O Homem e a Floresta no Careiro da Várzea



Ricardo Jose Batista Nogueira
(Doutor em Geografia, professor do Departamento de Geografia/UFAM),
[email protected]
Michelli Santos da Silva
(Acadêmica do 6º período do curso de Geografia/UFAM)
[email protected]
Amélia Regina Batista Nogueira
(Doutora em Geografia, coordenadora do Grupo de Pesquisa Ambiente e Cultura/UFAM)
[email protected]

esumo

A Floresta durante muito tempo tem sido um lugar carregado de significados simbólicos, ocupando assim o imaginário dos povos que vivem e apresentam diversas formas de se relacionar com ela, através de mitos ou da humanização da terra. Nesse contexto, deve ser vista como um processo pelo qual a humanidade vem procurando argumento, que expliquem no espaço e no tempo o significado da floresta. Dessa forma, a pesquisa objetivou analisar, entre os moradores do Careiro da Várzea, o relacionamento desses habitantes com a floresta, sendo assim procuramos através dos significados simbólicos dados por eles aos fenômenos, interpretar as marcas na paisagem cultural juntamente com as formas de uso e de sua representação. Quanto aos procedimentos e/ou etapas metodológicas, entendemos que não haveria alternativa, diante da opção teórica a ser seguida, senão, ouvir as pessoas. Nesse sentido, a metodologia adotada enfatiza os dados obtidos através de entrevistas, pois os depoimentos orais que foram valorizados no trabalho são mais bem narrados através das entrevistas abertas. Haja vista que, essas histórias refletem o "mundo vivido", e nos possibilitam uma melhor compreensão das relações entre o homem e a Raisagem que o cerca, nessa pesquisa, entre o homem e a Floresta. No Careiro da Várzea a floresta esta representada para os moradores a tranqüilidade de viver no silencio sem poluição, apesar das dificuldades sabe como lidar com as mudanças que ocorrem todos os anos na enchente e na seca dos rios. Os cheiros, as formas, as cores e as texturas da floresta estão por toda parte, só basta sentir, pegar e olhar a sua volta para perceber que é possível identificar através de uma serie de combinações sensoriais os diversos lugares da floresta e isso só pode ser feito por quem a conhece e a experiência cotidianamente. A realidade vivida pelos moradores da Ilha Careiro da Várzea nos possibilitou a identificação da existência de uma aculturação singular em que sua organização espacial e a sua forma de experienciar os lugares apresentam elementos específicos refletindo no seu modo de vida. Dessa forma, esta organização a partir dos sentidos pode ser caracterizada pelas seguintes singularidades: dependência e mutualidade com o meio ambiente e seus fenômenos que destroem e reconstroem a paisagem e a partir deste processo os moradores da floresta adaptam-se ao seu modo de vida experienciando.



Palavras-chave

Percepção; Paisagem; Imaginário; Floresta; Careiro da Várzea.


Abstract

The Forest during much time has been a loaded place of symbolic meanings, thus occupying the imaginary one of the peoples who live and present diverse forms of if relating with it, throuugh which the humanization of the land. In this context, it must be seen as a process for which or of the humanity comes looking argument, tha t explains in the pace and the time the meaning of the forest. Of this form, the research objectified to analyze, enters the inhabitants of the Careiro of the Fertile valley, the ralationship of these inhabitants with the forest, being thus looks through the symbolic meanings datum gotten through interviews, therefore the verbal depositions that had been valued in the work most are told through the open interviews. It has seen that, these histories reflect the "work lived", and in thethem they make possible one better understanding of the telations between the man and the landscape that the fence, in this research, between the inhabitants the tranquillity of living in I silence it without pollution, despite the difficulties it knows as to deal with the forms, the colors and the textures of the forest are for all part, are only enouugh tofeel, to catch and to look at its return to perceive that serie of sense combinations is possible to identify through one the diverse places of the forest and this only can be made by who knows it and experience daily. The reality lived for the inhabitants of the Careiro Island of the Fertile valley in them made possible the identification of the existence of a singular culture where its space organization and its form of experience the places presents specific elements reflecting in its way of life. Of this form, this organization from the directions can be characterized by the following singularidades: dependence and mutuality with the environment and its phenomena that destroy and reconstruct the landscape and from this process the inhabitants of the forest adaptam it its way of experienciado life.

Introdução
A Floresta durante muito tempo tem sido um lugar carregado de significados simbólicos, ocupando assim o imaginário dos povos que vivem e apresentam diversas formas de se relacionar com ela, através de mitos ou da humanização da terra. Nesse contexto, deve ser vista como um processo pelo qual a humanidade vem procurando argumentos que expliquem no espaço e no tempo o significado da floresta.
Há, no entanto, diversas interpretações a respeito dos motivos que expressariam esta relação do homem com a natureza que o cerca, para alguns um mal ? estar para outros, uma definição científica cheias de idéias e linguagens diferentes para descrever a experiência humana através do tempo sobre a paisagem cultural.
Como objetivo geral procurou-se analisar, entre os moradores do Careiro da Várzea, o relacionamento desses habitantes com a floresta, sendo assim procuramos através dos significados simbólicos dado por eles aos fenômenos, interpretar as marcas na paisagem cultural juntamente com as formas de uso e de sua representação. Para tanto, o arcabouço teórico que sustenta a idéia deste trabalho tem como referência as concepções sobre a floresta abordadas pelos autores clássicos e contemporâneos. Neste sentido, as teorias serviram para melhor entender as diferentes formas de se relacionar e o sentido dado à floresta pelos moradores.
Contudo, deve-se ressaltar que não se almeja com as teorias uma explicação intrínseca da realidade, mas, sobretudo, o levantamento de algumas questões que possibilitem perceber a realidade dos diversos lugares existentes dentro da floresta e como os moradores representam no dia a dia suas atividade. Assim, buscou-se na fenomenologia, na experiência do vivido, dar explicações sobre esta realidade, tendo assim um diálogo diário com o meio ambiente ecológico e social das pessoas.
Partimos, assim dos argumentos dados por Dardel (apud Relph, 1979:1), considerando que a "geografia não é inicialmente uma forma de conhecimento, a realidade geográfica não é primeiramente um ?objeto?, o espaço geográfico não é um espaço em branco esperando para ser colorido ou preenchido. A ciência geográfica pressupõe um mundo que pode ser entendido geograficamente e, também, que o homem possa sentir e conhecer a si como sendo ligado à Terra".
A Floresta Amazônica, como manifestação empírica da categoria lugar, e a atividade realizada pelos seus habitantes, que estabelecendo um relacionamento íntimo com ela, vêm através do mundo vivido com a terra dar um significado simbólico a partir dos órgãos do sentido que são mais aguçados e assim podendo dar aos fenômenos explicações a partir da sensibilidade da qual estão acostumados a conviver.
A realidade da Amazônia é complexa e não compreende seus hábitos culturais seculares, num curto lapso de tempo. Espera-se que esta pesquisa possa contribuir com alguns elementos para melhor compreensão das diferentes formas de organização e fenômenos existentes na Ilha do Careiro da Várzea que progressivamente estão se modificando ao longo da paisagem geográfica. Este tipo de paisagem, embora para muitos possa ser vista como atrasada oferece-se como um valioso lugar para o entendimento das relações entre o Homem e a Floresta como um lugar de resgate ao mundo natural da qual o homem não está mais habituado devido ao avanço das tecnologias.

Descrição Metodológica

As referências teóricas e metodológicas não poderiam ser outras senão aquelas dadas pela fenomenologia, além da fundamentação teórica buscando como arcabouço analítico as concepções abordadas pelos autores clássicos e contemporâneos sobre a floresta, estamos realizando entrevistas semi-estruturadas e observações in loco na área em estudo.
Desse modo, a metodologia utilizada por Ferreira (2004) e como também leituras e observações em campo, sendo que estas se deram através de dados obtidos a partir da história de vida e situações vividas pelos moradores da floresta. Favorecendo posteriormente a elaboração e interpretações que expressam o relacionamento com a floresta, tendo como finalidade de compreender os fundamentos teórico-epistemológicos em que se baseou a pesquisa.
Na Geografia é a categoria paisagem que mais se aproxima dessa discussão, sendo referências fundamentais os trabalhos de Eric Dardel (L?homme et la terre, 1952), que apresenta uma Geograficidade, definida como sendo a forma de relacionamento que um ser tem com a paisagem; Buttimer (1985), enfoca as relações afetivas e de insegurança com os lugares e a paisagem; Nogueira (2001), que observou, a partir de uma leitura de Dardel, uma relação de geograficidade entre os comandantes de embarcações no rio Amazonas e as paisagens por elas vividas; enfim, Paul Claval (1999), que procura demonstrar como cada cultura estabelece relações singulares com o lugar e a paisagem e constantes transformação, estando além das relações econômicas.
Quanto aos procedimentos e/ou etapas metodológicas, entendemos que não haveria alternativa, diante da opção teórica a ser seguida, senão, ouvir as pessoas. Nesse sentido, a metodologia adotada enfatiza os dados obtidos através de entrevistas, pois os depoimentos orais que foram valorizados no trabalho são mais bem narrados através das entrevistas abertas. Haja vista que essas histórias refletem o "mundo vivido", e nos possibilitam uma melhor compreensão das relações entre o homem e a paisagem que o cerca, nessa pesquisa, entre o homem e a Floresta.
Pretendemos evidenciar dois tipos de saberes, o científico, que busca demonstrar sua competência em explicar algo, e o narrativo, que se dá a parir das experiências cotidianas. Os informantes prestaram os seus depoimentos de maneira livre e espontânea, visto que, em muitos casos, a análise do discurso narrativo terminou por apresentar elementos surpreendentes da qual certamente, não poderíamos alcançar com entrevistas ou questionários uniformes para todas as pessoas. Por outro lado, essas entrevistas foram guiadas por um roteiro pré-estabelecido.

O homem e a floresta no Careiro da Várzea: um mundo-vivido

A Ilha do Careiro é uma extensa planície aluvial do tipo a ter uma confluência tanto do rio Negro e rio Solimões. Limitando-se ao norte com rio Amazonas, sendo seus contornos meridionais delineados por um braço fluvial homônimo, o Paraná do Careiro, cuja boca superior se abre à margem do Solimões e que deságua no Amazonas através do Paraná das Onças, uns quarentas quilômetros a jusante.
O limite geográfico esta contido entre os paralelos de 3° 00? S e 3° 15? S e os meridianos de 59° 30? W e 60° 00" W de Greenwich.
A vegetação do Careiro é marcante, pois está em uma faixa climática de floresta pluvial, que comumente aplica-se, pois esta sendo determinada pela descida e pela subida da água as varias espécies que se integram às formações vegetacionais da região, as de maior significado na vida da comunidade careirense são, precisamente, as que sobre nadam nos Lagos e Paranás.
No Careiro da Várzea a Floresta pode ser classificada de várzea e de terra firme, esta paisagem se difere entre várzea, pois são terras que alagam nas margens dos rios, de suscitarem o conceito de "terra imatura". Esta relação de enchente e vazante marcam este lugar onde as pessoas se habituaram a viver de acordo com a subida e a descida das águas.
A aculturação de um lugar pode ser modificada de diversos modos, a construção pela introdução de espécies como a Carnaúba trazida pelos nordestinos é, um marco simbólico que cada lugar representa para as pessoas. A carnaubeira tem aproximadamente 150 anos e lembra a história de sua família, na qual foi trazida a semente da planta na década de 1890, marcando, assim, a chegada de nordestinos (Figura 3) .
A carnaúba, à medida que se adapta torna a, paisagem um verdadeiro contraste de espécies emaranhadas entre si e os campos nativos. Os campos estão próximos ao Paraná, que também marcam a paisagem do lugar onde há ainda pequenas porções de mata e muito atrás as plantações de seringueiras simbolizando o período da extração da borracha na Amazônia pelos nordestinos e caboclos, hoje na área que compreende o Cambixe as relações se comparadas com as de períodos passados esta bem diferente. Os campos são divididos entre pastos para a criação de gado e plantação de produtos para sua própria subsistência.
Já no Paraná do Careiro pode-se perceber que as áreas de plantação que estão mais distantes das casas sendo localizadas em um grande descampado dentro da floresta, para se chegar até a esta plantação precisa-se caminhar pelo menos 2 horas por dentro da floresta. Esta forma de espacializar o lugar só poderia ser feita a partir do mundo vivido das pessoas que ali habitam e estão diariamente experienciando a paisagem, isso significa que a aparência de um local particular se altera, também nossas atitudes e modos se modificaram de maneira que nossa experiência pode variar, a geograficidade de envolver os bons e os maus encontros com os ambientes, podem bem ser que a atração de um e o desagradado pelo outro adquirindo suas forças e qualidades através da comparação .
Esta por sua vez nos remete o vivido do Paraná da Terra Nova, onde a preocupação com o lugar vai variar de acordo com a época do ano, as pessoas dividem as plantações em diferentes tipos, tendo a mata como divisor desta paisagem .

O mapa mental da floresta do Careiro da Várzea

As regiões da floresta parecem estar a frente de mim e atrás de repente parecem arbitrárias, pois tanto faz eu ir para a frente quanto ir para trás, basta aparecer uma luz oscilante atrás de umas arvores distantes, eu continuo perdido, no sentido que ainda não sei como estou na floresta, mas o espaço recobra drasticamente sua estrutura.
O que significa estar perdido? Sigo um caminho na floreta, saio desse caminho, e de repente sinto-me completamente desorientado, o espaço ainda está organizado de acordo com os lados do meu corpo. Há regiões à minha frente e às minhas costas, à minha direita e à minha esquerda, mas não funcionam em relação aos pontos extremos, e, portanto são inúteis (Tuan, 1983).

A luz oscilante estabelece uma meta, movendo-me para essa meta, para frente e para trás, à direita e à esquerda readquirem sem significado: avanço para frente, alegro-me em deixar para trás o espaço escuro e certifico-me de não virar nem para a direita em para a esquerda.
O homem com suas experiências pessoais do lugar, com suas emoções em relação a ele, com suas experiências agradáveis e desagradáveis dele, foi pensado pela geografia, mas logo sufocado pelas críticas de que seria uma subjetividade e individual do mundo, e á ciência não interessaria. Retorno-se, então, a discussão mais racional, onde o homem foi tratado enquanto população, povo, classe, recursos humanos. (Nogueira, 2004).

O desenho representa a relação com o lugar do mundo vivido diariamente, e que está impregnado de significados simbólicos, onde o homem em busca de ver os pássaros cantando, numa conversa com os animais torna a vida cheias de mistério e lembranças.
Os limites da floresta estão em todo lugar e se mostram através de ações deixada pelos homens que por ela passam, deixando nas árvores marcas deste passar que para um visitante a floresta não apresenta nenhum significado, pois as formas são invisíveis aos seus olhos que não acostumados aos espaços se com fundem como se a floresta fosse sempre igual .

A percepção sensorial da floresta

Ao se caminhar na floresta podemos sentir diversos espaços desconhecidos onde somente quem está habituado poderá desvendar estes lugares, através de suas ações adentra a floresta abrindo novos caminhos até chegar em busca da caça.
No homem os sentidos e idéias relacionados com espaço e lugar são originados das experiências singulares e comuns, no tempo das estruturas experiências do conhecimento conceitual a longo da compreensão que são transcendentais das culturas.
A experiência tem uma conotação de passividade onde a palavra supõe o que uma pessoa tem suportado ou sofrido através de acontecimentos com homem e mulheres, que acostumados a experiências das plantas e dos animais podem aprender a própria vivência.
Aprendem os significados da floresta vivenciando os lugares não conhecidos pela realidade que é uma criação juntamente de sentido e pensamento, como afirmou Tuan: "para experienciar no sentido ativo, é necessário aventurar-se no desconhecido e experienciar o ilusório e incerto. Para se tornar esperto, cumpre arriscar-se a enfrentar os perigos do novo".
O caboclo é compelido a isso desde que nasce, este apaixonado, e a paixão é um símbolo de força mental para que a experiência se constitua no pensamento, o homem passa a sentir dimensões capazes de tornar seu ambiente distinto de sensações sensoriais ao longo do caminho da floresta, de modo que, poderíamos falar de uma vida de sentimento direto com outras vidas subjetivas da realidade experiêncial do mundo.
Como ver e pensar são processos intimamente relacionados ao pensamento do caboclo, a floresta pode transmitir significados que pode ser visto ou entendido como há muito tempo não se considerava como processo criativo da visão, sendo um simples registro do estimulo dado pela luz.
Essa organização estrutural da floresta, fluentemente fornecida pelos sentidos fornece sinais significativos ao órgão apropriado dos sentidos do olfato e do tato que dados pelos ambientes, já estão educados mentalmente a sentir os diversos lugares da floresta.
Desse mesmo modo, o ato intelectual de ver e ouvir o sentido do olfato e do tato podendo estar simultaneamente ligados a uma ampla sensibilidade de sentir a floresta de variadas fragrâncias florais distintas de outros mundos existentes da floresta.
O corpo se move seguindo linhas uma linha mais ou menos reta é essencial para a construção do espaço experiêncial mediante as coordenadas geográficas básicas de frente, atrás e lados. A maioria das árvores logo após o por do sol servem de orientação para os habitantes da floresta, pois se perde o sentido de sensação de espaço, o mundo as árvores passa a fazer parte da experimentação entre horizonte e verticalização nos níveis das atividades entre o espaço e a direção dos seus membros.
O homem explora neste novo mundo vivido a o meio com seu corpo onde se ajusta ao contorno dos espaços entrelaçados da floresta a noite, conscientemente se perde a o contato com o estado de alternados desconfortos e satisfação com o escuro.
O mundo visual da floresta agora toma uma nova dimensão para o homem onde a lua se nove ao seu redor, do alto pode se ver o horizonte da floresta tendo através de gravuras de estrada a leve distancia das barreiras espaciais.
O aparecimento do individuo propiciou também o surgimento da paisagem cultural da floresta, pois as refêrencias estão em cena, mas é só o ponto de vista do observador que constrói a paisagem das múltiplas percepções.
No Careiro da Várzea a floresta está representada para os moradores pela tranqüilidade de viver no silencio sem poluição, apesar das dificuldades sabe como lidar com as mudanças que ocorrem todos os anos na enchente e na seca dos rios.

O dia e a noite na floresta

Pela manhã os moradores da floresta, como tantas outras pessoas da Amazônia tem em seu estilo de vida em um contato direto com a floresta, encontram-se fazendo seus afazeres diários com suas famílias no centro de suas habitual jornada.
A paisagem é um lugar carregado de muitas espécies que sendo iluminada pelos raios solares que passam entre as folhas das arvores, formando um conjunto de paisagens íntegras de árvores, animais e igarapés, por todo caminho, o homem consumidor dos produtos dados pela floresta, podem ser vistos colhendo frutos para sua própria sobrevivência.
Ao anoitecer a paisagem despede-se com alegria do dia, dando a floresta um cenário de espetáculos visuais e diversas combinações de cores, sons, cheiros e mistérios. Os lugares agora são outros na Ilha do Careiro, às árvores se mostram através das suas silhuetas delineada pelo nédio da lua .
É possível também, pelo foco da luz forte da lanterna observar os olhos de fogo dos jacarés na água negrume e misteriosa do rio. Os sons da noite se revelam em diversos timbre e compassos, os trilar dos pássaros noturnos, o coacho dos sapos a encantar suas fêmeas e zumbido estridente da cigarra.
Os carapanães fazem a festa sobre a pele dos animais de sangue quente ? é a busca do alimento na longa noite na floresta. É durante a noite que se mostram os mistérios da floresta se criam ás lendas e suas incantaria, é a imaginação do homem que voa em busca do desconhecido, é a floresta oculta aos nossos olhos, porem visível a nossas mente pelas impressões vista durante o dia.
Os animais chegam para se agasalhar nas copas das arvores chamadas pelos moradores de poleiros das garças, patos do mato, gaivota, marecas e etc. tudo isso marca a paisagem dos diversos lugares da floresta. Os cheiros estão mais fortes e o homem habituado sabe que a natureza lhes oferece como recompensa por mais um dia que ele respeitou sua fonte de vida.
A noite na floresta, os reflexos através das árvores que balançam seus galhos com o vento que a toca. Logo a sensação do espírito da floresta sobrevoa os espaços obscuros do desconhecido.
Os animais agora são outros e os sons também refletem lugares que o homem não se atreve a entrar, pois os olhos mais treinados admitem que por trás deste espaço há todo um significado de respeito com os outros animais.
O homem da Ilha do Careiro da Várzea procura manter uma relação com a floresta de respeito, no entanto, sentidos revelam os cheiros da noite, mas que levam-nos a criar e contar histórias sobre fatos acontecidos durante o dia, dando a imaginação das mulheres uma outra forma de ver a floresta .

A floresta e seus diversos cheiros

A habilidade de sentir os cheiros varia muito entre pessoas e geralmente é associada a cheiros de outras coisas que conhecemos, por isso não existe uma denominação. No entanto, muitas plantas têm cheiros bem particulares que são muito úteis as pessoas como a copaíba, uma espécie de árvore que serve para remédio, reconhecer o cheiro basta cortar a casca da árvore viva, onde se exala por toda parte.
Os cheiros também podem transmitir lembranças agradáveis como pimenta, frutos verdes, vagens, cana-de-açúcar, adocicados, cítricos, gengibre, aromáticos, cravo, perfume, incenso e benguê. Os cheiros desagradáveis podem aparecer como lembranças perceptivas da realidade como: pitiú, fétido, remédio, pungente, etc.
O sentir através do cheiro representa atitudes freqüentemente do exterior do ser humano que se repete pela respiração dando um ritmo há situações e sensações e logo os olhos e as orelhas esperam para adentrar nos espaços da floresta, pois o corpo percebe os detalhes da presença de perigo ou espetáculos das diversas essências presentes.
Estes espaços se comunicam com as pessoas simbolizando de maneira direta a relação de estar no mundo que se propõe desde sua infância retomando e assumindo sensações do ser sentir os lugares e recordar se seus antepassados que já não estão mais vivos.
Os cheiros da floresta estão por toda parte só basta sentir, pegar e olhar a sua volta para perceber que é possível identificar através de uma série de cheiros possíveis os lugares da floresta e isso só pode ser feito por quem conhecer e experiência todos os dias.

Na maior parte dos dias, o vento nos trazia uma lufada de aromas, mensagens olfativas da cidade e do mar: tráfego intenso e peixe fresco. E, entre elas, o cheiro do próprio velho: penetrante e rançoso, como se exalasse um vasto fungo subfluvial existente no lodo primevo (SCHAMA, 1996).

As flores diferem-se umas da outras atrás do cheiro e da cor, indicando os diferentes significados distintos, mas simbolicamente como em muitos casos olhamos duas estruturas diversas, a flor como sua essência, a flor em sua forma.
Por sua natureza, é símbolo de fragrância indicando a primavera dada pelas diversas flores nestes tempos, os chineses, utilizam as flores nas imagens que costumam trajar cor azul e levam uma cesta de flores. Diz-se que dedicou a cantar versos alusivos à brevidade da existência e à enfermidade dos prazeres.
A flor é um símbolo da obra de acordo com sua cor, modificam seu significado e matizam-na em sentido determinado. O calor reforça nas flores alaranjadas e as flores amarelas, o pensamento de vida animal, o sangue e a paixão nas flores vermelhas. Já a flor azul é o símbolo que está ligado ao diário do impossível provável alusão a algo incerto.

Cores, formas e texturas da floresta: a percepção visual e tátil
Os atributos mais fundamentais de nossa compartilha visão do mundo estão confinados aos adultos sadios, robustos e sensíveis. (...) Os místicos, claustrófobos e os perseguidos pelo medo do espaço aberto tentam projetar seus próprios espaços corporais como sendo projeções do mundo exterior; são incapazes de delimitar-se frente ao resto da natureza. Os esquizofrênicos sempre subestimam o tamanho e sobreestimam a distancia. Depois de uma lesão celebral, os inválidos falham ao organizar seus meios ambientes ou podem esquecer lugares e símbolos familiares. Enfraquecimentos como afasia, apraxia e agnosia cegam suas vítimas para as relações espaciais e conexões lógicas auto-evidentes à maioria (FENICHEL, 1945, p 109 citado por LOWENTHAL, 1985).

Os limites da floresta podem estar ligados a identificação de formas, mas normalmente alteram o número, tamanho e formas dos objetos, outros sempre os vêem em movimento ou localizam todas as coisas na mesma distância indefinida, sendo traçados de acordo com os limites dos homens que moram na floresta.
Uma medida adequada da função sensível também é pré-requisito para a visão geral do mundo comum. Nenhum objeto se parece realmente como é à primeira vista os nascidos cegos não somente falham em reconhecer formas visuais, como também não vêem formas nítidas, a não ser como uma massa de reflexo de luz colorida. Eles podem reconhecer os objetos pelo tato, mas não possuem nada como a concepção comum de um espaço com os objetos que há nele. Um mundo puramente visual também seria uma abstração irreal, um sentido concreto e estável do meio ambiente depende da sinestesia, visão combinada com som e tato.
Ver o mundo mais ou menos como os outros o vêem alguém deve, acima de tudo, crescer; os muitos jovens, como os muitos doentes, são incapazes de discernir adequadamente entre o que é para eles e o que não é. Um menino não apenas é o centro do seu universo, ele é o universo. Para as crianças, tudo no mundo é vivo, criado por e para o homem, e dotado com vontade própria: o sol o segue, seus pais construíram as montanhas; as árvores existem porque foram plantadas (LOWENTHAL, 1985).

Incapazes de organizarem os objetos no espaço, de imaginarem lugares fora do seu alcance, ou para generalizarem a partir de experiências perceptivas, as crianças são especialmente pobres geógrafos.
Aprender que há outras pessoas que observam o mundo sob diferentes pontos de vista, e que uma visão firme e comunicável das coisas pode ser obtida apenas sob uma perspectiva, leva muitos anos.
Na velhice, a perda progressiva da audição, a deficiência da visão e outras enfermidades tende a isolar uma pessoa da realidade e criar, literalmente, uma segunda infância geográfica, deixando para os mais jovens a tarefa diária que antes lhe eram incumbidas.
Não importa quantos sejam a visão o traço que as suas imagens do mundo possam ter em comum, a elas falta, qualquer visão compartilhada da natureza das coisas com o mundo.
Para (PONTY, 1971) "a cor do campo visual torna mais ou menos exatas as reações do sujeito, em se tratando de executar um movimento de uma amplitude dada ou de mostrar com o dedo um comprimento determinado".
Com um campo visual verde apreciação é exata, com um campo visual vermelho, ela é inexata em excesso. Os movimentos para o exterior são acelerados pelo verde e diminuídos pelo vermelho. A localização dos estímulos na pele é modificada no sentido da abdução pelo vermelho .
O amarelo e o vermelho acentuam os erros na estimação do peso e do tempo, nos cerebelosos o azul e principalmente o verde os compensam. Nessas diferentes experiências cada cor age sempre no mesmo sentido de maneira que se pode lhe atribuir um valor motor definido .
No conjunto o vermelho e o amarelo são favoráveis à atraído pelo mundo ? a abdução. Ora, de uma maneira geral, à adução significa que o organismo se volta em direção ao estimulo e é atraído pelo mundo, a abdução que ele se desvia do estímulo e se retira para seu centro.
Dessa forma, ao utilizarem a obra literária como recursos ilustrativos a mais, assim como mapas, ou fotografias, a geografia amplia seu instrumento na compreensão sobre a floresta e as relações espaciais das pessoas com os valores fundamentais da realidade, levando - nos a uma reflexão sobre a paisagem da floresta e seus diversos mundos vividos e cheios de significados simbólicos.
Sorre (1933) Citado por LIMA (2000, p. 10), observa que:
A primeira visão que um geógrafo tem de uma paisagem é a mesma de todos os homens: uma impressão global com seu cortejo de sentimentos e emoções, de elementos subjetivos, se preferirem. Como todo o mundo, ele é sensível às formas e core, aos perfumes e nos. O que lhe é peculiar é uma maior aptidão a dissociar os elementos do quadro, a fixar a significação de cada um de seus traços evocando analogias longínquas, a descobrir o mecanismo da sua ligação, a torná-lo inteligível.

O surgimento da noção de paisagem vincula-se a uma maneira de ver e conceber o mundo, de compô-lo em uma cena. Sendo preciso reconhece que esse processo perceptivo não se limita a receber passivamente os dados sensoriais, mas os organizar para lhes atribuir sentidos, assim no que concerne a visão.
"A paisagem oferece a quem observa apenas parte de uma área. Essa limitação se liga a dois fatores: á posição do observador, que determina a extensão de seu campo visual, e ao relevo da área observada (CABRAL, 2000, p 37)".
Muitas plantas apresentam através das cores de seu tronco podendo variar entre outros aspectos quando associados a horizontes das cores como marrons ou acinzentados, na maioria das plantas são as cores que dão as pelas pessoas os tipos de árvores, mas esta definição não é fácil para as pessoas, em virtude de que as cores são muito subjetivas se vistas de longe.
Nos dias chuvosos os troncos ficam em geral mais escuros, a cascas de algumas poucas árvores apresentam ao observador uma coloração de destaque na imensa floresta, e em funções que se combinam com outras características do tronco, da casca ajudam a identificar através da percepção dos sentido a textura da floresta (Figura 8).
Nas linhas horizontais de uma floresta o homem observa as referências, marcando dentro da mata fechada a distancia de diferentes lugares, que poderão indicar as proximidades com o caminho para retornar a sua casa, servindo também de referência na hora da caça. Os corte deixados nas árvores, galhos e folhas podem ser características muito antigas evidente e atuantes nos espaços da floresta.

Considerações finais

A realidade vivida pelos moradores da Ilha Careira da Várzea nos possibilitou a identificação da existência de uma aculturação singular em que sua organização espacial e a sua forma de experienciar os lugares apresentam elementos específicos refletindo no seu modo de vida.
Em outras palavras, os moradores caboclos possuem características tradicionais ao lidar com a floresta, geralmente as técnicas utilizadas pelos moradores foram adquiridas de práticas indígenas. Nesse sentido, a floresta apresenta uma série de especificidades, onde o ambiente de várzea e o homem da floresta se complementam.
Dessa forma, esta organização a partir dos sentidos pode ser caracterizada pelas seguintes singularidades: dependência e mutualidade com o meio ambiente e seus fenômenos que destroem e reconstroem a arquitetura da natureza e a partir deste processo os moradores da floresta adaptam-se ao seu modo de vida; conhecimento dos ciclos naturais e adequação para o uso dos recursos naturais a partir dos sentidos; moradia e ocupação de lugares, onde o grupo social se reproduz economicamente junto à floresta, ainda que alguns membros da família tenham migrado para os centros urbanos; levam consigo as lembrança de uma vida na floresta; importância das atividades destinadas à subsistência dos moradores contribui para a fortalecer a cultura; simplicidade de técnicas que não causam tanto impacto ambiental, divisão sexual do trabalho é a base da distribuição das tarefas menos perigosa, tudo isso só poderia ser visto a partir dos estudos fenomenológicos sobre esta realidade, no âmbito regional da cultura amazônica.

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Autor: Michelli Santos Da Silva


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