INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE AS PRAGAS DAS GOIABEIRAS



Informações importantes sobre as pragas da goiabeira

A literatura atual aponta o Brasil como o maior produtor mundial de goiaba vermelha (goiaba de interesse comercial), destacando-se os estados de São Paulo e Pernambuco. Para atingir os objetivos de produção, os produtores têm inserido novas cultivares e implementam novas técnicas e programas de irrigação e de podas rotineiras. Essas mudanças levam a um incremento considerável da população de algumas pragas que, antigamente, eram consideradas secundárias, como é o caso dos psilídeos e dos besouros rendilhadores que preferem consumir as folhas novas resultantes das podas. Os excessos das pulverizações para o controle dessas pragas que se tornaram principais, segundo relatos dos produtores, acabam onerando significativamente a produção. Atualmente, na busca de técnicas adequadas ao cultivo da goiabeira, um dos pontos mais importantes tem sido o tratamento fitossanitário. Em muitos casos, estudos das relações de custos e benefícios e teorias de Entomologia Econômica acabam por desestimular a expansão das áreas cultivadas. Torna-se muito importante o bom conhecimento da entomofauna relacionada ao cultivo da goiabeira e os envolvimentos na produção. (GALLI et al., 2008).

Reconhecimento e controle das principais pragas

É possível considerar que o primeiro passo para qualquer programa de manejo integrado em um pomar é o reconhecimento das pragas que podem estar diretamente envolvidas no comprometimento da produção. O acompanhamento das frequências das pragas e, quando possível, também, de seus inimigos naturais, com conhecimento dos diversos aspectos bioecológicos, possibilita um aperfeiçoamento contínuo de programas de manejo integrado de pragas. Relacionamos a seguir as principais pragas envolvidas no processo de cultivo e manejo dos pomares de goiabeiras nas condições brasileiras.

1. Psilídeos ? Triozoida limbata Enderlein, 1918 (Hemiptera: Psyllidae).

1.1 Reconhecimento:
É um pequeno hemíptero que ataca as folhas da goiabeira que passam a apresentar sintomas caracterizados pelo enrolamento dos bordos do limbo foliar que, posteriormente, ficam amarelados, necróticos e quebradiços. GALLO et al.(2002) descrevem-no como inseto sugador de seiva, de coloração verde, sendo que os machos têm a face dorsal do tórax e abdome pretos, medindo aproximadamente 2 mm de comprimento. Examinando-se o interior das partes enroladas das folhas, encontram-se as ninfas recobertas pela secreção cerosa, entre gotículas de substância esbranquiçada e açucarada.
1.2. Prejuízos:
Redução da área foliar, com necrose e queda significativa das brotações.
1.3. Controle:
O Ministério da Agricultura praticamente não tem relação publicada de produtos direcionados para esta praga em goiabeiras. Já foram testados com sucesso inseticidas fosforados, tais com parathion metil, fenthion e neonicotinóides em pulverização. Os inseticidas imidacloprid, deltametrin, betacyfluthrin, acetamiprid e fenpropathrin demonstram eficiência em condições experimentais.

2. Moscas-das-frutas ? Anastrepha spp. e Ceratites capitata (Wied, 1824)(Diptera: Tephritidae).

2.1.Reconhecimento:
O gênero Anastrepha é conhecido por mosca Sul-Americana. A asa é transparente, com 5,8 a 7,5 mm de envergadura. Quase todo o comprimento da asa é ocupado por uma figura amarela, na forma de letra "S", estendida até o ápice, e uma figura na forma de "V"invertido na borda superior da asa. Os adultos de C.capitata medem de 4 a 5 mm de comprimento por 10 a 12 mm de envergadura e são de coloração predominantemente amarela. (GALLO et al., 2002). Pertencem à ordem Diptera, subordem Brachycera, família Tephritidae e as espécies de importância econômica no Brasil pertencem a quatro gêneros: Anastrepha, Bactrocera, Ceratites e Rhagoletis (ZUCCHI, 2000). Dentre estes, os gêneros Anastrepha e Ceratites ocorrem em pomares de goiaba. As moscas-das-frutas completam o seu desenvolvimento através de quatro estágios: ovo, larva, pupa e adulto. Todas as fases de larva apresentam cor branco-creme, variando as tonalidades. Os ovos são de forma elíptica; as larvas são ápodas e com cabeça retrátil; as pupas apresentam diversas fases, a partir de uma forma ovóide até assemelhar-se com a forma adulta, dentro de seu pupário. Os adultos possuem uma ampla gama de variação fenotípica, principalmente entre os diferentes gêneros (SALLES,2000).
2.2.Prejuízos:
Uma vez que as moscas-das-frutas atacam inúmeras frutas comerciais e silvestres, haverá uma tendência de sucessivas gerações, pois sempre haverá hospedeiros para o desenvolvimento nas entressafras. Os frutos atacados tornam-se impróprioo para o consumo in natura.
Tais moscas podem causar imensos prejuízos econômicos na cultura da goiabeira. As espécies Anastrepha fraterculus (Wiedemann, 1830), Anastrepha sororcula Zucchi, 1979 e Anastrepha obliqua( Macquart, 1835) são as que mais infestam a goiabeira, principalmente as duas primeiras. Ceratites capitata prefere frutas subtropicais introduzidas, mas pode infestar a goiaba, ocorrendo assim infestação simultânea em um mesmo fruto por essa espécie e por Anastrepha fraterculus (BARBOSA et al., 2001).
2.3. Controle:
Uma forma simples de controle cultural, em pequenas áreas, é o ensacamento dos frutos ainda verdes. Como controle químico, GALLO et al.(2002) recomendam que, quando os frutos estiverem ainda verdes, seja feita a pulverização com fenthion, suspendendo-se a aplicação 30 dias antes da colheita. GALLI & SENÔ (2000) indicaram a possibilidade de uso de fenthion na forma de "benzedura", em associação com iscas tóxicas, como forma de se controlar moscas-das-frutas e preservar parte significativa da entomofauna benéfica.

3. Besouro rendilhador ? Costalimaita ferruginea Fabricius, 1801 (Coleoptera: Chrysomelidae).

3.1. Reconhecimento:
O besouro é vulgarmente conhecido como "vaquinha". O adulto é amarelo e mede aproximadamente de 05 a 6,5 mm de largura, sendo sua forma quase elíptica. Os élitros possuem pequenos pontos circulares, escuros, alinhados em carreiras longitudinais (16 a 18 linhas por élitro). Possui cabeça e corpo brilhantes, com região ventral alaranjada ( CARNAÚBA et al, 1970; GALLI et al., 2008).
3.2. Prejuízos:
Este coleóptero ataca principalmente as folhas novas das goiabeiras, deixando-as cheias de perfurações (rendilhamento). Causam danos a brotações e podem também deformar frutos em algumas situações de ataques severos. O período de maior ataque ocorre quando a planta começa a emitir brotações. O problema é mais freqüente em pomares irrigados.
3.3. Controle:
O Ministério da Agricultura praticamente não apresenta relação de inseticidas autorizados e direcionados para esta praga em goiabeiras. Pulverizações de inseticidas com boa ação de contato dos grupos dos fosforados, carbamatos e piretróides demonstraram eficiência em condições experimentais.

4. Gorgulho- (Conotrachelus psidii) Marshal, 1022 (Coleoptera: Curculionidae).

4.1. Reconhecimento:
Os gorgulhos medem cerca de 6 mm de comprimento e são de coloração pardo-escura. As larvas são ápodas de coloração branca e cabeça escura, medindo aproximadamente 10 mm de comprimento e penetram no fruto, destruindo o seu interior. Os frutos ficam com uma depressão característica na casca, com um ponto central onde foi feita a postura.
4.2. Prejuízos:
Os frutos atacados amadurecem precocemente e caem, reduzindo significativamente a produção.
4.3. Controle:
Como medida cultural em áreas menores, recomendam-se a coleta e a destruição dos frutos caídos. O controle químico tem se mostrado eficiente com pulverização de fenthion em intervalos de 20 dias a partir de novembro, no Estado de São Paulo, em condições experimentais. Fosforados e piretróides com boa ação de contato mostram eficiência em pulverização a alto volume, também em condições experimentais (GALLI et al., 2008).

5. Brocas ? Timocratica palpalis Zeler, 1877 (Lepidoptera: Stenomidae).

5.1. Reconhecimento:

GALLO et al. (2002) descrevem o adulto como sendo uma mariposa branca, com a região central amarelada, que mede aproximadamente 40 mm de comprimento. As lagartas são de coloração violeta-amarelada, medindo cerca de 30 mm de comprimento quando bem desenvolvidas.

5.2. Prejuízos:

As larvas de Timocratica palpalis broqueiam troncos e ramos, abrindo galerias que, posteriormente, são fechadas com os próprios excrementos. Secam os ramos, depauperando a planta.

5.3. Controle;

Como controle cultural , recomendam-se a poda e a destruição de ramos atacados. Posteriormente, pode ser injetado o fungo Metarhrizium anizopliae var. anizopliae (Metsch.) Sorokin, 1883 em pó nos orifícios remanescentes ou fosfina em pasta se for economicamente viável (GALLI et al., 2008).

6. Coleobrocas ? Trachyderes toraxicus Oliver, 1790; (Coleoptera; Cerambycidae).
6.1. Reconhecimento:
O adulto é um besouro cerambicídeo com antenas longas, com 11 artículos, imbricada. O besouro mede cerca de 34 mm de comprimento por 12 mm de largura, de coloração verde-escura.
6.2. Prejuízos:
As larvas abrem galerias nos troncos e ramos, podendo destruir totalmente a árvore.
6.3. Controle:
O controle pode ser o mesmo empregado para a broca , conforme já descrito.

7. Cochonilha ? Ceroplastes sp.( Hemiptera: Coccidae).

7.1. Reconhecimento:

MEDINA et al.(1991) citam que, dentre as várias espécies de Ceroplastes registradas na literatura tendo a goiaba como planta hospedeira, a cochonilha-de-cera Ceroplastes janeirensis Gray, 1830 (Hemiptera: Coccidae) é relativamente comum. São hemisféricas e revestidas de cera branca.

7.2. Prejuízos:

As cochonilhas fazem a sucção contínua de seiva dos ramos e, quando em grande número, podem causar a morte dos ramos. Favorecem a fumagina em folhas e ramos.

7.3. Controle:

Como controle cultural em pequenas áreas, preconiza-se a catação manual, com recolhimento e queima dos ramos infestados. Como controle químico, experimentos indicam sucesso da pulverização de óleos emulsionáveis adicionados de inseticidas fosforados na época da reprodução, em alto volume.


8.Percevejos ? Leptoglossus gonagra Fabricus, 1775 (Hemiptera: Coreidae).

Segundo GALLI et al. (2008), várias espécies de percevejos podem danificar a fruta em desenvolvimento, deixando perfurações visíveis que deterioram a qualidade do produto in natura. A principal espécie de percevejo que ocorre na cultura da goiaba é a espécie Leptoglossus gonagra, considerando-se a freqüência e o dano produzido, nas condições do estado de São Paulo.

81. Reconhecimento:

O percevejo adulto é marrom-escuro, com aproximadamente 20 milímetros de comprimento. As pernas posteriores são mais largas e apresentam a tíbia provida de expansões laterais, à semelhança de uma pequena folha, com manchas claras no lado interno.

8.2. Prejuízos:

Os percevejos sugam os frutos em diversos pontos. As goiabas, quando não caem, ficam "empedradas" no local da picada.

8.3. Controle:

Os inseticidas fenthion, triclorfon e piretroides, com boa ação de contato, demonstram eficiência em pulverizações experimentais.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARBOSA,F.R.; SOUZA,E.A.;SIQUEIRA,K.M.M.; MOREIRA,W.A.; ALENCAR, J.R.; HAJI,F.N. Eficiência e seletividade de inseticidas no controle do pisilídeo (Triozoida sp.) em goiabeira. Pesticidas: Revista de Ecotoxicologia e Meio Ambiente, Curitiba, v.11, p. 45-52, 2001.

CARNAÚBA,T.; TEÓFILO SOBRINHO,J.; SUPLICY FILHO,N. Ensaio com besouro amarelo Costalimaita ferruginea vulgata Lef. ( Col.: Chrysomelidae) em goiabeiras, com empregos de novos praguicidas. O Biológico, v. 36, p. 70-82, 1970.

GALLI,J.C.; BAPTISTA, A.P.M.; PAZINI,W.C.; PEDROSO, E.C. Monitoramento de insetos em pomar de goiaba. In: ARAUJO,E.S.;VACARI,A.M.;CARVALHO, J.S.; GOULART,R.M.; CAMPOS, A.P.; VOLPE, H.X.L. (Eds.). Tópicos em Entomologia Agrícola. Jaboticabal, Maxicolor, 2008, 191p.

GALLI,J.C.; SENÔ, K.C.A. Distribucion de enemigos de Anastrepha (Diptera: Tephritidae) em huertos de Psidium guajava L. com programacion de dos sistemas de pulverização de fenthion. In: XXII CONGRESO DE ENTOMOLOGIA DE CHILE, Valdívia- Chile, 2000.

GALLO, D.; NAKANO,O.; CARVALHO, R.P.L.; BAPTISTA, G.C.; BERTE FILHO, E.; PARRA,J.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIN, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.E.; OMOTO,C. Entomologia agrícola. Piracicaba : FEALQ, 2002. 920p.

SALLES,L.A. Biologia e ciclo de vida de Anastrepha fraterculus (Wied). In: MALAVASI, A.; ZUCCHI, R.A.(Eds.). Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil- Conceito básico e aplicado. Ribeirão Preto, Holos, 2000. 327 p.

ZUCCHI,R.A. Taxonomia. In: MALAVASI,A.; ZUCCHI,R.A. (Eds.).Moscas- das ? frutas de importância econômica no Brasil- Conceito básico e aplicado. Ribeirão Preto, Holos, 2000. 327p.








Autor: Julio Cesar Galli


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