QUESTIONÁRIO RESPONDIDO, "O DEMIURGO E A COSMOLOGIA" EM PLATÃO; E "A FÍSICA" A RESPEITO DA COSMOLOGIA EM ARISTÓTELES



1_QUAL É O TEMA CENTRAL DO DIALOGO O TIMEU?
No Timeu, Platão faz uma cosmologia. Uma tentativa de explicar o surgimento do Universo fugindo a questão do mito. Neste ponto ele fracassa, pois o Timeu ainda está muito preso a idéia de um criador, o demiurgo, como colocado por este. Apesar disso, ele consegue uma obra riquíssima em detalhes que tenta sanar vários buracos conceituais deixados ao longo de outras obras. O que será importante no Timeu são os conceitos de alma e sua articulação com o corpo.

Apesar de tratar basicamente de uma cosmogonia, o Timeu fala bastante da questão da alma, no entanto, esta é mais dirigida à Alma do Mundo. O que mais fica evidenciado é a criação da alma, no entanto, existe também uma relação intrínseca desta com as doenças do corpo. Na medida em que cada uma destas faculdades da alma é responsável por uma parte do corpo, quando estas faculdades falham, o corpo adoece. Estas faculdades também comandam o corpo tornando-o funcional, mas na ocasião de sua morte, somente a alma racional permanecerá.

Posteriormente, Platão faz um desmembramento da alma, contando como ela foi criada a partir do finito (o outro), do infinito (o mesmo) e de uma terceira substância. Criada pelo demiurgo, e, sendo desta forma, a única capaz de contemplar o Mundo Inteligível. Vê-se desta forma, que a alma foi feita para comandar o corpo, no entanto, muitas vezes, é o corpo quem comanda a alma.

No final de todo o processo, ou seja, após a morte, a alma fica outra vez sem as partes sensíveis que lhe haviam sido acrescidas. Retornando ao estado puramente espiritual, a alma fica como inicialmente se encontrava. Estivera num corpo para se purificar de algum delito. Uma vez purificada, não teria mais sentido permanecer aprisionada no corpo e com os seus órgãos sensíveis.

2_ COMO PLATÃO EXPLICA A ORIGEM DO MUNDO SENSÍVEL?
Do mundo sensível, através da "segunda navegação", ou seja, (a descoberta do supra-sensível), ascendemos ao mundo inteligível, que representa a "verdadeira causa" do mundo sensível. Assim como o mundo inteligível deriva do Um, que desempenha a função de princípio formal, e da Díade indeterminada, que funciona como princípio material (inteligível), também o mundo físico deriva das ideias, que funcionam como princípio formal, e de um princípio material, sensível, ou seja, de um princípio ilimitado e indeterminado de caráter físico.

O esquema segundo o qual Platão trabalha para explicar o mundo sensível é, portanto, absolutamente claro: há um modelo "o ideal", existe uma cópia "o mundo sensível" e existe um artífice que produziu a cópia servindo-se de modelo. O mundo inteligível "o modelo" é eterno, como eterno é também o artífice "a inteligência".

O mundo sensível, ao contrário, constituído pelo artífice nasceu, isto é, foi gerado, no sentido verdadeiro do termo, como podemos ler no Timeu: "Ele nasceu porque se pode vê-lo e tocá-lo, pois ele tem corpo e tais coisas são todas sensíveis (...) estão sujeitas a processos de geração e são geradas".

3_ EXPLIQUE COMO É O TRBALHO DO DEMIURGO?
Existe um Demiurgo, um Deus-artífice, um Deus que pensa e quer ( e que, portanto, é pessoal), o qual, assumindo como "modelo" o mundo das Ideias, plasmou a "chora", ou seja, o receptáculo sensível, segundo esse "modelo ", gerando dessa forma o cosmo físico.

O Demiurgo, ou seja, o artífice produz sempre alguma coisa contemplando previamente algo como ponto de referência, ou seja, tomando-o como modelo. Se o artífice toma como modelo o ser eterno, o que produz é belo; se pelo contrário, toma como modelo algo que foi gerado, o que produz não é belo. Finalmente, podemos estabelecer perfeitamente o modelo para o qual olhou o Demiurgo que construiu este mundo. Com efeito, no quarto axioma está presente que, se este mundo é belo, o demiurgo, ao construí-lo, contemplou necessariamente um modelo eterno; se ao invés não fosse o belo o Demiurgo teria usado um modelo engendrado.

Ora, é demonstrável claramente que o mundo é belo; logo, justamente por isso, o demiurgo olhou necessariamente para um modelo eterno. Portanto, existe um ser puro que só podemos captar com a inteligência e é justamente esse que o Demiurgo contempla como modelo para poder realizar o mundo sensível e sujeito ao devir. Assim, o cosmo sensível é uma "imagem", realizada pelo Demiurgo, de uma realidade meta-sensível.

4_ ELE É UM DEUS CRIADOR?
Na teologia platônica devemos distinguir entre o "divino" impessoal, por um lado, e Deus e os deuses pessoais, por outro lado. Divino é o mundo das Ideias em todos os seus planos. Divina é a Ideia do Bem, mas não é Deus-pessoa. Assim, no ponto mais auto da hierarquia do inteligível encontra-se um Ente divino (impessoal) e não um Deus (pessoal), assim como as ideias são entes divinos impessoais e não Deuses pessoais. Quem apresenta característica de pessoa aqui, isto é, de Deus, é o Demiurgo, que conhece e quer.

Ele, entretanto, situa-se hierarquicamente em posição inferior ao mundo das Ideias, uma vez que não apenas não o cria, mas dele depende. O Demiurgo não cria nem mesmo a chora ou a matéria da qual o mundo é constituído, pois ela preexiste ao mundo. Assim, o Demiurgo é "plasmador" ou "artífice" do mundo e não seu criador. Mas, há ainda Deuses criados pelo Demiurgo, são também os astros, conhecidos como inteligentes e animados.

3_ ELE É UM MITO?
Já constatamos que a filosofia nasceu como libertação do logos em relação ao "mito" e à fantasia. A escola de Heidegger pensava representar o mito a expressão mais autêntica do pensamento platônico. De fato, o logos capta o ser, mas não a vida; assim, o mito vinha colaborar exatamente para a aplicação da vida, que logos não tinha condições de captar. Mas a verdade reside no meio termo.

Platão passa a atribuir valor ao mito a partir do momento em que começa a valorizar algumas teses fundamentais do orfismo, juntamente com aspectos religiosos de sue próprio pensamento. Para Platão, mais do que expressão de fantasia, o mito é expressão de fé e de crença. Na verdade, em muitos diálogos, a partir do Górgias, a filosofia de Platão relativa a certos temas se configura como fé racionalizada: o mito procura clarificação no logos e o logos busca contemplação no mito.

Em síntese, ao chegar a razão aos limites extremos de suas possibilidades, Platão confia à força do mito a tarefa de superar intuitivamente esse limite, elevando o espírito a uma visão ou, pelo menos, a uma tensão transcendente. Além disso, importa observar que, o mito de que Platão se serve metodicamente, em essência, é diferente do mito pré-filosófico, que ainda não conhecia o logos.

Trata-se não apenas de um mito que, como disse, constitui mais expressão de fé do que assombro fantástico, mas também de um mito que não subordina o logos a si, mas funciona como estímulo para ele, fecundando-o no sentido anteriormente explicado. Por isso representa um mito que, no momento em que é criado, sofre a sua própria demitização, sendo despojado pelo logos de seus elementos fantásticos para que se preservem apenas seus poderes alusivos e intuitivos.

Conseqüentemente, se queremos compreender Platão, devemos preservar a função e o valor do mito, ao lado e juntamente com a função reservada ao logos, nos moldes do que ficou acima explicado. Por conseguinte, está enganado tanto quem pretende cancelá-lo em benefício exclusivo do puro logos com quem busca conceder-lhe prioridade em relação ao logos a ponto de representar a sua superação (mito-logia).

4_ QUAL É A IMPORTÂNCIA DA MATEMÁTICA NO TRABALHO DO DEMIURGO?
Para Platão, a ordem e a beleza que vemos no Cosmo resultam de uma intervenção racional, intencional e benigna de um divino artesão, um "Demiurgo" (gr. ´·¼¹¿ÅÁ³ÌÂ), que impôs uma ordem matemática a um caos preexistente e, assim, produziu um Universo divinamente organizado, a partir de um modelo eterno e imutável.

Todas as ideias possuem uma estrutura numérica, por meio de um processo de delimitação ( ou deigualização) da parte do Uno sobre a multiplicidade indeterminada da Díade. "Os números matemáticos eram deduzidos de nômades (unidades particulares) e da pluralidade de ?muito e pouco". As figuras planas e esteriométricas eram deduzidas de uma espécie particular de ponto que Platão denominava "linha indivisível" (ponto matemático dotado de uma posição) que servia de princípio formal, enquanto ele punha, como princípio material, o "curto e longo" para a linha, o "largo e estreito" etc.

Trata-se, evidentemente, de diferenciações específicas do princípio supremo da Dualidade originária de grande e pequeno, que contém sucessivamente um adensamento em materialidade (sempre no nível inteligível). Com efeito, os seres matemáticos são "intermediários" entre dois diferentes gêneros de ser, ou seja, entre um ser eterno que não vem-a-ser em nenhum sentido(não nasce, não morre, não cresce etc.). Os seres matemáticos são múltiplos como as sensíveis; além disso, são intermédios também como intermediários, na media em que tornam possível.


1_ COMO ARISTÓTELES RESOLVEU A QUESTÃO DO MOVIMENTO (ELE É UMA ILUSÃO?)
Não. O movimento ou mudança em geral é, precisamente, a passagem do ser em potência ao ser em ato (o movimento é o ato ou a atuação do que é em potência enquanto tal). Ou ainda, é a passagem do ser em potência para o ser em ato.

2_ EXPLIQUE COMO ARISTÓTELES DIIVIDIU OS DOIS MUNDOS DE SUA FÍSICA?
Aristóteles distinguiu a realidade sensível em duas esferas entre si intimidamente diferenciadas: de um lado, o mundo chamado sublunar e, de outro, o mundo supralunar ou celeste.

3_ QUAIS SÃO OS ELEMENTOS DE CADA MUNDO?
O mundo sublunar; ar, água, fogo, terra (geração e corrupção; lugar material de cada coisa.)O mundo supralunar; éter (quinta essência/ elemento.)

4 _ QUE TIPO DE MOVIMENTO PREVALECE EM CADA UM DELES?
O mundo sublunar; movimento retilíneo de subir e descer.O mundo supralunar; 55 esferas celestes, com as demais substâncias supra-sensíveis, incorruptíveis, com movimento circular.

5_ QUAL É O PAPEL DE DEUS NA FÍSICA DE ARISTÓTELES?
Perdura vivo em Aristóteles o postulado parmenídico de que o ser é inteligível, de que o ser é idêntico ao pensar, de que entre o ser e o pensar não há diferença radical.As coisas são inteligíveis, nós as entendemos, as compreendemos, temos dela uma noção satisfatória e isso demonstra a existência de Deus porque do contrário se nós tivéssemos da coisa a inteligência e a compreensão e Deus não existisse não se compreenderia como as coisas são em si mesmas inteligíveis. São porque Deus pôs nelas sua inteligência.

Por isso Deus, de sua parte, é pura inteligência, puro pensamento, pensamento de si mesmo que, ao pensar seus próprios pensamentos, põe nas coisas a inteligibilidade. Deus é ao mesmo tempo causa primeira e fim ultimo de toda a realidade do mundo e do universo. Porque Deus é causa primeira, visto que Ele é o ser necessário, fundamento de qualquer outro ser contingente, e porque Ele pensando pensamentos, é quem dá a cada ser contingente sua essência, sua forma.

E então cada ser é como uma realização de idéias de Deus e todos os seres vão culminar nesse pensamento puro, nesse pensamento que é Deus.
Autor: Silva Da, Benjamin Joseph


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