minhas, as palavras de Churchil : "Eu tiro mais do álcool do que ele tira de mim." Não pretendo continuar com esse comportamento por mais muito tempo, apenas, o tempo necessário para terminar o ano. Entrego minha monografia e me formo. Assim, terei mais tempo pra minha mãe, pra entrar num regime (não aqueles baseados em coca-cola), de arrumar a casa da minha avó, enfim: adotar hábitos mais saudáveis

Eu gostaria que vocês entendessem que não é sob forma de constrangimento que eu vou mudar de atitude. Me senti constrangido hoje e, peço, que quando forem falar sobre isso com alguém, que anexem essa carta, pois, ao falar : "- Você (ou, Ele) bebe demais!", soa como se eu fosse um inconsequente, que agisse de tal forma por ser "doidão" e reclamar das consequências.
Sinto que estou consciente da minha condição atual. Sei que o que tenho feito, não é bonito, no entanto, está me servindo para me dar certo conforto, frente ao dia-a-dia. É um mal, certamente, mas, necessário no contexto atual. Agradeço de todo o coração a preocupação, mas, peço que confiem em mim. A noite nunca é tão escura quanto antes de amanhecer.
Gostaria de dizer isso tudo ao vivo, mas, demandaria tempo e precisava fazer com que vocês soubessem como vejo isso tudo o quanto antes, justamente por sentir o que sinto por vocês.

Me despedeço, retomando a importância que vocês tem na minha vida e pedindo perdão de antemão, caso alguma frase mal escrita provoque uma interpretação errada do que quero dizer. Espero poder rir e debater o quanto antes com vocês, quem sabe ao redor de uma mesa com "bolo de rolo" e vinho ( :P) , esse período incomum.

Beijos

Marcelo Fleischhauer

Autor: Marcelo Fleischhauer


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