Um ataque ao mito dos fins-de-semana




Um ataque ao mito dos fins-de-semana

Às sextas-feiras, ao meio-dia, pelas ondas da Rádio CBN, o Sr. Sardenberg, antes de comentar a ciranda dos índices econômicos, faz uma espécie de saudação à data. A data não é nenhuma data especial. A data é a própria sexta-feira. O Sr. Sardenberg tem o hábito de, todas as sextas-feiras, saudar a sexta-feira, pelo motivo único de ser ela sexta-feira.

A saudação vai ao ar nestes precisos termos: Hoje é... hoje é... hoje é... sexta-feira. Semana praticamente encerrada.

De início não dei muita importância ao registro. Afinal, saudar as sextas-feiras parecia tão ingênuo, tão romântico...

Na sequência, porém, comecei a notar que, por mais ingênuas e românticas que pudessem ser, as saudações às sextas-feiras mobilizavam implicações externas, objetivas, que iam muito além do meramente pitoresco.

Por exemplo, notei que as saudações sempre soavam numa entonação efusiva e, à conta de ecoarem em repetições indefectíveis, encampavam funções de ritual.

De um ritual simbólico, é claro, mas tão potente quanto um ritual religioso. Enquanto os rituais religiosos incorporam ao objeto a divindade, o ritual simbólico, no caso o ritual das saudações às sextas-feiras, incorporava ao objeto  as sextas-feiras  um escrúpulo temporal, leigo, ou de certa forma laicizado.

Cada vez mais atento, pude identificar no ritual alguns componentes do rito correspondente. Vi que as saudações, embora ingênuas e românticas, repito, seguiam a mesma linha da propaganda comercial típica da sociedade de consumo, cuja dialética é não permitir que o consumidor se distraia e pare de consumir. De repente me dei conta de que as saudações insistiam em lembrar, como fazem os muezins à hora da prece, que aquele tempo não era um tempo qualquer, mas um tempo-limite, um tempo demarcatório entre a masmorra e a liberdade. Entre a semana e o fim-de-semana. A semana, naturalmente, simbolizando o trabalho; o fim-de-semana, o lazer, ou ainda, subliminarmente, a semana simbolizando a faina de Adão após a queda, e o fim-de-semana reavivando a nostalgia do paraíso perdido.

Francamente, se eu pudesse, convidaria o Sr. Sardenberg a uma reflexão. Pediria que, em face de sua notória credibilidade, e dos elevados índices de audiência da CBN, examinasse melhor esse costume temerário e démodé de separar em compartimentos estanques o trabalho e o lazer, o esforço e a felicidade. Pediria que ponderasse o impacto desse dualismo de pendor maniqueísta no caráter dos jovens. Pediria, enfim, que se redimisse.

Mas redimir-se com cautela, sem precipitações, sem exageros. Vale dizer, sem tirar o ?pé da jaca?, nem beber cicuta. Afinal, estamos em pleno feriadão de Finados. Afinal, o tempo de Sócrates já passou, infelizmente.

Autor: Osorio De Vasconcellos


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