Resenha Sobre Raízes Do Brasil



Tema: RESENHA SOBRE RAÍZES DO BRASIL

Autor: Renata Valéria de Lucena

Aluna da Graduação do 5° do curso de História da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

E-mail: [email protected]

RESENHA SOBRE RAÍZES DO BRASIL

RESUMO DA OBRA

Raízes do Brasil é uma obra que pretende traçar o perfil da formação da sociedade brasileira, apontando as contribuições que os países europeus tiveram na composição da nossa cultura. Elucida o processo rural, que se originou no Brasil, visto que a sociedade era baseada, exclusivamente, na agricultura. Traz também umdestaque aabolição dos escravos, colocando-a como o marco histórico que divide em duas fases a História brasileira. Esse novo fato foi de extrema importância, o qual caracterizou a época urbanística e o predomínio da fase marcada pelo intelectualismo do nativo brasileiro. Este adquiriu novos preceitos e novas prioridades, substituindo o valor atribuído a terra para as questões do intelecto, como a busca de um diploma de Bacharel.

Abstract (resumo em inglês)

Roots of Brazil is a workmanship that it intends to trace the profile of the formation of the Brazilian society, pointing the contributions that the European countries had had in the composition of our culture. It elucidates the agricultural process, that if it originated in Brazil, since the society was established, exclusively, in agriculture. It also brings the abolition of the slaves, placing it as the historical landmark that divides in two a stage Brazilian History. This new fact was of utmost importance, characterizing the urban time and the predominance of the phase marked for the intellectualism of the Brazilian native. This acquired new rules and new priorities, substituting the attributed value the land for the questions of the intellect, as the search of a diploma of Bachelor.

Palavras-Chave:

Sociedade – Ruralismo – Escravismo – Abolicionismo – Bacharelismo – Urbanismo

Keywords (palavras chaves em inglês)

Society - Agricultural - Slave - Abolitionism - Bachelor – Urbanism.

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1.INTRODUÇÃO

Vida e obras do autor: A maior parte da sua formação escolar realizou-se no Colégio São Bento, em São Paulo, onde teve por professor de História Afonso de Taunay. Mudou-se em seguida, em 1921, para o Rio de Janeiro, matriculando-se na Universidade do Brasil.Em 1925, obteve nesta o bacharelado em Direito.

Ao longo da década de 1920, atuou como representante do movimento modernista paulista no Rio de Janeiro. Trabalhou então em diferentes órgãos de imprensa e, entre 1929 e 1930, foi correspondente dos Diários Associados em Berlim, onde também freqüentou atividades acadêmicas esporadicamente.

De volta ao Brasil no começo dos anos 1930, continuou a trabalhar como jornalista. Em 1936, obteve o cargo de professor assistente da Universidade do Distrito Federal. Neste mesmo ano, casou-se com Maria Amélia de Carvalho Cesário Alvim, com quem teria sete filhos, entre eles o cantor e compositor Chico Buarque. Ainda em 1936, publicou o ensaio Raízes do Brasil, que foi seu primeiro trabalho de grande fôlego e, ainda hoje, é o seu escrito mais conhecido.

Em 1939, extinta a Universidade do Distrito Federal, passou a trabalhar na burocracia federal. Em 1941, viajou pela primeira vez aos Estados Unidos da América.

Reuniu, no volume intitulado Cobra de Vidro, em 1944, uma série de artigos e ensaios que anteriormente publicara nos meios de imprensa. Publicou em 1945 e 1957, respectivamente, Monções e Caminhos e Fronteiras, que consistem em coletâneas de textos sobre a expansão oeste da colonização da América Portuguesa entre os séculos 17 e 18.

Em 1946, voltou a residir em São Paulo, para assumir a direção do Museu Paulista, - que ocuparia até 1956 - sucedendo então ao seu antigo professor escolar Afonso de Taunay. Em 1948, passou a lecionar na Escola de Sociologia e Política da Universidade de São Paulo, na cátedra de História Econômica do Brasil, em substituição a Roberto Simonsen.

Viveu na Itália entre 1953 e 1955, onde foi docente convidado na Universidade de Roma. Em 1957, assumiu a cadeira de História da Civilização Brasileira, agora na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (FFLC, atual FFLCH). O concurso para esta vaga motivou-o a escrever Visão do Paraíso, livro que publicou em 1958, no qual analisa aspectos da mentalidade européia à época da conquista do continente americano. Ainda em 1958, ingressou na Academia Paulista de Letras e recebeu o Prêmio Edgar Cavalheiros, do Instituto Nacional do Livro, por Caminhos e Fronteiras.

A partir de 1960, passou a coordenar o projeto da História Geral da Civilização Brasileira, para o qual contribuiu também com uma série de artigos. Em 1962, assumiu a presidência do recém-fundado Instituto de Estudos Brasileiros. Entre 1963 e 1967, foi professor convidado em universidades no Chile e nos Estados Unidos e participou de missões culturais da Unesco em Costa Rica e Peru. Em 1969, num protesto contra a aposentadoria compulsória de colegas da Universidade de São Paulo pelo então vigente regime militar decidiu encerrar a sua carreira docente.

No contexto da História Geral da Civilização Brasileira, publicou, em 1972, Do Império à República, texto que a princípio fora concebido como um simples artigo para a coletânea, mas que, com o decurso da pesquisa, acabou por ser ampliado num volume independente. Trata-se de um trabalho de história política que aborda a crise do império brasileiro no final do século 19, explicando-a como resultante da corrosão do mecanismo fundamental de sustentação deste regime: o poder pessoal do imperador.

Permaneceu intelectualmente ativo até 1982, tendo ainda neste último decênio publicado diversos textos. De 1975 é o volume Vale do Paraíba - Velhas Fazendas e de 1979, a coletânea Tentativas de Mitologia. Nestes últimos anos, trabalhou também na reelaboração do texto de Do Império à República - que não chegou a concluir. Participou, em 1980, da cerimônia de fundação do Partido dos Trabalhadores. Neste mesmo ano, recebeu tanto o Prêmio Juca Pato, da União Brasileira de Escritores, quanto o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.

2. TEXTUALIZAÇÃO

Raízes do Brasil é uma obra de estilo Literário, segundo a própria visão do referido autor, visto que este se considera um "crítico literário na qualidade de um historiador" (HOLANDA, 1971). Contudo não podemos deixar de ressaltar os traços psicológicos abordados, sobretudo, no primeiro capítulo da supracitada obra, e o valor histórico, geográfico e sociológico na sua descrição da formação da sociedade brasileira. Nosso escritor pretendeu descrever, minuciosamente, o processo e o caráter da colonização portuguesa no Brasil, sem esquecer do legado das outras nações européias, como Espanha, Holanda e Inglaterra.

A primeira edição da obra data de 1936, sendo reeditada e revisada por uma segunda e terceira vez, em 1947 e 1955 respectivamente. É prefaciada, na primeira e segunda edição, por Antônio Candido e na terceira pelo próprio autor. Possui também um Post-Scriptum confeccionado por Evaldo Cabral de Mello.

O conteúdo programático do livro é estruturado em sete capítulos, o primeiro, intitulado Fronteiras da Europa, descreve a influência da cultura portuguesa sobre a brasileira. Faz uma análise psicológica do português, tentando explicar sua incapacidade indelével para estabelecer uma organização sólida no Brasil, através da frouxidão das suas instituições. O segundo é Trabalho & Aventura, este trata do aspecto da colonização e da implantação da cultura da cana-de-açúcar como um fator de estabelecimento do colono na "nova terra", tendo a favor do português uma predisposição de adaptação ao clima e a vida tropical. O terceiro é Herança Rural,onde estabelece o marco histórico – abolição da escravidão no Brasil em 1888 – considerado o divisório entre duas épocas, o período agrário dominado pelos grandes senhores de terras e o período após a abolição – considerado bacheralismo – marcado pela transição do trabalho escravo para o assalariado. O quarto é O Semeador e o Ladrilhador, o qual traz um estudo sobre a importância das cidades, retratando sua subordinação ao campo, visto que foi estabelecida uma economia agrária. Alude, ainda, à questão das bandeiras, que possibilitaram a interiorização do território brasileiro, à sujeição da Igreja ao Estado, à vida intelectual, tanto do Brasil como da Espanha e à variação lingüística, sobretudo em São Paulo. O quinto é O Homem Cordial, que estrutura a formação da família brasileira, sem deixar de apresentar a educação dada às crianças, bem como a aversão ao ritualismo. O sexto é Novos Tempos, cuja temática aborda certas conseqüências na configuração da sociedade brasileira, a partir da vinda da família real. Tenta explicar o bom êxito que o pensamento positivista teve no Brasil, sobretudo entre os militares. A sétima e última divisão do livro é Nossa Revolução que mostra a passagem do rural ao urbano, isto é, predomínio da cultura das cidades, que tem como conseqüência a passagem da tradição Ibérica ao novo tipo de vida. Tal processo resultou no "aniquilamento das raízes ibéricas de nossa cultura para a inauguração de um novo, que crismamos talvez ilusoriamente de americano, porque seus traços se acentuam com maior rapidez em nosso hemisfério".(HOLANDA, 1971, p. 172).

É notório que Sérgio Buarque chega a diversas conclusões, uma delas é a questão do marco histórico que serviu para dividir em duas fases a Historiografia brasileira. José Honório Rodrigues afirma que o nosso autor "delineia ainda uma sugestão que é bastante valiosa, como contribuição para a periodização na história brasileira". (RODRIGUES, 1979, p.142). Além da afirmação sobre a relativa facilidade de adaptação ao clima e à alimentação tropical, a ditadura dos domínios agrários, onde "no Brasil colonial as terras dedicadas à lavoura eram a morada habitual dos grandes. Só afluíam eles aos centros urbanos a fim de assistirem aos festejos e solenidades" (HOLANDA, 1971, p. 90).

Outro aspecto que merece ser ressaltado é o sentido que o bacheralismo teve no fim do Império e início da República. Nesse período, um diploma de bacharel tinha um prestigio indiscutível, o que levava muitos jovens a irem em busca da sua posse, mesmo tendo uma inclinação para as atividades liberais. Por isso, o escritor de Raízes do Brasil chamou esse processo de praga do Bacheralismo.

3. REFLEXÕES TEÓRICAS METODOLÓGICAS

Sérgio Buarque de Holanda, nesta obra, mostra traços nítidos de sua concepção marxista ao falar do antagonismo de classes e ao criticar o sistema capitalista estabelecido no Brasil.

Foi o moderno sistema industrial que, separando os empregados e empregadores nos processos de manufaturas e diferenciando cada vez mais suas funções, suprimiu a atmosfera de intimidade que reinava entre uns e outros e estimulou os antagonismos de classes. O novo regime tornava mais fácil, além disso, ao capitalista, explorar o trabalho de seus empregados, a troco de salários ínfimos. (HOLANDA, 1971, p. 142).

Utilizando o método comparativista, ele acaba por elucidar os pontos relevantes presentes em seu trabalho. Lança mão de uma descrição dedutiva, seguindo do geral ao particular, uma vez que parte de acontecimentos de outros países – como Espanha, Portugal e Estados Unidos – para depois narrar os eventos sócio-econômicos ocorridos no Brasil, utilizando-se de exemplos que otimizam o entendimento do leitor.

Na sua coleta de dados percebemos a presença tanto de fontes primárias, como cartas, depoimentos e documentos jurídicos, quanto de fontes secundarias, já que faz uso de obras de outros escritores, que possuem a mesma temática abordada.

5. AVALIAÇÃO

A obra é de um valor histórico-social inestimável e nos permite, junto com outras, como Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, ter uma visão geral do processo de colonização do nosso país e da formação da sociedade e da mentalidade brasileira. Contudo não se pode deixar passar despercebidos alguns equívocos do nosso autor, visto que este faz uso de palavras pejorativas e estereotipadas, quando se refere ao português chamando-o de preguiço e incapaz. A obra também é detentora de termos e conceitos ultrapassados, como conceito de inferioridade e superioridade de raças. Estes são clarividentes, sobretudo, quando se refere ao nativo brasileiro.

Todavia não podemos desconsiderar a época em que Sérgio Buarque viveu e escreveu, temos que levar em consideração, também, a mentalidade predominante na década de 30. Portanto, apesar da falta de atualização, essa obra merece e deve ser lida por todos os estudiosos que se interessam pela História do Brasil, sem esquecer das devidas ressalvas.

Ainda seguindo o mesmo víeis, é inteligível a discrepância entre algumas assertativas feitas pelo o autor com as de Gilberto Freire, por exemplo. Em Casa Grande & Senzala, este, afirma que "o português no Brasil teve de mudar quase radicalmente o seu sistema de alimentação, cuja base se deslocou, com sensível déficit, do trigo para mandioca".(FREYRE, 1970, p. 14). Ao mesmo tempo, alude sobre as dificuldades que o português teve para se adaptar ao novo sistema alimentar. Já Sérgio Buarque, ao se referir ao assunto, diz que o português, procurando recriar aqui o meio de sua origem, agiu com certa facilidade; "onde lhe faltasse o pão de trigo, aprendia a comer o da terra, e com tal requinte, que a gente de tratamento só consumia farinha de mandioca fresca, feita no dia".(HOLANDA, 1971).

É notório que Raízes do Brasil foi elaborada para atuar no meio acadêmico, devido ao esmero verbal e gramatical, além desta obra exigir um conhecimento prévio de algumas áreas do saber, como Filosofia, Pedagogia, entre outras.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BUARQUE, Sérgio. Raízes do Brasil.Rio de Janeiro: José Olympio, 1971.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Recife: Ed. de Pernambuco, 14° ed. 1970.

Recife: Ed. de Pernambuco, 1970.

RODRIGUES, José Honório.Historia da historia do Brasil. São Paulo: Comp. Ed. Nacional; MEC, 1979.


Autor: Renata Valéria Lucena


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