AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICs), NO ÂMBITO ESCOLAR



Anderson Azevedo Mesquita*
Elisandra Moreira de Lira**

A escola pode ser considerada como a principal instituição dentro da concepção de sociedade organizada, afinal, esta é detentora das bases e dos mecanismos de integração cultural, intelectual e porque não ideológico de uma dada sociedade num período histórico e político-social específico. Assim, a escola se projeta como instituição plural, que deveria atender aos anseios imediatos da sociedade caracterizada em seu tempo real e espacial.
A pluralidade a principio, seria a garantia de que todos os atores sociais tivessem seus direitos e os seus anseios contemplados, isto envolveria de forma direta, os processos de formação cultural, social e político de cada individuo ou do grupo social ao qual ele estaria envolvido. Essa construção social e cultural é histórica, advém de laços e origens determinados e influenciados através da evolução histórica de um povo, compreendendo seus ritmos de vida, seus rituais e principalmente sua relação com o espaço vital necessário a sua sobrevivência.
Logo, sendo a escola uma instituição da sociedade, uma das mais importantes por sinal, esta por natureza envolve-se e evolui conforme as relações sociais desencadeadas num padrão social definido. Tal característica condiciona a escola o estabelecimento de processos de contradições e mudanças, que automaticamente darão por natureza, alterações na sua concepção, organização, estruturação e objetivos. Estas mudanças podem atingir de forma direta o currículo da educação requerida, e isso altera e reconfigura todas as ações da educação, que por fim, acabam tecendo novas relações no âmbito escolar.
Assim, durante a história da humanidade, a educação assumira papeis e objetivos diversos, desde a forte integração com a religião, onde a igreja, sobretudo, a católica dominava e ditava as relações e os objetivos educacionais, refletindo fortemente o momento histórico da sociedade e no currículo da escola.
Com a evolução da sociedade capitalista, e com a decadência do poder centralizador da igreja na sociedade, novas perspectivas e anseios sociais foram retransmitidos para a educação, e, por conseguinte, para a escola. O advento do sistema capitalista impulsionou novas relações de trabalho, além de promover novas perspectivas e anseios para uma sociedade que assumira novas feições, onde o capital objetivava sempre o lucro, através da exploração do trabalho assalariado, pago a um trabalhador (proletário) pela sua força motriz.
A sociedade capitalista é marcada por momentos de contradição e rearticulação, tais processos são conhecidos como fases do sistema capitalista, sendo as principais: a mercantil, a industrial e atualmente a financeira. Cada contradição e evolução do capitalismo influenciaram de forma direta as diversas e complexas relações da sociedade, e isto resultou em alterações significativas na educação, com ênfase nos currículos.
Nos dias de hoje é notória a necessidade da inserção gradativa das tecnologias da informação e comunicação (TICs), no âmbito da educação escolar. Tal fundamento é baseado na própria concepção de evolução da sociedade moderna e contemporânea que emerge a partir dos ciclos de Revoluções Industriais ocorridos no mundo desde o século XIX. Cada ciclo de forma direta fomentou a necessidade de formação de atores sociais específicos e atrelados aos anseios do frisson social estabelecido.
Com a evolução das Revoluções Industriais, houve um grande avanço no desenvolvimento de tecnologias, principalmente as de informação e comunicação. Foi nos Estados Unidos, que teve origem a internet, conforme aponta Castells:
A criação da Internet assim como seu desenvolvimento pode ser contextualizado pela associação de quatro características gerais, ou seja, a união cientifica em prol de criar um sistema de rede de comunicação com dimensões espaciais de alta abrangência, o desenvolvimento de estratégias militares avançadas, e uma associação entre iniciativa tecnológica e contracultural. Logo, a Internet surge em uma conceituada instituição de pesquisa nos EUA, ou seja, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA), financiado pelo Departamento de Defesa dos EUA. ([1990 -], p.82)
A primeira rede de computadores se chamava ALPANET e era restrita a poucas Universidades que cooperavam com o Departamento de Defesa do EUA, contudo os cientistas que integravam o projeto passaram a executar comunicações entre os mesmos por esta recém criada rede, logo foi necessário fazer uma divisão onde a rede com finalidades militares passou a ser denominada de MILNET e a ARPANET continuou sendo utilizada para finalidades cientificas. Por fim, a ARPANET passou por várias mudanças e sofreu ações de diversas entidades científicas e até mesmo de empresas privadas, e atualmente denomina-se Internet. ([1990 -], p.83)

Desta forma, a origem da internet está associada a um projeto de defesa do governo dos Estados Unidos que posteriormente foi repassado para a sociedade civil, na forma de um protocolo de comunicação específico que é o TCP/IP. Depois da origem particular da internet, outros setores da tecnologia passaram a se desenvolver sumariamente, principalmente aqueles relacionados à comunicação e todas as suas ramificações.
A internet, assim como, o advento da evolução gradativa dos meios de comunicação propuseram a sociedade em geral um processo conhecido como globalização, onde as distâncias e barreiras impostas pelo distanciamento geográfico passam a ser atenuadas com a construção de redes de comunicação em tempo real, que transmite e retransmite informação em forma de sinal digital em qualquer ponto e região do globo terrestre e até mesmo no espaço sideral, diminuindo o isolamento e o distanciamento das culturas.
A globalização e o desenvolvimento das redes de comunicação, passam a se integrar no dia-dia e nas relações sociais dos indivíduos que formam a sociedade. Desta forma, partindo da concepção inicial que a escola é uma instituição da sociedade e que acompanha, portanto, as suas evoluções, o desenvolvimento das TICs e o advento da globalização a cada dia se tornam mais presentes e necessárias dentro do âmbito escolar, e principalmente no currículo educacional.
É neste sentido, que atualmente ver-se de forma clara a tentativa de inserção da TICs no âmbito escolar:
A incorporação das TIC no espaço escolar é demandada pela cibercultura,traduzida como um movimento sócio-cultural, que nasce da relação entre uma comunidade ou grupo social, a cultura e as tecnologias digitais com a interconexão mundial de computadores em intensa disseminação a partir do século XXI. Considerados ambientes virtuais, esses espaços de interação social, de organização, de informação, de conhecimento, resultam em aprendizagem colaborativa. (MORAIS, 2010, p. 14)


Logo, a inserção das TICs é vista como uma necessidade essencial dentro da contextualização social contemporânea, a escola não pode desconsiderar ou deixar aquém esse processo dentro da inclusão de seu currículo, afinal, trata-se de um resultado evolutivo e característico da sociedade contemporânea.
Entretanto, a inserção e integração das TICs no currículo e dentro do âmbito da "rotina" escolar não ocorre de forma tão simples e imediata, sobretudo, pela existência de processos divergentes de construção social e política do corpo escolar (professores, apoio, coordenação, administração, e alunos), que possuem origens e concepções diferentes em relação as evoluções da sociedade e que refletem diretamente na escola.
Por isso, é comum encontrar na escola certa "resistência" à implementação das TICs, tal resistência está relacionada ao próprio choque "cultural" e a origem do tempo social de cada individuo dentro da escola. A evolução das TICs, é algo ainda recente na sociedade contemporânea, assim as novas gerações possuem uma relação mais próxima com as TICs, enquanto, as gerações anteriores precisam buscar a orientação necessária para poder interagir frente as especificidades e necessidades da sociedade globalizada.
É comum encontrar nas escolas professores com receio em desenvolver atividades e metodologias educacionais baseadas ou com auxílio das TICs. Isto advém do próprio despreparo e do receio que isso pode causar frente a situações constrangedoras para o professor por não saber manusear um hardware ou um software ou mesmo por não ter domínio frente as infinitas interlocuções e interações possíveis em relação ao conteúdo ministrado e a gama de informações que podem ser adquiridas com a internet.
Entretanto, se por um lado esta dimensão globalizadora pode fomentar o receio do professor em relação a sua prática e papel de educador, por outro lado as TICs podem ser um grande aliado na construção de ambientes educacionais e pedagógicos de ensino. A TICs pode ser um importante parceiro do professor na criação de metodologias educacionais viáveis as práticas de ensino, já existem exemplos práticos de trabalho com metodologias e projetos relacionados com as TICs e que tiveram resultados expressivamente bons.
Por fim, há de considerar que a inserção das TICs no currículo educacional e no âmbito das relações escolares é algo que mais cedo ou mais tarde se tornará uma realidade concreta. Por isso, há um incentivo, embora, incipiente por parte do governo em criar laboratórios de informática nas escolas, além de desenvolver e promover cursos de especialização e aprimoramento dos professores relacionados a práticas com TICs.
Entretanto, a utilização e assimilação das TICs dentro do processo educacional e do currículo escolar deve ser visto como meio, mas nunca como o único fim, o importante não é privilegiar e tornar o uso das TICs como única vertente ou caminho para a educação, mas sim tentar construir um caminho paralelo onde as evoluções das TICs possam ser acessíveis para uma melhor compreensão dos conteúdos presentes no currículo educacional.

* Licenciado em Geografia, e professor substituto no curso de Geografia Licenciatura/Bacharelado da Universidade Federal do Acre ? UFAC
** Prof.ª Assistente do Curso de Geografia da Universidade Federal do Acre - UFAC

Referências Bibliográficas:

AZEVEDO, Janete M. Lins de. A Educação Como Política Pública. Campinas: Autores Associados, 1997. p. 57-686
BIANCHETTI, Roberto G. Modelo neoliberal e políticas educacionais. Cortez. p.71-105
CASTELLS, Manuel. A Revolução da Tecnologia da Informação. In: ____. A Sociedade em Rede. 9 ed. São Paulo: Paz e Terra. P 67 ? 118.
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e práticas de ensino: In: Geografia
escolar e procedimentos de ensino numa perspectiva socioconstrutivista.
KUIN, Silene. O currículo e as tecnologias de informação e comunicação: relações de poder e possibilidades de transformação. Revista e-Curriculum, PUCSP-SP, Vol. 4, n.2, jun. 2009. Disponível em: Acessado em: 05/11/2010.
MORAIS, Ingra Souza de Araújo. PELLEGRINI, Stella de Moraes. TICs: aprendizagem inovadora e colaborativa na escola. Rio Branco, 2010. 24 p. Trabalho de Conclusão de Curso - Coordenação Central de Educação a Distância, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
OLIVEIRA, Zélia M. F. de. Currículo: um instrumento educacional, social ecultural. Brasília.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documento de Identidade. Uma introdução as teorias docurrículo. Belo Horizonte. Autêntica, 1999.






Autor: Anderson Mesquita


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