Estimulando a Comunicação em Crianças portadoras de Deficiência Múltipla



As estratégias para o ensino e estímulo da comunicação, são proveitosos e eficientes tanto no convívio familiar como no escolar. A seguir serão descritos os que mais auxiliam na estimulação comunicativa, por sua simplicidade e por não necessitarem de grande esforço cognitivo por parte da criança portadora de deficiência múltipla.

1. Antecipações de Acontecimentos
As antecipações são utilizadas para dar informações sobre o que irá acontecer a seguir com a criança. Qualquer movimento, objeto, toque, odor e sensação, experimentada antes da ação da qual irá participar se torna uma forma de antecipação.
As antecipações são realizadas, a princípio, com objetos ou referências do ambiente utilizadas na ação a ser realizada. A importância está no desenvolvimento de uma comunicação básica, que participa a criança de sua rotina, pouco antes que aconteça. Para a criança com múltipla deficiência, saber o que irá ocorrer consigo é um fator que gera segurança, já que, sabe do que irá participar com antecedência sem sustos ou surpresas.
Como forma de antecipar ações simples do cotidiano, é interessante usar pistas naturais, como sabores, odores e texturas. Um exemplo seria o sabonete antes do banho ou o cheiro do alimento antes da refeição. Toda informação sobre o que irá ocorrer, é importante e complementa o conhecimento da ação a ser realizada.
Todo ambiente possui características reconhecíveis e podem ser usadas como forma de antecipar o que irá ocorrer. O banheiro, a cozinha, o quarto, o consultório ou a escola, todo ambiente freqüentado pela criança pode ser reconhecido por texturas, odores e ruídos. Perceber o que é mais acentuado e de manuseio simples, para a criança deve ser o primeiro passo. Após, deve-se estimular a criança a explorar o ambiente e apresentar a ela a referência, para que se torne representativa. O estímulo através do uso da referência do ambiente, em lugar da exploração já realizada, auxilia a criança no processo de abstração, necessário para a comunicação efetiva.
Quando se tem certeza da fixação deste conhecimento empírico, pode-se então apresentar objetos de uso específico da ação, os objetos de referência.


2. Objetos de Referência
Qualquer objeto usado pela criança em suas atividades pode se tornar um objeto de referência, desde que seja significativo para ela. Para Bloom (1990), o objetivo deve ser relacionar determinados objetos com as atividades que serão realizadas, como forma de antecipação.
Para que seja significativo, o objeto a ser usado como referência precisa ter ligação com a experiência da criança. Como exemplo pode-se citar o uso de uma colher para representar a refeição, se a criança faz uso da colher usada como referência, esta terá mais significado para ela, no entanto, se a criança se alimenta com garfo não significaria o mesmo, já que não faz parte de sua vivência. Outras situações a serem antecipadas por objetos de referencia, são as atividades escolares, as de higiene pessoal, os atendimentos que participa e os locais que costuma visitar.
Os objetos de referencia são úteis ao ensino da criança com múltipla deficiência por serem permanentes, ou seja, sempre significarão a mesma atividade. Também sendo facilitada a comunicação e antecipação de fatos, uma vez que não demandam da criança que se recorde, apenas mentalmente, de situações e conceitos já vivenciados.
Ainda outra contribuição do uso destes, é a possibilidade de maior interação social com seus pares comunicativos. O uso de objetos concretos traz a oportunidade de manipulá-los em conjunto, trazendo assim o entendimento e sentimento de pertencimento a uma rotina participativa e interativa. Desta forma, a criança pode interagir com liberdade e sentir-se compreendida, assim como, o adulto pode usar este momento para comunicar-se com ela.

3. Calendários
Estudantes que poderiam beneficiar-se com o uso dos calendários:
Crianças surdocegas, crianças com deficiência múltipla, paralisia cerebral, autistas ou síndromes em que não se pode desenvolver a fala (disfasia).
O ser humano possui uma série de formas reconhecíveis de comunicação: a fala, escrita, gestos, expressões faciais e corporais. Não deixamos de usar uma forma de comunicação quando aprendemos outra, assim tanto podemos ler algo impresso como também um gesto simples para indicar algo. Os calendários podem apoiar uma grande diversidade de funções comunicativas em diversos ambientes.
Segundo Blaha (2001) pelo uso deste sistema a criança poderá compreender melhor a transição entre as atividades, adquirir conceitos temporais e vocabulário relacionado com o tempo, comunicar uma quantidade de assuntos significativos para si e para seus pares comunicativos, responder perguntas a respeito de escolhas e acontecimentos "futuros".
O sistema de calendários usa objetos, figuras, fotos ou símbolos para organizar as atividades que serão vivenciadas pela criança. Os objetos são utilizados para crianças portadoras de surdocegueira, deficiência visual ou intelectual, que não compreendem, ainda, formas abstratas de comunicação. As formas consideradas abstratas em comunicação são as que simbolizam o real, como fotos, figuras, símbolos e a forma escrita, mesmo que seja em Braille.
O uso do calendário deve ser introduzido com a rotina da criança, para que possa cumprir seu papel de comunicador e organizador do tempo. Com seu uso constante, a criança será estimulada a interagir de forma diferente, por meio de objetos ou símbolos.
Pelos calendários podemos apresentar à criança a associação entre figuras e palavras, objetos e sinais de LIBRAS ou palavra escrita. Esta forma de transição, do concreto ao abstrato, trará a segurança de a criança entender o conceito por completo, devido suas experiências concretas com o calendário.
Tanto os objetos como as figuras do calendário, darão à criança a possibilidade de se lembrar de acontecimentos anteriores ou antecipar atividades futuras dentro de sua rotina, tendo a oportunidade de comunicar sobre o que já aconteceu ou ainda está por vir, podendo realizar escolhas, de atividades ou ambientes, deixar de realizar uma atividade ou demonstrar querer voltar a fazê-la.


Bibliografia:

ALSOP, Linda. Un Manual de Recursos para Compreender e Interactuar com Infantes, Parvulos y Niños Pré-escolares com sordoceguera. SKI*HI Institute Department of Communicative Disorders, Utah State University Logan.

BLOOM, Y. Object symbols: a comunication option.Monograph, Austrália: Nort Rock Press. In: A prática com crianças surdocegas; Nascimento, Fátima. Costa, Maria. UFSC: Temas em Psicologia de SBP, 2003.

BLAHA, Robbie. Calendários, para estudintes com multiples discapacidades incluído sordoceguera. Córdoba: ROTAGRAF, 2003.
CARVALHO, Erenice Natália Soares de. Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: Deficiência Múltipla, volumes I, II. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2000.

NUNES, Clarisse. Aprendizagem Activa na criança com multideficiencia. Lisboa: Ministério da Educação, Departamento da Educação Básica, 2001.
SERPA, Ximena. Manual para pais de surdocegos e Múltiplos deficientes Sensoriais. São Paulo: Liotti Del Arcom, 2002.





Autor: Amanda De Almeida Soares Barbosa


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