Homenagem a um soldado desconhecido




Cena I
Poeta :
Hermann
Dedico esses versos de espírito ferido
A um soldado desconhecido
Seu nome podia ser Johannes ou outro Engano
Não importa,terão o mesmo Destino
Ao inexpressivo Cinzento de sua expressão
Cansada e oprimida que
.Nunca foi cantada e louvada
Talvez fosse esquecida a Dureza de sua face entre a multidão
A voz velada,leve ,quase um gemido.
Seria um apelo?Não o silencio de um lamento
Sua voz hoje me é um tormento
Suas roupas são trapos
Seus alimentos, migalhas
Seus sonhos são farrapos
O seu lar,é apenas palhas

Vejo sentado na sarjeta, um homem
Aproximando-me mais me detenho, é você soldado
De uniforme roto cobre o seu corpo enfraquecido
A perna uma a guerra levou
Espera a esmola
Aqui conta a sua historia

A essa expressão, cansada e oprimida
De fronte baixa, de cenho franzido
A essa voz velada, leve
Nunca deve ser esquecida, sempre enaltecida
Suas roupas, são trapos, farrapos
Pela vida despedaçados
A bota mal cobre o pé



Esses olhos tristonhos ,úmidos ,tantos tormentos
Tempestuosos, será que os vi onde?
Esses espelhos atormentados, rasgados
A perna cansada, com dificuldade caminha até onde?
Com dificuldade busca novas estradas
Só encontra mágoas
A Esperança e a Temperança são suas amigas
Será que vão até aonde?
Há tantas vidas esquecidas,
Apenas fantasmas

Que a sua fala é apenas um eco que ecoa
Um sopro nas folhas
Um sopro de asas pássaro
Você é asas de Pégaso


Ó Soldado desconhecido
Que caminha entre brumas, perdido,
A guerra é implacável
Com a crueldade das Fúrias,a vil
Como suas asas de fogo voa
Feliz partiu o jovem soldado
Assim como parte as borboletas
Como se fossem encontrar
Novas flores,novas pétalas ,novos perfumes ,coitadas
Vejo ainda seus ombros erguidos, destemidos
O novo uniforme envergando
Novos caminhos buscando
Não pode mas é o mesmo rosto que vi ontem
O largo sorriso confiante partia no trem
Onde foi parar?
Naqueles olhos brilhantes como a Luz das estrelas
Nele espelhada como o orvalho e bolhas
Vejo a Grandeza da juventude
Será onde vou encontrar?
Os seus dedos despedem, um adeus
Não parece uma despedida
Parece já aproxima da chegada
Não podia ser, o ultimo vulto .Meu Deus!
Onde caminharei para essa alegria buscar?
Hoje são cinzas
Da desesperança tristezas
Como Encaro com suas asas de sonhos
Podia não ser um Cavaleiro Tectônico
Mas o seu brasão era a Honra
O seu ideal a Pátria
Lutar mas em breve seria ceder
O improvável vencer
O seu rosto erguido
Era um Herói
Vi,Cavaleiro ,suas asas de cera derreter
Não era um Cavaleiro era um soldado



Mas as garras afiada e impiedosa da guerra
Do rosto, escultora fez o busto
Tiraram do rosto os traços juvenis
Hoje só uma foto preta e branca
Conserva os traços de outrora
Endureceu o rosto, com o cinzel
Como feita de pedra bruta a face
A mão, o martelo e o cinzel,
Nos traços revela uma beleza que renasce
Em cada magoa ,moldou uma rusga
Da pedra tem a cor cinza
E espectro da desesperança
Os seus cabelos eram louros,
Vivo, não pálido
Das lamparinas tinha a Luz
Pois hoje são apenas reflexos
O Cinza, a Vida, A Luz apagada
Cada nesga , uma magoa
O seu rosto tinha luzes
Agora estava mergulhado em sombras
Contorcido pelas Fúrias
Vi com a mão que antes segurava
A mão da moça
No compasso da valsa
Agora tiravam vidas
A Honra a perdeu enquanto destroçava cidades
Fumaças viravam os mantimentos
Como um pintor escolhia as cores,
As melhores para seu realismo pintar as telas piores
A cor vermelha, do sangue
A miséria da Humanidade, marrom
A queda dos corpos, a palidez doentia.
Naqueles corpos tombados
As construções apenas paredes ocas,
Buracos um manto de tiros
Cinza chumbados


No campo de batalha
Seus amigos estavam mortos
Os sonhos desfeitos
Caminharam para o Walhala?
Tantos mortos, na multidão de sangue
Todos eram pardos
Nos seus sonhos, os assombram
Estrondos ,tiros
Surdo não ficou a Dor
Nem ficou mudo ao Sofrimento
Seus olhos feridos ,cegos ...





A Morte é o melhor telescópio para ver como todos são iguais
A guerra, a doença não perdoa ninguém. Atinge a todos
Sejam ricos e pobres. Bandidos e nobres. Bons e injustos. Crianças e velhos
Tudo a guerra leva, nada perdoa com a sua língua de fogo ,
Tudo devora e molda com a destruição
Rança de seus lares as almas , os risos , alegria e a vida
Nada sobra ,nada resta
Nem o perdão


Mas as garras afiadas e monstruosas da Guerra
Como do rosto, escultora vil, fez o busto
Os traços juvenis, arrancou do rosto
Hoje só uma foto preta e branca
Conserva os traços de outrora
Endurecesse como feita de pedra a face
A pedra é bruta, mão foi polida.
Das mãos humanas se conheceu a ternura foi apagado pelo barulho ensurdecedor das bombas
Em cada magoa moldou uma ruga
Quanto mais profunda maior a rusga
A sua pele perdeu o viço e frescor tem a cor macilenta
È o espectro da desesperança
Os seus cabelos eram loiros tinha a cor de lamparina
Lembro-me vivos não pálidos, a alamparina apagou .




Tiros,ecoavam na escuridão
Era um pesadelo dantesco
Fuligem e sangue, no seu rosto se confundem
O céu azul como se água clara
Tornou-se turva
Um rastro de sangue
Uma tira de corpos
Seus amigos mortos




Sedento, de esperança.
Em cada palavra na sua carta reuniu
A sua casa, a sua família.
Parecia tão querida
O seu lar nunca lhe apareceu tão aconchegante
Em seus braços queria retornar
Nas praças o sorriso alegre tilintar
Como pássaro que cantam
Reuniam as moçadas na praça
Doce paraíso, que com o coração carregado pela saudade aumentava.



Quando volta a primeira coisa
Que lembra uma velha promessa
A Igreja visitar
Eram sós escombros
Não existia mais
As lagrimas se ainda existem
Naqueles olhos umedecidos
Por ter vindo,perdidos
Tudo acabado
Pelo seu rosto, teriam escorrido
Mas seu coração angustiado
Encheu de expectativa
Para a casa iria
A esposa abraçaria
Com os filhos que viria
Como as flores renasceria
Renasceria como a manhã primaveril

A sua esposa sem receber,noticias suas
Julgava o morto
Suas cartas marcadas com as lagrimas
E cada palavra uma magoa
Fechado os parágrafos com o ponto da esperança
Perderam-se
Uniu-se com outros por algumas moedas


Seus filhos voltou encantado
Seu filho tão pequeno ainda uma criança
Mal tinha treze anos
O outro o deixara no berço
Seus dedos enroscava em suas mãos
Dos pais inimigos
Vieram homens que invadiram as nossas terras
Invasores o mataram
Nem um grito de apelo
Nem um gesto de fúria

Não corria,suas pernas pesavam como chumbo
Voltaria para a casa de suas mães
Humildes a recolheria
A sua mãe viria
O cheiro gostoso do forno no seu colo
Mas onde ela estava
Eram pedaços de um pesadelo
No lugar se erguia uma indústria de armas abandonada

Tanta miséria,onde foi para a misericórdia
Rastros de sangue ,tristeza
Uma trilha de sangue
Todos haviam morrido
Nestas noites longas
Que nunca terminam
Escuridão, estrondos terror
A comida só no mercado negro
Uma fila imensa para uma sopa rala de batata
Seguiu-se para a praça descansar
Na sombra se sentar
Ali lembrava com o coração esquecido
Crianças brincavam em roda
Ali namorou a sua esposa
A praça estava silenciosa
A relva pisoteada
As flores arrancadas
Os sonhos desfeitos
Naquela tarde estival
O sorriso alegre desmanchado
O sorriso arrancado
Com a bota do soldado






Os sonhos tinham sido desfeitos
A Cantiga cantada em roda
Não mais se ouvia
Só uma musica triste morta
Buscaria uma nova vida
Procuraria ,um emprego
Uma fila de desempregados ,interminável
Que queria esquecer...

-Não desanime, soldado desconhecido
Em cada rosto, ali na praça
Também há uma magoa
Um tormento, uma angustia
Você não esta sozinho
Veja aquele senhor ali sentado
Seu rosto tanto sofrimento
Também carrega uma dor
Uma saudade
Você não está sozinho

(Werner Schumacher, meados de 1920)
Hermann infelizmente não era o único que pedia esmolas. Era um entre vários mendigos que viviam nas ruas e esperava a caridade publica.
A guerra para Hermann era um sonho, um sonho romântico.
Mas é um romance morto.
É uma poesia em versos sem rimas, sem métricas.
A musicalidade é uma marcha fúnebre ,sem sombras ,sem esperanças.
Como um fantasma que espera o dia da partida,pois já não vive.
É um fantasma que arrasta pelos escombro , entre os mortos.
É uma ala morta ,corroída pelos temores e dores.


Autor: Priscila Dias De Carvalho


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