Filosofia: Medieval, o ente e a essência



Proêmio
Para se ter um melhor entendimento do tema proposto, ente e esseência, tendo em consideração o processo cognitivo humano, Santo Tomás de Aquino em sua obra O Ente e a Essência, propõe que se parta do que é mais fácil para assim extrair-se o conhecimento do "simples" pelo "composto" chegando-se ao que é anterior, partindo-se do posterior. Concordando com Avicena, que o ente e a essência são o que primeiro o intelecto concebe, e observando como Aristóteles que um pequeno erro no princípio pode tornar-se grande ao final, Santo Tomás de Aquino propoe-se a eliminar eventuais dificuldades por falta de clareza dos conceitos de ente e essência, cumprindo-se para isso dizer o que "se entende pelos termos essência e ente", como se encontra em diversos significados, isto é, a partir de sua concepção como conceito enquanto se enuncia na verdade das proposições e no que tange os dez predicamentos bem como se relaciona com as intenções lógicas universais de gênero, espécie e diferença.

Capítulo I
A princípio, Santo Tomás destaca em a Metafísica de Aristóteles os modos como o ente se diz por si, sendo dois esses modos: o dividido em dez categorias e o acerca da verdade das proposições, modo onde as privações e negações podem ser ditas entes, pois sua distinção do primeiro modo é ser afirmativa ainda que não acrescente nada a coisa. Seguindo o pensamento de Avicena, Santo Tomás de Aquino, afirma que a essência da coisa é significada pelo ente dito no primeiro modo, o dividido por dez categorias, onde a essência deve ser comum a todas essas naturezas onde os entes estão dispostos nas intenções lógicas universais gênero, espécie e diferença.
O que é estabelecido no gênero ou na espécie é o que define o que a coisa é, daí o nome de "quididade"; a definição da essência do ente no primeiro modo através do gênero ou espécie; a especificidade da essência enquanto "o ser algo". Santo Tomás de Aquino harmoniza o significado de "quididade" em Avicena, enquanto forma, e enquanto natureza em Boécio, referindo-se a primeira acepção de natureza elaborada pelo mesmo, enquanto aquilo que seja como for pode ser captado pelo intelecto, pois a coisa é inteligível pela sua definição e essência, aspecto que concorda com Aristóteles no modo que toda substância é uma natureza, sendo que natureza significa a essência enquanto ordenada à operação da coisa, e "quididade" é significada pela definição e dita essência enquanto pela "quididade" e na "quididade" o ente tem o ser.

Capítulo II
Sendo as substâncias simples e compostas, a essência das simples é mais verdadeira e elevada e é, com efeito, causa das substâncias compostas: Deus, a substância primeira e simples de onde se derivam as compostas, sendo que em ambas há essência. O que dificulta, em muito, o processo de apreensão desse conceito, Santo Tomás de Aquino propõe que partamos das substâncias compostas.
O que vai mover a explanação do autor sobre as substâncias compostas, que são formadas de forma e matéria, é o questionamento de qual dessas duas constituintes formariam a essência das substâncias compostas. Deixando claro, ao longo do texto que nem uma nem outra unicamente poderiam constituir, ou ser a essência das substâncias compostas isoladamente, já que a essência denomina o que é expresso pela definição da coisa. Logo, poder-se afirmar com o autor que "... essência significa, nas substâncias compostas, o que é composto de matéria e forma". O que é condizente com o racional, já que o composto não é nem matéria nem forma, mas o próprio composto, pois isso é o que lhe constitui a essência e diz de si mesmo o que é.
Todavia, a matéria é particular, pelo princípio da individuação, que se opõe a essência, que é forma e matéria universalizantes. Daí que os universais não possuiriam definição, já que a essência é expressa pela definição. Dessa maneira, sendo a matéria princípio individualizante, matéria signada, que está dentro de determinadas dimensões. Esta mesma matéria não altera a definição de Homem, mas apenas integraria a definição de um único homem, realmente de carne e osso, e não expressão alegórica ? homem de carne e osso- , o autor cita o exemplo de Sócrates, se ele tivesse definição. Logo pela matéria poder-se-ia definir um homem individual, mas não o Homem, matéria não signada, enquanto espécie ou gênero.

Referência

Aquino, Santo Tomás de. O ente e a essência. [Trad.: Luiz João Baraúna] s/n, s/d.
Autor: Farley Luciam Melo Dos Santos


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