Lógica em Nietzsche



UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO CURSO DE FILOSOFIA (EAD) NOME: Marcos R.A.Oliveira REFUTAÇÃO DA LÓGICA LINEAR EM NIETZSCHE PÓLO MAUÁ 2010 2 NOME: Marcos R.A.Oliveira REFUTAÇÃO DA LÓGICA LINEAR EM NIETZSCHE Livro: Gaia Ciência: análise - Refutação da lógica linear.
Metodista de Mauá, Faculdade de Filosofia. Filosofia I.
Modulo II. Prof. Ricardo Rosseti.
PÓLO MAUÁ 2010

REFUTAÇÃO DA LÓGICA LINEAR EM NIETZSCHE

INTRODUÇÃO

No livro A Gaia Ciência ou O Alegre Saber, Nietzsche critica a lógica analítica pautada pela tradição aristotélica. Podemos ver, por exemplo, no aforismo 111 uma crítica extremamente clara a esse respeito. Aristóteles acreditava numa espécie de razão alcançada principalmente pela análise, pela investigação fria e sóbria.
Diferente de seu professor Platão, que tinha por base da busca filosófica a dialética, Aristóteles via na indução uma ferramenta superior para se alcançar a verdade. O silogismo nos daria uma perfeita rarefação do pensamento nos deixando mais próximos da realidade.
Friedrich Wilhelm Nietzsche que viveu no século XIX foi um árduo crítico da tradição filosófica. Para ele o novo platonismo (o retorno aos conceitos socráticos) era a causa da bancarrota de muitos impérios. Uma de suas ardorosas críticas vincula-se a doutrina da Igreja Cristã, a que ele considerava como uma espécie de platonismo do povo, ou platonismo ordinário.
Nietzsche voltou-se aos pré-socráticos para por assim dizer, encontrar um novo recurso a sua filosofia. Procurou novos modelos e como também era filólogo viu-se obrigado a estudar a fenomenologia das línguas em toda a sua amplitude, chegando a postulados ardorosos quanto a tradição. De fato o filósofo alemão era um filósofo selvagem, dada a sua liberdade em falar contra as convenções humanas. Nele não existia recessos de pensamentos. Era um eterno meditador da filosofia e como tal viu-se obrigado a reprovar seus contemporâneos, reconhecendose como um filósofo póstumo. Vejamos um de seus aforismos:
O peso mais pesado: "E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!" Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?" (aforismo 341) Este é um conceito nietzschiano baseado de certa forma nos pré-socráticos, principalmente em Heráclito e sua idéia de devir.
5 I. LÓGICA LINEAR? O dicionário Aurélio define a palavra silogismo como: Dedução formal em que, postas duas proposições, as premissas, delas se tira uma terceira, a conclusão. A lógica de Aristóteles é, portanto uma cadeia de raciocínios que de certa forma chegam a uma dedução específica. Duas proposições são o suficiente para que se possa alçar uma verdade na conclusão. No entanto a verdade que se alcança é totalmente vinculada à própria preposição tornando-a linear, específica demais para abarcar toda a realidade da existência.
A realidade em Aristóteles é, portanto comprimida pela linearidade.
Poderíamos dizer que de certa forma a conclusão é bidimensional fadada à limitação do próprio concluinte. Obviamente a razão segue um padrão, e este padrão procura dissolver as contradições para se achegar ao denominador comum, porém como a lógica pode lidar com o paradoxo? Não é possível. Será que por isso devemos renegar a lógica? Deveras, se fizéssemos isso estaríamos dando um tiro no pé, posto que para alcançar tal conclusão, usamos da própria lógica.
Eis aqui um exemplo de paradoxo que denomino como sendo o primeiro: Exnihilo ou saído, criado do nada. O Ex-nihilo não é lógico, não é uma questão de causa e efeito, no entanto o efeito existe, a não ser que alguém fosse louco o bastante para dizer que toda a realidade como a conhecemos é uma ilusão. Mas mesmo que fosse ilusão algo a teria causado. Se Deus criou, do nada fez. Mas se não há Deus, do nada viemos. Ora, e se o Universo for eterno? Sabemos que ele não é, simplesmente por estar se expandindo e conforme a entropia também está
"enferrujando". Será então a energia formadora das ínfimas partículas eterna? Se for então como ela, a energia pode ser eterna? Como a energia denomina leis comuns
à matéria? Existe algum sentido em algo ser eterno? Seja Deus ou a energia? Então chegamos a conclusão que o tudo veio do nada? Ora, que conclusão é essa? Conclusão lógica? Sim! Porém falsa, posto que sendo o nada um absoluto o mesmo não pode criar ou promover o tudo, mesmo em bilhões e bilhões de anos não o faria (Salvo apenas pela hipótese do agente externo). A lógica linear termina quando se investiga a causa primeira, a não ser que você a use com conceitos de transcendência, mas mesmo assim isso seria impossível com os elementos do conhecimento ocidental, razoável demais e pouco abstrato.
II. HIPÓTESE: REFUTAÇÃO DA LÓGICA Em Nietzsche vemos justamente a crítica a razão da causa e efeito. Vejamos este aforismo:
Origem da Lógica: "Como se formou a lógica na cabeça do homem? Certamente do ilogismo, Cujo domínio primitivamente deve ter sido imenso. Mas uma multidão de seres que raciocinava de maneira completamente diversa da nossa deve ter desaparecido; isso poderia ser ainda mais verdadeiro do que se pensa! Aquele que por exemplo, não chegava a descobrir com bastante rapidez as
"sumilitudes" quanto a alimentação ou ainda quanto aos animais que eram seus inimigos, aquele que classifica com demasiada lentidão ou que era circunspecto em sua classificação diminuía suas possibilidades de sobrevivência mais do que aquele 6 que concluía imediatamente pela identidade com relação a essas coisas. Era essa inclinação predominante que levava a tratar, desde o início, as coisas semelhantes como se fossem idênticas - uma inclinação ilógica, contudo, porque em si não há nada de idêntico - que por primeiro criou o fundamento da lógica.
Do mesmo modo, para que se formasse o conceito de substância, indispensável para a lógica - ainda que estritamente falando nada de real lhe correspondesse - foi necessário que não se visse nem se sentisse durante muito tempo o que há de mutável nas coisas; os seres que não viam com exatidão tinham uma vantagem sobre aqueles que percebiam as "flutuações" de todas as coisas. Em si toda a prudência em tirar conclusões, toda a tendência cética já constituem um grave perigo para a vida. Nenhum ser vivo se teria conservado, se a inclinação oposta, a inclinação de afirmar antes que suspender o juízo, de se enganar e fantasiar antes que esperar, de aprovar antes que negar, de julgar antes que ser justo, não se tivesse dissolvido de uma forma extremamente intensa. - A seqüência dos pensamentos e das deduções lógicas, em nosso cérebro atual, responde a um processo, a uma luta de instintos, em si deveras ilógicos e injustos; só percebemos geralmente o resultado da luta: de tal modo esse antigo mecanismo funciona agora em nós rapidamente e escondido. (aforismo 111) Ora para Nietzsche se o lógico parte do ilógico isso assevera que as deduções lógicas só existem por causa dos instintos naturais, neste caso a lógica não serve, senão para a vida prática do homem. A lógica não poderia tratar da metafísica ou segundo Aristóteles da filosofia primeira, posto que ela é coisa e não causa. Por isso, para o filósofo alemão o endeusamento da Ciência que em sua época se fortalecia grandemente, também foi alvo de suas críticas. Nietzsche cunhou a frase: "Deus está Morto". No entanto quem matou Deus aos seus olhos foi o racionalismo e a ciência. Ciência porque substituiu o socorro divino pelo socorro pragmático, mas sem o aval do moralismo que fora substituído por uma nova moral da razão, o racionalismo.
Aqui Nietzsche nos brinda com o conceito retirado da mitologia grega:
Apolíneo e Dionisíaco. Apolo era o deus sol que tinha beleza estonteante e representava a serenidade, a ordem, a decência, etc. Diferente de Dionísio o deus do vinho que representava os instintos desconexos, a nudez e a força dos sentidos.
Nietzsche disserta sobre isso falando da necessidade do equilíbrio entre razão e instinto, posto que se negarmos um ou outro estaremos negando o ser como um todo.
III. CONCLUSÃO Concernente a Lógica concordo inteiramente com Nietzsche. Não é possível alçarmos vôo na filosofia se negarmos a estrutura antropológica do homem. O que o homem é o é pela sua historicidade, pela sua evolução como ser da razão, da vida e da existência. É da razão, mas também é da terra. Concluo através do pensamento Nietzschiano que o mesmo obviamente não é contra a lógica, mas contra o elitismo que se faz com ela, contra a idealização que nega a estrutura do ser como um corpo inserido na natureza. Nietzsche é contra o desequilíbrio, este que nos impede de enxergarmo-nos como um ser inteiro. Freud e Jung, por exemplo, através da analogia do Iceberg nos mostra que parte do homem está submersa na escuridão 7 dos mares, atolado nas camadas mais profundas de muitíssimas memórias separadas do ser consciente. Isso significa que o homem em sua totalidade ainda é um enigma.
A razão, a lógica, parte do ilógico, parte da tentativa da criatura limitada de entender o universo neste exercício. Esta também é minha crítica a lógica que vincula-se ao paradoxo primordial, a saber, o Nada.
O que é o Nada? Sabemos até o presente momento que o Quark é a menor partícula formadora inclusive do próton, é claro que existem já teorias e estudos para se encontrar partículas ainda mais elementares. Mas veja mesmo que a encontremos isso em nada ajudará em compreender nossas origens, pois o problema é baseado em uma simples lógica ilógica, que se expressa no conceito do nada. Eu pergunto novamente, o que é o nada? Vejamos a definição da Wikipédia enciclopédia livre da internet de forma parafraseada: "O Vácuo é o nada? De forma alguma, no vácuo não contém matéria, mas pode conter campos elétricos, magnéticos, gravitacionais, luz, ondas sonoras, etc. O espaço vazio é o nada? Errado, o espaço vazio é algo, porque nele existe o potencial em relação a isto.
Aliás, é importante que saibamos que o próprio vazio, não existe no Universo conhecido, quem dirá o nada. Mas afinal o que é o Nada? No nada não existe nem o espaço, não há coisa alguma e nem um lugar vazio para caber algo. O conceito de nada inclui também a inexistência das leis físicas".
Ora, não precisa ser um acadêmico pra saber que ninguém encontrará uma resposta para essa questão, isso é logicamente impossível, mas não é impossível por si só, pois envolve leis desconhecidas ao homem, as quais ele com seu propenso conhecimento não pode alcançar ou resgatar. A condição instituída como elementar para a evolução cósmica é algo que extrapola os conceitos que hoje estão estabelecidos para esse estudo. Não existe resposta em dizer que algo sempre existiu, a não ser que o indivíduo se desprenda do seu materialismo e admita algo que transcenda o Universo conhecido, ainda mais quando apelamos para o princípio antrópico e a física quântica. Embora eu reconheça que não são poucos os materialistas que admitem a teoria de Universos paralelos. Mas mesmo assim ele teria problema em explicar a causa das causas, o que se minimiza quando aceitamos a suposição divina, não só pelo argumento cosmológico, mas também por outros milhares de evidencias que permeiam o social, o psicológico e o natural.
Resumindo, mesmo a contra gosto para alguns, temos que admitir que a vida é um milagre dentro de um Universo aparentemente hostil a ela. E não só a vida como também a psique, a mente racional dos homens, é de fato espantoso se pensarmos que a mesma tenha surgido meramente e aleatoriamente do caos dentro da idéia central de que do nada, nada deriva.
A lógica acaba a razão termina e o homem se cala diante do absurdo da existência. Aceitar o absurdo como diria Kierkegaard é o melhor que temos a fazer na eminência de nossas vidas frágeis demais.
Referências Bibliográficas Livro: A Gaia Ciência: Ed Escala - Autor: Friedrich Wilhelm Nietzsche Sobre Nietzsche: http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Nietzsche 8 Sobre filosofia analítica: http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia_anal%C3%ADtica Sobre silogismo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Silogismo Sobre Devir: http://www.filoinfo.bemvindo.
net/filosofia/modules/lexico/print.php?entryID=641 Sobre Quark: http://pt.wikipedia.org/wiki/Quark Sobre o Nada: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nada Sobre Aristóteles: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles Iseberg e o Self: http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/TL0098.pdf Sören Kierkegaard: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B8ren_Kierkegaard
Autor: Marcos R A Oliveira


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