Eleitores Estúpidos, Política Absurda.



Na cidade em que moro, aqui em Pernambuco, só para citar um caso mais próximo, no domingo, 3 de outubro, dia da eleição, aconteceu um fato inusitado, ou melhor, um só não, mas vários do tipo. Uma mulher se dirigiu até a sua seção eleitoral para exercer o seu "direito" de cidadã brasileira. Ao entrar na cabine de votação sentou-se na cadeira para votar e a partir daí passaram-se cinco minutos de silêncio sem que a máquina computasse um voto sequer. Preocupada com a demora e o silêncio que reinava naquela cabine a presidente de seção se aproximou e perguntou se estava tudo bem com aquela mulher; depois de obter uma resposta positiva ela perguntou por que ela ainda não havia votado, ela respondeu: "porque não sei como se faz isso"! Depois disso, passaram-se mais cinco minutos para que os mesários conseguissem fazer com que aquela mulher entendesse, pelo menos naquele momento, como se votava. E olha que estamos a, apenas, setenta quilômetros da capital; "quer ver coisa", vá mais para o interior do estado, ou melhor, do nordeste todo. O que me deixa preocupado é que olhando a última pesquisa datafolha para o segundo turno, sem querer defender ou ofender qualquer um dos dois candidatos, percebi que será o nordeste quem decidirá a eleição para presidente da república. Essa preocupação se dá por conta de que o caso citado acima não é uma exceção, já é uma normalidade por aqui, e espero que seja só aqui e não no Brasil todo, pessoas passarem cinco, dez ou até quinze minutos tentando "decifrar os mistérios da urna eletrônica". Por que será que pessoas que mal sabem votar sabem o que é melhor para o país? Será que sabem mesmo? Para vocês terem uma idéia do grau de atraso de nossa região, e como já falei acima, espero que seja só aqui, há alguns anos atrás, mas precisamente no dia 29 de maio de 1919, com observações feitas na cidade de Sobral-CE, o cientista judeu Albert Einstein, através de um eclipse solar, conseguia provar a tese que revolucionou a ciência. 21 anos depois, no dia 1° de outubro de 1940, minha bisavó ? ouvi isso de sua própria boca ? estava no quintal de sua casa no sítio onde morava, sentada numa cadeira olhando para o sol esperando outro eclipse terminar para que o seu filho, que ainda estava na barriga, o meu tio, não nascesse com duas cores. Enquanto isso, na vizinhança, mulheres pediam perdão aos maridos por havê-los traído, pois pensavam se tratar do fim do mundo e do retorno do "DIVINO ESPIRITO SANTO". Apesar de esse fato ser tão antigo acham que houve algum progresso? Há cinco dias encontrei um amigo que há anos não via. Ele estava com seus dois filhos pequenos. O mais velho, que têm mais ou menos sete anos, tem um sinal em um dos lados do rosto, um sinal grande, mas bem clarinho, que vai desde a sua testa, próximo do cabelo, até um pouco abaixo do nariz cobrindo boa parte do lado esquerdo de seu rosto; não é muito chamativo. Perguntei se o menino já havia nascido com aquela marca ou se ela era resultado de algum acidente ou queimadura leve e ele me respondeu que foi porque a mãe do menino, a sua esposa, quando estava grávida, havia olhado para o eclipse da lua e que a mancha só não foi maior porque ele tapou sua vista a tempo. Quem quiser chamar isso de "crendice popular que chame" eu prefiro chamar de atraso mental, idiotice e doença cultural. Aí eu me pergunto, se pessoas que não sabem votar, e não falo somente daquelas que ficam hipnotizadas e sem ação diante da urna, têm direito a escolher os "dirigentes" do país, por que o espanto com a vitória do "Tiririca"? Se analfabetos podem votar, por que analfabetos não podem se eleger? Não que eu seja a favor de um político analfabeto, mas um político nada mais é que a representação do voto da maioria que o elegeu e o voto de um iletrado por acaso não é um "voto analfabeto"? Milhares de pessoas aqui no nordeste, analfabetas por sinal, não votam em candidatos, votam em números que seus filhos e parentes escrevem nas colas, números esses que são reconhecidos nas urnas eletrônicas não por prévio conhecimento e assimilação dos significados dos mesmos, mais por imitação dos símbolos; daí os cinco, dez e quinze minutos de silêncio mental frente à urna. Não é de se admirar que os debates políticos tenham descambado para o lado da religião e da crença ou não em Deus e nos princípios cristãos, coisas das quais eles "acham que entendem", a final de contas, qual a cidade que não tem uma igreja? E pior, quais das igrejas exigem de seus fieis raciocínio ao invés de crenças cegas? A política se transformou em feira de "troca-troca"! Dizem: "vou votar em fulano porque ele me deu o "bolsa família"; voto no sicrano por causa do genérico, voto no beltrano porque ele é corintiano, são paulino, rubro negro, ou seja lá o que for... voto em dona fulana porque gosto da cor verde, é a minha cor da sorte" e nisso, os debates políticos de verdade se restringem às conversas secretas em porões e ministérios, "o povo não se importa mesmo, podemos destruir o país que eles nos agradecem e ainda nos dão um macaco de presente"! Acham um absurdo um palhaço político? Deveriam vir aqui na região em época de eleição municipal e ver os políticos-palhaços. "Espero, por Deus, que seja só aqui!" São uma verdadeira comédia os comícios e palestras de meio de rua (ou seriam mais uma tragédia?), são os mesmos, a cada quatro anos, os discursos de baixo nível que são ensaiados nas câmaras municipais. Os políticos vão desde o "Hobien Hoode" até o "Pibite", "Popeye", "Pago-ponche", "fulano do burro", "cicrano da carroça", só vendo para crer. Por tudo aqui se vende um voto e com pouca coisa se torna um político "bom e decente". Desde "sopão" de um real ou até mesmo gratuito a passeatas com veículos públicos em véspera de eleição, todas essas coisas são fatores decisivos na hora da escolha do candidato. O problema de tudo isso é que se faz campanha na mídia e ameaças de prisão contra quem compra voto (compra de voto é crime) mas, em contra partida, não há uma punição equivalente com quem vende o seu voto, a final de contas, como venderiam se não houvesse quem compre? O pior é que não podem acabar com essas coisas por aqui, se fizerem isso as pessoas perderiam a sua escala de medida do político ideal. E de quem é a culpa da calamidade na saúde, na educação, na segurança, etc.? Dos políticos? Não, a culpa de tudo isso é da população. Não é a toa que eles, os políticos, pesquisam o que o povo quer ouvir antes de prepararem seus planos de governo e seus discursos. Nosso povo não sai mais às calçadas para debater esses problemas. Os jovens não saem às ruas pois estão presos pelos sites de relacionamento (ou seriam sites de FALSOS-RELACIONAMENTOS?), os adultos pelas novelas (a única linguagem em que não são analfabetos) e os velhos, que ainda sentam nas calçadas, são os mesmos que acreditam em crendices antigas típicas aqui no nordeste e só conhecem o idioma das fofocas de pé de muro onde se sabe mais da vida dos vizinhos de que da sua própria. Não estou me referindo a "em que se vota" e sim "como se vota" e por quais motivos se vota, quais os critérios de escolha. Os analfabetos que estão votando e sendo votados não são só analfabetos de cartilhas escolares, são analfabetos, culturais, políticos, éticos, morais, racionais, analfabetos com diplomas de ensino médio, diplomas de médico, de advogado, de pedagogo (principalmente), iletrados em formar opinião, pessoas que se quer aprenderam a "ser gente" querendo "formar gente". São todos corruptores da racionalidade que de tanto enganar tornaram-se vítimas de seu próprio engano. Não precisamos de reformas políticas, nem educacionais, nem judiciais, nem ambientais e muito menos econômicas, dentre outras, pelo menos não agora, precisamos, antes, de uma "reforma geral na humanidade", mudar a mente e o coração das pessoas, as outras reformas viriam conseqüentemente. O problema é que estamos acostumados a acusar políticos pelo descaso do país e nos esquecemos que o país não é formado só de políticos, eles são uma pequena minoria, nós somos a maioria; pena que não temos consciência disso, ou melhor, não temos consciência de quase nada nesta vida.

Jônatas Félix da Silva
Autor: Jônatas Félix Da Silva


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