Perguntas De Crianças



Uma das formas de nós sabermos o quanto não sabemos é convivendo com uma criança.

As suas perguntas são, em grande parte as perguntas que nós queríamos fazer para uma entidade superior e que nunca tivemos e talvez nunca teremos a chance de fazê-las.

Perguntas como: Deus mora no céu?

Antes mesmo de nós limparmos a garganta já vem outra: Como ele faz para não afundar nas nuvens?

O máximo que conseguimos dizer é um "bem, vejamos..." e já vem uma terceira fulminante: Por que Deus não salvou aquela menininha jogada pela janela?

Nesta altura você acaba pegando um cigarro e já leva outra: Se fumar faz mal, por que você fuma?

O mais engraçado é quando ela faz uma pergunta daquelas embaraçosas, quase gritando, num lugar público e todos ficam olhando e esperando a tua resposta, como que a dizer: E aí bonitão? Responde essa que eu quero ver!

A resposta é quase sempre a mesma: "Termina logo esse lanche que já é tarde!"

Então a criança começa a achar que é melhor guardar todas as outras perguntas que martelam a sua cabecinha, tais como:

Por que só uns poucos têm tanto e uns muitos têm tão pouco?

Por que quem a gente ama não nos quer?

Por que papai foi embora?

Por que fomos dormir sem janta?

Por que preciso estudar se o titio é engenheiro e está desempregado?

Por que o vovô que adorava seu trabalho foi mandado para casa para sempre?

Por que se os políticos ganham tanto, ainda levam o dinheiro das crianças?

Por que a mamãe chora sozinha no quarto?

Por que aqueles amiguinhos brincam nas sinaleiras de pedir dinheiro?

O corredor não é feito para correr?

De tanto ficar sem respostas dos adultos, as crianças perdem aquela curiosidade natural do ser humano e acabam tornando-se adultos que aceitam as idéias e as respostas fáceis dos políticos e dos líderes religiosos.

Seria muito bom imitarmos as crianças no que diz respeito a fazer perguntas e partirmos para encontrar as respostas.

Talvez nunca as consigamos encontrar, mas pelo menos, deixaremos claro que não são essas respostas que nos forçam a aceitar, que irão nos convencer.

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


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