Literatura: leitores e leitura (cap.1-7)



Em sua obra Literatura: leitores e leitura, publicada pela Moderna no ano de 2001, a autora Marisa Lajolo, de uma maneira excepcional, convida o leitor a refletir sobre o que é Literatura e ter conhecimento de todas as controvérsias que envolvem este assunto no decorrer dos séculos, para avaliar o que é ou não literário dentro das concepções de arte literária na atualidade. Neste objeto de estudo, entretanto, apenas os sete primeiros capítulos serão componentes de nossa análise.

No primeiro capítulo (p.1), uma perspectiva reflexiva é construída, através uma análise mais apurada sobre o que pode ou não ser considerada arte literária e onde se encontram os problemas relacionados a estas concepções. A autora também explicita a mudança que a literatura teve nas últimas décadas e a dificuldade por parte de alguns catedráticos aceitarem essas mudanças estruturais do que é considerado literário nos tempos modernos. A indústria do livro trouxe a esses novos tempos o atrito com o que antes era confeccionado de forma artesanal, e hoje dá vazão as grandes tiragens, produzidas por uma sofisticada indústria, para beneficiar todos os leitores em diferentes gêneros contemporâneos e conceitos de vivência. Não se afirma com isso que a literatura, anteriormente considerada clássica, perdeu seu valor junto aos leitores de todo o mundo, entretanto, o mercado se abriu para outros interesses e para diferenciados públicos e nessa abertura, ocorreram mudanças à variação de valores do que foi escrito há séculos atrás, para as formas de expressão das mais distintas. Neste contexto, não há melhor ou pior, mas sim diferente do que anteriormente era apresentado ao leitor ao sofrer uma reestruturação e, portanto, não ter mais limites, nem fronteiras.

No capítulo dois (p12), constata-se que os textos literários podem ou não ganhar esta significação com o tempo, ou seja, que o que antes não poderia ser chamado literatura, pode vir a ser com o passar do tempo. Há nesses casos uma valorização gradual das obras, ou uma sumária desvalorização, fazendo com o que era em determinado período histórico considerado literário, numa análise mais profunda, deixe de o ser. Além disso, na busca por definições pertinentes do que é ou não literatura, apenas poucos participam, pois se constitui de estudos mais profundos e um certo grau pessoal de cultura literária, já que embora a abertura de mercado, os livros ainda hoje são considerados para grande parte da população um objeto com custo muito elevado e deste modo, ainda para poucos. Outra preocupação que acometia grandes escritores de diferentes épocas era a definição de gêneros literários para as suas obras. Mais adiante, com a estruturação de produção de livros para determinados públicos, alguns escritores tiveram sua independência artística prejudicada por ter que fazer cumprir a estética pretendida por todo o processo editorial da mesma, lapidando assim, sua autonomia artística de criar de maneira desvinculada com o mercado para o qual é aceito. Ainda na busca por respostas do que é Literatura, observa-se que o ponto de partida para um conceito do que é texto literário, deve ser o contato do autor com o leitor através da obra e para isso, necessário que a mesma seja publicada e divulgada para que se torne pública.

A obra literária é definida como um objeto social muito específico, no capítulo três (p.17). É salientado que para uma obra existir, deverá a mesma ter relação entre autor que escreve e leitor que lê. Nesse caminho, há toda uma estrutura que se interpõe entre leitor e obra, que são chamadas de instâncias. As mesmas podem ser descritas como processo editorial, distribuição e livreiros, embora essas sejam apenas as principais.

Como objeto social, é indispensável que a obra passe por todo esse processo de estruturação e enquadramento de gênero. Para os canais competentes que qualificam essa obra, o trabalho desempenhado é como aquele realizado pelos cartórios, onde existem regulamentações que são exigidas do texto literário para que posteriormente possa ser colocado no mercado. Ela vai ser avaliada por setores especializados que farão a literalização do texto ou sua não literalização, por não atender as exigências a partir da crítica que nem sempre faz jus a obra pelo seu caráter notadamente pessoal ou impessoal com o qual avalia. Todas essas instâncias responsáveis pelo aval do texto em questão, têm como colaboradores professores, intelectuais, editores, publicidade, cursos de Letras e escolas, sendo que essa última dentre todas, é considerada o verdadeiro termômetro do que é ou não indicado para ser ou não literário. O clássico da forma que era conhecido deixou de ser aqueles livros escritos séculos atrás para tornarem-se toda aquela que tem conteúdo excelente para a crítica literária, mesmo que essa nova concepção atraia a antipatia de alguns que não conseguem se desvencilhar de antigos preceitos sobre Literatura.

O capítulo quatro (p.24) faz a referência de que Literatura não tem definição única e para responder o que ela é, há várias respostas. Em meio a informações subsequentes, como os tipos de poemas, de romances, contos e diversos outros gêneros literários, a conclusão a que se chega é que definições de Literatura importam menos do que o percurso que se faz até ela. A prática da leitura, com o tempo seria mais criteriosa e reflexiva; atenta a novas discussões do conteúdo das obras.

Literatura e escrita estão relacionadas (p.28). É o foco central do capítulo cinco para responder o que seria Literatura. Avaliando que a palavra literatura é a definição de letras, registro; faz provocar nos intelectuais profunda inquietação ao considerar como tal, textos que tragam além de sinais gráficos, outros códigos que não grafismo. Por isso, mesmo que possua caráter poético, músicas não são bem recebidas por alguns, como a forma oral de textos ou desenhos em quadrinhos, que não fazem parte do grupo seleto no qual se traduz a literatura. Assim, não há nos grandes círculos, discussões relativas ao panorama linguístico da palavra escrita, pois há necessidade do registro e que ele apresente todas as competências relativas a qual se propõe.

Porém, toda construção linguística pode ser literalizada ou não, dependendo da construção e do valor contextual que traz, ou seja, o que provoca emoção ao ouvinte na forma oral, passado para o papel pode perder o seu atributo estético e deste modo, ficar sem sentido ao ser impresso no papel e, até muitas vezes, sem o brilho de sua forma oral. Isso é descrito no capítulo seis: que a situação de uso é que faz do texto sua expressão mais literal ou não (p.38).

No último capítulo a ser resenhado (p.44), o que é explanado são as razões do texto literário ser cultural e portanto, abranger toda a leitura que se faça de mundo e que mesmo finda, fica para o leitor o reflexo de seu conteúdo como experiência e vivência do mesmo. A identidade de algumas obras é apenas literária, ou seja, o texto toma consistência na interação que o poeta faz com o leitor através de sua leitura. Outras vezes os textos são inspirados em determinados fatos históricos e sociais da vivência do autor, mesmo que isso não seja compartilhado com a realidade histórica do leitor. A tradição literária em ambos os casos, vem de tudo que é real ou irreal, que é compartilhado pelo leitor ou apenas pelo próprio autor com um verdadeiro sentido que ao ser lido, ainda assim, pode ser compreendido numa constituição global de sentido e forma do conjunto de elementos da obra para quem a lê.

Portanto, nessa obra de Marisa Lajolo, os sete capítulos iniciais fazem uma transição entre passado e presente da concepção do que é e o que deixa de ser Literatura, analisando entre opiniões oficiais e individuais, as suas implicações no entendimento que se tem da mesma e como a abertura de mercado, para diversos tipos de leitores, alterou o curso da história literária e a visão que se tinha até então da mesma.


REFERÊNCIA

LAJOLO, Marisa. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna, 2001. p.7 - 48.

Autor: Jaqueline Claudete De Oliveira


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