Missão de amor



Missão de amor

Na pequena localidade de Caracol, interior de Canela, nasci e cresci em meio à natureza do lugar que, hoje, é considerado um dos pontos turísticos mais bonitos e visitados do Brasil. Guardo na memória cada instante vivido junto de meus pais e meus sete irmãos.
Uma das lembranças mais vivas que tenho se refere à linda festa do Natal, que era um dia muito esperado, não pelo comércio, mas pelas famílias, que valorizavam o seu verdadeiro sentido e comemoravam o nascimento de Cristo. Minha família era humilde, mas os valores passados pelos meus pais, junto ao brilho que eles tinham no olhar, faziam com que cada dia fosse especial, mesmo com o pouco que tínhamos.
Na semana que antecedia a festa, iniciávamos os preparativos para receber o menino Jesus em nossa casa. A limpeza era feita com rigor. Tirávamos as palhas dos colchões, lavávamos e deixávamos secar para recolocá-las depois, acrescentando palha nova. As cobertas também tinham suas capas retiradas e lavadas. Além disso, a mãe preparava o pinheirinho natural retirado da roça para representar a data tão significativa e para que o Papai Noel colocasse nele os presentes. Ela o enfeitava com velas coloridas colocadas sobre um suporte, colocava bolinhas com todo o cuidado para não quebrar e o toque final era dado com os festões. O presépio era colocado embaixo, com um espelho que representava o lago e grama de verdade.
Naquela época, o pai era carpinteiro e, além disso, trabalhava na roça com a mãe. Eles preparavam os presentes com muito amor e sempre alegravam os oito filhos mais do que esperavam. A mãe fazia vestidos de chita com babados para as meninas e camisas de cor azul para os meninos. As bonecas de pano também eram confeccionadas por ela numa pequena máquina de costura que guardamos até hoje. O pai fazia os brinquedos para os meninos: carrinho de mão e de lomba. Meus irmãos e eu esperávamos ansiosos pelos presentes, mesmo sabendo das poucas condições da família.
O Natal de 1957 fora igual aos outros e, ao mesmo tempo, diferente, pois sempre havia uma surpresa. Na véspera, fizemos pasto para os animais e colocamos um pouco no presépio para o burrinho. A mãe fez biscoitos em forma de boneca, coração e estrela.
À noite, colocamos ao lado do pinheiro nossos pratos enfeitados com flores e palhas coloridas e fomos dormir em nossas camas limpinhas, repousando a cabeça em um gostoso travesseiro de penas. Os sonhos demoraram a chegar, pois a espera pelo Papai Noel nos tirava o sono mais uma vez. Aos poucos, adormecemos e, pela manhã, qual não foi nossa surpresa quando, correndo até o pinheiro, vimos os biscoitos que, durante a noite, haviam sido pintados pelo bom velhinho durante sua visita! Vestidos, camisas, bonecas, carrinhos, balas e chapéus novos e coloridos enchiam nossos pratos e nossos corações. Os olhos azuis da mãe e verdes do pai se encheram de lágrimas e, hoje, entendo que aquilo queria dizer "missão de amor cumprida mais uma vez".
O dia 25 era especial. Era dia de festa, a mais esperada do ano, e uma data especial merecia um almoço em grande estilo. Era dia de carne assada temperada pelo pai. Compartilhávamos juntos bons momentos durante todo o dia.
O tempo passou depressa, meus pais se foram, mas os valores e o brilho no olhar continuaram comigo. Preparei muitos pinheirinhos para meus filhos, com presépio, velas, bolinhas e festões. Em todos os Natais, puderam encontrar algo colocado com muito amor dentro dos pratos embaixo do pinheiro. Seus sonhos também demoraram a chegar à espera do Papai Noel, e os meus olhos azuis, ao perceberem os seus brilhando na hora da surpresa, também se encheram de lágrimas, demonstrando uma missão de amor cumprida e tornando um momento único e especial como uma forma de relembrar cada Natal que eu vivi.

Texto produzido com base na história de Valeni Gross Bettu, contada por ela mesma e recontada por mim.

Autor: Tatiana Bettu


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