E o futuro?



"Os meninos e meninas que nasceram a partir de 1990 não almejam fazer nenhum tipo de revolução ? nem sexual nem política, como sonhavam os jovens dos anos 60 e 70. Mudar o mundo não é com eles." (Anna Paula Buchalla)

É fácil constatar, hoje em dia, que a cada geração a juventude encontra-se mais alienada, desprovida de valores éticos, morais e intelectuais. Raramente se encontra um jovem de 18 anos que já tenha apreciado Machado de Assis, ou, quiçá, tenha sua preferência por determinadas escolas literárias. Ousamos mais, sairemos às ruas e indagaremos jovens dessa faixa etária sobre o que eles têm a dizer sobre a primeira eleição de uma mulher à Presidência da República, bem como se conseguem citar o nome de ao menos um político influente. Certamente ouviríamos respostas que nos remeteriam, indubitavelmente, ao riso.
Faremos outro teste pra nos certificarmos o quanto essa massa de jovens encontra-se lançada à masmorra da ignorância. Solicitemos deles uma redação de no máximo vinte linhas sobre um tema qualquer da atualidade. Veremos, na quase totalidade, uma verborragia de nos causar tremor. Ficará muito evidente o uso do famigerado "internetês", ou seja, erros grosseiros que trazem de sítios de relacionamentos para o dia o dia da comunicação acadêmica e profissional. O resultado dessa bazófia é sem dúvida um jovem que não é capaz, sequer, de elaborar uma frase coerente, simples, em obediência às regras ortográficas da língua portuguesa.
Essa é a realidade da juventude que temos. Um conglomerado de desocupados que perderam o senso do ridículo, que riem à toa, que não se preocupam, ou nem sabem, que o futuro um dia chegará. Jovens de extremo mau gosto, que usam roupas cada vez mais caricatas, cabelos e adornos que necessitam, sempre, chamar a maior atenção possível. Vemos os meninos que perderam a face masculina, o corpo e a audácia do macho. À menina restou uma erotização barata, vulgar, sem qualquer apreço à formosura do feminino. Intelectualmente nem se fale, elas (as jovens) estão perdendo aquela "malícia de toda mulher", como definiria o saudoso João Gilberto.
Ao mesmo tempo em que a informação nunca esteve tão acessível com a internet, a grande massa de jovens está cada vez mais insana, voltada unicamente a questões pequenas, banais. Eles são indiferentes as grandes questões que deveriam afligir-lhes, como Educação, Saúde, Segurança, questões relacionadas ao álcool, às drogas, enfim, temas que já passaram do momento de serem discutidos seriamente.
Quantos de nós já estivemos no bairro Campolim, em Sorocaba, reduto, em tese, da elite sorocabana, e nos deparamos, sobretudo às sextas-feiras, com uma enxurrada de adolescentes burgueses mal vestidos, atrapalhando o trânsito, causando tumulto, e expondo aqueles penteados ridículos de gosto bastante duvidoso? Qual a essência desses jovens que portam celulares caríssimos sem nunca terem sequer sonhado em trabalhar? Como se portarão quando, daqui há 20 anos, estiverem no comando do País? Será que eles têm alguma noção da penosa realidade que vivemos? Das mazelas do Estado, da violência que destrói nosso tecido social, da miséria em que vive milhões de pessoas no mundo e de como nosso atual sistema político-econômico contribui para isso? Indagamos, ainda, se esses jovens têm consciência de que na África existem 40 milhões de órfãos devido à contaminação pela Aids, se possuem conhecimento que uma pessoa morre a cada dez segundos no planeta vitimada pelo tabaco, ou, quem sabe, se já lhes informaram que a cada hora um ser humano morre de overdose somente na Europa.
E nessa onda de alienação absoluta, onde a burrice crônica é uma qualidade essencial para ser "aceito" no grupo, surge toda a excrescência de programas televisivos ocos de conteúdo, "músicas" grotescas que são cantadas e tocadas obstinadamente em todos os cantos do País. Axé, Funk e outros absurdos que fazem alusão a uma pornografia sem sentido espalham-se como um câncer em constante e eterna metástase, ofuscando e apodrecendo mentes que deveriam estar agregando cada vez mais conhecimento com um único propósito: corrigir todas as disparidades que até hoje os homens propiciaram à humanidade.

Fernando Grecco é articulista da Folha de Votorantim.
E-mail: [email protected]
Autor: Fernando Grecco


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